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CAPÍTULO V MÉTODO

5.2. O Processo de Investigação: Geração de Teoria sobre a Identidade

5.2.3.1. Fases da Recolha de Dados

Os dados, com base em entrevistas, observação e fontes secundárias, foram recolhidos durante dois anos, junto dos empreendedores e colaboradores. A recolha teve início com

as entrevistas e as observações, tendo os documentos e dados de arquivo sido consultados numa fase posterior.

A recolha de dados decorreu em 7 fases. Em cada fase, foram entrevistados todos os membros de cada organização. Nesse sentido, cada fase envolveu vários momentos de recolha de dados. Por outro lado, e para não tornar demasiado longa cada entrevista (procurou-se não ultrapassar os 65 minutos), por vezes, em cada fase os dados foram recolhidos em dois momentos para o mesmo entrevistado.

Segue-se a tabela 16 que procura descrever as várias fases de recolha dos dados e o tipo de dados recolhidos.

Tabela 16: Momentos de recolha dos dados

Momentos Técnicas Dados recolhidos

Janeiro a Março de 2005 Entrevista Observação Fontes secundárias

 Breve caracterização actual da empresa  Percurso profissional do entrevistado  Pós-arranque da empresa:

Dinâmicas internas da empresa  Definição da IO naquele momento Maio a Julho de 2005 Entrevista

Observação

 Dúvidas/ esclarecimentos  Pré-arranque da empresa:

Motivações para criar um negócio próprio Ideia do negócio

Papel de outras pessoas

 Mudanças organizacionais desde Janeiro e suas implicações

 Definição da IO naquele momento Setembro a Novembro de 2005 Entrevista Observação Fontes secundárias  Dúvidas/ esclarecimentos  Arranque da empresa:

Dinâmicas internas da empresa

 Mudanças organizacionais desde Maio e suas implicações

 Definição da IO naquele momento Janeiro a Março de 2006 Entrevista

Observação

 Dúvidas/ esclarecimentos

 Mudanças organizacionais desde Setembro e suas implicações

 Definição da IO naquele momento Maio a Junho de 2006 Entrevista

Observação

 Dúvidas/ esclarecimentos

 Mudanças organizacionais desde Janeiro e suas implicações

 Definição da IO naquele momento Setembro a Outubro de

2006 Entrevista

Observação

 Dúvidas/ esclarecimentos

 Mudanças organizacionais desde Janeiro e suas implicações

 Definição da IO naquele momento Dezembro a Janeiro de

2007 Entrevista

Observação

 Dúvidas e apresentação da teoria gerada  Mudanças organizacionais desde Janeiro e

suas implicações

 Definição da IO naquele momento

Esta tabela pretende demonstrar como decorreu o processo de recolha de dados de uma forma geral. Por vezes, sucederam-se momentos em que a fase da recolha se estendeu ou antecipou no tempo, em função de acontecimentos críticos que ocorreram. Por

exemplo, a iniciação do processo de certificação da qualidade por parte de algumas organizações obrigou a uma deslocação à empresa, para aceder em tempo real às alterações que estavam a surgir na organização. A entrada de novos colaboradores também implicou a recolha imediata de dados imediata.

Como se pode constatar pela tabela 16, os guiões não foram aplicados de forma sequencial. O terceiro guião, correspondente à fase de pós-arranque da empresa, foi aplicado logo na primeira fase de recolha de dados, por forma a monitorizar a identidade organizacional ao longo dos dois anos – Janeiro de 2005 a Janeiro de 2007. Ao longo de todas as fases da recolha de dados, foram averiguadas tanto as mudanças organizacionais como as implicações que estas produziram na organização e na identidade organizacional.

Como o processo de recolha de dados foi ocorrendo em simultâneo com o processo de análise (Strauss & Corbin, 1998), em cada fase de recolha procurou-se retirar algumas dúvidas/esclarecimentos que surgiram no processo de análise. Na última fase de recolha, apresentou-se a teoria gerada, por forma a averiguar da consistência e do sentido da mesma.

Segue-se a tabela 17 que sistematiza o número total de entrevistas. As observações decorreram nos momentos anteriores e posteriores às entrevistas.

