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3. INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

3.2 OPERADORES DE ANÁLISE

3.2.2 Operadores de Ordem Visual

3.2.2.1 Operador de Composição Gráfica

3.2.2.1.2 Relação dos elementos

De acordo com Vilches, “são os tamanhos, os contrastes e as formas que guiam ao leitor sobre como ler, o que ler e o que esperar da leitura” (1997, p.42)57. O segundo item a ser analisado

dentro da diagramação será a relação dos elementos que compõem a matéria, seguindo a idéia de que, no primeiro momento, a visão do leitor percebe somente o conjunto das formas e não suas particularidades. Essa relação será percebida na análise dos elementos e das técnicas utilizadas durante o processo de composição.

Entre os elementos básicos da composição da página impressa (cf. SOUSA SILVA, 1985, p.43) estão letras; imagens; brancos da página; e fios tipográficos e vinhetas. Cada um deles comporta diversos sub-itens dispostos pelos recursos de diagramação.

a) Letras: a escolha das letras ou tipos gráficos que são utilizados na

composição dos textos em jornal influi diretamente na sua legibilidade. Entendemos

legibilidade como a “habilidade do usuário em discriminar e reconhecer letras e

números” (CAPLAN apud MORAES, BALSTER & HERZOG, 1996, p.09). Os tipos

podem estar em caixa alta (maiúsculas), caixa baixa (minúsculas), negrito (letras

mais escuras) ou itálico (formato inclinado). Rafael Sousa e Silva também fala dos

fatores que auxiliam na legibilidade: “a legibilidade de um texto depende da forma

das letras, do branco anterior das mesmas, do corpo usado, do comprimento das

linhas, do entrelinhamento, do espacejamento e das margens” (1985, p.31). A

preocupação da imprensa na busca de uma maior legibilidade, afirma o autor

citando José Coelho Sobrinho, decorre da necessidade de “proporcionar melhor

velocidade de leitura nos arranjos tipográficos” (ibidem).

A partir do elemento “letras”, diversos elementos são formados na composição gráfica da página, tais como assinatura, capitular, chapéu, coluna, crédito, intertítulo, legenda, linha-fina, olho e título.

Definiremos cada um deles utilizando os conceitos apresentados por Sousa Silva (1985) em seu glossário e também as definições apresentadas no Novo Manual de Redação da Folha de São Paulo (1992) e Manual da Folha de São Paulo (2001).

Assinatura: nome do autor publicado no alto do texto ou no final dele (cf. NOVO..., 1992, p.123).

Capitular: “tipo de letra usada no início das composições, em tamanho superior aos tipos do texto” (SOUSA SILVA, 1985, p. 137).

Chapéu (ou cartola): “palavra ou expressão curta colocada acima de um título. Usada para indicar o assunto de que trata o texto ou os textos que vêm abaixo dela” (NOVO..., 1992, p.131).

Coluna: “são as divisões, no sentido vertical, das composições gráficas” (SOUSA SILVA, 1985, p.139)

Crédito: é a informação da origem ou autoria do texto ou imagem. No caso do texto, ele geralmente é disposto na parte superior do texto, logo após o título e a abertura. O crédito das imagens e ilustrações sempre as acompanha.

Intertítulo (ou Entretítulo): “pequenos títulos colocados no meio da composição funcionando como pausa e maior leveza para o arranjo gráfico” (SOUSA SILVA, 1985, p.140). Eles têm “a função de arejar a leitura” (NOVO..., 1992, p.150).

Legenda: “pequeno texto que acompanha uma ilustração” (SOUSA SILVA, 1985, p.141). Linha-fina (ou linha de apoio): “Frase ou período [...] que aparece abaixo do título e serve para completar seu sentido ou dar outras informações” (NOVO..., 1992, p.153).

57 No original: “son los tamaños, los contrastes y las formas las que guían al lector sobre cómo ha de

Olho: Texto em destaque, com tipos maiores colocado entre os parágrafos de um texto. Recurso utilizado para “anunciar os melhores trechos de textos longos e arejar sua leitura” (NOVO..., 1992, p.158).

