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EM BUSCA DO TERRITÓRIO IDENTITÁRIO

3.2 O espaço vivido

3.2.1 O cotidiano

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No capítulo 02 houve uma abordagem da teoria fenomenológica que destaca a análise do cotidiano na construção da identidade territorial. Assim, é no espaço que as relações do cotidiano acontecem, é o elo conector das coisas. A banalidade do dia-a-dia do mundo vivido remonta o povo a uma realidade geográfica existente dentro do território e ter esse conhecimento é importante para compreender as estruturas sociais, econômicas, políticas, religiosas e outras; bem como entender os processos de transformação da natureza ocorridos no bairro.

A análise do cotidiano permite compreender a realidade individual de forma ampla, relações entre todos os indivíduos e também com o seu local de vivência. Assim, o Bugio é apresentado como um bairro cujo cotidiano revela características para entender o hábito geográfico apresentado. A geografia do cotidiano é a geografia do modo de ser, fazer, representar, numa visão do olhar das pessoas que vivem, passam ou habitam um bairro de uma cidade. Pelo fato do seu uso habitual, o bairro pode ser considerado como a privatização progressiva do espaço público (DE CERTEAU, 1997).

No Bugio existem moradores que trabalham no seu interior e os mesmos vão trabalhar a pé. Quando se deslocam, observam de maneira diferenciada as características inerentes ao bairro, encontram pessoas conhecidas, ou até mesmo conseguem ter contatos que vão além da mera relação de clientela, fortalecendo os laços de amizade bem como favorecendo o apego ao seu lugar.

Dentre os mesmos, um cabeleireiro mostrou laços fortes com o Bugio, notados a partir de sua fala sobre o mesmo: “ele tem algo inexplicável, pessoas saem mas não esquecem o Bugio”, “minha vida é aqui no Bugio”14

. Ele possui seu estabelecimento situado na rua Jornalista Antônio Carlos Mendonça, na área de maior movimento e onde acontece a feira aos domingos. O presidente de uma entidade social chamada NAC – Núcleo de Ação Comunitária – e microempresário, também se sente parte do Bugio por fortes laços com o bairro, bem como aos jovens atendidos pelo seu projeto social: “a minha identidade de vida; no Bugio eu cresci, me desenvolvi e aprendi a conhecer todos”.15

Por trabalhar no próprio bairro, estas pessoas se relacionam com mais profundidade com os moradores e têm como rotina, estar no trabalho durante todo o dia e à noite em casa.

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Luis, cabeleireiro 15

Boa parte dos moradores é dona de casa ou está desempregado. As donas de casa, sempre percorrem as ruas do bairro nos seus afazeres, “ir à praça, ao supermercado, ficam nas portas conversando com os vizinhos, utilizam os serviços existentes e dão sentido à sua existência ao realizar tais práticas cotidianas. Tais relações de convivência associam-se ao que Heidegger chama de „ser com os outros‟, desvelando a não existência do ser a partir da individualidade”. É preciso estar ligado aos seus semelhantes para a determinação do sentido de ser como é apontado no capítulo 02.

Com efeito, esta relação “ser com os outros” está contida nas questões do ser-estar-aí, que resulta na do sentido da existência do homem cotidiano, nas suas práticas e afazeres no contexto espaço-temporal que se estabelecem.

A partir da observação realizada, pode-se obter um levantamento de quais as práticas cotidianas no transcurso diário dos moradores do Bugio elencadas na tabela 01.

Em

casa Trabalha

Esporte

e lazer Estudo Associação

Igreja católica Igreja Evangélica Totais Manhã 25 23 4 5 5 2 0 64 Tarde 24 23 13 5 6 1 0 72 Noite 36 9 12 7 3 6 6 79 Totais 85 55 29 17 14 9 6 215

Tabela 01: Rotina dos entrevistados16 Organização: Rodrigo Lima Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Os mais jovens, os aposentados e as mulheres adultas correspondem à grande maioria que permanece “em casa” nos três turnos. Quase 50% dos entrevistados são trabalhadores e próximo de 20% trabalham à noite, são adultos na faixa etária de 21 a 50 anos.

O que se observa é um movimento pendular dos que trabalham “fora” do bairro, mas também uma dinâmica interna promovida pelos que vivem e trabalham no Bugio, usufruem de suas praças e academias, dinamizam as associações e praticam suas religiões.

