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Os resultados do ALCESTE para a pergunta “Em sua opinião, o projeto

Em relação à pergunta acima, 94% dos respondentes, dentre os 706 relatos completos, afirmaram que o projeto realizado foi bem sucedido. Entre as justificativas apresentadas, o ALCESTE© selecionou 606 Unidades de Contextos Elementares (U.C.E.) representando 73% do corpus. Estas U.C.E. foram divididas em três classes, correspondentes a diferentes contextos.

As classes obtidas pelo Alceste revelam que os projetos são considerados como bem sucedidos pelos respondentes, porque buscaram uma formação dos alunos em valores morais, éticos e de formação para a cidadania (Classe 1). Eles tiveram como resultado uma maior participação dos envolvidos – escola, comunidade, alunos, professores e pais (Classe 2) e provocaram mudanças de comportamento e atitude dos alunos (Classe 3).

Segue o dendograma resultante da classificação hierárquica do material textual analisado e as palavras mais significativas para cada Classe (Figura 3).

Figura 3: Dendograma resultante da classificação hierárquica do material textual analisado referente à questão “Em sua opinião, o projeto relatado pode ser considerado como

bem sucedido, por quê?”

A Classe 1, intitulada “Formação em valores morais, ética e cidadã”, contém 313 Unidades de Contextos Elementares (U.C.E.) representando 52% do corpus. Aqui os respondentes apontam que os projetos são bem sucedidos na medida em que buscam uma formação em valores morais, éticos e formação para a cidadania dos alunos, assim como lhes proporcionam uma aprendizagem sobre seus direitos e deveres, o respeito ao próximo, a prática da solidariedade.

CLASSE 1 “Formação em valores morais,

ética e cidadã” 313 U.C.E – 52% Palavras/ Radicais Ȥ 2 F Valor 35 166 Form+ 26 41 Aprend+ 20 62 Educa+ 14 50 Cidadania 14 21 Étic+ 14 44 Moral+ 13 26 Direito+ 13 35 Conheci+ 12 18 Respeit+ 10 28 Pratica+ 10 13 Desenvolve+ 9 18 Social+ 9 12 Dever+ 8 10 Sociedade 8 26 Vida 8 14 Busc+ 8 10 Cidadão 7 12 Conhecer 6 155 Human+ 6 15 Pens+ 6 8 Assunto 6 14 Possibilit+ 5 6 Precisa+ 5 9 Solidariedade 5 10 Trabalh+ 5 7 Vive+ 4 5 Despert+ 4 10 Discuti+ 4 5 Integr+ 8 8 Mundo 8 8 Reflet+ 8 13 Conceito 7 7 Critic+ 7 7 CLASSE 2 “Maior participação dos

envolvidos” 175 U.C.E – 29% Palavras/ Radicais Ȥ 2 F projeto 45 49 Participa+ 34 38 comunidade 24 40 Escola+ 24 89 trabalhos 20 8 Deix+ 18 9 Consegui+ 17 12 Municip+ 17 7 Ano 16 17 envolvidos 15 6 Feit+ 15 6 funcionários 15 10 professor 15 24 Apresent+ 13 14 Pais 13 22 Realiza+ 13 10 aumento 12 5 Diretor 12 5 Drogas 12 6 Evento 11 7 atividade 10 17 consciente 10 4 Empenh+ 10 4 Entusiasm+ 10 4 Joga+ 10 4 Física 9 5 Aluno 8 91 Aula 8 12 violência 8 7 responsáveis 6 4 Maior+ 5 12 Colabor+ 4 5 Conscientiza+ 4 8 CLASSE 3 “Mudanças de comportamento e atitude dos alunos”

118 U.C.E – 19% Palavras/ Radicais Ȥ 2 F Mudança 308 78 Comportament+ 177 49 Attitude 117 35 Perceb+ 71 26 Positiv+ 32 13 Aluno 31 84 Houve 30 18 Percebemos 25 6 Postura 22 10 Habito 21 5 Relaç+ 15 11 Resultado 13 8 Instituição 12 4 Ocorre+ 12 4 Conviv+ 7 7 Melhor+ 7 17 73% do Corpus

Nesse âmbito, eles consideram importante educar em valores na escola. Seguem algumas respostas dessa classe:

