• Nenhum resultado encontrado

Tipologia da composição das unidades domésticas por Municípios da Região

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

4.2 As Configurações Familiares na Região Metropolitana de Natal

4.2.2. Tipologia da composição das unidades domésticas por Municípios da Região

Analisando, a Tabela 2, a seguir, com a distribuição percentual dos tipos de composições das unidades domésticas ou das configurações dos arranjos familiares, a partir da comparação entre os Censos 2000 e 2010, para os municípios da Região

Metropolitana de Natal, inicialmente no tocante à configuração “casais sem filhos”34, verificou-se o aumento no número de casais sem filhos em todos os municípios da região metropolitana de Natal, no ano de 2010, em comparação ao ano 2000, com variações em torno de 2,2% a 4,8% pontos percentuais.

Os maiores aumentos percentuais foram observados nos municípios de Nísia Floresta, que saltou de uma participação percentual de 9,28% para 14,13% em 2010, seguidos de Natal, que passou de 8,43% para 12,59% e Parnamirim, que saltou de 10,78% para 14,17%, o que a colocou, todavia, com a maior participação percentual dos arranjos familiares na condição de “Casal sem filhos” dentre os municípios da RMN no ano de 2010, porém praticamente empatado com o município de Nísia Floresta (14,13%, como já observado).

Esse aumento na composição das unidades domésticas de casais sem filhos em todos os municípios da RMN e, especificamente, ainda mais nesses três municípios citados, pode estar relacionado a algumas causas relevantes do ponto de vista da adoção e execução de Políticas Públicas por meio, sobretudo, da descentralização e da busca de uma gestão intersetorial35, envolvendo tais políticas no Brasil, iniciadas ainda na década de 1990 e aprimoradas na sua forma gestão e execução a partir da década de 2000 até os dias atuais. Como exemplo, podemos citar os casos da Política Nacional de Saúde (PNS) e da Política Nacional de Assistência Social (PNAS)36 e o aprimoramento dos marcos legais relacionados à criança e ao adolescente, como também no que diz respeito a uniões estáveis e homoafetivas (BEHRING, 2008; SALVADOR, 2010).

Essa tendência de diminuição no número de casais sem filhos vem sendo observada no Brasil desde os Censos de 1980 e de 1990.

34 Unidade doméstica constituída por pessoa responsável pela unidade doméstica com cônjuge (IBGE

2014).

35 De acordo com Uchôa (2014, p. 230), “intersetorialidade é a intervenção coordenada de diversas

instituições socioassistenciais e econômicas no desenvolvimento de ações de atenção integral à vida da população, significa transformar ações voluntárias e eventuais em ações socialmente organizadas, orientadas estratégica e prioritariamente”.

36 A Lei nº 8742/93 dispõe sobre a organização da Assistência Social no Brasil. Já em 2004, é aprovada a

Política Nacional de Assistência Social e sua Norma operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB-SUAS). Essa política social tem o modelo de gestão descentralizado e participativo em todo território nacional, tendo como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, Brasil (2011).

Tabela 2 – Distribuição percentual dos tipos de composição das unidades domésticas segundo os Municípios da Região Metropolitana de Natal:2000 e 2010

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Uchôa (2014, p. 234, grifo nosso) apresenta algumas especificidades da intersetorialidade das políticas sociais na realidade do Brasil:

A intersetorialidade se transforma em um paradigma essencial no desenvolvimento das políticas públicas sociais e econômicas. Em situações complexas como a exclusão social brasileira, a intersetorialidade nas políticas públicas é um grande desafio [...] que deve ser assumido como compromisso de todos: governantes, gestores, profissionais, usuários, lideranças e instituições de ensino e

usuários.

Podemos citar, no caso da Política Nacional de Saúde37, em especial a Política Nacional de Planejamento Familiar (2007) e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (2004).

De acordo com Uchôa (2014, p. 233), “as políticas sociais e econômicas são intervenções do Estado em resposta às demandas e necessidades da sociedade, integrada por diversos e antagônicos interesses individuais e coletivos”, sendo necessário compreender o desenvolvimento das políticas públicas sociais e econômicas no modo de produção capitalista contemporâneo.