Título: “nome de uma publicação. Em tipografia, nome ou frase composta em letras grandes, com a finalidade de orientar o leitor e despertar o seu interesse na leitura da matéria a que se refere” (SOUSA SILVA, 1985, p.143).

b) Imagens: as imagens são importantes elementos na composição gráfica das matérias. Sousa Silva chega a afirmar que “as fotos ou ilustrações [...] completam ou por si só representam o arranjo visual gráfico de uma página impressa” (ibidem, p.120). E complementa:

além de embelezarem plasticamente, muitas vezes, devido às suas características imagéticas, carregam toda a carga emocional e informativa de uma ação ou de um fato qualquer, dispensando outro tipo de informação complementar, seja ele através de um texto, título ou legenda (ibidem).

Segundo Fausto Neto, a função dos gráficos e ilustrações é “didatizar” a informação. Essa facilitação que o veículo de comunicação oferece ao leitor é considerada pelo mesmo autor com a função de um “recurso pedagógico” (FAUSTO NETO, 1988, p.125). Podemos classificar as imagens em três tipos principais:

Fotografia: A fotografia é quase sempre o elemento gráfico que destaca a composição. De acordo com o Novo Manual de Redação da Folha de São Paulo, “se a foto e a legenda tiverem qualidade, o leitor poderá passar a dar atenção aos títulos e outros elementos da página” (NOVO..., 1992, p.144).

Eliséo Verón propõe classificar as fotografias jornalísticas em quatro

categorias, considerando que elas, inseridas em um meio de comunicação, acabam

subordinadas a “contextos discursivos” que regulam e determinam o funcionamento

da imagem (2003, p. 12).

Foto testemunhal é o tipo “clássico” de foto jornalística, pois está ligada diretamente à atividade do repórter, com sua presença no cenário dos acontecimentos. Ele assim a define: “é uma imagem cuja pertinência reside na captação do instante do acontecimento; sempre espontânea (por

oposição à pose), está ali porque ilustra o acontecimento do qual se fala no texto que acompanha.” (ibidem, p.13)58.

A foto pose, conforme Verón, “é um presente do personagem fotografado ao fotógrafo (e por seu intermédio ao leitor)” (ibidem, p.14)59. Nela, geralmente pessoas que já possuem um status na mídia aparecem sorrindo e olhando para a câmara. Tal postura “indica o domínio, por parte daquele que é representado [...] de sua própria estratégia enunciativa” (ibidem, p.16)60.

Já a foto retórica das paixões diz respeito a flagrantes de expressões faciais de pessoas públicas em situações as mais diversas, que traduziriam seu “estado de espírito” (cf. ibidem, p.15-16). Para Verón, “o ‘estado de espírito’ do homem político, captado por uma fotografia de seu rosto, serve para qualificar uma circunstância política determinada” (ibidem, p.16)61.

Por fim, a foto categorial ocorre quando uma imagem singular é utilizada para caracterizar uma classe. As

imagens [...] são quase-conceitos, que encarnam classes lógicas. Operam sobre a dimensão categorial da evolução individualista: a foto não é mais que um suporte através do qual o leitor reconhece seu problema, porém esse problema é compartilhado com outros indivíduos que pertencem a sua mesma categoria social ou socioprofissional. (ibidem, p.17)62.

O autor cita exemplos como a foto de uma mulher sozinha em uma mesa de restaurante, em uma matéria cujo título é "MULHERES: a geração sem marido".

Ilustração: Pode designar “desenhos ou colagens que não recebem nomes mais específicos (como charge ou Cartum) (ibidem, p.148).

Arte: as artes são cada vez mais utilizadas como ilustração de matérias pela capacidade que possuem de atrair o leitor, como infográficos. A FSP determina: “tudo o que puder ser

58

No original: “es uma imagen cuya pertinência reside en la captación del instante del acontecimiento; siempre espontánea (por oposición a la pose), está allí porque cautiva el acontecimiento del cual se habla en el texto que acompaña” (Tradução nossa).

