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EM BUSCA DO TERRITÓRIO IDENTITÁRIO

3.5 Imagem, percepção e atitudes

Para elaborar uma análise referente ao objetivo desse trabalho, faz-se necessário traçar reflexões sobre a imagem e percepção dos moradores. Assim, ocorreram nas entrevistas questões relativas ao conhecimento da história, ao que eles acham do bairro ser rodeado por mangues, a função do manguezal, se consideram o manguezal área de preservação, se os mangues são poluídos, da existência de uma festa que seja a imagem do bairro, qual a representação/grupo que melhor caracteriza o bairro, o que o bairro representa, o que mais gosta e o que menos gosta no bairro, qual é a imagem/símbolo do bairro, o que tem de mais

importante, se acredita que o povo do bairro acha o mesmo e um retrato dele baseado na percepção e imagem do entrevistado.

A percepção dos entrevistados mostra como os mesmos enxergam o mundo a partir da sua trajetória e das experiências vividas no decorrer da vida, carregadas de informações, referências, ideias e regras estabelecidas coletivamente.

A imagem diz respeito à representação contida na mente sobre um lugar, pessoa, objeto, normalmente associada a uma informação sensorial estabelecida por meio de um processo longo de assimilação a partir das experiências externas.

Nessa relação é possível afirmar: as pessoas que conhecem a história do bairro são as que mais gostam do mesmo tomando por base a pergunta que se refere ao fator de que gostam no bairro, e afirmaram nas falas: “clima fresco”, “atmosfera intimista”. Pessoas citaram que gostam de aspectos relacionados ao comércio e aos serviços presentes, da educação, lazer e esportes. Foram encontradas citações como: “cultura esportiva” e “desenvolvimento intelectual do povo”. Das pessoas que conhecem a história, 33% participam de algum tipo de grupo (associação, igreja, esporte, lazer, etc.), dos quais houve destaque quanto à participação em grupos religiosos.

Em referência ao conhecimento da história, relatos do passado foram obtidos por pessoas que estiveram na área antes da construção do conjunto. Na fala dos entrevistados, “antes eu vim aqui num sítio de coqueiros, tinham salinas no Ângela Catarina e tinha uma granja. Aterraram o mangue, tinha uma prainha que o povo tomava banho”24

; “o bairro era um sítio, na rua Radialista Silva Lima era uma cancela, tinha coqueiros, aos poucos as pessoas foram chegando, estima-se que era loteado. Tinha o macaco chamado Bugio, devido aos coqueiros”25

.

A referência ao macaco Bugio que deu o nome ao conjunto, a despeito do nome oficial e, posteriormente, ao bairro, à referência dos coqueirais e salinas denotam a situação pretérita de franja rural mas também de periferia urbana que, em três décadas se incorporou à malha urbana de Aracaju. Percepções essas bem nítidas quando solicitadas a tecerem comentários comparativos ao Bugio do passado e o atual. Eles indicaram sobretudo as transformações na infraestrutura, na oferta de serviços, mas, curiosamente, posto que indiferentes aos manguezais, acusaram sua destruição em referências às invasões do seu entorno:

24 José Batista “Seu Duduca”. 25

[...] antigamente não tinha energia, não era calçado, não tinha asfalto, era um conjunto de pobre, e hoje em dia ele mudou muito, temos tudo, supermercado, é calçado, as praças, o mercado arrumado, tem o campo do Anchietão que ta organizado, as praças tem lazer para as crianças, o comércio ta grande, farmácia 26.

Para este morador houve melhora, mas com degradação ambiental:

[...]o bairro se desenvolveu, antes era pouco desenvolvido, porém a questão ambiental houve retrocesso, aumentou a qualidade de vida, aqui na rua tinha árvores, hoje não tem mais. Antes ia para o Santos Dumont de canoa, não tem mais pescadores, não existe consciência ambiental 27.

A despeito da percepção dos entrevistados sobre os manguezais e acerca da influência do mesmo nas suas vidas, foi questionado qual era a opinião a respeito do bairro ser rodeado por mangue. Possibilitou observar que a maioria considera ótimo/bom essa condição como mostra o figura 19.

Figura 19: Percepção dos entrevistados sobre a presença do mangue no bairro Bugio Organização: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

No agrupamento de ótimo/bom prevaleceram respostas como “é perfeito”, “é positivo”, “é um privilégio”, entre outras. Nesse sentido, pode-se afirmar que as pessoas consideram o mangue importante, mas consta alertar também a localização de moradia dentro do bairro. As mais próximas ao mangue têm percepções diferentes daquelas que residem mais distante. Constatou-se no presente trabalho

26

Gildete, moradora. 27

que a percepção contém mais aspectos positivos do que negativos em relação à presença do mangue nos contornos do bairro.

