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1 INTRODUÇÃO

5.2 Constituição do Estilo Gabriela Demarco – “Todos Felizes Com”

5.2.1 Fatores Estuturadores do Habitus

Gabriela Demarco, estilista e artista plástica, proprietária da grife Elvira Matilde, nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1962, filha única de um casal de classe média baixa. Desde cedo, aprendeu a cuidar da casa, tendo sua avó como uma grande companheira, já que seus pais se separaram quando ainda era criança e a mãe trabalhava fora. Mesmo tendo passado por muitas restrições financeiras, Gabriela guarda boas lembranças de sua infância, conforme pode ser observado nas citações abaixo.

Eu nasci no dia 23/09/1962, Ano do Tigre18 (DEMARCO, 2006).

18 O terceiro amo da astrologia chinesa é simbolizado pelo Tigre (Yin). O nativo de Tigre é dotado de coragem e senso de

justiça. (...) Seu caráter é uma combinação de timidez e valentia, paixão e integridade. Nunca se retrai diante das controvérsias. Na verdade, adora uma boa polêmica, pois sempre consegue convencer os outros a seguirem suas idéias (http://guruweb.cidadeinternet.com.br/astro_alternativa/resp_chines.asp). O Tigre simboliza o poder, a paixão e audácia. Eles inspiram admiração, mas também temor. Personalidade vivaz e impulsiva, adoram ser o centro das atenções. Às vezes eles tomam decisões precipitadas, mas isso se deve basicamente a sua natureza desconfiada e impaciente. Todo Tigre é um humanitário, se envolve intensamente e dá tudo de si quando está empenhado num projeto Persuasão é sua mais forte característica, mas de um modo tão sutil que as pessoas raramente percebem que estão sendo influenciadas (http://www.beltron.com.br/chines/index.htm). O Tigre está sempre em busca da renovação, já que gosta de se mostrar criativo e original e de, a partir disso, atrair a atenção, de ser adorado e de ser estimulado a ser perfeccionista. Também não se contenta com meias-verdades e muito menos em dividir elogios e atenções. As novidades exercem um fascínio muito grande sobre o espírito do Tigre, que não se segura e está sempre querendo mudar as coisas e as pessoas que estão ao seu redor. Isso provoca alguns conflitos de relacionamento, principalmente com o sexo oposto, já que o Tigre dificilmente cede. No campo amoroso, o sexo é visto como um complemento, nunca como uma prioridade em si mesmo. Uma de suas grandes virtudes, no entanto, é a capacidade de reconhecer suas falhas e de, assim, assumir a postura correta. (http://www.terra.com.br/esoterico/chines/signos/tigre.htm). O convencional e a rotina não agradam aos nativos desse signo, que está constantemente procurando renovar, reformar ou reformular, desde que consiga impor a marca da sua originalidade. Não se contentam com as meias-verdades. Para eles, a vida é um constante desafio na busca da verdade absoluta que, por ser uma meta inatingível, determinam o padrão de exigências que eles são capazes de impor a si mesmo. Uma de suas grandes

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Sou filha única, e minha avó Elvira (que já foi embora), durante minha infância, me ensinou (...) a criar, costurar e reciclar roupas. Na minha memória, visito sempre as peças confeccionadas por ela. É bom como passear por um jardim. (Jornal Hoje em Dia, 23/06/02).

Minha avó era uma mulher prendada e me ensinou muita coisa. (...) Ela costurava as roupas dos cinco filhos, além de fazer tricô e crochê. (...) A minha avó reciclava tudo. (...). Lembro que fazíamos milagres com agasalhos usados. Ela me ensinou a acreditar em transformação (Jornal da Tarde, Caderno Variedades, 12/02/05). Quando eu era pequena, o pessoal da minha casa juntava um tanto de blusa que não usava, aí minha avó (...) pegava aquilo, abria e fazia cobre leito. Ela costurava uma blusa na outra, ia emendando e forrava. Havia, também, uma roupa que a minha mãe usava para ir trabalhar, que a minha avó virava pelo avesso e a roupa ficava novinha (release da empresa,s.n.d.).

Creio que o lado Argentino mais forte é o que traz lembranças da infância e técnicas aprendidas com a vovó Elvira, as quais fazem parte do fazer de lá (www1.uol.com.br/modabrasil, acesso em 14/07/2006).

