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Quando questionamos os agentes escolares sobre a formação recebida para realizarem os projetos, obtivemos, dentre os 193 questionários aqui analisados, que a maioria – 128 (66%) deles não fez curso algum, nem recebeu treinamento nessa área. Entre os demais, 62 (32%) afirmam terem recebido formação e 3 (2%) nada responderam.

A seguir, apresentamos a Tabela 7, descrevendo quais foram as instituições que realizaram a formação. Nessas, 62 (32%) projetos receberam formação.

Tabela 7 – Instituições que realizaram a formação para realização dos projetos

INSTITUIÇÕES F %15

Secretarias da Educação 33 42

Organizações Não Governamentais 11 14

Universidades 8 10

Escola (Direção/coordenação) 7 9

Ministério da Educação e Cultura 6 8 Secretaria Especial de Direitos Humanos 3 4

Instituições religiosas 2 3

Outras 2 3

Não responderam 7 9

Total 79 100

Entre os projetos que tiveram alguma formação, 33 (42%) referiram-se a cursos de curta duração ministrados pelas Secretarias Estaduais ou Municipais de Educação em temas como: Ética e Cidadania, Educação em Valores ou Direitos Humanos. Esses cursos, muitas vezes, aconteceram em parceria com outras instituições.

Outras instituições formadoras são as Organizações Não Governamentais (ONGs), presentes em 11 (14%) respostas. Como exemplos, podemos citar os sete projetos realizados em escolas de Teresina - PI que desenvolveram experiências que versaram sobre uma Cultura de Paz, por receberem formação da ONG “Movimento pela Paz” em parceria com a Secretaria

15 Esclarecemos que eventuais divergências nos totais apurados em relação ao total de respondentes que

relataram ter recebido formação deve-se ao fato de que, algumas vezes, uma mesma escola recebeu formação de mais de uma instituição. O percentual foi calculado em relação à soma total de respostas classificadas.

Municipal de Educação. Outras instituições apontadas foram: Instituto de Cidadania do Brasil, ONG Londrina Pazeando, Associação Amor Exigente, Ser Paz, Educadores da Paz, Sociedade Assisense.

A Universidade compareceu em oito projetos (10%), ao quais englobavam cursos de pós-graduação e palestras organizadas nas universidades e frequentadas pelos idealizadores das experiências. Somente em uma experiência houve parceria entre a escola e universidade, porque o projeto fazia parte de uma atividade de extensão universitária realizado pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

A quarta instituição mais citada é a própria escola, presente como instituição formadora em sete (9%) projetos, entre os quais os respondentes destacaram a formação centrada na escola realizada por diretores e/ou coordenadores pedagógicos. A formação organizada nas escolas tem como característica positiva o fato de se basearem na realidade as necessidades escolares.

Temos ainda o relato de seis (8%) cursos realizados pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC, assim discriminados: Programa de Educação em Direitos Humanos, realizado em parceria com as Secretarias de Educação e mencionados em três relatos; Programa Ética e Cidadania, citado em dois projetos; um relato aponta que a formação se deu através de materiais (cartilhas e orientações sobre ética e cidadania) enviados pelo MEC. Também foram apontados em três projetos (4% das respostas) cursos sobre programas de Educação em Direitos Humanos realizados pela Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Por fim, temos a participação de instituições religiosas, tais como a Mitra Diocesana de Petrópolis e coordenação de escolas confessionais, como formadora em duas experiências relatadas (3% das respostas).

Em outras classificamos uma formação realizada pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB e outra pelo Magistrado Paranaense.

Diversos autores destacam a precária formação docente frente aos problemas de violência e de indisciplina escolar (ZECHI, 2008; DEL REY; ORTEGA, 2001a, 2001b; Garcia, 2013), assim como o despreparo dos professores para trabalhar com a formação em valores (MENIN, 2002; MENIN; ZECHI, 2010; VINHA, 2000, TOGNETTA; VINHA, 2012; SERRANO, 2002; entre outros), dados este também verificado em nosso estudo.

