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O lócus assumido pela família a partir da modernidade, no fim do século XV, é bastante relevante para apreender o que vem a ser família na atualidade com seus limites e desafios. Mas, é a partir da Revolução Industrial (final do século XVIII), que a compreensão da história social da instituição família e suas funcionalidade torna-se mais nítida, como também a sua relação entre o público e o privado (ARIÉS, 2006).

No que se refere à relação entre o público e privado, expressões maiores da nossa análise, envolvendo a questão da família, para tentarmos compreender as novas mudanças a partir de então, poderíamos tomar como exemplo uma rua medieval, ou até

uma rua árabe dos dias atuais, por se caracterizarem como um prolongamento da vida privada, já que as relações sociais que as identificam ou que já as identificaram, publicamente, não guardam nenhuma oposição com a intimidade da vida privada; tais ruas eram o cenário familiar do trabalho e das relações sociais naquele momento.

Uma das formas de expressões das relações famíliares, é observada nos trabalhos dos artistas durante o século XVI e, principalmente, no século XVII, utilizando-se a iconografia15, sobretudo por meio da pintura e da gravura, que em países como a Holanda e a França se dedicaram a pintar e desenhar imagens de família (ARIÈS, 2006). Segundo o autor,

[...] os artistas, em suas tentativas relativamente tardias de representação da vida privada, começariam por mostrá-la na rua, antes de segui-la até dentro de casa. Talvez essa vida privada se passasse tanto ou mais na rua do que em casa (ARIÈS, 2006, p. 133).

A iconografia foi um meio bastante eficaz utilizado para compreender nesses seis séculos a representação da história social da família. Todavia, nesse momento equipara-se a família ao mesmo plano de Deus e do Rei, ou seja, de sentimentos marcados por relações sociais cerceadas de subserviência, de servidão, de hierarquias e de um amplo e profundo sentimento de imutabilidade em consequência da forma de viver e de pensar do mundo medieval (ARIÈS, 2016). Essas características foram trazidas sobretudo das teorias postuladas por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, imbuídas na filosofia grega, ora representadas pelos seus grandes filósofos, especialmente Aristóteles e Platão. Aqueles, por sua vez, foram influenciados pelas ideias metafísicas, ética e/ou moral e pela lógica aristotélica advindas do próprio pensamento grego.

É na transição entre os séculos XVI e XVII que emerge o sentimento de família, mais precisamente no século XVII, com um vínculo forte ou inseparável do sentido da infância. É a partir desse momento que o espírito sentimental de família aparece nas relações sociais, pois esse interesse era desconhecido no mundo medieval. Nesse momento, ainda estavam presentes a percepção de um indivíduo entrelaçado em solidariedades coletivas, feudais e comunitárias entre linhagens, em uma concepção de mundo que não era privado nem público; ou seja, havia uma “confusão” entre ambas as

15 “É a descrição e conhecimento de imagens, retratos, quadros ou monumentos principalmente antigos”

concepções (ARIÉS; CHARTIER, 1991). Porém, o que se apresenta como “novo” é o sentimento de família, e não a família enquanto instituição.

É incontestável a existência da família desde a pré-história, como mostrado no item anterior, mas é possível perceber que ao longo do tempo a família desempenha várias funções na sociedade. Segundo Ariés (2006, p. 152), “a família subsistia no silêncio, não despertava um sentimento [...] forte para inspirar poetas e artistas”, porque não tinha valor suficiente para tanto.

Diante do exposto, podemos então indagar: quando e como a família sai de uma sociabilidade anônima para uma sociabilidade restrita? Em outras palavras, como a família sai do espaço público para o espaço privado?

De acordo com Ariés e Chartier (1991, p. 16, grifo nosso), “o que ocorreu foi a substituição da sociabilidade anônima pela sociabilidade restrita”. A primeira é representada pela rua, pela praça pública e pela comunidade, ou seja, por espaços em que as pessoas não se conheciam entre si, mas sentiam-se felizes por conviverem juntas. A segunda confunde-se com a família e com o próprio indivíduo. Com isso, no fim do século XVII e início do XVIII, o espaço público está desprivatizado, a res pública (coisa pública), portanto, não poderia se confundir com os bens e/ou interesses privados.

