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3. INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

3.1 OBJETO EMPÍRICO

3.1.1 Folha de São Paulo (FSP)

A Folha de São Paulo foi fundada em 19 de fevereiro de 1921 por um grupo de jornalistas entre os quais estavam Olavo Olívio Olival Costa e Pedro Cunha. Seu primeiro nome foi Folha da

Noite. De acordo com o Manual de Redação Folha de São Paulo, o objetivo dos fundadores “era

atrair, com seu vespertino, leitores das classes médias urbanas e da classe operária” (2001, p.106). Em 1925, o jornal lança um matutino chamado Folha da Manhã.

Em 1931, o jornal passou a ser dirigido por um grupo liderado pelo conde Francisco Matarazzo e por Octaviano Alves de Lima (cf. CONTI, 1999, p.182). Nesse período a linha editorial foi modificada e o jornal passou a defender os interesses de agricultores paulistas (cf. MANUAL, 2001, p.106).

O jornalista José Nabantino Ramos esteve à frente da empresa entre 1945 e 1962, período em que ela passou a chamar-se Folha da Manhã S/A, razão social que se mantém até hoje. Nesse período, especificamente em 1949, foi fundado o terceiro diário, a Folha da Tarde. Conforme o Manual de Redação, também sob administração de Ramos, “os jornais da empresa voltaram a defender os interesses das classes médias urbanas” (ibidem).

A fusão dos três diários, em 1960, deu origem ao jornal Folha de São Paulo (FSP). Em 1962, com grandes dificuldades financeiras, a Folha foi vendida para Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, que passaram a representar a “continuidade” do jornal (CONTI, 1999, p.182). Suas principais modificações, inicialmente, foram de ordem administrativa. Após os cinco primeiros anos, passaram a investir em equipamentos. Em 1967, a FSP utiliza, pela primeira vez em larga escala no Brasil, a impressão off set em cores e, quatro anos depois, passa a utilizar o sistema eletrônico de fotocomposição, ao invés da composição a chumbo.

Em 1978 é elaborado o primeiro projeto editorial (cf. MANUAL, 2001, p.106) Em 1981, de acordo com informações do site da FSP (2002), um novo projeto é sistematizado e passa a circular, tendo como prioridades a divulgação de informações corretas, interpretações competentes e opiniões plurais (cf. CONHEÇA..., 2002). A publicação oficial do novo “Projeto Folha” só acontece em 1984, quando Octávio Frias Filho assume a direção de redação da FSP. Mário Sérgio Conti o descreve:

o Projeto Folha defendia a renovação gerencial (padronização de procedimentos, normas e metas) [...] visava o enquadramento dos jornalistas na racionalidade produtiva, ao mesmo tempo que pregava abolição das fronteiras entre trabalho e descanso. Propugnava a existência de um ser jornalístico total, mas afirmava que o jornal era tão-somente uma mercadoria (CONTI, 1999, p.447- 448).

3.1.1.1 Informações Atuais

O Grupo Folha é composto por três principais empresas além do Jornal Folha de São Paulo: a Agência Folha (agência de notícias), o Datafolha (instituto de pesquisa) e a Publifolha (editora). O jornal Folha de São Paulo é atualmente o de maior circulação no Brasil, de acordo com

pesquisa realizada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) e divulgada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) referente ao ano de 2002, com uma circulação diária de 346.333 exemplares.

Diariamente, no período em que foi realizada a presente pesquisa, o jornal publicava sete diferentes cadernos: Folha Brasil (política, institucionais e movimentos sociais), Folha Ciência (pesquisas científicas), Folha Cotidiano (segurança, educação, direitos do consumidor e serviços - concentra-se na grande São Paulo), Folha Dinheiro (economia nacional e internacional), Folha

Esporte (competições esportivas, negócios esportivos, moda esportiva), Folha Ilustrada (cultura e

entretenimento) e Folha Mundo (notícias internacionais).