A adoção de possíveis políticas públicas no tocante, por exemplo, ao planejamento familiar38, voltadas aos municípios da RMN, tendo proporcionado uma

37

A Lei nº 8080/90 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências; e a Lei nº 8042/90 dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências, Brasil (1990).

tendência de números muitos parecidos na composição de toda a RMN, em relação a condição de “Casais sem filhos” e, em alguns casos, mais favoráveis fora do núcleo da RMN, como foi o caso dos municípios de Parnamirim e Nísia Floresta.

Muito embora o município de Parnamirim se constitua num prolongamento muito tênue da fronteira territorial com o município de Natal, onde a população tanto de Parnamirim quanto de Nísia Floresta, utiliza os serviços oferecidos pela capital, que detém a atenção plena na oferta dos serviços de saúde para todo o estado, decorre, devido à descentralização dessas políticas, sobretudo da atenção básica, relacionadas à educação em saúde, que abrange disponibilização de contraceptivos, que são ofertados nos próprios municípios e complementados, por sua vez, no tocante à prevenção e promoção à saúde, especificamente no que diz respeito aos serviços de planejamento familiar dos demais entes federativos (governos federal e estadual), referentes aos direitos sexuais e reprodutivos de média e alta complexidade, que são ofertados pela capital.

O menor aumento relativo de casais sem filhos foi no município de Ceará- Mirim, que já detinha a menor participação percentual dentre os municípios da Região Metropolitana de Natal no ano 2000 (7,57%), que saltou para 9,74% em 2010, mantendo-se, também, com a menor participação percentual em comparação com os demais municípios da RMN.

O Gráfico 4, abaixo, apresenta as variações entre os tipos de composições familiares por unidade doméstica de casais sem filhos entre 2000 e 2010, a partir da Tabela 2.

38 O Planejamento Familiar é assegurado na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226, como um

Gráfico 4: Tipo de Composição da Unidade Doméstica – Casal sem Filhos

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Outras questões não menos importantes são: a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho no Brasil, com maior intensidade nas últimas décadas, principalmente no setor de serviços; a postergação da maternidade; a redução das taxas de fecundidade e de mortalidade materno-infantil; e o aumento do nível de escolaridade em todos os níveis de educação por meio de algumas políticas sociais (MONTALI, 2009).

Um dado importante a ser analisado, foi a queda em termos percentuais dos arranjos familiares na condição de “casais com filhos39”, que foi significativamente maior do que o aumento observado no número de casais sem filhos, no ano de 2010, em relação ao ano de 2000. Isto ocorreu porque o número de casais com filhos, que teve um decréscimo em todos os municípios da RMN, a qual girou em torno de - 4,18% (Monte Alegre saiu de uma participação percentual de 50,61% em 2000 para 46,43% em 2010) a - 9,06% (Vera Cruz saiu de uma participação 55,06% em 2000, que por sinal era a maior entre os municípios da RMN naquele momento, para 46% em 2010). Contudo, a maior participação em termos relativos de casais com filho no ano de 2010, passa a ser

39 Unidade doméstica constituída somente por pessoa responsável pela unidade doméstica com cônjuge,

do município de Nísia Floresta, com 47,08%, e a menor participação percentual é a de Natal, com 45,86%.

A redução nos arranjos familiares na condição de “casal com filhos” é uma tendência em todos os municípios da RMN e em todo o Brasil também, segundo o IBGE (2014). Esse fato pode estar relacionado aos variados processos de mudanças dessas duas últimas décadas na composição e nas características das configurações familiares, inicialmente tais mudanças ocorreram nas regiões com maior dinamismo socioeconômico, como, por exemplo, nas regiões Sul e Sudeste do país. Essas mudanças estão relacionadas à incorporação de outros valores e hábitos, associados ao processo de reprodução social das famílias brasileiras.

O Gráfico 5, abaixo, retrata essas variações entre os tipos de composições familiares por unidade doméstica de casais com filhos entre 2000 e 2010, a partir da Tabela 2, de forma mais visível.

Gráfico 5: Tipo de Composição da Unidade Doméstica – Casal com Filhos

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

O fato de a queda no número de casais com filhos superar percentualmente o aumento no número de casais sem filhos pode ser explicado, matematicamente, pelo aumento da composição da unidade doméstica denominada “Unipessoal40” (ver Gráfico 1, anteriormente analisado), que tem um acréscimo em todos os municípios da RMN, com destaque para o município de Monte Alegre, que saltou de um percentual de 5,30% no ano de 2000, para 12,19% em 2010; uma diferença considerável de 6,89% a mais. As unidades domésticas unipessoais representam em torno de 12% do total das famílias do Censo de 2010 e constituem um tipo de arranjo que tende a crescer, ao mesmo tempo em que também se destacam enquanto unidades domésticas com renda domiciliar per capita mais alta do país (RIBEIRO; SALATA, 2014).