Tabela 17: Número de entrevistas conduzidas por empresa

Empresa 1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase 4ª Fase 5ª Fase 6ª Fase 7ª Fase N Total

Sirius 10 9 7 8 9 9 9 61 Antares 16 11 8 8 8 8 8 67 Capella 10 7 6 6 6 6 6 47 Náiade 6 5 5 5 5 5 6 37 Proteus 9 5 4 4 3 3 3 31 Triton 7 5 4 4 4 4 5 33

As entrevistas foram gravadas, assegurando-se total confidencialidade, e posteriormente transcritas. Foi realizado um total de 276 entrevistas, com a duração de cerca de 200 horas e que geraram cerca de 2 300 folhas A4 de transcrição.

Segue-se a descrição dos procedimentos levados a cabo na análise de dados.

5.2.4) Análise dos Dados

À análise dos dados seguiu-se a abordagem da Grounded Theory. Glaser e Strauss (1967), por um lado e Strauss e Corbin (1998), por outro, apresentam visões distintas sobre a aplicação e interpretação da Grounded Theory. Optou-se pela visão de Strauss e Corbin (1998) por questões epistemológicas, teóricas e metodológicas. Epistemologicamente, a visão destes autores rejeita a elevada carga positivista que Glaser tinha depositado neste método, colocando a tónica na escuta das interpretações que as pessoas fazem da realidade (Hallberg, 2006). Strauss e Corbin estão, desta forma, a reforçar o paradigma interpretativista, que constitui a perspectiva base do presente estudo. Ao investigar a identidade organizacional, está-se interessado em perceber como os elementos de cada organização vêem e caracterizam o seu contexto. Teoricamente, a visão de Strauss e Corbin apresenta um corte determinante com a visão do seu precedente: a análise dos dados deve ser influenciada pelas teorias prévias do investigador, numa óptica de comparar os conceitos e teorias emergentes com os que constam da literatura (Charmaz, 2000).

No presente trabalho, onde a literatura sobre a identidade organizacional e o empreendedorismo é já vasta, o estudo da identidade de organizações empreendedoras deve acomodar o conhecimento já existente, por forma a gerar insights novos, inovadores e úteis. Metodologicamente, a análise dos dados com base nos procedimentos analíticos propostos por Strauss e Corbin – codificação aberta, axial e

selectiva – revela-se mais sistemática e fácil de aplicar, produzindo teorias mais interessantes, práticas e úteis.

Segue-se a explicitação da análise dos dados, de acordo com os procedimentos analíticos de Strauss e Corbin.

Utilizando os procedimentos analíticos de Strauss e Corbin, começou-se por fragmentar os dados recolhidos das entrevistas, observações e dos documentos e dados de arquivo, analisando-os linha a linha (Strauss e Corbin, 1998). Os fragmentos foram analisados em termos do seu conteúdo e começou-se o processo de categorização e de atribuição de nomes às categorias emergentes – codificação aberta. Tal como proposto por estes autores, os nomes atribuídos foram do tipo provisional, ou códigos in vivo, estando enraizados nos discursos dos entrevistados. Esta categorização foi emergindo de uma análise comparativa entre os dados, procurando as similaridades e diferenças entre os incidentes que compõem cada categoria (Charmaz, 2006). Dado o número avultado de categorias, muitas categorias foram incluídas em categorias de nível mais abstracto, em função das suas similaridades, e os nomes foram adaptados, passando de provisionais para categorias substantivas ou teóricas (Locke, 2001). No final, obteve-se um conjunto de categorias, agrupando cada uma um agregado de propriedades semelhantes.

Em seguida, passou-se à fase de codificação axial, na qual se reflectiu sobre as categorias emergentes, procurando perceber a relação entre elas (Strauss & Corbin, 1998). O objectivo desta forma de codificação é estabelecer relações entre as categorias por forma a conseguir explicar um dado fenómeno (Locke, 2001). Estas explicações baseiam-se na emergência de relações de causa-efeito, que, como definidas por Strauss e Corbin (1998), constituem eventos ou acontecimentos que influenciam um dado fenómeno. Neste estudo procurou-se, sobretudo, estas relações de causa-efeito,

procurando identificar as categorias que produziram efeitos na identidade organizacional. Atendendo aos procedimentos destes dois autores, tentou-se distinguir quatro tipos de categorias: (1) estrutura – o palco onde as relações causais têm lugar – (2) condições de intervenção – alteram o impacto das relações causais – (3) processo – que define a acção/ interacção entre as pessoas ao longo do tempo – e (4) as consequências – resultado das acções/ interacções entre as pessoas. Depois de saturadas as categorias, i.e., quando nova informação relativa ao contexto, condições de intervenção, processo ou consequências não emergiu dos dados, optou-se por parar a análise de dados (Dey, 1999). No final produziu-se uma teoria ou paradigma, i.e., uma forma de organizar os dados que explicam um dado fenómeno.

