• Nenhum resultado encontrado

Seleção e análise de uma amostra de experiências

A partir da leitura e análise das descrições dos 193 projetos de Educação em Valores que visam ao enfrentamento de situações de violência e de indisciplina, selecionamos uma amostra de experiências para coleta de dados empíricos junto aos agentes escolares (diretores, professores e coordenadores).

Essa etapa da pesquisa teve como objetivo uma análise mais aprofundada da experiência, por meio de entrevistas com os proponentes dos projetos. Nessas entrevistas, buscamos investigar, mediante os depoimentos e concepções dos agentes escolares, o sentido das relações que eles estabelecem entre Educação em Valores e contenção do que consideravam como violência e indisciplina escolar.

Investigamos, também, em que os agentes escolares se basearam para a realização desses projetos: em saberes técnicos e científicos recebidos em sua formação acadêmica, ou em cursos frequentados, ou mesmo na formação continuada realizada nas escolas, ou em diretorias de ensino; ou em conhecimentos do senso comum; ou ainda, em experiências privadas relacionadas às suas histórias de vida. Buscamos, também, investigar as concepções que professores e gestores das escolas públicas têm sobre a necessidade, ou não, de formação específica para lidarem com problemas disciplinares vivenciados no cotidiano escolar, o que entendem que ela é ou deva ser e como pensam que deva ser realizada.

Escolhemos as experiências, tendo como base algumas condições sintetizadas em Menin, Bataglia e Zechi (2013) a partir de vários conceitos da literatura da área que esclarecem como uma Educação em Valores Morais deveria ser, tais como:

- que os projetos tenham por finalidade a construção autônoma de valores universalizáveis, e não a consolidação de valores de adequação social ou de obediência às regras;

- que as práticas escolares sejam voltadas para uma convivência mais harmoniosa, justa e respeitosa;

- que os projetos se originem de necessidades reais e legítimas da escola ou da comunidade a sua volta;

- que os projetos tenham métodos baseados no diálogo, na participação coletiva, no respeito; enfim, que adotem procedimentos democráticos, pautados numa gestão participativa na escola;

- que os projetos tenham longa duração e ampla participação da comunidade escolar, envolvendo os profissionais da escola, docentes, discentes, equipe gestora, além da comunidade externa;

- que valorizem o protagonismo juvenil, abrindo espaços de participação discente; - que os projetos resultem em mudanças concretas, contribuindo para a redução da prevalência de comportamentos violentos ou a diminuição da indisciplina escolar.

Selecionamos, inicialmente, 13 relatos de projetos que pareciam atender aos nossos critérios. Cabe esclarecer que, muitas vezes, o projeto eleito não atendia a todas as condições para a Educação em Valores, porém continha uma ou outra delas, mostrando-se uma prática escolar positiva ao enfrentamento da violência e da indisciplina escolar, levando a melhor qualidade na convivência escolar. Posteriormente, realizamos os primeiros contatos com as escolas, por meio de telefone ou e-mail, para obter maiores informações sobre os projetos e solicitar sua participação nesta etapa de coleta de dados da pesquisa.

Após esse primeiro contato, foram descartadas 10 experiências. O motivo dos descartes foram dois: primeiro, parte desses projetos não aconteciam mais nas escolas; segundo, embora no relato contido nos questionários os projetos pareciam atender alguns de nossos critérios de seleção, uma análise mais criteriosa mostrou uma carência de projetos mais completos com práticas positivas no enfrentamento da violência e indisciplina escolar. Como fator limitador desses projetos, ficou evidente a falta de continuidade de algumas iniciativas, mesmo que interessantes, em razão da baixa adesão dos vários professores. Além disso, as experiências nem sempre foram inseridas no projeto pedagógico das escolas e tornaram-se dependentes apenas de seus idealizadores e, com a saída deles da escola, os projetos deixaram de acontecer. Em outras situações, a efetivação dos projetos não se pautou em métodos democráticos e muitas escolas ainda se mostraram pouco compromissadas com a

participação dos alunos na construção de seus valores; nelas, a finalidade de educar em valores universalizáveis parece que foi substituída por uma intenção em conter a violência e indisciplina.

Por fim, foram selecionados três projetos: “Jovens Construindo a Cidadania”, realizado em duas escolas estaduais da cidade de Tupã – SP, “Conviver”, realizado em uma escola estadual de Osasco – SP e “Esperança no futuro”, realizado em uma escola municipal de Poços de Caldas – MG.