Então o espaço privado pode se organizar como um espaço quase fechado, de qualquer modo totalmente separado do serviço público, que se tornou autônomo. Esse espaço liberado será preenchido pela família. A conclusão que tiro dessas reflexões é que o problema da vida privada nos tempos modernos deve ser tratado sob dois ângulos distintos: Um é o da oposição entre o homem de Estado e o particular. O outro é o da sociabilidade e da passagem de uma sociabilidade anônima [...] a uma sociabilidade florescente em que surgem setores bem diversos: [...] um setor profissional e um setor [...] reduzido à vida privada (ARIÉS; CHARTIER, 1991, p. 18).

De acordo com tais autores, especialmente da tese proposta por Ariés, esse momento compreendido entre os séculos XVII e XVIII é o lapso temporal da fronteira do domínio do privado que transformou em especial, as sociedades no mundo Ocidental. Essa mudança ocorreu devido a três questões: a primeira foi o novo papel do Estado, que passa a interferir em assuntos delegados anteriormente à religião e a construção do Estado Moderno; a segunda foram as reformas religiosas de cunho protestante e católico; e a terceira foi a alfabetização, através da aquisição da leitura e da

escrita o indivíduo pôde emancipar-se da comunidade que o prendia e das interpretações e das vivências afetivas e psíquicas, que eram do âmbito público.

Portanto, o domínio do privado se deu em virtude da conjunção daqueles três elementos, o fortalecimento do Estado Moderno, as reformas religiosas e a aquisição da leitura e da escrita, sendo que tal conjunção não aconteceu de forma isolada, linear, regular e única em si mesma, mas numa conjuntura de complexas relações econômicas e sociais.

Há uma dificuldade semântica de conceituar o que é público e o que é privado, pois, segundo (CASTAN; LEBRUN; CHARTIER, 1991, p. 24), há o uso público da razão por pessoas privadas:

O uso público de nossa própria razão deve sempre ser livre e só ele pode espargir as Luzes entre os homens; porém, seu uso privado pode ser severamente limitado sem com isso impedir de modo sensível o progresso das Luzes. Por uso público de nossa própria razão entendo o que dela se faz como sábio ante o conjunto do público que lê.

Dessa maneira, o espaço público é onde o indivíduo, em sua particularidade, se dirige aos outros com toda a liberdade, e o espaço privado é o exercício de um ofício civil ou religioso; com isso percebe-se que o público e o privado não são compreendidos em oposição, como no século XVII, “mas as práticas antes tidas como privadas definem o espaço da reflexão pública, do posicionamento político (CASTAN; LEBRUN; CHARTIER, 1991, p. 24).

A partir dessas mudanças, nos séculos XVII e XVIII, entre o público e o privado, ocorrem novas formas de relações sociais. O privado é expresso pela célula familiar, lócus único, privilegiado da afetividade e da intimidade. Para galgar tal espaço, a família passou da representação pública ao recolhimento da intimidade do particular. Segundo Castan et al. (1991, p. 409), tal divisão ocorreu devido a formação do Estado Moderno o qual garantia proteção ao privado:

Tal divisão é possibilitada pela própria transformação do Estado, que impõe suas leis e seus controles a setores até então regidos, através de contratos e conflitos, pelos indivíduos, pelas famílias, pelas clientelas. Em compensação, o cuidado em distinguir entre o que o cargo público exige e o que pertence à vida privada, protegida e secreta, leva a desprivatizar o exercício da autoridade pública.

A partir da modernidade, o espaço privado é marcado pela distância entre a relação com a res pública e a ordem familiar, passando a governar a vida doméstica, estabelecendo as alianças entre marido e mulher, onde se concentravam os afetos, captavam a afetividade e uniam as pessoas entre si; sendo assim a pedra de toque do privado representado pelo foro familiar.