As atividades de esporte e lazer estão relacionadas ao uso da academia, e ao uso dos equipamentos esportivos presentes nas praças, quadra polidesportiva,

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campos de areia de futebol, campos de areia de voleibol e parques infantis. As praças dão suporte às atividades esportivas, pois o uso é livre para toda a comunidade. As praças são intensamente utilizadas, notam-se articulações de vários grupos sociais que se apropriam de parcela do espaço por necessidade de sobrevivência ou como ponto de encontro e lazer, ou mesmo os transeuntes no ir e vir deslocando-se de um ponto para outro. No caso do Bugio, as praças exercem o papel de “lócus” da convivência, ponto de encontro, por isso foram consideradas as áreas mais adoradas pelos moradores do bairro.

Aí existem cinco praças bem estruturadas e organizadas pelos gestores (quadro 03). As praças são a efervescência do convívio dos moradores, as pessoas se reúnem para conversar, levar seus filhos para brincar, praticar esporte, em algumas ocasiões, acolhem eventos culturais e shows musicais (figura 10), transformando-os em pontos de concentração.

Praças Equipamentos e serviços

Praça Vereador Osvaldo Mendonça Parque infantil – campo de futebol de areia – quadra de esportes – campo de voleibol de areia – pontos de lanche – bancos – telefones públicos (orelhões).

Praça Minervino Correia Silva Parque infantil – campo de futebol “society” – bancos – mesas de cimento – telefones públicos (orelhões).

Praça Dilton Jorge Parque infantil – campo de futebol de areia – bancos – telefones públicos (orelhões). Praça Zedeclias de Lemos Parque infantil – campo de futebol de areia –

bancos – telefones públicos (orelhões). Praça do Anchietão Campo de futebol na grama – bancos.

Quadro 03: Praças do Bugio e seus equipamentos e serviços Organização: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Dentre as praças citadas no quadro 03, a que ocupa a maior área é a Vereador Osvaldo Mendonça e a menor é a Zedeclias de Lemos. Todas são bem iluminadas, principalmente após recente reforma. Na Vereador Osvaldo Mendonça, junto à área ocupada pelo coreto no centro da praça, a copa da árvores bloqueava a luz dos postes. Mas com a última manutenção realizada pela prefeitura em 2010, houve a instalação de refletores no campo de futebol ao lado do coreto que

resolveram o problema da escuridão. Este espaço, quando escuro, servia de ponto de encontro de usuários de drogas e casais namorando.

De maneira geral, todas as praças são pouco arborizadas. Entretanto em comparação com demais áreas do bairro, ocupam espaços privilegiados, pois reúnem quase geral a quantidade de árvores existentes. Uma pesquisa sobre índice de áreas verdes, realizada por Resende et al (2009) identificou 99 árvores nos espaços públicos, com a maioria localizada nas praças.

A praça Vereador Osvaldo Mendonça é considerada a principal do bairro por concentrar maior parte dos serviços e atividades comerciais ao redor, e consequentemente de moradores usufruindo-os. Nos limites da praça localizam-se o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, O ECCO‟s (Espaço de Cultura e Convivência Social), a Igreja Apostólica do Avivamento, o Barracão Cultural “Seu Oscar”, o posto policial da polícia militar- PAC (Posto de Atendimento ao Cidadão) a Escola Estadual Professora Lucila Moraes Chaves, o Terminal de Integração do sistema de ônibus, o Mercado Municipal Governador Miguel Arraes e o supermercado GBarbosa. Assim, esta praça adquire centralidade urbana. A sua utilização concentra-se pela manhã e tarde, enquanto que à noite, a de maior número de frequentadores é a Praça Minervino Correia e Silva. (Figura 10).

Existem ainda algumas áreas chamadas de “áreas de convivência social” pela prefeitura, de tamanho reduzido e situadas, geralmente, nos canteiros de avenidas ou rótulas de trânsito, mas que possuem bancos bastante utilizados pelos moradores.