A coleta de dados consistiu na aplicação de entrevistas com os proponentes dos projetos: professores, diretores e coordenadores das escolas7. Elaborou-se um roteiro de entrevista semiestruturado (ANEXO II), considerando que esse instrumento de coleta de dados possibilita a compreensão das crenças, atitudes, valores e motivações dos respondentes (GASKELL, 2003). Inicialmente, aplicamos um piloto da entrevista junto a uma escola que havia participado do relato das experiências, o qual facilitou a elaboração do roteiro da pesquisa e foi desconsiderado em nossas análises. Todos os sujeitos envolvidos na realização das experiências e os demais professores da escola foram convidados a participar da entrevista, cuja aplicação desenvolveu-se de forma individual.

Nas escolas, onde é realizado o projeto “Jovens Construindo a Cidadania”, a coleta de dados foi feita em dois momentos diferentes, nos anos de 2011 e 2012. Nessas, realizamos dez entrevistas com coordenadores, diretores, vice-diretores, professores e o policial responsável pelo projeto. Naquela em que acontece o projeto “Conviver”, a coleta foi realizada em 2012 e entrevistamos sete pessoas, sendo diretora, vice-diretora, coordenadoras e professores. Na instituição onde se realiza o projeto “Esperança no futuro”, a coleta aconteceu em 2013 e entrevistamos oito agentes escolares entre diretora, coordenadora e professores. Na descrição e análise dos dados preservamos a identidade das escolas e dos participantes da pesquisa, utilizando códigos para nomeá-los.

As entrevistas foram analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 1977), a qual possibilita compreendermos o sentido da fala dos participantes por meio de categorias teoricamente relevantes.

Cabe esclarecer que a presente pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição a que somos vinculados – FCT/UNESP – da qual recebeu parecer favorável a sua realização (ANEXO III).

7 Nesta pesquisa não foram realizadas entrevistas com os alunos, tendo em vista que nossa ênfase era investigar as concepções dos agentes escolares (professores e equipe administrativa) e suas necessidades de formação. Contudo, há falas dos alunos em outras descrições dos mesmos projetos no livro: Projetos bem sucedidos de Educação em Valores, organizado por Menin, Bataglia e Zechi, publicado pela editora Cortez em 2013.

4 A PESQUISA “PROJETOS BEM SUCEDIDOS DE EDUCAÇÃO MORAL: EM BUSCA DE EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS” E A SELEÇÃO DOS PROJETOS DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E DA INDISCIPLINA

O banco geral de dados da pesquisa “Projetos bem sucedidos de educação moral: em busca de experiências brasileiras”, o qual utilizamos para identificar os projetos de Educação em Valores que visam ao enfrentamento da violência e da indisciplina escolar, conta com 1058 respostas de diferentes estados brasileiros, as quais foram coletadas entre anos de 2009 a 2010.

Os respondentes, todos de escola pública, foram: diretores, coordenadores pedagógicos e professores. A representação das escolas por estado foi muito desigual. Dentre as 1058 respostas, obtivemos 7% da região Norte (estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins); 17,5% do Nordeste (estados do Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe); 5% do Centro-oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul); 14% do Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e 57% do Sudeste (Espírito Santo; Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo).

Como resultados mais gerais da pesquisa, destacamos que a grande maioria dos participantes (96%) foi a favor de que a escola desse Educação Moral ou em Valores a seus alunos. Entre os respondentes, 758 (72%) afirmaram que participaram de alguma experiência, do ano de 2000 em diante. Dentre as alternativas existentes, foram apontadas experiências de “Cidadania na escola” (54%), “Ética na escola” (44%), “Direitos humanos” (36%), “Educação em valores” (39%) e “Educação moral” (19%). Cabe destacar que, geralmente, os respondentes classificaram a experiência em mais de uma temática. Entre esses respondentes, 52 (5%) abandonaram os questionários sem descrever a experiência, resultando em 706 (67%) relatos completos.

A partir dos 706 relatos completos de projetos realizados em escolas públicas brasileiras, procedemos à seleção de experiências que tinham como objetivo o enfrentamento das situações de violência e indisciplina em meio escolar. Essa seleção foi feita a partir da análise do software Alceste para as questões; “Qual foi a principal finalidade buscada nessa experiência, ou seja, porque ela aconteceu?”; “Quais foram as mudanças ocorridas no ambiente escolar com a experiência?”; “Em sua opinião, o projeto relatado pode ser considerado como bem sucedido, por quê?”.

A seguir, apresentamos os resultados gerados pelo ALCESTE para cada questão e os projetos selecionados.

81% do Corpus

4.1 Resultados do ALCESTE para a pergunta “Qual foi a principal finalidade buscada