Nas palavras de Castan (1991), a afetividade na família do Ancien Régime16, inexistia para todos que a compõem, desconsiderando-a Percebe-se, desse modo, que entre os séculos XVI ao XVIII, a família era um lugar de dominação e de divisão autoritária das tarefas, cabendo ao chefe da família garantir a ordem, sendo este indispensável para proteger o patrimônio e a honra.

A família na Idade Moderna foi tema privilegiado sobretudo pelos antropólogos e historiadores, seus estudos estavam centrados em tudo o que dizia respeito ao espaço cotidiano da vida familiar, como exemplo pode-se mencionar a arquitetura doméstica e as relações sociais, estas centradas nos estudos sobre as regras jurídicas e econômicas. Dessa forma, a história da vida privada pode ser resumida em alguns temas, tais como: a inserção da família em espaços de parentesco e de alianças, a relação com a comunidade, com o Estado e com a Igreja. Estas, por sua vez, regulamentando e controlando o espaço familiar. É necessário desvelar a etimologia da palavra privado, do latim privatus, que de forma resumida significa limitado. De acordo com Aymard (1991, p. 455, grifo nosso):

Segundo seu significado etimológico (privatus = limitado), o privado se definiria por determinado número de barreiras concêntricas, algumas das quais teriam perdurado, outras teriam se deslocado e adquirido maior importãncia. E isso à custa de conflitos sucessivos, datáveis e significativos, chegando à imposição feita ao indivíduo de “murar sua vida privada”...

A família está para além do privado, pois os indivíduos não passam a vida toda com ela, do nascimento à vida adulta, já que ao longo do tempo delega suas funções às instituições, tais como a Escola, a Igreja e a Sociedade Civil.

A partir do XVIII, a família começou a manter um distanciamento da sociedade, iniciou um processo de confinamento e de isolamento em si mesma. Essa privatização incide também na organização da casa, que passou a corresponder às demandas do

espaço privado, ou seja, a exacerbada preocupação de se defender contra o “mundo”, ou contra o espaço público. Segundo Ariés (2006, p. 186),

A reorganização da casa e a reforma dos costumes deixaram um espaço maior para a intimidade, que foi preenchida por uma família reduzida aos pais e as crianças, da qual se excluíam os criados, os clientes e os amigos.

As mudanças nas composições da família medieval à família moderna, durante muito tempo ficaram centradas na nobreza, na burguesia, nos artesãos e nos lavradores ricos, em contrapartida, no início do século XIX, as famílias pobres, que eram a maior parte da população, viviam como as famílias do período medieval. Como foi descrito anteriormente, nesse momento não havia uma diferenciação entre o público e o privado, as crianças eram afastadas da casa de seus genitores muito cedo, e as moradias eram coletivas. Já no século XIX, surge outra forma de sociabilidade familiar, em que o espaço público se sobressai em relação ao espaço privado.

Até o século XVII, a vida era vivida em público, sem nenhuma objeção, pois não havia nenhuma intimidade, as pessoas coabitavam juntas em casas abertas; posteriormente a família foi perdendo esse caráter de lugar público dos séculos anteriores (ARIÉS, 2006). Mas a partir do século XVIII, o individualismo sobre as relações sociais sobressai na vida moderna, paulatinamente a família tornou-se uma sociedade fechada em si. Diante disso, tornam-se incompreensíveis as mudanças que vêm ocorrendo nas relações sociais contemporâneas, em especial nas relações familiares, se desconsiderarmos a mudança no e do conceito de família(s).

A família correspondeu a uma necessidade de intimidade e de identidade, como também surge o sentido de uma classe social como resultante de intolerância diante da diversidade de configurações familiares das classes sociais populares e que, por outro lado tendo uma mesma preocupação de uniformizar a família em um único modelo. De acordo com Ariés (2006, p. 195, grifo nosso):

Compreende-se que [...] ascendência moral da família tenha sido originariamente um fenômeno burguês: a alta nobreza e o povo, situados nas duas extremidades da escala social, conservavam por mais tempo as boas maneiras tradicionais, e permaneceram indiferentes à pressão exterior. As classes populares mantiveram até

quase nossos dias esse gosto pela multidão. Existe portanto uma relação entre o sentimento da família e o sentimento de classe.