Gabriela durante muitos anos usou roupas recicladas por sua avó, mas, como a maioria das garotas da sua idade, desejava trajar-se na moda. Acredita-se que, de certa forma, isso contribuiu tanto para aumentar seu retraimento em público quanto para estimular sua busca por soluções estéticas originais a partir de materiais alternativos e reciclados. Ressalta-se que, até hoje, quando vai costurar, Gabriela usa a mesma máquina que era de sua avó.

virtudes, no entanto, é a capacidade de percepção aguçada, que o faz reconhecer suas próprias falhas e assumir a postura correta, desde que devidamente convencido disso (http://www.horoscopovirtual.com.br/hchines.asp)

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FIGURA 15 – Gabriela Demarco e família Fonte: Documentos da empresa

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Como muitos jovens de sua época, Gabriela viveu um período conturbado da história da Argentina, marcado por conflitos internos entre militares conservadores e civis liberais. Durante os anos 60 e 70, por exemplo, inúmeros presidentes civis e militares alternaram-se no poder, com golpes frequentes e implantação de ditaduras violentas. Enquanto o conflito social e a violência política se intensificavam, paradoxalmente, a economia Argentina registrava um dos mais altos índices de crescimento do mundo19.

Em 1972, Perón voltou para a Argentina, após 17 anos de exílio na Espanha, triunfando nas eleições de 1973. Com seu falecimento no ano seguinte, María Estela Martínez de Perón, sua esposa e vice-presidente, o sucedeu, sendo sua administração cercada de problemas econômicos, conflitos dentro do partido peronista, além do crescente terrorismo praticado por movimentos paramilitares. Um novo golpe militar a retirou do poder em 24 de março de 1976.

A Argentina se encontrava num caos político. Grupos extremistas realizavam seqüestros e assassinatos, levando a sociedade a um terror poucas vezes visto no país. Nesta situação, surge o movimento denominado “Processo de Reorganização Nacional”, que leva à presidência Jorge Rafael Videla.

A administração de Videla (1976-1981) se caracterizou por acentuada repressão, levando a cabo constantes perseguições, torturas e execuções de presos políticos. Além da violação sistemática aos direitos humanos, principalmente nos meios estudantis, na sua gestão surgiram conflitos de fronteira com o Chile, que estiveram próximos de se transformar em conflito armado. Houve, também, desmantelamento dos sindicatos e polarização na divisão de classes sociais. Ressalta-se que foi durante o seu governo que surge, devido aos inúmeros desaparecidos políticos, as “Mães da Praça de Maio”, associação de mães que durante anos reivindicou do governo informações sobre o paradeiro de seus filhos.

Em 1982, já na presidência de Leopoldo Galtieri, iniciou-se a Guerra das Malvinas contra o Reino Unido, disputando-se a soberania das ilhas. O absoluto fracasso das tropas argentinas e a morte de aproximadamente 600 jovens soldados provocaram o fim do regime militar. Com a volta da democracia em 1983, estimou-se que o número de vítimas do governo militar era de cerca de 10 mil pessoas.

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As violações massivas aos direitos humanos realizadas entre 1976 e 1983, assim como uma ampla tradição em golpes militares, tornaram complexo o processo de transição para a democracia, com reiteradas insurreições militares. Destaca-se que foi em 1989 que, pela primeira vez na história da Argentina, um presidente de um partido entregou o poder a um presidente de outro partido.

Durante os anos 60 e 70, além de ter vivenciado os momentos de instabilidade econômica e repressão política descritos acima, Gabriela Demarco sofreu influência de mudanças ocorridas em um contexto cultural mais amplo.

Nessa época, diversos movimentos jovens se espalhavam pelo mundo, exaltando valores e atitudes ligados a aspirações por soberania pessoal. Segundo Holt (2002), essa revolução cultural caracterizava-se por forte experimentação cultural, demonstrando grande preocupação com a liberdade existencial. Compreendia o indivíduo como um processo sempre em construção, sendo este valorizado pela autenticidade de suas escolhas tidas como soberanas.

A esse conjunto de manifestações deu-se o nome de contracultura. Tratava-se de uma busca por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema oficial. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.