Além dos cadernos diários, a FSP também publicava 15 suplementos em diferentes edições da semana. De segunda a sábado, circulavam os seguintes suplementos: Folha Turismo e

FolhaTeen (caderno para o público adolescente), às segundas-feiras; Folha Informática, às quartas-

feiras; Folha Equilíbrio (notícias sobre saúde), às quintas-feiras; Guia da Folha (guia cultural para a região da grande São Paulo), às sextas-feiras; e Folhinha (caderno infantil), aos sábados. Além desses, alguns cadernos circulam apenas na edição de domingo: caderno Mais! (especializado em literatura, sociologia, filosofia e artes); TV Folha; Revista da Folha (somente na grande São Paulo);

Folha Veículos; Folha Construção; Folha Empregos; Folha Negócios e Folha Imóveis. Por fim, a FSP

mantinha ainda o caderno Sinapse, que circulava mensalmente, na última terça-feira do mês, com matérias de atualização e capacitação diante da sociedade atual.

3.1.1.2 O artigo e a reportagem no Manual da FSP

Utilizamos dois textos de referência para o presente levantamento. O primeiro é o Novo

Manual de Redação Folha de São Paulo, publicado em 1992, o outro, o Manual de Redação Folha de São Paulo, de 2001. A opção por essas duas fontes deve-se ao fato de, na publicação mais antiga,

as informações estarem mais bem sistematizadas de acordo com os itens relevantes à nossa pesquisa, enquanto na publicação mais recente tais dados aparecem diluídos entre outros temas.

O texto do gênero reportagem recebe duas referências no Novo Manual de Redação da Folha de São Paulo (1992). A primeira aparece no verbete “Reportagem”, que apresenta uma definição de ordem prática - “relato de acontecimento importante, feito pelo jornalista que tenha estado no local em que o fato ocorreu ou tenha apurado as informações relativas a ele” (NOVO...,

1992, p.42) - e instruções referentes à composição do texto e ao comportamento do repórter. Sobre a composição, devem constar, além da descrição do fato, as versões de todas as partes envolvidas e as opiniões de especialistas, quando possível. O comportamento sugerido ao repórter é de atenção em observar detalhes como ambientação e personagens e em anotar números e nomes. E o verbete é concluído com uma advertência: “A qualidade do texto final depende em larga medida do rigor na apuração dos fatos e da elaboração de um roteiro que divida os temas e os encadeie ao longo do texto” (ibidem). O outro verbete que toca no gênero é o de “Reportagem especial”. Convém transcrevê-lo na íntegra: “Requer extenso e minucioso levantamento de informações. Pode aprofundar um fato recém-noticiado ou revelar um fato inédito com ampla documentação e riqueza de detalhes” (ibidem).

Entretanto, algumas outras menções do Manual passam também pelos textos do gênero, tais como os verbetes “Empatia” e “Personagem da notícia”, que incentivam o autor do texto a aproximar o leitor do personagem relatado para que ele se identifique “com seus sentimentos, desejos, idéias e ações” (cf. ibidem, p.31). No verbete “Personagem da Notícia”, o texto afirma que a caracterização do personagem é “uma das formas de despertar o interesse do leitor” e aconselha: “escreva seu texto de modo a compor para quem lê uma imagem viva, concreta, do personagem da notícia. Se ele for de fato interessante, pode atrair o foco da reportagem, transformando-a em um perfil” (ibidem, p.40).

A publicação mais recente do Manual da FSP traz uma definição objetiva do que é reportagem dentro do verbete “gêneros jornalísticos”, entre os nove apresentados. A reportagem é o texto que “traz informações mais detalhadas sobre notícias, interpretando os fatos; é assinada quando tem informação exclusiva ou se destaca pelo estilo ou pela análise” (MANUAL, 2001, p.71- 72). Nesse mesmo verbete, outro gênero descrito aproxima-se também da idéia que apresentamos do gênero reportagem, o de “feature”. A sua descrição é a seguinte: “apresenta a notícia em dimensões que vão além do seu caráter factual imediato; pode ser o perfil de um personagem ou uma história de interesse humano” (ibidem, p.71).