O autor deixa claro a relação intrínseca que existe entre o sentimento de família e o sentimento de classe social, partindo do entendimento de que classe social é produto do processo histórico de ascensão de uma classe social sobre a outra. A teoria marxista concentra suas análises na estrutura de duas classes nas sociedades capitalistas: a burguesia e o proletariado. A partir da modernidade, “a sociedade como um todo está cada vez mais dividida em dois grandes campos hostis, em duas grandes classes que se enfrentam diretamente” (MARX, 1969 apud BOTTOMORE, 2001, p. 62). Portanto, o conceito de classe social plenamente constituída é “quando milhões de famílias vivem sob condições econômicas de existência que separam seu modo de vida, seus interesses e a sua cultura daqueles das outras classes, elas formam uma classe [...]” (idem).

O sentimento de família que adentra no século XVIII como sinônimo de moderno, tinha como características a privatização das sensibilidades e do pudor que eram realizados no espaço público, como por exemplo, assoar, comer, lavar-se, exclusivos do privado. A fim de compreender melhor essas mudanças, têm-se outras indagações: o que é modernidade? Que paradigma de conhecimento é esse que torna-se dominante? E como esse paradigma reflete na compreensão das relações sociais, em especial da família?

O modelo de racionalidade que vem antes da ciência moderna foi constituído a partir do século XVI e adentrou os séculos seguintes pelo domínio das ciências naturais, e é no século XIX que essa forma de conhecer a realidade se estende às ciências sociais que emergiam no momento. Quais são as principais características desse paradigma dominante? Como afirma Santos (2005, p. 21-22):

Sendo um modelo global, a nova racionalidade científica é também um modelo totalitário, na medida em que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que se não pautarem pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas. [...] Está consubstanciada, com crescente definição, na teoria heliocêntrica do movimento dos planetas de Copérnico, nas leis de Kepler sobre as órbitas dos planetas, nas leis de Galileu sobre a queda dos corpos, na grande síntese da ordem cósmica de Newton e finalmente na consciência filosófica que lhe conferem Bacon e Descartes.

A ciência moderna desconfia e desconsidera as evidências de nossa experiência, que é conhecida como senso comum, dos estudos humanísticos, que incluem os estudos

filosóficos, históricos, jurídicos, literários, teológicos e filológicos. Para a ciência moderna, outras formas de conhecimento não têm base científica e fazem parte do conhecimento “vulgar” e são formas de conhecer a realidade ilusórias que não possuem um método “eficaz” de apreender a realidade em si mesma.

O sentido de modernidade está ligado diretamente a um costume de vida, a uma forma de organização econômica, política, cultural, ideológica e social, que emerge primeiro na Europa no século XVII e a posteriori por todo o mundo, como mencionado anteriormente. O legado de apreensão da modernidade nas organizações sociais, em especial na família, é a busca permanente do equilíbrio entre o que é público e privado, e no niilismo de se obter algum conhecimento sistemático sobre as formas de organizações familiares. Corroborando essa afirmação, Giddens (2005, p. 12) declara:

A desorientação que se expressa na sensação de que não se pode obter conhecimento sistemático sobre a organização social [...] resulta, em primeiro lugar, da sensação de que muitos de nós não compreendemos plenamente, e que parecem em grande parte estar fora de nosso controle.

Essa compreensão trazida a partir da modernidade sobre as organizações sociais é de que não se tem como obter nenhum saber sistemático e que seja válido cientificamente. Na perspectiva marxista, “a modernidade é vista como um monstro [...] e o quão destruidor e irreversível seria o impacto da modernidade, denominado como sendo um ‘projeto inacabado’” (GIDDENS, 2005, p. 152).