Essas mudanças no comportamento, principalmente dos jovens, tiveram início na década de 60 com o sucesso do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis Presley, seu maior símbolo. Outra imagem marcante da época era a do jovem de blusão de couro, topete e jeans, em motos ou lambretas, demonstrando uma rebeldia ingênua sintonizada com ídolos do cinema como James Dean e Marlon Brando.

As moças “bem comportadas” já começavam a abandonar as saias rodadas de Dior, passando a usar calças cigarette, num prenúncio de liberdade. Os jovens, influenciados pelas idéias de liberdade "On the Road"20 da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. Londres havia se tornado a cidade da moda. Afinal, lá estavam os Beatles e as jovens inglesas emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas da Carnaby Street.

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No final dos anos 60, o reduto jovem mundial se transferiu de Londres para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas as partes do mundo e, também por isso, berço do movimento hippie, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor (flower

power), do negro (black power), do gay (gay power) e da liberação da mulher (women's lib).

FIGURA 16 – Imagens dos Anos 60 / 70 Fonte: Google – Imagens

Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo. No Brasil, por exemplo, o grupo "Os Mutantes", formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Batista, seguiam o caminho da contracultura e afastavam-se da ostentação do vestuário da jovem guarda, em busca de uma “viagem psicodélica”.

Toda a rebeldia dos anos 60 culminou em 1968. O movimento estudantil explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo, contestando a sociedade, seu sistema de ensino e a cultura em diversos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral e a estética. No Brasil, lutava-se contra a ditadura militar, contra a reforma educacional, o que iria mais tarde resultar no fechamento do Congresso e na decretação do Ato Institucional nº 5.

Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60 tenha sido o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão e liberdade sexual. Nesse sentido, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual

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feminino mais liberal. Porém, elas também queriam igualdade de direitos, de salários, de decisão. Até o sutiã foi queimado em praça pública, num símbolo de libertação.

Os anos 60 findam com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock Music & Art Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas.

FIGURA 17 – Woodstock Music & Art Fair Fonte: Google Imagens

Pode-se dizer que a década de 70 teve início com a perda da crença nos ícones e bandeiras dos 60, traduzida na afirmação de John Lenon quando da dissolução dos Beatles: "O Sonho Acabou". Colaborou para esse processo o assassinato da atriz Sharon Tate por um grupo de fanáticos liderados por Charles Manson em 1969; as mortes de Jimmy Hendrix e Janis Joplin em 1970 e de Jim Morrison em 1971 (MAYER, 2006).

O hedonismo dos festivais de rock ao ar livre, a celebração da vida alternativa, do amor livre, das drogas, do "flower power", foi cedendo espaço para a individualização, para o culto ao prazer e para o sexo casual em espaços fechados - as discotecas. Neste momento, Andy Wahrol proclamava: "no futuro todos serão famosos por 15 minutos”, assim como o estilo

Pop se definia a partir da ideologia anti-conformista desses jovens (MAYER, 2006).

Entretanto, em meados da década de 70, como uma resposta à frivolidade das discotecas, à ingenuidade hippie e ao rebuscamento do rock progressivo, surgiu o movimento punk. À dúvida dos anos 70, herdada dos anos 60, "ficar à margem do sistema ou integrar-se ao sistema", os punks responderam: nem uma coisa nem outra. A nova proposta era destruir o

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sistema, substituindo a “velha ordem hipócrita, injusta e desigual” por uma sociedade mais “verdadeira e honesta”. Não é por acaso que o movimento eclodiu em bairros operários dos subúrbios da Inglaterra. Era lá que a crise econômica se fazia sentir com maior força e era lá também que a mentalidade pequeno-burguesa era mais conservadora. Mas os punks defendiam também o direito à diversão, à liberdade, à alegria simples e genuína de uma música de três acordes falando da vida comum de pessoas comuns.

FIGURA 18– Ícones da Cultura Punk Fonte: http://www.punkhistorycanada.ca

Na visão de Bollon (1993), essa revolta não parecia ter nenhuma perspectiva, nenhum horizonte, e nem mesmo um real ponto de apoio. Um desafio vazio, um simples desejo de contradição, um puro prazer do exagero pelo exagero. Na sua estética, que além da indumentária, se expressava nos grafismos ou na paginação dos fanzines, todos os valores se invertiam e se anulavam, se igualando; o caos era festejado como uma nova ordem.

