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Factores negativos da evolução da Floresta Portuguesa

4. FLORESTA E O ASSOCIATIVISMO

4.2 Factores negativos da evolução da Floresta Portuguesa

4.2.1 Minifúndio

A estrutura da propriedade florestal em Portugal está bem demarcada em duas regiões distintas sendo que a separação destas duas realidades é feita utilizando o rio Tejo como limite. De acordo com Coelho (2003), a Norte do rio Tejo a floresta caracteriza-se pela existência de um conjunto de micro e pequenos prédios rústicos onde reina a supremacia das coníferas (pinhal) e das folhosas de crescimento rápido (eucaliptal) onde a principal vocação é a produção de lenho. Relativamente ao Sul do Tejo, os prédios rústicos caracterizam-se pelas suas grandes dimensões devido à sua história na área das actividades agrícolas e agro-florestais onde predominava o sobreiro e azinheira. Esta disparidade na estrutura da propriedade está relacionada com os factos históricos e socioeconómicos tendo também relevância as características fisiográficas de cada região. Segundo Vasques (2006), a distribuição da propriedade florestal no país é, de facto, profundamente assimétrica: se, num extremo da escala, 1% dos produtores ocupam 55% das áreas florestais, no outro extremo, 85% dos produtores repartem 15% dessas áreas, prevalecendo o minifúndio no Centro e no Norte do País.

4.2.2 Êxodo Rural

O êxodo rural que ocorreu fortemente nos anos 60 foi verificado em grandes proporções no Norte e Centro do País devido ao surto de desenvolvimento industrial tendo como consequência alterações na estrutura etária, profissional, social e económica da população residente nas áreas florestais (Lourenço, 2008). Este êxodo provocou um envelhecimento da população e uma desertificação nas zonas Norte e Centro do País onde existe uma tradição cultural no que se refere à propriedade. De acordo com Coelho (2003), a propriedade a Norte sempre foi mais dividida, devido não só ao efeito das condições do relevo e à pressão demográfica mas também ao sistema de herança da propriedade rural. O sistema de herança tem relevância porque por norma são efectuadas sucessivas divisões da propriedade tendo em conta o número de descendentes em cada geração, ou seja, no início uma propriedade que poderia ser rentável, na prática ao fim de algumas gerações pode constituir um bem sem qualquer rendimento próprio devido à sua sucessiva fragmentação, conduzindo ao abandono e deterioração destes bens.

4.2.3 Absentismo dos Proprietários

O início do êxodo rural criou um problema que tem crescido até aos dias de hoje, o absentismo dos proprietários. Esta nova realidade do desinteresse dos proprietários da floresta pode ser explicada pela fraca fonte de rendimento proveniente de prédios rústicos demasiados fragmentados, os quais inviabilizam uma gestão sustentável dos prédios rústicos, tendo como aliado a esta questão, um sistema de herança em que as gerações mais recentes não conhecem a sua localização nem o seu conteúdo. Isto leva a que os proprietários se limitem a pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) relativo aos seus prédios rústicos ou no caso de áreas demasiado pequenas sem valor matricial significante, estes serem inseridos no grupo de proprietários que estão isentos do pagamento do IMI. De acordo com Vasques (2006), a isenção técnica está prevista no Código do Imposto Municipais sobre Imóveis no art. º32.º e refere no n.º 6 do art. 113.º que não há liquidação do imposto sempre que o montante a cobrar seja inferior a

10 euros. Esta medida é ainda mais gravosa pois provoca um maior absentismo por parte dos proprietários e a redução de rendimentos para o sistema fiscal português.

4.2.4 Políticas Florestais

As políticas florestais em Portugal têm conhecido muitos avanços e alguns recuos até à situação em que nos encontramos actualmente, referindo por exemplo a constante alteração do organismo responsável pela tutela da floresta impossibilitando assim a aplicação de medidas fundamentais que servissem como bases de partida para uma correcta política florestal. Efectivamente as políticas florestais só foram concretizadas na sua plenitude através de programas de arborização e conservação do território (correcção torrencial e fixação de dunas), os quais estavam focados para a grande dimensão, que são os casos das Matas Nacionais e dos Perímetros Florestais. Foi só com o emergir da figura do proprietário florestal, já nas últimas décadas do século passado, é que a floresta que realmente existia, em grande parte de pequena e muito pequena dimensão, começou a impor-se no panorama florestal (Baptista e Santos, 2005). Esta é a realidade dos dias de hoje onde o proprietário privado deve ser considerado um dos principais actores da floresta, não só pelo número de hectares que representa mas também pela dimensão das suas propriedades. De acordo com Baptista e Santos (2005), a economia florestal e a silvicultura estiveram sempre orientadas para a gestão de propriedades com grandes dimensões o que impossibilitou a compreensão da gestão da floresta de pequena dimensão geridos por vários pequenos proprietários.