Através da codificação selectiva, procurou-se seleccionar a categoria central, que representa o tópico do presente estudo, integrando e refinando a teoria gerada (Hallberg, 2006). As categorias que não pareciam integrar-se na teoria foram novamente analisadas e encaixadas em categorias já existentes. A teoria gerada foi reanalisada, com o propósito de verificar as relações estabelecidas e a saturação das categorias, fornecendo- lhe maior consistência interna (Strauss & Corbin, 1998). No final, obteve-se uma teoria consistente e coerente sobre o fenómeno em estudo.

Em seguida, apresenta-se em detalhe como, através destes procedimentos analíticos, se analisaram os dados.

Como é usual nos estudos indutivos, iniciou-se o processo com a análise intra-caso, com o propósito de redigir uma história individual para cada estudo de caso (Eisenhardt, 1989a). Em primeiro lugar codificaram-se as entrevistas – atribuíram-se códigos por empresa, pessoa entrevista e fase de recolha – primeira letra do nome da empresa, primeira ou primeira e segunda letra do nome da pessoa (se houver repetições), numeração da fase. Com base nas quatro fontes de recolha de dados, teve inicío a

comparação dos dados em busca de padrões (Patton, 1980). Através da análise comparativa, de análise das semelhanças e diferenças (Srauss & Corbin, 1998), começou-se por gerar um conjunto de categorias relacionadas com a organização, como a missão, a visão da empresa, a estratégia, a cultura e o clima.

Através da comparação entre as categorias e as respectivas propriedades (Locke, 2001), estas categorias foram agrupadas em categorias de nível mais abstracto. Dado tratar-se de um estudo longitudinal, as categorias foram agrupadas em três momentos bem definidos no tempo: o período de pré-arranque – antecedente à formação da empresa – o período de arranque – correspondente à fase de criação da empresa e antecedente ao acompanhamento personalisado da empresa - e pós-arranque – período de acompanhamento efectivo da empresa. Da aplicação da codificação aberta fez-se emergir 13 categorias no total.

Na fase de pré-arranque emergiram 5 categorias: (1) insatisfação com a situação profissional – condições que geram insatisfação no trabalho – (2) relevância das características pessoais – pontos fortes dos empreendedores para o empreendedorismo – (3) – complementaridade entre sócios – características em que os sócios se completam para o negócio – (4) percepção de risco – prossecução do objectivo de empreender mesmo perante adversidades - e (5) Decisão de criar a empresa – o que levou os empreendedores a criarem o seu próprio negócio.

Na fase de arranque, emergiram 3 categorias: (1) variáveis macro-organizacionais – que descrevem o modo de funcionamento da organização – (2) símbolos da identidade – artefactos organizacionais que reflectem a identidade organizacional – e (3) – eventos críticos – acontecimentos que ocorreram ao longo da fase de arranque da empresa e que produziram impacto na organização. As variáveis macro-organizacionais apresentam como propriedades a estratégia, a estrutura, a cultura, o clima e o mercado em que a

empresa se inseria. Os símbolos da identidade emergiram constituídos por: missão, visão, filosofia de gestão e significado do nome e do logótipo. Os eventos críticos apresentam propriedades idiossincráticas, variando de caso para caso.

Na fase de pós-arranque surgiram 9 categorias: (1) características pessoais – perfil dos sócios e colaboradores – (2) características macro-organizacionais – que descrevem o modo de funcionamento da organização – (3) símbolos da identidade – artefactos organizacionais que reflectem a identidade organizacional – (4) – identidade organizacional – características centrais, distintivas e duráveis da organização – (5) eventos críticos – acontecimentos que ocorreram ao longo dos dois anos de estudo e que produziram impacto na organização – (6) mudanças nas características pessoais – alterações produzidas nas características pessoais – (7) mudanças nas características macro-organizacionais – alterações produzidas nas variáveis macro-organizacionais – (8) mudanças nos símbolos da identidade – alterações produzidas nos símbolos da identidade – e (9) – mudanças na identidade organizacional – alterações produzidas na identidade organizacional.