O verbete inteiramente dedicado à reportagem, entretanto, não oferece muito detalhamento, mantendo o padrão do anterior, que o aproxima mais da atividade do repórter e não das características do gênero. Pode ainda ser mencionado outro verbete que remete a uma das

características da reportagem apresentadas anteriormente, a contextualização dos fatos, que ocorre em dois verbetes – “contextualização” e “contextualização e síntese”. Ele determina:

Nenhuma pauta estará completa sem que se desenvolva a relação dos fatos com contextos variados e pertinentes, a fim de oferecer ao leitor os nexos históricos, sociais, causais, estatísticos e culturais da notícia (ibidem, p.23).

E complementa:

é importante partir do princípio de que o leitor pode não conhecer, necessariamente, fatos que precederam a notícia que se divulga. Assim, é preciso sempre fornecer a ele contextos claros e uma perspectiva histórica recente dos acontecimentos (ibidem, p.30).

Sobre o gênero artigo, não existe nenhum verbete específico no Novo Manual de

Redação FSP (1992), porém sua estrutura fica subentendida dentro do verbete “Jornalismo

Analítico/Opinativo”. Tal verbete apresenta, num primeiro momento, a necessidade a qual o jornalismo opinativo atende hoje, estabelecendo uma diferença clara entre análise e opinião. Diz o texto:

a análise do noticiário não deve ser confundida com a opinião ou o comentário, que devem estar circunscritos às colunas e aos artigos. A opinião é subjetiva e arbitrária e não precisa necessariamente comprovar o seu ponto de vista (NOVO..., 1992, p.36).

A partir daí, o texto lista uma série de 13 procedimentos que devem ser seguidos em matérias opinativas, entre eles a pesquisa bibliográfica ou de arquivos sobre o assunto, a contextualização, a entrevista dos envolvidos e a utilização de números e estatísticas50.

A opinião do jornalista também é mencionada no verbete “Opinião”, que postula a busca da máxima “objetividade” por parte do profissional.

50 Resumidamente, os procedimentos mencionados no Manual são os seguintes: a) checar se as

informações sustentam as conclusões; b) pesquisar sobre o assunto; c) entrevistar os envolvidos; d) apresentar o contexto do fato; e) fazer texto curto e com linha única de raciocínio; f) expor sua linha de pensamento no início do texto; g) apresentar os argumentos de forma progressiva, para explorar a tensão criada por tal estratégia; h) manter o rigor para que as conclusões sejam conseqüências diretas dos argumentos; i) consultar especialistas no assunto e apresentar posições divergentes; j) utilizar dados estatísticos para dar credibilidade; l) fazer analogias, enfatizar as contradições; m)

O jornalismo crítico não depende da opinião de quem escreve: o simples registro ou confronto de dados, informações e opiniões alheias pode ser muito mais contundente que a opinião de um jornalista (ibidem, p.97),

determina. Entretanto, no mesmo verbete, o Manual esclarece que

isso não significa que o jornalista não possa ou não deva opinar [...] Em regra, as opiniões do jornalista devem constar de texto à parte, e não permear o texto noticioso, embora aí se admitam análise e interpretação (ibidem).

Nesses casos, os textos devem ser assinados pelos jornalistas e diagramados de acordo com os padrões da FSP.

Na versão mais recente do Manual, o espaço para o gênero artigo opinativo é ainda mais reduzido. No verbete “gêneros jornalísticos”, ele é apresentado apenas como “artigo: contém a opinião do autor e é sempre assinado” (MANUAL, 2001, p.71). Duas outras menções são feitas, na descrição da estrutura editorial do jornal, uma no verbete “articulista”, que “indica colaborador especial que escreve com regularidade para o jornal” (ibidem, p.107); e “artigo”, que apenas traz os critérios de publicação de artigos – textos inéditos, com pontos de vista diferenciados e que não contenham nenhuma informação que possa dar margem a processo judicial (cf. ibidem).