59 No original: “es un regalo del personaje fotografiado al fotógrafo (y por su intermedio al lector)”

(Tradução nossa).

60

No original: "indica el dominio, por parte de aquel que es representado [...] de su propria estrategia enunciativa" (Tradução nossa).

61 No original: “el ‘estado de espíritu’ del hombre político, captado en una instantánea de su rostro,

sirve para calificar una circunstancia política determinada" (Tradução nossa).

62

No original: "imágenes que son cuasi-conceptos, que encarnan clases lógicas. Operan sobre la dimensión categorial de la evolución individualista: la foto no es más que un suporte a través del cual el lector reconece su problema, pero ese problema es compartido con otros individuos que pertencen a su misma categoría social o socioprofesional" (Tradução nossa).

apresentado na forma de tabelas, mapas, quadros e gráficos não deve ser editado na forma de textos” (ibidem, p.122).

c) Brancos da página: da mesma forma que as letras, Sousa Silva (1985,

p.31), considera também os espaços brancos deixados na página como necessários

para uma maior legibilidade da matéria. Eles oferecem um arejamento da página e

causam um equilíbrio na diagramação. Três tipos principais de brancos podem ser

apontados:

Margem: “todo espaço em branco em volta das páginas de jornais, revistas, livros, cartazes” (ibidem, p.142).

Janela: “espaço que se abre numa página para aplicar selo, capitular, foto ou anúncio” (NOVO..., 1992, p.150).

Entrada: “reentrância ou recuo que se observa no início da composição gráfica [...] o espaço em branco deixado no início dos parágrafos” (SOUSA SILVA, 1985, p.139.

d) Fios tipográficos e vinhetas: os fios tipográficos são elementos

gráficos utilizados para fornecer um maior ordenamento ao conjunto, separando os

títulos de texto ou assinaturas e demarcando áreas de destaque. As vinhetas

realizam um papel identificador, permitindo ao leitor uma “certa memorização daquilo

a ler” (FAUSTO NETO, 1988, p 28). Esses elementos podem ser assim definidos:

Fio: “traço contínuo de diferentes espessuras usado em diagramação para separar textos ou delimitar qualquer material gráfico” (NOVO..., 1992, p.143).

Box (ou cercadura): “texto curto que aparece cercado por fios, em associação com outro texto, mais longo” (ibidem, p.126)

Selo: selo é uma “arte de pequenas dimensões que serve como marca visual, em edições sucessivas, de textos sobre um mesmo assunto” (ibidem, p.165).

Vinheta: “forma gráfica usada para caracterizar uma seção na página de jornal ou revista” (ibidem, p.170).

Além dos elementos, os outros fatores a serem analisados serão as técnicas visuais utilizadas, classificadas, de acordo com Dondis, em harmonia e contraste (1991, p. 24).

e) Harmonia: A busca por harmonia é uma característica natural do olho humano. Segundo a autora, “há uma necessidade de organizar toda espécie de estímulos em totalidades racionais, como foi demonstrado pelos experimentos gestaltistas” (ibidem, p.108). Entre as técnicas apresentadas como harmônicas, destacam-se o equilíbrio – disposição dos elementos de forma a manter um “centro de suspensão a meio caminho entre dois pesos” (ibidem, p.141) –, a simetria – dividindo a imagem com uma linha central, os dois lados são exatamente iguais – e a economia – utilização de poucos elementos. Por esse motivo, as técnicas ligadas à harmonia oferecem um maior conforto e facilidade na leitura para o usuário, pois permitem mais legibilidade.

f) Contraste: é uma “força de oposição” que “desequilibra, choca, estimula, chama a atenção” (ibidem, p.108). Destacam-se em especial, dentro do contraste, as técnicas de instabilidade – ausência de um ponto de equilíbrio que torna a composição bastante inquietante –, assimetria – composição sem repetição idêntica de uma das partes, quando dividida no centro – e profusão – composição carregada de elementos, detalhes e ornamentos. As técnicas que estão ligadas à idéia de contraste provocam no receptor uma sensação de inquietação, desconforto e, através desse processo, atraem sua atenção.