Em termos de propriedades, as variáveis macro-organizacionais apresentam as mesmas propriedades que as definidas para a fase de arranque; os símbolos da identidade vêem substituído o significado do nome e do logótipo pela identidade externa construída; a identidade organizacional é composta pela identidade real e pela identidade ideal; e as características pessoais, à semelhança dos eventos críticos, incluem propriedades específicas para cada caso, em função das idiossincrasias encontradas em cada organização. As categorias respeitantes às mudanças nas características pessoais, macro-organizacionais, símbolos da identidade e identidade organizacional contemplam as alterações que decorreram nas suas propriedades ao longo dos dois anos de estudo, em consequência dos eventos críticos.

Optou-se por atribuir nomes da literatura às categorias, para facilitar a comparação da identidade organizacional e das mudanças por ela sofrida ao longo dos seis casos. Apenas para os eventos críticos foram escolhidos códigos in vivo, para enfatizar as especificidades de cada caso. Estas categorias foram emergindo de um processo interactivo de recolha e análise dos dados. Para cada caso, era atingida a saturação teórica quando, em cada fase do empreendedorismo – pré-arranque, arranque ou pós- arranque – as novas entrevistas não acrescentavam informação nova aos dados já recolhidos.

Na fase de pós-arranque, através da codificação axial e selectiva, estabeleceu-se como categoria central a identidade, interpretando as restantes categorias como factores que produzem mudança na identidade. A identidade organizacional emergiu, assim, como uma variável influenciada pelas características pessoais da equipa, pelas características macro-organizacionais, pelos símbolos da identidade, pela identidade ideal e pelos eventos críticos. Estas mudanças nas características pessoais, nas variáveis macro- organizacionais e nos símbolos da identidade foram agrupadas em mudanças organizacionais. Estas mudanças organizacionais reflectem as dinâmicas de crescimento que as organizações empreendedoras passaram ao longo dos dois anos de estudo. Do estudo em apreço emergiram, deste modo, mudanças na identidade organizacional em consequência do crescimento das organizações.

Utilizando a terminologia de Strauss e Corbin (1998), identificou-se, assim, (1) a estrutura – o espaço físico da organização – (2) as condições de intervenção – as características pessoais, as características macro-organizacionais, os símbolos da identidade e a identidade ideal – (3) o processo – eventos críticos – e (4) as consequências – mudanças na identidade organizacional.

Na fase de pré-arranque, emergiu a decisão de criar uma empresa como a categoria central, resultante do efeito da insatisfação com a situação profissional, a relevância das características pessoais e a complementaridade entre os sócios, consideradas as variáveis de processo. Sobressaiu, ainda, a percepção de risco como condição de intervenção, no sentido em que estas três categorias afectam a decisão de criar uma empresa por meio do seu impacto na diminuição da percepção de risco. Na fase de arranque, emergiram as variáveis macro-organizacionais, os símbolos da identidade e os eventos críticos como variáveis definidoras do crescimento da organização durante esse período temporal. Terminou-se a análise intra-casos com a elaboração do relatório do estudo de caso para as seis organizações.

No âmbito da análise inter-casos, procurou-se pelos padrões comuns aos seis estudos de caso, sempre comparando todas as partes dos dados – categorias e suas propriedades – em busca de similaridades, variações e diferenças entre os casos. Na fase de pós- arranque, gerou-se como produto final dois modelos. O primeiro modelo explica como as mudanças organizacionais afectam a identidade organizacional, compreendendo a influência das características pessoais dos sócios e colaboradores nas variáveis macro- organizacionais e nos símbolos da identidade, que por sua vez produzem efeitos na identidade organizacional. Do impacto das mudanças organizacionais emergiram quatro formas de identidade – uma identidade una, comummente partilhada por toda a equipa, uma pseudo-identidade, identidades múltiplas e identidades organizacionais percebidas. Tendo este estudo evidenciado o que são as mudanças organizacionais que determinam a forma de identidade organizacional que se desenvolve na organização, criou-se um

segundo modelo explicativo das quatro formas de identidade organizacional encontradas nos casos em causa. Formularam-se, ainda, 14 proposições que detalham estes dois modelos, 12 das quais são sintetizadas em três meta-proposições.

Na fase de pré-arranque, emergiu ainda um modelo explicativo da decisão de empreender, e na fase de arranque emergiram as variáveis macro-organizacionais, os símbolos da identidade e os eventos críticos como diferenciadores do crescimento das organizações empreendedoras. Para cada uma destas fases apresentaram-se duas proposições explicativas das relações encontradas.

