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2 QUESTÕES DE MÉTODOS E METODOLOGIA NA OBTENÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES DO COTIDIANO

2.4 O lugar da pesquisa: o bairro Bugio

O bairro Bugio localiza-se na parte noroeste do município de Aracaju e compreende uma área de 132 hectares correspondentes a 1,5% do total do município (figura 01). Possui como área delimitada pela lei municipal N.º 873/82, toda a Av. Centenário prolongando-se em linha imaginária até o limite do Município de Aracaju com o Município de Nossa Senhora do Socorro; trecho do limite do Município de Aracaju com o Município de Nossa Senhora do Socorro inicia na linha imaginária, prolongamento da Av. Centenário até o Rio do Sal; Trecho do rio do Sal começa no limite do Município de Aracaju com o de Nossa Senhoria do Socorro surgindo na linha imaginária prolongamento da Av. Centenário até o Rio do Sal; trecho do Rio do Sal iniciando no limite do Município de Aracaju com o Município de Nossa Senhora do Socorro até o Riacho de Cabral; Trecho do Riacho de Cabral a partir do Rio do Sal até a Av. Centenário7.

Anterior à construção do conjunto habitacional, as terras do Bugio eram ocupadas com coqueirais e sítios de árvores frutíferas, pertencentes a particulares que posteriormente foram adquiridas pela COHAB (Companhia de Habitação de Sergipe), na segunda metade da década de 1970, a fim de atender à demanda habitacional da capital.

O bairro Bugio nasceu a partir da construção de um grande conjunto habitacional denominado Assis Chateaubriand, mas permaneceu o nome Bugio, tal como o lugar era conhecido. Bugio é uma espécie de macaco bastante comum na Mata Atlântica e nas restingas litorâneas. A primeira etapa do conjunto foi inaugurada em 1979 com oitocentas e sessenta e uma casas e em 1980 recebeu outras mil duzentas e setenta e duas. Com o passar dos anos, foram construídos blocos de apartamentos às margens do Riacho do Cabral situado junto à etapa “0”. As obras começaram no governo de José Rollemberg Leite e continuaram no governo de Augusto Franco com o projeto urbanístico do arquiteto Décio Aragão. O conjunto Bugio representou um vetor de desenvolvimento de Aracaju para a Zona

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O histórico do bairro foi obtido junto à SEPLAN (Secretaria de Planejamento do Município de Aracaju). Fizemos atualização de algumas informações e acrescentamos outras.

Noroeste, uma situação que mais tarde foi ampliada pelo próprio povo, que ocupou as áreas de salinas e mangues circunvizinhas.

Figura 01: Localização do Bairro Bugio em Aracaju Organização: Rodrigo Lima

Fonte: SEPLAN, PMA, 2008, ATLAS DIGITAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DE SERGIPE, 2004

Vale destacar que o Bugio é um dos poucos bairros de Aracaju em que a ocupação não se fez por meio de entidades particulares, como agentes imobiliárias, mas pela ação do Estado na produção do espaço urbano. Como ocorrido na grande maioria dos conjuntos habitacionais, o entorno foi ocupado espontaneamente por população de baixa renda, a começar na porção oeste do bairro, às margens da Avenida Poço do Mero.

A população residente no Bugio é constituída por um grande número de pessoas oriundas de outros municípios e dos bairros periféricos. Logo após a sua ocupação, grande número de moradores iniciou a reforma das casas, mas a crise econômica, da década de 1980 achatou os salários (funcionários públicos, principalmente) e impediu que este processo continuasse de forma contínua. Ocorreu então um empobrecimento do bairro, mas nos últimos anos esta situação vem se revertendo.

Quando os primeiros moradores chegaram, tiveram que enfrentar uma série de problemas, comuns a qualquer empreendimento recém-construído, convivendo com situações precárias até 1985 quando a administração municipal de Jackson Barreto levou benfeitorias como rede de esgoto, calçamento e arborização, melhorando também, o acesso que era muito difícil por falta desta infraestrutura. Em 2000 a população do Bugio era de 16.498 habitantes (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e, considerando o crescimento de Aracaju na década, assim como a instalação de conjunto e favelas em sua periferia, em 2010, o bairro deve estar abrigando aproximadamente 18.000 habitantes.

