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EM BUSCA DO TERRITÓRIO IDENTITÁRIO

3.4 Festas e eventos

A festa é uma produção social que pode gerar vários significados, é uma reunião em torno de um objetivo comum de celebração, e também uma manifestação do cotidiano como afirma Guarinello

A festa é uma produção do cotidiano, uma ação coletiva, que se dá num tempo e lugar definidos e especiais, implicando a concentração de afetos e emoções em torno de um objeto que é celebrado e comemorado e cujo produto principal é a simbolização da unidade dos participantes na esfera de uma determinada identidade. Festa é um ponto de confluência das ações sociais cujo fim é a própria reunião ativa de seus participantes (2001, p. 974).

Do ponto de vista geográfico, reflete-se as festas como elemento regulador das ações sociais, de seus rebatimentos espaço-territoriais e como se enquadra

numa prática delineadora da identidade territorial. Nas festas encontra-se na verdade, um espaço de múltiplas territorialidades denotando também múltiplas identidades.

A festa gera produtos materiais e simbólicos sendo a identidade o mais geral desses produtos. Portanto à identidade é construído o jogo de representações que é produzido por meio de uma tensão entre o que é lembrado e o que é esquecido.

Nesse contexto, as festas do Bugio tendem à construção de múltiplas identidades, de acordo com os mais variados tipos de festas presentes, nas pequenas, em fins de semana, bares com músicos, ou nas grandiosas, como a Festa de Nossa Senhora Aparecida.

Houve um levantamento se há por parte dos moradores uma participação ou se são apenas expectadores das atividades presentes. As manifestações culturais detectadas estão relacionadas no quadro 06.

Festas religiosas Festas populares Eventos Outros

Nossa Senhora Aparecida

Bugio Folia Desfile cívico Campeonatos de futebol

Igreja Batista Fest Gay Gincana cultural Atividades do ECCO‟s

Centros Afro São João/Quadrilhas Serestas Atividades dos Guerreiros Revolucionários

Bloco de carnaval Comício Canal elétrico Juventude Fest/Trios Pagode

Aniversário do Bugio

Quadro 06: Manifestações culturais Organização: Rodrigo Lima Fonte: Trabalho de campo, 2010

Há uma grande variedade de manifestações culturais no Bugio, mas a de maior destaque está relacionada à religião católica, a festa de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil que acontece no dia 12 de outubro. Houve pessoas que afirmaram conhecer e participar da celebração. A festa surgiu após a instalação da paróquia no bairro em 26 de agosto de 1983 e oficializada em 12 de outubro do mesmo ano e, em 2011, estará completando vinte e sete anos de existência.

Desde o surgimento da festa, o número de participantes vem aumentando bem como as festividades em devoção à Santa. Realizam-se: alvorada de fogos (figura 16), novenário, caminhada, momentos de oração com os jovens, missa com

enfermos, encontro do apostolado da oração. Cada noite tem um movimento responsável pelas atividades do dia, estas que, em 2010 foram do dia três ao dia doze de outubro. O último dia é o auge da festa, quando são realizadas quatro missas (figura 17), e pela manhã há uma peregrinação que sai do bairro Siqueira Campos, da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, com destino ao Bugio, e um público estimado em 2010 de sete mil pessoas.

Figura 16: Fogos no final da procissão de Nossa Senhora Aparecida Foto: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de Campo, 2010.

À tarde, acontece a procissão com aproximadamente trinta e cinco mil pessoas, entre moradores e visitantes, conforme contagem da polícia militar em 2010.

Figura 17: Celebração de missa durante o dia 12 de outubro Foto: Prefeitura municipal de Aracaju, 2010.

Na procissão, ponto máximo da festa, as pessoas se vestem de branco, pagam promessas, muitas andam descalças, ou ajoelhadas, carregam imagens, terços, velas, alguns pais cobrem seus filhos com uma manta semelhante à de Nossa Senhora Aparecida, cantam e louvam a imagem da Santa. Há a presença de autoridades e políticos, entre outros. Após a procissão é celebrada a última missa e depois, shows de bandas gospel no restante da noite.

Há no bairro outras festas religiosas realizadas pelas igrejas evangélicas e centros afros, mas são importantes para os seus próprios grupos, e não possuem forte expressão e mobilização do bairro.

Entre as festas consideradas “populares”, a que mais se destaca é o Fest Gay. Essa festa fez em 2010, dezesseis anos, mas vem deixando de existir aos poucos, tanto que em 2010 não ocorreu. Segundo o organizador, Aterciano Alves, as dificuldades são imensas. Ele afirma: “quando a gente vai procurar alguém que patrocine ninguém quer por ser a festa dos gays. Em órgãos públicos é mais fácil, mas mesmo assim é trabalhoso”.