Não é uma tarefa fácil abordar a questão dos valores na educação escolar. E sabemos o porquê. A pedagogia tradicional levou nos acreditar, e sua influencia ainda não desapareceu totalmente do meio escolar, por muitos séculos, que a principal tarefa da escola era a de transmitir conteúdos escolares. É um modelo pedagógico que não se enquadra mais as exigências do mundo moderno. A educação escolar não se restringe mais, como no passado, a mera transmissão de conhecimentos, onde a atividade de ensinar era centrada no professor, detentor dos saberes e o aluno, um mero recebedor da matéria. Na sociedade atual, com a ampliação das ambiências de formação escolar, o aluno passa a ser o centro do processo didático-pedagógico e a educação escolar, agora, entendida como processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral do educando. Podemos dizer que educamos em valores quando os alunos se fazem entender e entendem os demais colegas; aprendem a respeitar e a escutar o outro; aprendem a ser solidários, a ser tolerantes, a trabalhar em, a compartilharem ou socializarem o que sabem, a ganharem e a perderem, a tomarem decisões, enfim. E, assim, o resultado da educação em valores na escola: ajudar os alunos a se desenvolverem como pessoas humanas e faz ser possível, visível ou real, o desenvolvimento harmonioso de todas as qualidades do ser humano. (suj. 204)

Podemos dizer que um aluno aprendeu valores quando, apos a ministraço de conteúdos em sala, os professores, na escola, em diferentes ocasiões e os pais, nos lares, observam que seus alunos ou filhos não apenas apresentam melhor rendimento escolar, mas diminuíram os conflitos interpessoais, estão mais abertos a socialização, e mais, efetivamente, assimilaram e integram valores, atitudes e normas, na pratica social, de modo que os valores assimilados tenderão a acompanhá-los por toda a vida. (suj. 889)

Trabalhamos e direcionamos as ações para desenvolver conceitos como ética, respeito mútuo, justiça, convivência, dentre outros, para fortalecer uma meta maior que é a formação de verdadeiros cidadãos. (suj. 511)

Identificamos, nessa classe, oito respondentes que apontam que os projetos são bem sucedidos, visto que ao trabalharem valores, como o respeito, proporcionaram melhor convivência, mais respeito ao próximo e à escola, diminuindo conflitos e violência.

A classe 2, “Maior participação dos envolvidos - escola, comunidade, alunos, professores e pais”, contém 175 Unidades de Contextos Elementares (U.C.E.) representando 29% do corpus.

As respostas dessa classe consideram como ponto positivo da realização do projeto uma maior participação da comunidade escolar nas atividades da escola, assim como da comunidade local e dos pais.

Os participantes destacam o maior envolvimento dos alunos nos trabalhos escolares, afirmando que eles estão mais comprometidos e conscientes de seu papel. Alguns

respondentes avaliam também como consequência a diminuição da violência e a melhor convivência na escola. Seguem os exemplos de respostas:

No início do projeto os alunos utilizavam de agressão física ou verbal para resolver os problemas, principalmente no momento do recreio; não participavam da gestão escolar; não eram consultados diante de certos problemas ou mesmo das realizações que ocorreriam na escola. No final do ano letivo os alunos já tentavam resolver os problemas pelo diálogo, davam ideias; apontavam onde não estava legal na escola, etc. No inicio desse ano, 2009, as assembleias continuam, os alunos têm participado ativamente da gestão escolar. (suj. 0035)

Ou ainda: “Participação total de toda a comunidade escolar com resultados positivos”. (suj. 0344); “Através deste projeto conseguimos um apoio maior da comunidade local.” (suj. 0073); “Pelos resultados consolidados. Melhor convivência entre alunos/ alunos, alunos/professores, alunos/coordenadores e diretores, escola/ comunidade.” (suj. 821); “Alto grau de participação e envolvimento da comunidade escolar nos referidos projetos.” (suj. 744).

Nessa classe identificamos 24 respondentes que afirmam que os projetos proporcionaram melhora nos relacionamentos e convivência entre a comunidade escolar. Deles resultaram a maior participação dos alunos nas atividades escolares e diminuição da violência e indisciplina.

A classe 3, “Mudanças de comportamento e atitude dos alunos” contém 118 Unidades de Contextos Elementares (U.C.E.) representando 19% do corpus. Nessa classe, as respostas indicam que os projetos são bem sucedidos porque houve uma mudança positiva de comportamento, levando a uma nova atitude/hábito/postura/conduta dos alunos em relação a eles próprios, ao próximo e ao ambiente escolar. As respostas demonstram-se mais gerais, sem explicitar quais são os comportamentos e atitudes que foram mudados. Entretanto, analisando a sequência com que as classes se configuram e a proximidade entre as classes 3 e classe 2 “Maior participação dos envolvidos”, podemos observar novamente que a mudança de comportamento dos alunos pode referir-se a maior participação nas atividades escolares.

Seguem exemplos de fala da classe 3: “Por tratar-se de mudanças que ocorrem a médio e longo prazo e notamos sensível melhora no comportamento dos alunos, refletindo inclusive na conservação do patrimônio público e no relacionamento mútuo.” (suj. 129); “Porque percebemos uma mudança de hábitos e atitudes dos alunos em relação a si mesmo e ao próximo.” (suj. 354);

Na medida em que o aluno compara o que é e as suas atitudes, ele reflete e inicia o processo de mudança de comportamento. Participa das atividades da escola. Cuida melhor do seu espaço e de si mesmo. Valoriza e respeita as

pessoas. [...] Mas ocorrem gradativamente pequenas atitudes de mudança. (suj. 331)

Encontramos, nessa classe, 10 respostas que certificam que os projetos proporcionaram mudança de atitude dos alunos em relação a si, ao outro e ao ambiente escolar, contribuindo para a melhora das relações interpessoais e para a diminuição da violência.