A exploração de média e grande dimensão é, portanto, significativa na área que ocupa, mas convive com um universo de pequenos proprietários que torna difícil a concepção de uma política fiscal una e coerente para o sector: de entre um universo de cerca de 370 mil explorações florestais, cerca de 87% possui uma área entre 0,5 e 3 hectares (Vasques, 2006). É de relembrar que a maior percentagem de floresta existente em Portugal encontra-se a Norte do Rio Tejo, onde precisamente existem maiores fragilidades que teimam em não ser ultrapassadas tais como as dimensões, a dispersão das propriedades dos proprietário e os custos de gestão.

4.2.5 Incêndios Florestais

Uma expressão do efeito das mudanças climáticas é o aumento do fenómeno dos incêndios florestais que são, hoje em dia, certamente o maior dos riscos que afecta o sector florestal (DGRF, 2006). Das várias causas que têm contribuído para os incêndios florestais, a maior parte dos autores indica que a principal causa está relacionada com o êxodo rural.

O êxodo rural conduziu a uma gestão passiva dos prédios rústicos principalmente no minifúndio. De acordo com Devy-Vareta (2005a), a gestão passiva da floresta privada é actualmente o maior constrangimento para a manutenção de massas arbóreas existentes nas regiões de minifúndio. Reforçando a questão da gestão passiva, o autor Vasques (2006) afirma que existe uma gestão deficiente da propriedade florestal mas só na propriedade florestal de pequena dimensão, pois é gerida sem critérios empresarias ao contrário do que é feito em propriedades florestais de média e grande dimensão. Nestas a gestão é efectuada de forma empresarial por empresas florestais, sendo realizadas campanhas de prevenção por equipas especializadas, o que permite reduzir o risco de incêndio florestal.

O último relatório sobre incêndios florestais, referente ao ano 2010 e divulgado pela Autoridade Florestal Nacional (AFN), mostra que a maioria dos incêndios florestais teve origem em fogachos (área <1ha) como mostra a Figura 4.2:

  Figura 4.2 – N.º de Ocorrências no Ano 2010 por Distritos.

Além do problema do minifúndio, os autores Devy-Vareta (2005b), Lourenço (2008) e DGRF (2006) indicam que desde o início do êxodo rural surgiram várias causas que têm contribuído para a deflagração de incêndios florestais de entre as quais se apontam, a idade avançada dos donos, a pouca área disponível para florestar (referida anteriormente), a diminuição das práticas tradicionais (pastoreio, uso da lenha, abandono da agricultura, roça de matos, cortes selectivos, resinagem) e os comportamentos sociais negligentes (ex.: queimadas, foguetes, churrascos, tabagismo).

4.2.6 Ausência de Cadastro Florestal

Ao longo dos anos tem-se vindo a arrastar a necessidade de dispor de um cadastro florestal, pois actualmente não existe efectivamente um que seja abrangente a todo o País e o que existe está desactualizado. A importância de constituir um sistema nacional de cadastro está de novo a ter relevância na área florestal pois é essencial para a atribuição de subsídios da União Europeia (PRODER e FFP), a certificação das florestas através da Certificação Florestal, a criação de Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) e por último a identificação dos proprietários absentistas e negligentes na gestão das propriedades florestais que na maioria das vezes provocam incêndios florestais.

A criação em 2006 do projecto SiNErGIC através da Resolução de Ministros n.º 45/2006, de 4 de Maio, apoiada pelo Decreto-Lei n.º 224/2007, de 31 de Maio veio tentar colmatar a ausência de cadastro com a criação de um sistema cadastral nacional, prevendo um sub-projecto designado de “Cadastro de áreas florestadas” apoiado pelo Decreto-Lei n.º 65/2011, de 16 de Maio, que define o regime de execução de cadastro predial em zonas florestais abrangidas por uma ZIF.