O processo de ocupação do Bugio difere, em muito, dos demais bairros aracajuanos. Em uma área de muitos coqueirais, foi o espaço escolhido para a instalação do primeiro mega conjunto habitacional da capital e do Estado.

O Bugio foi crescendo, passando por transformações, sendo que a mais expressiva foi, de fato, a expansão sobre as áreas de proteção ambiental dos mangues situados ao redor do Conjunto. Como já foi dito, o processo de ocupação desordenado, leia-se invasão, ocorreu genericamente em todo o país, no entorno dos conjuntos habitacionais e o Bugio não fugiu à regra. A população de baixa renda instala-se contígua ao Conjunto, usufruindo, sobretudo, da oferta de transporte e dos serviços criados, “envelopando-o” com palafitas, criando uma barreira entre o Conjunto e o mangue. Neste processo surgiram as favelas Estrela do Oriente, Beira Rio e Anchietão, hoje loteamentos consolidados após à intervenção do governo

municipal com abertura e calçamento de ruas além de serviços de água e energia elétrica.

A consolidação do bairro ocorre com a ação pública de maior visibilidade que é a de infraestrutura. Em 2005, houve a urbanização completa do Anchietão e Estrela do Oriente. Em todos eles, a prefeitura executou os serviços de drenagem, terraplenagem e calçamento com paralelepípedos e, em 2008, realizou o benefício no Beira Rio.

A ocupação é contínua, pois há ainda áreas com palafitas nas bordas (figura 02) dos loteamentos cuja população vive em precárias condições de vida. Atualmente, a ocupação instalou-se sobre a última franja de mangue restante do sitio original. Observa-se que em alguns pontos do Beira Rio, as marés altas alcançam a alvenaria das casas e as palafitas (figura 03) já sinalizam a penetração sobre o canal do rio do Sal e do riacho do Cabral que circundam o bairro.

Figura 02: Imagem de satélite do bairro Bugio Fonte: Google Earth

Por ter sido construído sobre uma área de coqueiral, habitat extremamente atrativo para os cupins, de forma generalizada, os imóveis sofrem com essa praga que afeta as paredes das casas. No entanto, tem-se observado a diminuição gradativa dos cupins nos últimos anos.

Existe calçamento em quase todo o bairro. A parte mais antiga é asfaltada e nas recentes, as ruas são de paralelepípedo. Possui água encanada, rede de esgoto e possui coleta de lixo, mas mesmo assim é visível o lixo a céu aberto em algumas ruas. Há serviço de internet, telefonia móvel e fixa, transporte urbano, energia elétrica, denotando um lugar integrado às redes mundiais.

O bairro possui cinco praças urbanizadas, sendo que a maioria delas recebeu infraestrutura recentemente pela prefeitura de Aracaju. Possui um Centro Comunitário que já foi denominado de CSU (Centro Social Urbano), Casa da Família, e atualmente foi transformado em ECCO‟S (Espaço de Cultura e Conveniência Social), gerido pelo governo do Estado que realiza atividades sociais em prol da comunidade. Então, parte das atividades foram paralisadas no início de 2011, sem motivo aparente.

O Bugio é assistido pelo PACS - Programa Agente Comunitário de Saúde e dentre os serviços de educação existentes pode-se citar cinco escolas sendo uma municipal e quatro estaduais. Dentre os demais equipamentos e serviços, tem uma lavanderia que se encontra desativada, supermercados, agências bancárias, casa lotérica, mercado, taxi lotação e terminal de Bairro do SIT (Sistema Integrado de Transporte). Não possui delegacia. A população é atendida pela delegacia do bairro vizinho, Jardim Centenário, e pelo PAC (Posto de Atendimento ao Cidadão) da polícia militar, localizado na Praça Vereador Osvaldo Mendonça.

O fato é que, nesses trinta e dois anos, o conjunto Assis Chateaubriand completou suas etapas, loteamentos foram instalados em sua periferia e o Bugio

Figura 03: Palafita sobre o canal riacho Palame nas bordas do Loteamento Estrela do Oriente

consolidou-se como bairro de Aracaju e, pelos serviços e comércio aí desenvolvidos, exerce centralidade na porção Norte do município.