40 Unidade doméstica constituída apenas pela pessoa responsável pelo domicílio, nesse caso é apenas o

Observarmos ainda um crescimento na configuração familiar “Mulher sem cônjuge e com filhos”41, também denominada família monoparental chefiada por mulheres, em praticamente todos os municípios da RMN, mas de forma sutil, em menor proporção se comparado ao aumento na condição ou unidade doméstica denominada Unipessoal, no ano de 2010 em relação a 2000; sendo a única exceção o município de Monte Alegre, que decresceu de fato o número de “Mulheres sem cônjuge e com filhos”, saindo de 8,57% no ano de 2000, para 7,24% em 2010 (ver também o Gráfico 6, na sequência).

Essa tendência é secular porque a função social do “cuidado” para com a família sempre foi papel da mulher, especialmente em países em cuja formação sócio-histórica prevalece a composição do modelo de família patriarcal ou nuclear. Então, sempre foi atribuída à mulher o cuidado para com o esposo e a prole como alternativa de proteção social.

Gráfico 6 – Tipo de Composição da Unidade Doméstica: Mulher sem cônjuge e com filhos

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

41 Unidade doméstica constituída somente por pessoa responsável pela unidade doméstica do sexo

feminino com pelo menos um(a) filho(a) ou enteado(a). Também denominada monoparental feminina com filho(s) (IBGE, 2014).

No tocante a configuração familiar “Homem sem cônjuge com filhos”42, ainda analisando a Tabela 2 e visualizado também o Gráfico 7, a seguir, praticamente não há alterações expressivas do ano de 2010 em relação ao ano 2000, nem para mais, nem para menos. O mesmo praticamente se observa na condição ou unidade familiar “Sem parentesco”43 (ver novamente também o Gráfico 3, anteriormente visualizado). A média percentual das duas condições, respectivamente, para a totalidade dos municípios da RMN, para os anos de 2000 e 2010, é de 1,29% e 1,31% e de 0,32% e 0,44%.

Dentre todas as configurações familiares, a condição de Casal com filho, apesar de uma tendência de queda significativa de sua participação relativa, comparando o ano de 2010 em relação ao ano de 2000, ainda é significativamente predominante na RMN, demonstrando que a familiar tradicional tem ainda maior peso relativo em relação à todas as configurações familiares. A média percentual de participação, levando em conta a totalidade dos municípios da RMN, era de 50,54% no ano 2000 e passa a ser de 43,69% no ano de 2010. Ou será que nunca houve aumento nessa composição de unidade doméstica, apenas insignificantes aumentos que diante do total populacional não representam grandes avanços?

Na mesma direção, significa que ainda precisa avançar muito no papel da figura paterna ante as mudanças nas configurações da família no país discutindo as relações de gênero de forma interdisciplinar em todas as políticas sociais no Brasil.

42 Unidade doméstica constituída somente por pessoa responsável pela unidade doméstica do sexo

masculino com pelo menos um(a) filho(a) ou enteado(a). Também denominada monoparental masculina com filho(s) (IBGE, 2014).

43 Pessoa residente em domicílio particular, podendo ser agregado/convivente, pensionista, empregado(a)

Gráfico 7 – Tipo de Composição da Unidade Doméstica: Homem sem cônjuge e com filhos

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Esses dados referentes a configuração familiar “Homem sem cônjuge com filhos”, denominada família monoparental chefiada por homem, representam muito ante as configurações familiares na atualidade, pois “ainda” representam a resistência do homem em compartilhar com a mulher nos casos de separações e recomposições de familiares a guarda dos filhos. Em alguns municípios da RMN houve decréscimos no arranjo familiar “Homem sem cônjuge com filhos” em 2010, foram eles: Ceará-Mirim, Macaíba, Monte Alegre e Vera Cruz. Isso reforça que, o aumento das famílias monoparentais mulheres chefes de famílias com filhos é inversamente proporcional ao aumento das famílias monoparentais, homens chefes de famílias com filhos.