Ao mesmo tempo, com a presença dos aspectos positivos, há também a percepção de que o mesmo está acabando, indicando consequências visíveis da degradação (figuras 20, 22 e 23) quando qualquer pessoa se aproxima das margens dos mangues no bairro.

Figura 20: Aspecto da degradação do mangue Foto: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010

Foi constatada também a indiferença por parte dos entrevistados. Parte deles reside dentro do bairro em localidades distantes como diz uma moradora, “às vezes nem lembro que tem mangue” 28. O domicílio dela fica na rua “C”, a quase

dois quilômetros de distância.

Poucos entrevistados afirmaram não gostar da presença do mangue, considerado como bem de ventilação e com sustento. Entrevistamos um pescador chamado Xareu concedeu uma entrevista, que não sobrevive totalmente do mangue, é aposentado, e a pesca é um complemento na renda. Para o pescador, a atividade era melhor antes do que agora, com o mangue degradado. Ele afirma que “o mangue é perfeito” e serve para tirar caranguejo, aratu, manter a biodiversidade. Mas tem a percepção do fim do mangue: “vai se acabar, eu não dou 10 anos, a poluição vem matando tudo, ninguém descobriu a causa”. A poluição é presente, o mesmo afirma que a área sofre com lançamento de esgoto, química, óleo, invasão

28

desordenada e lixo em geral. A sua rotina é levantar, ir ao mangue onde tem um local pra guardar seus instrumentos e a canoa (figura 21), passar o dia e voltar para casa à noite.

Figura 21: Rede e canoa – Instrumentos de pesca Foto: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010

Para este pescador, a festa de Nossa Senhora Aparecida é a mobilizadora e é a imagem do bairro. Ele participa todos os anos somente da festa. Não participa de nenhuma associação. O Bugio “representa tudo, meu dia-a-dia é aqui”. A praça é seu símbolo e tem no mangue a coisa mais importante para ele. Para retratar o bairro, não poderia faltar o mangue e ainda acrescenta “eu acho ele lindo”.

O sentido do mangue para este pescador vai além de mero sustento. Durante todo o transcurso da entrevista indicava o forte apego e sentimento quando falava na pesca e no fato de estar em contato todos os dias. Mesmo respondendo que a praça é o símbolo do Bugio, é claro que a relação deste é totalmente diferente dos outros entrevistados, para ele o mangue é “símbolo” de sua existência, e o que dá sentido à sua vida.

Com base à função do manguezal para o Bugio, a principal é a econômica. Na sequência vem respostas como “não sei”, moradia, lixeira, biológica, ventilação e refúgio de bandidos.

Curiosamente, os entrevistados deram ênfase à pesca como uma atividade econômica presente no bairro, assim como a extração de caranguejo e sururu nos

mangues. Para uma melhor compreensão, torna-se necessário um aprofundamento junto aos demais pescadores que ainda existem no bairro.

A citação “moradia” teve um número considerável de respostas, e tem de fato uma presença marcante. O mangue foi invadido e as pessoas hoje moram dentro dos limites do manguezal (figura 22).

Figura 22: Casa de alvenaria ocupando o mangue e lixo despejado Foto: Heverton Ramon

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

O mangue como lixeira é visível quando há aproximação do lixo. Além de, durante as entrevistas, muitas pessoas afirmarem ver os vizinhos jogando lixo, caçambas e carroças despejando resto de construção para aterrar e posteriormente edificarem residências como visto na figura 22.

A função biológica foi pouco citada. Estas populações têm uma pequena noção da importância que o mangue possui para as populações que vivem dele, e como da biodiversidade existente.

Refúgio de bandidos e ventilação foram citados por apenas uma pessoa. A comunidade sofre com bandidos e quando estão em fuga ou mesmo espreitando para praticar assaltos se escondem dentro do mangue.

Sobre o manguezal ser considerado área de conservação, 93% dos entrevistados responderam positivamente. As pessoas sabem da importância de manter o ecossistema, porém por outros motivos acabam não agindo em favor do manguezal, atribuindo esta tarefa ao poder público como diz um entrevistado “tá na hora de se ter uma política mais rígida, há um avanço mas não está olhando a

sustentabilidade” 29

e acabam esquecendo da responsabilidade de todos para com a preservação.