O Fest Gay consiste na realização pela manhã da “corrida gay”, na hora do almoço do “come gay”, à tarde, o “futgay”, “voleigay”, desfile da “beleza gay” de Sergipe e, à noite, show com bandas de pagode. Durante todo o período há estandes com campanhas educativas e preventivas de doenças sexualmente transmissíveis e distribuição de preservativos.

O Fest Gay acontece normalmente no mês de novembro recebendo gays e simpatizantes de outros bairros, municípios e até de outros estados. Essa festa reúne milhares de moradores na Praça Vereador Osvaldo Mendonça, que prestigiam os eventos ao longo do dia com receptividade e bom humor. Todavia, alguns entrevistados foram taxativos ao afirmarem não gostar dessa festa.

O carnaval é uma festa pequena no bairro, mas que movimenta a organização de blocos com marchinhas que saem pelas ruas durante o período. O principal grupo é o bloco “Os Caçarolas”. Criado no ano 2000 como uma brincadeira de amigos, moradores da Avenida José de Oliveira Guedes, que não podiam curtir o carnaval no interior do Estado. Outro bloco é o “Nega Maluka” organizado por Aterciano Alves que se fantasia de nega maluca e reúne amigos e a população em um bloco de carnaval. Em 2011 ocorreu também o bloco “mamãe quero beber”, organizado pelo morador conhecido por “Tin Tin”. As pessoas saem vestidas com abadás em cortejo embalado pela banda Spok Frevo Osquerda de Recife.

As festas de São João já tiveram uma expressão maior, mas ainda resistem em algumas ruas com a realização de arraiais com trio pé-de-serra e concursos de quadrilhas. A festa vem se alterando com a influência dos grandes forrós patrocinados pelo Governo do Estado na Orla de Atalaia e pela Prefeitura Municipal de Aracaju com o Forrocaju. Por isso, vêm perdendo adeptos a cada ano.

As outras festas não proporcionam grande mobilização no bairro que são o Bugio Folia, Juventude fest e o Aniversário do Bugio, mas mantêm-se importantes para seus organizadores. Esses três eventos são realizados com trio elétrico embalando foliões com músicas de axé percorrendo as principais ruas do bairro, Avenida Poço do Mero, Centenário e rua Pedro Alcantara Carvalho. A diferença entre essas festas reside no fato de o Bugio Folia e o Juventude Fest venderem abadás para os foliões, porém a maior parte das pessoas curte de fora das cordas.

Entre os eventos, apresenta o desfile cívico (figura 18) que acontece sempre um sábado após completar um mês do dia 07 de setembro, ao redor da Praça Vereador Osvaldo Mendonça, reunindo as escolas privadas e públicas do bairro comandadas por bandas marciais de várias escolas de Aracaju, por atrair moradores e familiares para assistir. Autoridades também se fazem presentes, como o presidente da União Sergipana dos Estudantes Secundários – USES – e o Secretário de Estado da Educação.

Figura 18: Desfile cívico do Bugio. Foto: Rodrigo Lima. Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Em época de eleição os comícios atraem moradores, e como em 2010, houve processo eleitoral, os moradores comparecem. Os pagodes e serestas

acontecem frequentemente, muitas vezes em fins de semana, nas praças públicas ou em bares, atraindo pessoas para os shows.

Existem ainda outras manifestações e/ou eventos como campeonatos de futebol, atividades do ECCO‟s, atividades musicais do grupo Guerreiros Revolucionários. O ECCO‟s realiza atividades diversas, esporte, educação profissionalizante, academia, grupo de idosos, encaminhamento para programas sociais do governo, entre outros. O grupo Guerreiros Revolucionários é uma banda de música que tem projetos sociais voltados para área musical destinados a jovens do bairro.

Ainda no contexto das atividades culturais não há como relegar a um plano secundário o futebol rotineiro, fora de campeonatos, o parque de diversão e a biblioteca itinerante do SESI – Serviço Social da Indústria. Estes exercem papel importante na integração, divertimento e lazer, usufruídos e mantidos (no sentido da existência) pelos moradores.

Independentemente da realização de campeonatos, o futebol é uma prática constante nos campos das praças; o parque de diversão está sempre com frequentadores, assim como a biblioteca; atividades e componentes incorporados no cotidiano do bairro.