A inserção precarizada da mulher no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que o Estado restringe a participação na proposição e execução de políticas sociais específicas para as mulheres, deve também ser levada em consideração, tamanha a sua responsabilidade como chefe da unidade doméstica, atribuindo-lhes mais um papel a ser desempenhado na sociedade, enquanto exerce ao mesmo tempo a função de mãe, propriamente dita, de “pai” e de provedora econômica, educativa, social e trabalhadora da unidade doméstica. Como afirma Gueiros (2002, p. 102-117),

a família (leia-se mulher sem cônjuge, com filhos) tem sido chamada a preencher esta lacuna, sem receber dos poderes públicos a devida assistência. [...] A complementaridade Família – Estado parece cada vez mais tênue, depositando-se nas famílias uma sobrecarga que na maioria das vezes não conseguem suportar, tendo em vista as precárias condições socioeconômicas em que parcela considerável da população está submetida.

Finalmente, fechando a análise da Tabela 2, o que não pode ser deixado de lado em hipótese alguma é a condição “Outros”44, tendo em vista que aparece como a segunda condição mais significativa dos tipos de unidades domésticas, o que de certa forma, por não está desagregada em classificações que não denotem nenhuma configuração familiar e distorcem das demais, pela expressiva participação percentual, tanto no ano 2000 quanto em 2010, mantendo-se praticamente com a mesma média percentual: 24,53% e 24,56%, respectivamente, como podemos observar a partir do dados analisado na Tabela 2 e melhor visualizados no Gráfico 8.

Portanto, limitar a “Outros” uma parcela tão significativa da população brasileira na classificação dos tipos de unidades doméstica, é naturalizar as particularidades das demandas desse segmento populacional que fica à margem do acesso aos direitos sociais, já que, voltando a repetir, constituem-se em dados bastantes expressivos e que não tem uma devida tipologia parte do IBGE para algo tão significativo numericamente falando.

Gráfico 8 – Tipo de Composição da Unidade Doméstica: Outros

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Os maiores aumentos percentuais no Censo de 2010 nos “Outros” foram nos municípios Ceará-Mirim, de 28,98% em 2000 para 30,40% em 2010; Extremoz, de 26,38% em 2000 para 27,32% em 2010; Macaíba, de 23,9% em 2000 para 24,62% em 2010, e Vera Cruz, de 18,39% em 2000 para 24,10% em 2010. Houve municípios que apresentaram uma leve queda nesse tipo de unidade doméstica: Monte Alegre, de 24,15% em 2000 para 21,27% em 2010; Natal, de 27,89% em 2000 para 26,28% em 2010; Nísia Floresta, de 23,71% em 2000 para 19,44% em 2010; Parnamirim, de 21,99% em 2000 para 21,24% em 2010; e São José de Mipibu de 25,55% em 2000 para 25,10% em 2010. No entanto, essas quedas em “Outros” para esses municípios tiveram uma variação percentual menor que o aumento percentual para os demais municípios que cresceram o percentual, de 2000 para 2010.

A condição de “Outros”, o IBGE (2014) define em suas notas técnicas como sendo outras formas de configurações familiares que não são contempladas em sua tipologia.

Concluindo a nossa análise, podemos inferir que, se por um lado, as “novas” configurações familiares são cada vez mais presentes no cotidiano das relações sociais e começam a ter maior visibilidade com a contribuição de pesquisas, de apoio de grupos organizados; por outro lado, ainda há na identidade coletiva a crença de que “a família está em crise”, de que “a família vai acabar”. Portanto, não é possível falar de “família” no singular, e sim “famílias” no plural.

A pluralidade de composições familiares é mais que necessária ante as configurações em constantes mudanças que se acham ou não ligadas por laços consanguíneos, pois na atualidade o importante para ser considerada família não é apenas o grau de parentesco, mas o grau de afetividade entre seus membros.

A partir desses dados demonstrados, pode-se perceber que os institutos oficiais de pesquisa precisam redefinir continuamente suas metodologias de coleta de dados para conseguir dar respostas às demandas das expressões da questão social da atualidade. A partir disso, tanto o governo nas suas três instâncias governamentais (União, Estados e municípios), como a sociedade civil organizada, podem formular políticas públicas que representem a realidade e deem conta do desenho da população brasileira ora apresentada.

4.2.3. Distribuição percentual das fases do ciclo da Unidade Doméstica dos municípios