Defendemos, juntamente com os autores referenciados, a importância desses temas nas agendas dos cursos de formação inicial e, especialmente, o papel da formação contínua que contemple as necessidades legítimas de cada instituição escolar. É preciso criar espaços de discussões coletivas entre os agentes escolares em busca de alternativas conjuntas para a

resolução dos problemas de convivência nas escolas. Nesse sentido, a Universidade teria um importante papel no estabelecimento de parceiras para diálogos com as escolas em busca de soluções conjuntas; mas o que presenciamos é um distanciamento entre as instituições de ensino superior e as práticas cotidianas das escolas. Também, órgãos públicos, como o MEC e Secretarias Educacionais, pouco têm contribuído com a formação docente e estabelecimento de ações juntamente com as escolas.

A ausência de formação, observada em 128 (66%) projetos pesquisados, sinaliza que a maioria das escolas está realizando projetos de ação a partir de iniciativas particulares baseadas em impressões e conhecimentos fundamentados no senso comum sem receber uma formação específica que garanta o domínio de saberes técnicos e científicos discutidos por especialistas. E a ausência de formação, segundo os professores e agentes administrativos por nós investigados, pode ser atribuída às políticas educacionais brasileiras.

Diante desse contexto, procuramos investigar nos três projetos selecionados a concepção dos docentes e agentes administrativos a respeito da formação necessária para capacitá-los frente a situações de violência, de indisciplina e da Educação em Valores.

6 DISCUTINDO PROJETOS DE EDUCAÇÃO EM VALORES VOLTADOS ÀS QUESTÕES DA VIOLÊNCIA E DA INDISCIPLINA

No período de 2011 a 2013, visitamos escolas brasileiras, onde se desenvolveram três projetos, que nos pareciam, a partir da leitura de seus relatos, experiências mais completas de Educação em Valores voltadas ao enfrentamento de situações de violência e de indisciplina escolar. Em síntese, tais iniciativas pareciam motivar mudanças mais concretas, resultando numa melhora da convivência escolar. Elas tinham por finalidade a construção de valores universalizáveis, indicavam adotar métodos democráticos, atingiam longa duração e contavam com uma ampla participação da comunidade escolar. Foram elas: Projeto “Esperança no Futuro”, realizado em uma escola municipal da cidade de Poços de Caldas – MG; Projeto “Conviver”, realizado em uma escola estadual de Osasco – SP; Projeto “Jovens Construindo a Cidadania”, realizado em duas escolas estaduais da cidade de Tupã – SP16.

Na coleta de dados nas escolas, realizamos entrevistas com os proponentes dos projetos, professores, diretores e coordenadores, com o objetivo de analisar as práticas desenvolvidas e os valores enfocados, as relações estabelecidas entre educação em valores e contenção da violência e da indisciplina escolar, como essas relações eram percebidas pelos agentes escolares (professores, diretores e coordenadores) e a formação dos agentes escolares para atuarem na experiência. Também, pretendíamos investigar as concepções que professores e gestores das escolas públicas têm sobre a necessidade, ou não, de formação específica nessa área, como entendem que ela se caracteriza e como pensam que ela deve ser realizada.

Também, com a intenção de aprofundar os estudos sobre as possibilidades da Educação em Valores frente à violência e à indisciplina na escola e à formação docente necessária para atuarem nessa área, realizamos no ano de 2013 um estágio de doutoramento sanduiche na Espanha17, durante o qual visitamos escolas participantes do programa “Red Andaluza Escuela Espacio de Paz” da comunidade autônoma de Andalucia. Nesse espaço, entrevistamos alguns agentes escolares que atuavam nas instituições.

A seguir, apresentamos a descrição e a análise dos projetos brasileiros e a experiênciaespanhola, segundo os objetivos por nós propostos.

16 Outras descrições desses projetos podem ser encontradas no livro: MENIN, M.S.S.; BATAGLIA, P. U.R.; ZECHI, J. A. M. (org.) Projetos bem-sucedidos de Educação em Valores: relatos de escolas públicas brasileiras. São Paulo: Cortez, 2013.

17 O estágio no exterior foi realizado por meio do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) – CAPES – Processo 18915/12-4