Outro questionamento diz respeito se os mangues estão poluídos ao redor do Bugio, 94% responderam sim. As pessoas sabem que o mangue está poluído e apontam como principal causa o lixo e esgoto doméstico despejados nos canais. Tal fato foi constatado no trabalho de campo visto na figura 23.

Figura 23: Lançamento de esgoto no mangue Foto: Heverton Ramon

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Na percepção sobre o que mais e menos gostam no bairro obteve uma gama de fatos e depreendimentos da análise que no bairro, como um todo, ser e estar no Bugio, transpareceram o sentimento de pertence para com o ele.

A “singularidade” do lugar e a oferta de comércio e serviços, dentre eles a educação destacam com 24, 40 e 23 depoimentos, respectivamente. Como lugar singular o Bugio é descrito e sentido pela: “atmosfera intimista”, “a tranquilidade”, “pessoas acolhedoras”, “o ambiente”, “a vizinhança”, “a integração das pessoas”, “a fé do povo”. Nesse sentido pode-se relacionar ao território simbólico estabelecido pelo valor de uso, pelo vivido, pela subjetividade, em que há identificação com o seu local de moradia. Esses sentimentos conduzem à espacialidade da ação dos moradores no campo simbólico apreendida e perpassada pelas representações.

Com relação a “comércio e serviços”, as pesquisas encontraram respostas como “praças”, “fácil acesso”, “bom transporte”, “feira”, “a limpeza”, “supermercado” entre outras. Dentre as mesmas, podemos destacar a grande quantidade de

29

citações as praças, como visto, espaço de vivência e sociabilidade dos moradores da manhã à noite.

Outra forma utilizada para avaliar o sentimento de pertence com o lugar é a expressão insatisfatória, daquilo que não gostam, pois, posicionados frente aos que mais gostam auxiliam na compreensão da construção ou desconstrução do território identitário.

De pronto chama atenção a imediata e espontânea resposta que nega a indagação: “nada” ou seja, 11 entrevistados não têm queixa alguma e outros tantos complementam “gosto de tudo aqui”; “sou suspeito para falar”; “não gosto das pessoas que não gostam do bairro”!

No âmbito geral da vida contemporânea a maioria das respostam indicam que é a “segurança” o aspecto que menos gostam no bairro. Neste agrupamento existem “não gosto do povo nas esquinas”, “drogas”, “falta de segurança”, “violência”, “policiamento”, “vagabundos”, entre outras. Como já foi dito, o bairro é servido pela 10ª Delegacia Metropolitana localizada no Jardim Centenário e pelo PAC – Posto de Atendimento ao Cidadão, localizado na Praça Vereador Osvaldo Mendonça. Esse aparato não atende plenamente as necessidades das pessoas, por isso esta percepção sobre deficitária qualidade do serviço prestado pela polícia. Por outro lado, a diminuição da violência foi retratada por respostas positivas a respeito da tranquilidade e da segurança do bairro.

Todavia, aspectos da infraestrutura relacionados como positivos, no plano daquilo que mais gostam no bairro, também foram ligados no plano negativo, daquilo que menos gostam. Eles se relacionam com infraestrutura, comércio, serviços, educação, esporte e lazer; enfim, com todos os aspectos referentes à satisfação de morar no Bugio.

O que se extrai desses serviços do bairro é destacado por possuí-los e estar à disposição de seus moradores, mas, no que se refere a qualidade, o grau de exigência dos entrevistados denota reivindicações de melhorias. Ora, sobre infraestrutura, não gostam de “ruas sujas”, “lixo”, “esgoto indo para o mangue”, “iluminação precária”; sobre serviços “falta de agências bancárias”, “transporte”, “baixa qualidade da educação”, “falta de espaços públicos esportivos e culturais”.

A poluição dos canais naturais e do lixo nas ruas soma-se à poluição sonora. Esta resulta do alto volume de sons de mala de carros, sons dentro das residências que incomodam os vizinhos, dos carros e ônibus quando passam nas ruas, algumas

igrejas sem o devido isolamento acústico e quando tem algum trio elétrico na comunidade.

A vida social é motivo de reclamação e queixa seja pela não aceitação do “Fest Gay”, manifestação cíclica que ocorre no mês de novembro, seja pela situação do bairro com relação ao Centro e a praia “longe da vida social de Aracaju”.

A síntese das entrevistas encontra-se no quadro 07 abaixo.

O QUE MAIS GOSTA O QUE MENOS GOSTA

Tudo Negação da

pergunta

Nada, gosto de tudo, sou suspeito pra falar, não gosto das pessoas que não gostam do bairro.