Figura 10: Aspecto das Praças Dilton Jorge e Minervino Correia Silva Foto: Rodrigo Lima

Os grupos ocupam o espaço apropriado no decorrer do tempo. Na Praça Vereador Osvaldo Mendonça os idosos ocupam a área central junto às arvores, onde conversam, jogam dominó pela manhã e à tarde e, também, próximo ao final da linha de ônibus. Os mais jovens procuram as lanchonetes e outros ocupam os espaços esportivos onde praticam vários esportes, futebol, voleibol, basquetebol. Alguns adultos e idosos a utilizam para caminhada. A efervescência do convívio acontece ao final da tarde e início da noite devido à temperatura mais amena. Ao fim de noite, usuários de drogas vão à área central para manter seu vício, alguns pulam os muros da Escola Estadual Lucila Moraes Chaves para se esconder, mas é possível sentir o cheiro de maconha quando por aí se transita. Todavia, com a implantação do PAC da Polícia Militar do Estado de Sergipe, quase não se veem mais usuários no centro da praça, os mesmos estão procurando locais mais afastados do policiamento.

Na Praça Minervino Correia Silva não há grande frequência de idosos, o território é dominado pelos mais jovens que utilizam o campo de futebol society e equipamentos ao redor. Pessoas de todas as idades ficam na área do parque infantil devido à grande quantidade de árvores que deixa o ambiente ameno e agradável às crianças e propicia conversas com os amigos, parentes e/ou vizinhos. Esta praça nunca tinha recebido qualquer ação de melhoria da prefeitura até que, em 2007, totalmente urbanizada e tornou-se um ponto de grande concentração de pessoas, de todo o bairro durante a noite que se dirigem para conversar, paquerar, namorar e lanchar. Hoje, com o intenso uso e a falta de manutenção da prefeitura aliada ao mau uso por parte de alguns usuários, a mesma vem se deteriorando.

Nas outras praças o convívio e os usos são semelhantes, até mesmo devido ao padrão urbano de reforma implantado pela prefeitura. Pessoas mais jovens utilizando os espaços esportivos e de lazer, outros nas lanchonetes, transeuntes e pessoas conversando.

Nos horários de utilização dos equipamentos esportivos, normalmente há concentração de pessoas nas praças, tanto para prática, quanto para a assistência. Nesses momentos os laços sociais são estreitados pelo convívio proporcionado pela companhia, pela torcida e encontros.

A presença de grupos de esportes organizados movimenta as praças, principalmente os de futebol. Muitos grupos cobram taxas mensais, organizam festas durante o ano e os horários dos jogos, realizados nos horários noturnos

durante a semana e diurnos nos finais de semana e feriados. Existem grupos já formalizados com registro em cartório, com sede, escudos e patrocinadores. O dia mais importante é o domingo17. Neste dia, o perdedor paga bebidas alcoólicas ao vencedor e após o jogo todos comemoram juntos.

Com relação aos aspectos do cotidiano educacional, o Bugio é servido por 6 escolas públicas estaduais e municipais e mais de 10 particulares. O elevado número de escolas imprime uma movimentação interna do bairro. O fluxo de crianças e adolescentes dá colorido especial às ruas e elevam os ruídos nas proximidades dos estabelecimentos. As públicas possuem atividades nos três turnos proporcionando atendimento a todas as séries do ensino. O público atendido é do próprio bairro e dos vizinhos Jardim Centenário e Olaria. Quase todas as particulares funcionam apenas durante o dia atendendo pessoas do ensino fundamental maior. As que abrem à noite, atendem principalmente os supletivos. Alguns moradores elogiaram a presença de grande quantidade de escolas, pois demonstra a qualidade do ensino. Um entrevistado revelou que uma das coisas que mais gosta no Bugio é “o desenvolvimento intelectual e cultural”18, outro falou “da

educação”19

.

3.2.1 O cotidiano das religiões

O fenômeno da religião é presente na vida humana visando à transcendência ou imanência, faz parte da cultura. Envolve aspectos dos fatos concretos e simbólicos do cotidiano, sendo que, este último é carregado de significados tornando uma característica da experiência humana. É a busca pelo significado de sua existência.

No bairro Bugio centros religiosos estão presente no cotidiano dos moradores apreendidos nas entrevistas e no levantamento da quantidade de templos existentes. A figura 11 mostra a distribuição pelo bairro chamando a

17

Quando se realizam os jogos do grupo verde e vermelho no horário da manhã atraindo muitos moradores. 18

Sandro. 19

atenção para o elevado número de templos evangélicos, vinte e um levantados em detrimento de dois terreiros afro e um único templo católico.

