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CAPÍTULO II O EMPREENDEDORISMO

2.4. O Empreendedorismo e a Criação de Valor

2.4.2.1. O Crescimento Enquanto Aumento em Quantidade

A teoria baseada nos recursos está alicerçada nos trabalhos pioneiros de Edith Penrose, cuja obra oferece contribuições importantes para o crescimento das organizações (Kor & Mahoney, 2004). Esta perspectiva tem como objectivo levar as organizações a obter retornos financeiros acima da média (Barney, 1986). Tal depende da oferta de um produto ou serviço distintivo ou, no caso do produto ser similar ao da concorrência, da prática de preços mais baixos. De acordo com Conner (1991), estas vantagens competitivas são conseguidas pela capacidade da companhia em reunir um conjunto de recursos único e distintivo. Os recursos são entendidos como entidades multidimensionais, compreendendo mais valias (assets), capacidades e atributos, processos organizacionais, informação, conhecimento ou tecnologia que são controlados por uma organização, permitindo-lhe conceber e implementar estratégias de melhoria da eficiência e eficácia (Daft, 1983; Heirman & Clarysse, 2004).

Neste sentido, são os recursos internos que conferem vantagem competitiva às organizações. Mais especificamente, a vantagem competitiva reside na heterogeneidade - diferentes de organização para organização – e na imobilidade – difíceis de mobilizar entre as firmas concorrentes – dos recursos (Barney, 1991). No entanto, nem todos os recursos heterogéneos e imobilizáveis asseguram uma vantagem competitiva da organização de forma sustentada. Para tal, os recursos devem caracterizar-se por serem:

meio; 2) raros, entre a concorrência; 3) imperfeitamente imitáveis e 4) dificilmente substituíveis (Barney, 1991; Mahoney & Pandian, 1992).

Segundo a teoria baseada nos recursos, cabe ao topo estratégico a combinação eficaz e inovadora dos recursos, tornando-os mais valiosos, raros, dificilmente imitáveis e substituíveis, por forma a gerar as mais valias que permitem à empresa retornos invejáveis (e.g. Grant, 1996). Relacionando com o empreendedorismo, esta unicidade dos recursos, tal como perspectivada pela teoria baseada nos recursos, tende a assemelhar-se com as novas combinações de Schumpeter (1934). Estabelecendo a ponte com o crescimento e atendendo ao papel basilar que os recursos desempenham na identificação e exploração de uma oportunidade (Siegel et al., 1993), a teoria baseada nos recursos vê o crescimento como uma evidência da actividade empreendedora. Neste sentido, a importância desta teoria prende-se com o estudo do modo como os recursos são gerados e geridos por forma a fazer a organização empreendedora crescer (e.g. Amit & Shoemaker, 1993; Barney, 1986). A unidade de análise preferencial tende, assim, a situar-se ao nível da actividade do negócio (business activity).

A par da teoria baseada nos recursos, também a perspectiva da adaptação estratégica - que coloca a tónica nas escolhas estratégicas dos empreendedores com vista à adaptação ao meio - e as teorias centradas no indivíduo - que enfatizam as características pessoais dos empreendedores - se têm debruçado sobre o crescimento das organizações empreendedoras. Como unidades de análise preferenciais, a perspectiva da adaptação estratégica tende a basear-se na estrutura de governação (governance structure), e as teorias centradas no indivíduo focalizam-se no nível individual. Tanto a teoria baseada nos recursos, como também a perspectiva da adaptação estratégica e as teorias centradas no indivíduo têm contribuído para uma melhor compreensão do crescimento das organizações empreendedoras, centrando-se na identificação dos factores que são

responsáveis por este crescimento. De entre os factores estudados como preditores do crescimento das organizações empreendedoras destacam-se características individuais dos empreendedores, das firmas e do mercado onde estas estão inseridas, tal como pode ser visualizado na tabela 3.

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Características Autores Medida de Crescimento Resultados da investigação

Características dos Empreendedores

Auto-eficácia Baum & Locke (2004) Volume de vendas e número de

postos de trabalho gerados A auto-eficácia é preditora do crescimento organizacional. Auto-eficácia Tominc & Rebernik (2007) Dados do GEM

(nº de start ups criadas) A auto-eficácia não é preditora do crescimento organizacional. Educação

(Nível de escolaridade) Watson, Steward & BarNir (2003) acerca do crescimento e do lucro. Percepção dos empreendedores A educação é um preditor do crescimento organizacional. Educação

(Nível de escolaridade)

Lee & Tsang (2001) Volume de vendas A relação entre a educação e o crescimento é moderada pela idade da firma.

Redes sociais Hansen, 1995 Opera no mercado há pelo menos 1

ano;

Tem pelo menos um empregado a

full time.

