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2 QUESTÕES DE MÉTODOS E METODOLOGIA NA OBTENÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES DO COTIDIANO

2.5 Instrumental da pesquisa

O planejamento de uma pesquisa depende do problema, da natureza e da situação espaço-temporal, além do nível de conhecimento do pesquisador. Nesse sentido, pode-se afirmar a existência de estudos com suas próprias características, ou seja, com especificidades atreladas à carga de percepções do autor.

A seguir, serão demonstradas as classificações de pesquisas de forma metodológica, o enquadramento dos objetivos aos instrumentais.

Do ponto de vista da abordagem do problema, segundo Silva & Menezes, (2001), existem dois tipos de classificação da pesquisa quanto à abordagem do problema: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa.

A pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números, opiniões e dados para classificação e análises. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.).

A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É, também, considerada descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Por vezes, é comum ocorrer críticas acerca da pesquisa qualitativa devido à ênfase ao lado subjetivo da busca pelas informações desejadas, bem como o envolvimento emocional do responsável pelo estudo.

Entretanto, é notório que deve-se fazer proveito de amplas possibilidades, em determinados momentos. As mesmas se completam numa construção agregada que facilita a explicação do fenômeno referente. Nesse sentido, para responder aos objetivos propostos, essa pesquisa é qualiquantitativa.

Do ponto de vista de seus objetivos, Gil (1991) classifica a pesquisa em três tipos:

A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso.

A pesquisa descritiva visa descrever as características de determinada população ou fenômeno, também o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento.

A pesquisa explicativa visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o “porquê” das coisas. Quando realizada nas ciências naturais, requer o uso do método experimental, e nas ciências sociais exige o uso do método observacional. Assume, em geral, as formas de pesquisa experimental e pesquisa expost-facto.

De acordo com essa tipologia, a pesquisa aqui definida é essencialmente exploratória, contudo aproveita nuances dos outros tipos como forma de enriquecer a análise.

Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, Gil (1991) expõe uma diversidade de tipos.

A pesquisa é bibliográfica quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. Em parte, foi utilizado este procedimento assim como por este trabalho ser efetuado por uma pesquisa documental pois também parcialmente, houve a elaboração a partir de materiais que não receberam tratamento analítico.

Parte fundamental do método aqui desenvolvido é proveniente do

levantamento, um dos tipos elencados por Gil (op. cit.) porque, envolveu a

interrogação direta das pessoas cujo comportamento intencionava-se conhecer. A pesquisa nesta dissertação é também um estudo de caso, devido o envolvimento do estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento, o que remete a pesquisa exploratória.

Gil elenca ainda, de acordo com os procedimentos técnicos, a pesquisa

experimental quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis

que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto; a pesquisa expost-facto: quando o “experimento” se realiza depois dos fatos; a pesquisa-ação: quando concebida e realizada em estreita influência com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos do fato ou problema encontram-se interligados de modo cooperativo ou participativo; e a

pesquisa participante: quando se desenvolve a partir da interação entre

pesquisadores e membros das situações investigadas.

Após as conceituações realizadas acima, no transcurso da pesquisa, possibilitu recorrer às mesmas para seguir o caminho inicialmente proposto no projeto de pesquisa e para dar o enfoque mais próximo da realidade desvendada no bairro Bugio.

Os instrumentais da pesquisa estão elencados a seguir de acordo com as três grandes etapas da pesquisa: revisão da literatura, trabalho de campo e tratamento dos dados.

 Revisão da literatura

A construção de um arcabouço teórico constituiu um requisito fundamental à pesquisa bibliográfica com ênfase nas ciências humanas e destaque para a geografia em que prevalecem temas relativos à construção de territórios identitários, buscando um melhor entendimento interativo, contidas em dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos científicos, revistas especializadas e livros. Esta foi realizada através dos acervos existentes na biblioteca Central da UFS -

Universidade Federal de Sergipe, e na biblioteca setorial do NPGEO/UFS – Núcleo de Pós Graduação em Geografia, como também em sites de revistas científicas, entre outros. A teoria levantada serviu de base para a definição dos parâmetros do trabalho de campo, bem como para o aprofundamento da análise dos resultados no transcurso da pesquisa.

Os dados secundários foram obtidos junto à SEPLAN – Secretaria de Planejamento do Município de Aracaju, que forneceu imagens de satélites e ortofotos dos anos de 1993, 2004 e 2008, a base cartográfica do bairro, sendo a Lei 873/82 que estabeleceu a delimitação dos bairros e o histórico da construção do Bugio. A Petrobrás – Petróleo Brasileiro SA – forneceu fotografias aéreas de Aracaju dos anos de 1971 e também ocorreram consultas de informações do Censo Demográfico no IBGE para a obtenção de dados gerais de população.

 Trabalho de campo

No trabalho de campo foram realizadas a observação direta, o registro fotográfico e entrevistas.

A observação direta fez-se necessária e serviu como complemento para a análise, tendo como base relatos do que acontece no cotidiano das vidas dos sujeitos. Obtiveram-se informações sobre a realidade por intermédio dos sentidos (visão, audição, tato, etc.) consistindo no exame sistemático dos fatos ou fenômenos a serem estudados. Esta técnica compreende, dentre outras, na observação assistemática (MARCONI; LAKATOS, 2008, p.194).