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FIGURA 19 – Fanzines Punk

Fonte: http://www.punkhistorycanada.ca

O movimento punk traduziu e materializou uma transição, uma passagem entre duas épocas, duas mentalidades, duas sensibilidades, duas “visões de mundo”, duas “ideologias” ou “quase-ideologias”. No entanto, de todas essas características do movimento punk, uma domina e engloba todas as outras. Segundo Bollon (1993), o punk era um movimento abertamente consciente, ou pelo menos afirmava essa pretensão. Visava produzir um efeito e a publicidade de seus atos parecia ser para eles sempre mais importante do que os próprios atos, como se estes não tivessem valor próprio. Os punks eram “espetaculares” e seu escândalo era um escândalo proposital, premeditado, construído, intencional, extrovertido, ou melhor, já “midiatizado”. Este é o caso, por exemplo, do grupo Sex Pistols.

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FIGURA 20 – Sex Pistols Fonte: Google Imagens

Pode-se afirmar que o principal legado dos anos 70 talvez tenha sido a luta pela liberdade de expressão em todas as suas dimensões. A luta pelo fim da censura, pela igualdade de condições e oportunidades para homens e mulheres, pela liberdade de opção sexual, liberdade para criar sua própria moda com o "faça você mesmo", liberdade para dançar como quiser - "dance bem, dance mal, dance sem parar"... Por isso, para o Brasil pelo menos, talvez os anos 70 não tenham terminado em 1979, mas um pouco depois, com a luta pela abertura política em 1984 ("Diretas Já"), com o amadurecimento de uma produção cultural de peso no cinema, na música, na televisão, ou até mesmo, em 1982, com a derrota da seleção brasileira na copa do mundo de futebol.

A década de 70 no Brasil também é marcada pelo “Milagre Brasileiro”, que promoveu o crescimento econômico devido a uma conjuntura favorável em nível do sistema capitalista mundial, acompanhado de uma ideologia ufanista, recheada de projetos destinados a causar impacto à sociedade (Transamazônica, Itaipu, Ponte Rio-Niterói). Esse cenário econômico acabou causando concentração de renda nas mãos de poucos e um aumento da dívida externa do país.

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Outro fator importante nessa década, principalmente para a moda brasileira, foi o sucesso das telenovelas. “O país parou para ver Sônia Braga no papel da ex-presidiária Júlia Matos, na novela Dancing Days, de Gilberto Braga, levada ao ar em 78-9. Foi o auge da era disco e mulheres de todas as idades copiaram seus looks” (PALOMINO, 2003, p.79). Segundo Palomino (2003), a TV se tornava um fator de grande influência para a moda, o estilo e o comportamento no país.

Segundo Mesquita (2004), é a partir dos anos 60 que as roupas passaram a ser produzidas em maior escala, ser acessíveis a um maior número de pessoas, permitindo a coexistência de estilos variados. “A era prêt-à-porter coincide com a emergência de uma sociedade cada vez mais voltada para o presente, euforizada pelo novo e pelo consumo” (LIPOVÉTSKY, 1989, p.115). Na visão de Disitzer e Vieira (2006, p.20),

o prêt-à-porter garantiu estilo à produção industrial e possibilitou o surgimento de criadores com uma nova mentalidade, bem distanciados do universo inatingível da alta-costura. De um momento para outro, a moda estava ao alcance de um número maior de consumidores, que passaram a exigir para si um pedaço do sonho e da fantasia, antes restritos à elite.

O prêt-à-porter trazia, justamente, o diferencial do estilo, da grife, da roupa com assinatura, para a produção em série. O prêt-à-porter passou a ser o principal pólo da criatividade, marcando o declínio da alta-costura, que assiste ao fechamento de suas casas proporcionalmente à diminuição da clientela.

Outros fatos importantes dos anos 1960 foram as butiques, novo conceito de loja que incorpora o espírito jovem e sofisticado da moda de vanguarda, e o surgimento do estilista-criador, aquele que desenvolve coleções prêt-à-porter dentro de seu estilo pessoal, dando origem ao criador de moda. (CALDAS, 2004, p. 57).

Nos anos 50 e 60 a moda italiana entra na cena internacional fazendo sucesso com nomes como Ferragamo, Pucci, Sorelle, Fontana, Schuberth e Gucci, sendo que esse último faz sucesso até hoje. Segundo Lehnert (2001), a história do êxito da alta-costura italiana começa com a quantidade de atividades comerciais que aconteciam em Roma.