Dos vinte e um templos evangélicos levantados, conforme quadro 04, a maioria deles situa-se na periferia do bairro sendo nove instalados nos limites Sul, predominantemente em espaços pequenos e com pouca estrutura. Muitos destacam-se pelo nome, dois deles, à exceção dos demais, pelo tamanho e localização.

A Igreja do Evangelho Quadrangular situa-se na rua Geny da Silva Dias e a Igreja Apostólica do Avivamento na Praça Vereador Osvaldo Mendonça (figura 12), ao lado do templo católico.

Figura 11: Distribuição dos templos religiosos no bairro Bugio Organização: Rodrigo Lima

Como exposto, os fiéis evangélicos frequentam suas igrejas sobretudo à noite sendo o culto de domingo o mais frequentado. Os templos ficam lotados e ao término dos cultos é comum a permanência de adoradores nas calçadas e praças próximas. O encontro se estende com conversas nesses locais, movimentando os arredores e os serviços destes espaço.

Igrejas Evangélicas do Bairro Bugio Igreja Apostólica do Avivamento

Igreja do Evangelho Quadrangular Igreja Assembleia de Deus

Igreja Universal do Reino de Deus Igreja Assembleia de Deus Nova Vida Igreja Batista Pentecostal Alfa e Ômega Igreja Evangélica Nova Canaã

Igreja Nova Sião

Congregação da Igreja Batista Internacional Ministério Seguidores de Jesus em Células Igreja Batista no Bugio

Igreja Pentecostal Assembleia de Deus Igreja Testemunhas de Jeová

Igreja Evangélica Independente Igreja Pentecostal Monte de Sião

Igreja Assembleia de Deus Nova Jerusalém Igreja Adventista da Promessa

Igreja Mundial da Habitação de Deus Igreja Evangélica Monte das Oliveiras

Igreja Renovada Ministério Alargando as Tendas Igreja Batista Nova Esperança

Igreja Internacional da Graça de Deus

Quadro 04: igrejas evangélicas no Bugio Organização: Rodrigo Lima Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Os locais onde se realizam os cultos afro não são propriamente templos, nem pela arquitetura e tampouco pela presença de signos e placas. São locais “do conhecimento” da população, um situado na etapa 4 e outro no Bugio 3. Eles e a religão afro não foram citados pelos moradores de contatos e obtiveram identficações no trabalho de campo. O fato é que a presença da religião afro e do

significativo número de igrejas evangélicas traduzem o crescimento destas representações mas também, uma territorialidade que

[...] , significa o conjunto de práticas desenvolvido por instituições ou grupos no sentido de controlar um dado território, onde o efeito do poder do sagrado reflete uma identidade de fé e um sentimento de propriedade mútuo. A territorialidade é fortalecida pelas experiências religiosas coletivas ou individuais que o grupo mantém no lugar sagrado e nos itinerários que constituem seu território. De fato, é pelo território que se encarna a relação simbólica que existe entre cultura e espaço (ROSENDAHL, 2005, s/p.)

Figura 12: Templos:

Evangelho Quadrangular; Apostólica do Avivamento; Igreja Evangélica Nova Canaã Foto: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de Campo, 2010

Nesse sentido, embora com apenas um templo, a religião católica traduz o entrelaçamento entre a cultura e espaço mais arraigado. A grande maioria da população é católica, a igreja é frequentada nos três turnos, a paróquia é de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país e está situada na Praça Vereador Osvaldo Mendonça, ponto central do bairro.

A construção do templo deu-se concomitantemente à implantação do conjunto, 27 anos oficialmente, porém, mais de 30 anos de ofícios. A figura 13

mostra a simplicidade da fachada frontal do templo que recebe fiéis do Bugio, de outros bairros de Aracaju e de municípios vizinhos rotineiramente.

Figura 13: Igreja Católica Nossa Senhora Aparecida Foto: Rodrigo Lima

Fonte: trabalho de campo, 2010.

A religião católica se impõe na relação simbólica cultura/espaço pela presença cotidiana de fiéis numericamente superiores às demais, mas sobretudo pelos rituais festivos dos ciclos católicos natalino, quaresmal e junino. Os moradores do bairro “recebem” e interagem com a comunidade cristã da paróquia em teias de relações que, ao mesmo tempo que transpõem os limites do Bugio, fortalecem a identidade de ser, no bairro. A organização e produção de rituais, cursos, procissões, novenas, quermesses, presépios, dentre outras, propiciam multiterritorialidades fortalecidas no refazer das tradições.