O registro fotográfico foi feito em todas as etapas do trabalho de campo, nas igrejas, associações, praças e loteamentos. Também, a busca por moradores que tivessem fotografias antigas, porém, não houve.

As entrevistas foram realizadas com o intuito de colher informações primárias por meio dos sujeitos da pesquisa. Elas podem ser definidas como uma conversa entre duas ou mais pessoas com um propósito específico em mente. O pesquisador quer obter informações que o respondente, supostamente possua (MOREIRA, 2004, p. 54). Foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturado com questões abertas de caráter individual, aplicadas a moradores do bairro, presidentes de associação e entidades sociais, e ao líder religioso da igreja católica.

A intenção era realizar com líderes religiosos, de pelo menos duas, das igrejas evangélicas de maior expressão, entretanto, após três tentativas em cada não, foi possível obtê-las (APÊNDICE).

A amostra aleatória simples foi definida para os moradores, em que dentro do universo de análise, todos os elementos têm o mesmo número de probabilidade de serem entrevistados, e intencional para os presidentes de associação, entidades sociais e líderes religiosos. Na amostra, tiveram como destaque as localidades8 dentro do bairro, pois existe uma divisão do mesmo em etapas e loteamentos, assim, possibilitou realizar cinco entrevistas no mínimo em cada uma das “partes” do bairro. As entrevistas ocorreram entre junho e setembro de 2010, mas alguns problemas de informação, identificados, acarretaram num retorno para outras três oportunidades.

Foram realizadas 54 entrevistas, sendo que cinco delas foram com moradores em cada etapa, 0, 1, 2, 3 e 4 e nos loteamentos Anchietão, Estrela do Oriente e Bugio 3, Beira Rio e Travessas, espacializadas na figura 04. Mesmo não sendo informação relevante em pesquisa qualitativa, as 54 entrevistas correspondem a aproximadamente 0,9% da população do bairro.

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Figura 04: Localização da moradia do entrevistado Organização: Rodrigo Lima

 Tratamento dos dados

A pesquisa bibliográfica possibilitou a melhor escolha do referencial teórico e a caracterização do bairro.

As informações dos questionários foram plotadas numa matriz Excel (APÊNDICE) possibilitando a visualização de todas as respostas, o agrupamento de algumas, e a construção de gráficos que auxiliaram na demonstração de especificidades, mas também de conjuntos.

O perfil dos entrevistados possibilitou o entendimento dos valores e significados atribuídos ao bairro e suas experiências cotidianas que viveram em nível individual. Essa opção em compreender o indivíduo foi fundamental para a compreensão dos desdobramentos das relações coletivas, pois a dinâmica afluiu a partir da percepção e cotidiano que os exercitam através do valor depositado sobre seu local de moradia.

Com relação à idade dos entrevistados, os adultos predominam na análise. Assim como a estrutura etária brasileira aponta para a maioria de adultos, o resultado foi semelhante no recorte espacial da pesquisa. Tomando por base a classificação empregada pelo IBGE9, é possível notar que os adultos perfazem mais de 74% dos entrevistados, todavia aqui se elaborou a estrutura em quatro faixas etárias: menor que vinte; de vinte e um a trinta e cinco; trinta e seis a cinquenta; e acima de cinquenta. (figura 05).

0 5 10 15 20 25 30

> 50 36 a 50 21 a 35 < 20

Figura 05: Estrutura etária dos entrevistados. Organização: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

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Ao relacionar a idade dos moradores ao tempo de residência nota-se que a maioria reside há mais de 20 anos no bairro. Destes, a maioria são adultos que nasceram ou foram criados no bairro, conforme figura 06.

Figura 06: Correlação entre idade e tempo de moradia no bairro. Organização: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Dos que residem há mais de 20 anos no bairro, a maioria possui entre 21 e 35 anos de idade, corroborando o que foi citado acima. São 27 dos entrevistados que moram há mais de 20 anos. Destes, 12 possuem mais de 30 anos de moradia, bem próximos aos anos de existência da localidade com 32 anos.

Uma informação relevante levantada foi a quantidade de moradores que trabalham no bairro, pois, 14 revelaram esta realidade. Tais pessoas estão envolvidas com atividades comerciais e serviços. Em maioria, vão trabalhar caminhando e com pessoas a todo o momento.

De maneira geral as pessoas estão ocupadas nas atividades comerciais e de serviços, seguidas de desempregados e donas de casa, conforme figura 07 a seguir.

Tempo de moradia no bairro

Figura 07: Ocupação dos entrevistados10 Organização: Rodrigo Lima Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Tais informações relacionadas ao número de moradores que trabalham no bairro possibilitam refletir sobre a importância da percepção dos mesmos acerca do meio que os cerca e uma ampla visão do cotidiano. Nesse sentido, os resultados adquiridos buscam na experiência vivida por moradores do bairro que estão ali vivenciando-o por muito tempo, possuidores de história e memória do território, dando base para a compreensão do cotidiano.

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CAPÍTULO 3