No iluminismo tem-se a busca por encontrar o equilíbrio entre as esferas pública e privada, e no auge do liberalismo burguês, a sua degradação contemporânea. Durante o século XIX denominou-se o período privilegiado do privado, sinônimo de individualismo e íntimo, porque a sua relação entre a sociedade civil deu-se de forma idealmente concêntrica e entrecruzada (PERROT, 1991, p. 10).

Para pensar a privatização da família no século XIX, foram criados os discursos teóricos, normativos e descritivos, privilegiando a família na composição nuclear. O Estado tinha poucas intervenções na família, restringindo-se sua função à administração da sociedade. Com isso percebe-se que cabia à família as funções econômicas, sociais e biológicas, enquanto restava ao Estado as funções do espaço público. Nesse momento o espaço privado sai de um sentido negativo e converte-se em sinônimo de felicidade e realização de todos que o compõem.

Após a Revolução Francesa o espaço público deixa de ser uma coisa privativa do Estado, esse espaço privado era sinônimo de negativo e sem importância, passando a partir de então a revalorizar-s, ganhando status de felicidade e bem-estar, e paulatinamente acentuam-se os limites do que é público e privado. Dessa forma, há uma revalorização do papel da família, deixando nítida a cisão entre o que é público e privado. Como afirma Perrot (1991, p. 17), “a Revolução acentua a definição das esferas pública e privada, valoriza a família, diferencia os papéis sexuais estabelecendo uma oposição entre homens políticos e mulheres domésticas”.

As consequências da Revolução Francesa sobre a vida privada não se limitaram ao âmbito político e cultural, mas extrapolaram esse tênue limite, passando-se a questionar diretamente as principais ideias que sustentavam o Ancien Régime, tais como o papel da igreja, das corporações da nobreza e do clã familiar. No fim do século XVIII, precisamente em 1792, o Estado começa a intervir diretamente na formação da família, ou seja, ocorre a substituição da igreja pelo Estado como autoridade máxima nas questões familiares. Como enfatiza Hunt (1991, p. 36):

O Estado definiu os impedimentos à união, restabeleceu e regulamentou o processo de adoção, determinou os direitos [...] dos filhos naturais, instituiu o divórcio e limitou o poder paterno, em parte com o estabelecimento de tribunais de família.

A igreja vai perdendo a hegemonia de outrora com as intervenções do Estado no âmbito privado, ou seja, este começa a legislar a vida familiar, tentando um consenso para com a liberdade individual, a preservação da unidade familiar e a consolidação e fortalecimento do controle do Estado.

No século XIX, a família é o espaço privilegiado da vida privada, onde as mais diversas correntes teóricas de perspectivas liberais ou conservadoras a elegem como a célula de ordem viva e palco central da vida privada. De acordo com Perrot (1991), a composição nuclear de família surge de sistemas de parentescos amplos e persistentes, apresentando variados modelos de acordo com cada sociedade e cultura. Isso ocorre tanto nas cidades quanto nas áreas rurais. No Brasil, por exemplo, a família nuclear também aparece em variados sistemas de parentesco associada às condições da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, em especial as famílias pobres. Nessa direção: “A família, principalmente a família pobre, também vê sua autonomia

ameaçada, pela crescente intervenção do Estado, o qual, não podendo agir constantemente em nome dela, vem a ocupar seu lugar [...]” (PERROT, 1991, p. 91).

Durante esse século as instituições, como a escola e igreja, por exemplo, mas em especial a família, absorvem todas as funções e definem as regras e as normas de conviviabilidade. As prisões, os internatos, os quartéis, os conventos, os vagabundos, os boêmios, dentre outros, são obrigados a redefinir-se tendo como padrão a família nuclear. Assim, a família torna-se o centro, e as demais instituições são a periferia das formas de sociabilidade.

A Revolução Francesa tentou subverter a fronteira entre o público e o privado, construir um homem novo, remodelar o cotidiano através de uma nova organização do espaço, do tempo e da memória [...]. Enquanto o laisser faire, o ideal da “mão invisível”, predomina num

pensamento econômico estagnado, vivendo das glórias adquiridas no