Dentre as tradições destaca-se a procissão realizada no dia 12 de outubro na festa em comemoração à padroeira Nossa Senhora Aparecida. Inserida no espaço urbano, com percurso de aproximadamente três quilômetros, a festa proporciona o encontro coletivo, mas também, a simultaneidade das lógicas cultural e econômica. A fé move a multidão ao santuário e, “no caminho” leia-se no entorno, barracas de comidas e bebidas misturam-se com as ofertas de diferentes formas e tamanhos da padroeira e outros santos. A seletividade e a fragmentação compõem a paisagem externa da praça e ruas adjacentes. Todavia, são visíveis os sinais simbólicos da crença e da proteção nas posturas, vestimentas e gestos. Assim,

percebemos a centralidade do bairro no momento da festa, a distinção entre os que organizam e os que participam conformando sua vivência, sua produção e sua manutenção. Relações de vizinhança, solidariedade e sociabilidades surgem entremeadas de relações de poder e conflito, com o fluxo das formas visíveis e invisíveis de sua reprodução.

Com efeito, seja na procissão, seja nos rituais constantes, as pessoas praticam e demonstram suas crenças e fé transformando o bairro nos momentos especiais, da procissão ao movimento para os cultos. Nessas ocasiões, as ruas são ocupadas por carros; as roupas são distintas daquelas usadas para o trabalho; muitas famílias estão reunidas e se comportam diferentemente. As calçadas recebem esse fluxo diferenciado de fiéis tanto para a igreja católica quanto para as evangélicas, sobretudo para os templos maiores.

Mas, esse movimento só existe devido à presença dos templos no bairro, marcas de sua paisagem. Não há como adentrar no Bugio e passar despercebido do templo de Nossa Senhora Aparecida e não ter a atenção voltada para as dezenas de templos evangélicos. Ao mesmo tempo em que o catolicismo se impõe pelas práticas da maioria da população levando ao controle do território simbolica e até concretamente, não há como negligenciar as marcas dos vinte e um templos evangélicos.

3.2.3 Aspectos do comércio e serviços

O Bugio possui um comércio incipiente, mas em crescimento com presença de lojas de todos os tipos. São roupas, móveis, supermercado, padarias, açougues, mercearias, farmácias, armazéns, armarinhos, informática, autopeças, material de construção, mercado, joias e bijuterias, feira, entre outras, oferecendo as necessidades básicas de alimentação.

Observa-se uma clara setorização espacial do comércio. As lojas concentram-se na área próxima ao mercado municipal Governador Miguel Arraes, surgido há cerca de 30 anos mas com estrutura e oficialização há apenas 5 anos. O

mercado e um pequeno comércio em suas proximidades se fundem com a história do bairro.

A área comercial desenvolveu-se nas proximidades da Praça Vereador Osvaldo Mendonça. Com a expansão do bairro e o crescimento demográfico, ocorreu a diversificação do comércio com maior oferta de produtos e a feira foi ocupando espaços no que se convencionava chamar de mercado do Bugio. A estrutura do mercado resumia-se a um vão coberto por um telhado de zinco. Posteriormente, por meio de ocupações irregulares, o “mercado” foi-se estendendo para áreas ao redor, inclusive incorporando a estrutura do abrigo de ônibus e o ponto de táxi. No final da década de 1990, a estrutura foi retirada com a intenção de se reconstruir o mercado, permanecendo apenas um aglomerado de construções aleatórias, compondo o ambiente do mercado do Bugio (PMA, 2005).

A reforma era uma necessidade e reivindicação dos usuários do mercado devido às condições insalubres, com esgoto à mostra, mau cheiro e falta de higiene visível. As bancas eram de madeira sem qualquer tipo de higiene, organização e ordenamento. Barracos em alvenaria se misturavam àqueles em madeira, que de forma improvisada serviam, inclusive, de moradas, o que afugentava a freguesia e atraía apenas violência e vandalismo. Cestos pelo chão, bancas no meio da rua, cepos utilizados para apoiar a carne e esgoto correndo por meio das vielas compunham o cenário (PMA, 2005). (Figura 14).

O mercado e a feira atraem as pessoas, bem como o supermercado GBarbosa localizado ao lado, também no bairro há cerca de 30 anos. Nesta área hoje se concentra um comércio bastante diversificado e utilizado pelos moradores.