Comércio e serviços

Praças, farmácia, fácil acesso, avenidas amplas, boas ruas pavimentadas, Igreja católica, transporte bom, supermercado, posto médico, comércio, banco, academia, fazer compras, feira, serviços, salão de beleza, delegacia

Comércio serviços, infraestrutura

Lixo, esgoto no mercado, não tem rede de esgoto, esgoto para o mangue, mau cheiro do mangue, ruas sujas, falta de espaços esportivos e culturais, espaços públicos precários, praças, falta de zelo do povo com os espaços públicos, infraestrutura, Posto de saúde, transporte, iluminação, mercadinho

Educação, esporte e lazer

Escolas, ECCO‟s, educação, associação Pro-melhoria e defesa do Bugio, cultura esportiva, desenvolvimento intelectual do povo, voleibol, opções de lazer

Educação, esporte e lazer

Barulho, poluição sonora, trio, Fest Gay, baixa qualidade da educação, escolas, falta de cursos

Segurança

Povo das esquinas, drogas, segurança, bagunça, policiamento, vagabundos, violência

Outros Invasões do mangue, longe da vida social de Aracaju

Singularidade

Clima fresco, atmosfera intimista, geografia, estrutura, tranquilidade, pessoas acolhedoras, organização do bairro, amizades, de morar aqui, ambiente, vizinhança, tudo, caminhar, bairro plano, comodidade

Quadro 07: Síntese sobre o que mais e menos gostam no Bugio Organização: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Após elencar o que mais e menos gostam no Bugio, remete à questionar o que de mais importante há no Bugio, e se achavam que os outros moradores tinham a mesma opinião. Assim pode-se avaliar a percepção individual e coletiva sobre o bairro. (figura 24).

Figura 24: Percepão do bairro – Aspectos relevantes para o morador Organização: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Tais resultados indicam que o ambiente social é o aspecto mais relevante e como coloca Tuan (1980, p. 252) que:

A satisfação com o bairro depende mais da satisfação com os vizinhos – sua amizade e respeitabilidade – do que das características físicas da ares residencial. As reclamações sobre moradias inadequadas ou ruas inseguras comumente são reclamações sobre os hábitos e padrões dos vizinhos.

Nesse caso, infere que esse aspecto define-se como indicador de relações sociais estreitas, pressuposto para a identidade social e consequentemente para a identidade territorial.

No entanto, observa-se um desdobramento da percepção e do nível de satisfação ao indagar se os outros moradores teriam a mesma percepção ou seja, se a comunidade (o coletivo) acha o mesmo que o entrevistado.

A tabela 02 mostra que predominam respostas negativas denotando que a percepção coletiva não segue a individual, principalmente no que se refere aos aspectos relativos à educação, comércio, esporte e lazer, templos e “outros”. O aspecto ambiente social obteve uma resposta positiva a mais em relação à negativa dando base para a interpretação de que tal aspecto reflete positivamente nos estreitos laços de amizade e afetividade com o bairro.

Aspectos Percepção individual

Percepção coletiva

Sim Não

Educação, comércio, esporte e lazer 18 7 11 Templos 7 2 5 Outros 2 0 2 Total de citações 60 26 34

Tabela 02: Percepção individual e coletiva dos entrevistados sobre o bairro Organização: Rodrigo Lima

Fonte: Trabalho de campo, 2010.

Em sequência foi pedido aos entrevistados que realizassem um quadro que retratasse o bairro. Estabeleceram algumas sugestões, porém o mesmo estava livre para apontar quaisquer elementos para emoldurar o seu pensamento. Os resultados estão na tabela 03.

Infraestrutura (positiva) Infraestrutura (negativa)

Praça 36 Iluminação precária 07

Boa iluminação 26 Transporte precário 05

Limpeza nas ruas 25 Sujeira nas ruas 05

Ruas largas 21 Ruas estreitas 03

Linha de transmissão 06

Quadra de vôlei 01

Comércio (positiva) Comércio (negativa)

Mercado 41

Feira 33

Supermercado 02

Comércio 01

Serviços (positiva) Serviços (negativa)

Transporte 31 Escolas 01

Banco 01 Educação ruim 01

Farmácia 01 ECCO‟s ineficiente 01

Inexistência dos correios 01

Segurança (positiva) Segurança (negativa)

Segurança 15 Violência 10

Delegacia 01 Insegurança 09

Delegacia ruim 01

Ambiente social (positiva) Ambiente social (negativa)