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FIGURA 21 – Marquês Emílio Pucci, Estilista Italiano, e suas Criações Fonte: Google Imagens

Nos anos 70, a moda italiana continua sua trilha de sucesso com Valentino, utilizando-se de um estilo luxuoso e elegantemente suntuoso que agradava, sobretudo, as americanas. Nos anos 80, com Giorgio Armani, o casal Rosita e Otávio Missoni, Gianfranco Ferre e Dolce & Gabana. Nos anos 90 com a marca Gucci, resgatada pelo estilista americano Tom Ford, e pela marca Prada que, através de Miuccia Prada, sobrinha do fundador Mário Prada, alcançou o sucesso através do prêt-à-porter.

FIGURA 22 – Rosita Missoni, Estilista Italiana, e suas Criações Fonte: Google Imagens

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Também na década de 70, o Brasil tem destaque no segmento de Moda Praia. De acordo com Garcia (2006b), foi nessa época que um novo modelo de biquíni brasileiro surgiu para conquistar o mercado mundial - a famosa tanga. Durante os anos 80 surgiram outros modelos, como o enroladinho, o asa-delta e o de lacinho nas laterais, além do sutiã cortininha (GARCIA, 2006b). Mas, o preferido entre as jovens era o modelo “fio-dental”, que teve como musa a modelo Monique Evans.

O momento cultural vivido pelo Brasil nessa época propiciou a valorização do produto nacional e conseqüente desmistificação do estrangeiro. Inicia-se, então, em São Paulo o exercício do prêt-à-porter nacional, consagrando-se como um momento de grande difusão da moda “made in Brazil”.

No final dos anos 80, surge no cenário internacional da moda Kenzo Takada, o primeiro estilista japonês a se estabelecer em meio a moda européia, com um vestuário no estilo hippie, muito alegre, mas elegante. Segundo Lehnert (2001), estilistas vanguardistas como Issey Myake, Yojhi Yamamoto e Rei Kawakubo não tardaram em seguir Kenzo e se estabelecerem em Paris. Segundo Lehnert (2001), o vestuário criado por estes estilistas é caracterizado

por silhuetas completamente surpreendentes e por efeitos especiais, que colocam em primeiro plano materiais invulgares e vive em função do corpo, deixando para segundo plano o sexo de quem o veste. Foi o início de uma revolução do conceito ocidental de corpo e de vestuário (LEHNERT, 2001, p. 88).

FIGURA 23 – Criações Myake, Estilista Japonês Fonte: Google Imagens

Gabriela Demarco visitou o Brasil pela primeira vez em 1979, tendo chegado de navio cargueiro com o seu pai em pleno carnaval carioca. Nas férias seguintes retornou com as amigas, indo para Bombinhas em Santa Catarina, onde conheceu Paulo Emílio de Pádua, seu

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futuro marido. Mudou-se para Belo Horizonte, em 1982, com 20 anos, casou-se e teve três filhas: Teresa, Emília e Luísa. Suas expectativas eram constituir uma família, uma nova vida, em um país onde ela tivesse mais liberdade de expressão, assim como identificasse melhores oportunidades profissionais. Sobre seu estilo de vida e dificuldades de adaptação ao Brasil, em especial a Belo Horizonte, a estilista comenta:

Gosto de dançar, de tatuagens, de cachorros e de jiló, almeirão e quiabo. Quando não estou trabalhando, meu lugar preferido é minha casa. O time é o Cruzeiro e, na Copa, é complicado e inevitável torcer pelos rivais Argentina e Brasil. Música, quase todas que conheço, da clássica ao forró pé de serra. Agora Chet Baker. Roteiro de Viagem: Confins-Ezeiza/Mar del Plata de trem. Delícia: café na cama, no domingo. (Jornal Hoje em Dia, 23/06/02).

Melhor programa: andar de bicicleta na Andradas, bem cedinho. Melhor bar: Píer

Jazz, na Barbacena, e o São Jorge. Melhor restaurante: Sushinaka, embora ache caro.

Dia de domingo: ir ao Country e depois ficar desenhando e trabalhando. Bairro predileto: Santa Efigênia, onde tenho a fábrica e o ateliê. Prefiro a Zona Leste. É mais antiga, simples e cheia de doidos especiais. Beagá não tem: falta segurança