Durante toda a análise de resultados, fez-se uso das tabelas e redes causais para melhor exemplificar as relações encontradas entre as variáveis e, assim, melhor fundamentar os modelos e as proposições emergentes (Miles & Huberman, 1994).

5.2.5) Garantia da Cientificidade dos Resultados do Estudo

Tendo usado os designs do estudo de caso e da Grounded Theory, o presente estudo levou a cabo alguns procedimentos como forma de assegurar os critérios de cientificidade dos resultados obtidos.

Embora, largamente difundidos na comunidade científica, os estudos de caso são alvo de críticas, que apontam para a falta de rigor e o baixo poder preditivo deste design de investigação (e.g. Lincoln & Guba, 1985). Para assegurar a cientificidade dos resultados obtidos pela utilização do design do estudo de caso, o presente estudo seguiu algumas tácticas ao longo da investigação, tal como pode ser observado na tabela 18.

Tabela 18: Tácticas utilizadas no decorrer da investigação para assegurar os critérios de cientificidade dos estudos de caso. Baseado em Yin (1984)

Critérios de cientificidade Tácticas Fase da investigação em que a táctica é aplicada Validade de constructo • Múltiplas fontes de evidência

• Cadeias de evidência • Revisão dos participantes

Recolha de dados

Validade interna • Matching de padrões

• Construção de explicações por caso

• Análise baseada no tempo (cronologia)

Análise dos Dados

Validade externa • Múltiplos estudos de caso Design de Investigação Precisão • Protocolo do estudo de caso

• Base de dados para cada caso

Recolha de dados

Para assegurar a validade de constructo do presente estudo, baseou-se a recolha de dados em múltiplas fontes de evidência, concretamente a entrevista, documentos internos (e.g. relatórios, documentos de apresentação da empresa), observação directa e os artefactos físicos. Quanto à entrevista, teve-se o cuidado de aplicar o mesmo guião a todos os empreendedores e colaboradores de cada organização, por forma a perceber as linhas de convergência quanto à definição da identidade organizacional em cada momento, assim como as variáveis contextuais que a influenciam. A utilização de múltiplas fontes de evidência permite a triangulação dos dados, que assegura a veracidade dos dados obtidos ao longo de múltiplas fontes (Denzin, 1989).

O incremento da validade de constructo foi ainda conseguido com a aplicação de dois outros procedimentos: a revisão das interpretações por parte dos participantes e de uma cadeia de evidência. Durante o processo de recolha de dados, teve-se, igualmente, o cuidado de ir apresentando aos participantes os dados, anteriormente, recolhidos, bem como as reflexões sobre os mesmos, assim como apontado pelos autores (e.g. Miles & Huberman, 1994). A cadeia de evidência ficou explicitada com a apresentação dos

permite mais facilmente derivar as conclusões do estudo a partir dos dados recolhidos (Yin, 1984). Para tal, foi inclusivamente construída uma história para cada estudo de caso, contendo toda a informação relevante numa lógica longitudinal.

Especialmente importante para os estudos de caso de tipo exploratório, é importante demonstrar a causalidade das relações, no sentido em que determinadas condições levam a outras condições (validade interna) (Feagin, Orum & Sjoberg, 1991). No presente estudo, tentou-se identificar as mudanças organizacionais que levavam a mudanças na identidade. Para este efeito, foram aplicados três modos de análise: o matching de padrões, a construção de explicações e a análise baseada no tempo. Numa primeira instância, os padrões que se encontram no estudo, em termos das variáveis que produziram efeitos na identidade organizacional foram alvo de comparação com as predições teóricas, tendo sido obtidos matchings. Do mesmo modo, procurou-se a presença de explicações rivais (presença da variável independente esperada e de uma outra na predição de mudanças na identidade organizacional) sem êxito.

Assim, como aconselhado por vários autores (e.g. Glaser & Strauss, 1967), procedeu-se à análise dos estudos de caso construindo uma explicação para cada caso, em que se estabeleceram as relações causais entre as variáveis, que foram apresentadas sob a forma de redes causais e tabelas. A título de exemplo, foram construídas tabelas para cada estudo de caso com as variáveis organizacionais que influenciavam a identidade organizacional. Por fim, todas as explicações resultaram de um processo de comparação das proposições e modelo gerados com os dados obtidos. Também, a análise baseada no