Amigos 36 Maus vizinhos 03

Bom para morar 32

Lazer 29

Tranquilidade 27

Parentes 15

Silêncio 06

Crianças brincando nas ruas 01

Templos (positiva) Templos (negativa)

Católico 42

Nossa Senhora Aparecida 01

Referências da natureza (positiva) Referências da natureza (negativa)

Mangue 34

Macaco bugio 19

Maré 01

Tabela 03: Percepção dos entrevistados na elaboração de um quadro que represente o Bugio Organização: Rodrigo Lima

A elaboração de um retrato do Bugio envolve a percepção dos entrevistados em que pese a experiência no espaço vivido. Nesse sentido, notadamente os aspectos positivos mais marcantes são relacionados ao ambiente social, comércio, serviços e infraestrutura. Como já foi dito, o bairro é bem servido no comércio, serviços e infraestrutura e os reflexos podem ser notados no questionamento.

Um elemento na análise são características do ambiente social, as representações sobre amigos, bom para morar, lazer e tranquilidade comandam a percepção e denotam um bairro como um ambiente carregado de sociabilidades e que favorece as relações sociais.

No que diz respeito aos templos, é perceptível o poder da igreja católica, o santuário está presente na imaginação dos entrevistados e não poderia faltar no retrato do bairro.

As referências sobre a natureza foram para o mangue, o macaco bugio e a maré. O mangue ainda existe e faz parte do retrato, já o macaco foi elencado, mas algumas pessoas revelaram odiar este nome, mesmo já impregnado na cultura dos moradores através da toponímia do lugar.

No que concerne aos aspectos negativos relacionados, é de se destacar a infraestrutura, serviços e segurança. O retrato do bairro é marcado pela violência e insegurança. Situação esta corroborada pela imagem passada ao público pela grande mídia e a sensação de insegurança presente em quaisquer localidade nas cidades contemporâneas.

Como já explicitado no arcabouço teórico, a identidade territorial pode existir a partir de um símbolo concreto, existente no espaço, ou um abstrato permeado no imaginário das populações. Nesse sentido, foi perguntado às pessoas sobre o que caracteriza o Bugio, qual é imagem/símbolo, qual o elemento concreto ou abstrato daria sentido ao bairro. Após agrupamento, respostas disseram que o mesmo está relacionado à organização/serviço urbanos, ao prédio da igreja católica, comportamento social e festas (figura 25).

Figura 25: Percepção do símbolo do Bugio Organização: Rodrigo Lima Fonte: Trabalho de campo, 2010

Dentro da análise referente à organização do bairro e serviços urbanos, há de destacar as praças, elencadas por parte dos moradores. As praças, como já foi dito, exercem um poder de concentração das pessoas para a prática de diversas atividades, desde um simples passeio a eventos mobilizadores como a Festa de Nossa Senhora Aparecida. Nesse contexto, elas podem ser consideradas como símbolo identitário no Bugio.

A marca da religião mostrou o seu poder quando adquiriu 28% dos entrevistados indicando que o templo católico é a imagem/símbolo do Bugio. Nessa ideia, nota-se uma característica unificadora presente nas representações levantadas denotando um território simbólico da religião católica no bairro. A religião católica exerce uma influência no cotidiano dos moradores, pois é a base da fixação do poder do Vaticano na escala local. Além disso, as atividades realizadas rotineiramente levam ao aprofundamento e reprodução da fé, evitando a sua derrocada e consequentemente enfraquecimento dessa religião.

Como dito anteriormente, ao mesmo tempo existe o crescimento do poder das igrejas evangélicas, que proliferam no bairro, são vinte e uma, e surgem pequenas e aos poucos vão conquistando novos adeptos. Mas não ocorreram referências dos moradores relacionadas a elas, mesmo de alguns evangélicos entrevistados como símbolo do bairro.

Analisando o aspecto comportamento social, há respostas que indicam profundas relações sociais entre os moradores. Para alguns, os símbolos seriam a união dos moradores, organização da população, comportamento do povo. Tais falas indicam um grau de proximidade entre os membros da comunidade, pressuposto para formação da identidade social e territorial.

As festas são presentes no bairro, como já analisado, e a comunidade prestigia e participa. O festar faz parte do cotidiano refletindo a fé e a alegria do povo nas ruas e praças do bairro, promovendo uma descontração não provável nos ambientes onde as pessoas trabalham.

No caso dos “outros”, cabe ressaltar falas do tipo: “não conheço”; “nada”; “não sei”. Essas, indicam que os mesmos não conseguem perceber alguma