O tamanho, a inter-conectividade e a frequência das redes sociais permitem predizer o crescimento organizacional. Redes sociais Manolova, Carter, Manev &

Gyoshev (2007) Expectativas sobre o crescimento As redes sociais são predictivas do crescimento no caso dos homens, mas não no caso das mulheres. Características da Equipa de Empreendedores

Experiência prévia na

mesma indústria Delmar & Shane (2006) Volume de vendas A relação entre a experiência e o crescimento depende da idade. Experiência prévia na

mesma indústria Heirman & Clarysse (2005) Nº de empregos gerados Volume de vendas Total de mais valia (assets)

A experiência em R&D não é preditora do crescimento. A experiência comercial é preditora do crescimento. Heterogeneidade na

experiência técnica Aspelund, Berg-Utby & Skjevdal (2005) Morte das start ups A heterogeneidade reduz a probabilidade de morte das empresas. Heterogeneidade

na experiência empreendedora

Ucbasaran, Lockett, Wright &

Westhead (2003) Saída de membros da equipa A heterogeneidade aumentava a probabilidade de saída de membros da equipa. Características e Práticas de Negócio das Organização Empreendedora

Planeamento (dos objectivos e das actividades a executar)

Reid & Smith (2000) Nº de empregos gerados Lucro

Produtividade

O planeamento é um preditor do crescimento organizacional. Planeamento Skrt & Antoncic (2004) Aumento da quota de mercado O planeamento é um preditor do crescimento organizacional.

(dos objectivos e das

actividades a executar) Lucro

Planeamento (dos objectivos e das actividades a executar)

Bhide (1994) Artigo teórico Os empreendedores não elaboram planos de negócios.

Orientação

empreendedora (oe) Covin, Green & Slevin (2006) Volume de Vendas A relação entre a oe e o crescimento é moderada pela participação na tomada de decisão, pelo modo como a estratégia é formada e pela aprendizagem estratégica a partir do erro.

Orientação empreendedora (oe)

Wiklund & Shepherd (2005) Performance financeira Volume de vendas

A relação entre a oe e o crescimento é moderada pelo dinamismo do ambiente e pela disponibilidade de capital.

Características do Ambiente Externo Ambiente dinâmico

(incerteza em relação ao nº de firmas, empregador e gastos em I&D numa

indústria)

Davidsson & Delmar (2001) Volume de vendas

Nº de empregos gerados O ambiente dinâmico é preditor do crescimento organizacional.

Ambiente dinâmico (incerteza em relação ao nº de firmas, empregador e gastos em I&D numa

indústria)

Hmieleski & Ensley (2007) Volume de vendas Lucro

A relação entre o ambiente dinâmico e o crescimento é moderada pela heterogeneidade da equipa de empreendedores e pelo estilo de

liderança.

À imagem do cenário obtido com os preditores que diferenciam os empreendedores dos não empreendedores, também os estudos sobre o crescimento das organizações empreendedoras revelam inconsistências entre os resultados encontrados, o que vem dificultar a identificação das variáveis exactas que favorecem o crescimento. Para além dos estudos que procuram determinar os factores explicativos do crescimento de uma forma isolada, têm surgido investigações que procuram testar modelos integrados de preditores. Neste domínio, salienta-se o estudo de Eisenhardt e Schoonhoven (1990) que encontrou evidências da influência tanto das características internas da firma como dos factores externos no crescimento organizacional. Especificamente, estas autoras verificaram que a heterogeneidade e a experiência prévia de trabalho conjunto das equipas de gestão e o mercado em crescimento afectavam positivamente o crescimento das organizações de base tecnológica.

Num outro estudo conduzido em firmas empreendedoras de manufactura e instalação de material de construção (e.g. portas, janelas), Baum, Locke e Smith (2001) obtiveram um impacto directo significativo da motivação e das competências específicas (relacionados com uma determinada indústria e um trabalho específico) dos empreendedores, por um lado, e das estratégias competitivas (especificamente focadas no custo ou na diferenciação), por outro, no crescimento organizacional. Os traços (e.g. persistência, proactividade, paixão) e as competências gerais dos empreendedores (e.g. capacidade de decisão e conceptualização), assim como o ambiente externo (e.g. estável, liberal e simples), também exerceram uma influência significativa no crescimento, mas de uma forma indirecta.

Sistematizando, os estudos parecem apoiar os modelos integrativos, apontando para uma influência tanto dos factores intrínsecos à organização como dos factores extrínsecos ao crescimento das organizações empreendedoras. Mais ainda, os estudos

parecem evidenciar a importância dos factores relacionados com o empreendedor, a firma, a estratégia e o ambiente no crescimento, o que vem realçar a contribuição da teoria baseada nos recursos, da perspectiva da adaptação estratégica e das teorias centradas no indivíduo para uma melhor compreensão dos determinantes do crescimento das organizações empreendedoras.

2.4.2.2. O Crescimento Enquanto Aumento em Quantidade: Principais