Os dados das justificativas que esclarecem por que os projetos são considerados como bem sucedidos avaliam que a Educação em Valores na escola, ao fomentar a formação ética e para a cidadania, objetiva uma educação para o respeito e também para a valorização das relações sociais. Essas iniciativas podem ser positivas, considerando que “o exercício da cidadania é crucial para o desenvolvimento da maturidade moral do indivíduo” (CORTINA, 2003, p. 100). Além disso, ele é necessário para uma aprendizagem da vida em comum (PUIG, 2007). Também, os trabalhos escolares orientados por questões éticas e morais conferem à educação um sentido mais amplo, levantando a possibilidade do estabelecimento de novas relações no interior das escolas e a produção de novos saberes. Assim, conforme apontam Araújo, Puig e Arantes (2007), La Taille (2009), Menin (2002), Tognetta e Vinha (2007), entre outros, a Educação em Valores Morais tem como fim a construção de valores, princípios e regras que norteiem o como viver numa sociedade democrática e justa.

Os resultados da análise do software Alceste para as questões sobre a finalidade dos projetos realizados, as mudanças ocorridas no ambiente escolar com a experiência e as justificativas de sua aplicação bem sucedida revelam que a preocupação das escolas com a formação em valores morais, muitas vezes, é motivada pelos problemas de relacionamento entre alunos e desses com professores, marcados pelo desrespeito, violência e indisciplina. Portanto, a Educação em Valores Morais é pensada com o objetivo de promover uma mudança de comportamento que resulte na normatização das relações sociais e melhora na convivência escolar.

De fato, a escola representa um local propício para que crianças e adolescentes aprendam a viver em grupo, a serem cidadãos respeitosos, justos e solidários. Porém, a Educação em Valores nas escolas não pode ser pensada unicamente como meio de transmitir normas e princípios de conduta que regulem as relações sociais. É preciso reconhecer seu papel na construção de personalidades éticas (LA TAILLE, 2009).

Em concordância com essa afirmação, temos alguns respondentes que parecem reconhecer que a instituição escolar possui um importante papel na construção de valores morais e éticos.

A escola deve ser uma instituição justa, na qual se convençam os alunos de que “a vida vale a pena ser vivida para e com outrem” e pelo “respeito de si” (LA TAILLE, 2009). Assim, segundo La Taille (2009), os valores trabalhados nas escolas precisam ser pensados no sentido de ser selecionados, refletida e autonomamente, para orientar as escolhas das pessoas sobre a vida que querem viver; ou seja, auxiliando na constituição dos sentidos dados à vida. Ao pensar valores, como construtores de sentidos na vida, cabe aos agentes escolares não apenas discutir questões mais cotidianas e momentâneas sobre como ser e relacionar-se no âmbito interno da escola, mas levar essa discussão para questões maiores sobre que vida os alunos querem viver e, nesse sentido, sobre o que planejam para seu futuro, para além da vida escolar.

5 OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO EM VALORES VOLTADOS AO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E DA INDISCIPLINA ESCOLAR

As análises realizadas a partir dos dados gerados pelo software Alceste, descritas no capítulo anterior, possibilitaram-nos selecionar, inicialmente, 164 projetos que tinham como finalidade o enfrentamento das situações de violência e de indisciplina. Entretanto, como explicado na metodologia, a identificação dos projetos foi complementada com a busca por palavras-chave junto ao banco geral de dados da pesquisa “Projetos bem sucedidos de Educação moral: em busca de experiências brasileiras”. Essa investigação encaminhou-nos para localizar mais 29 projetos relacionados ao tema da violência e da indisciplina.

Porquanto, selecionamos a partir do banco geral de dados da pesquisa “Projetos bem sucedidos de Educação Moral: em busca de experiências brasileiras” coordenada por Menin, 193 projetos que tinham como finalidade o enfrentamento da violência e da indisciplina escolar, representando 27% do total de 706 experiências relatadas. A seguir, apresentamos a análise desses projetos.

Considerando as 193 respostas selecionadas, realizamos um primeiro tratamento dos resultados que permitiu uma quantificação das respostas às questões construídas na forma de alternativas e a identificação das tendências mais gerais nas descrições dos projetos. Essas questões com alternativas diziam respeito a: se a escola deve ou não oferecer Educação em Valores aos estudantes; se a escola já participou de alguma experiência em educação moral ou outras no gênero; se o que a escola realizou poderia ser considerado como uma experiência bem sucedida; quanto tempo ela durou, quem dela participou; se a comunidade do entorno da escola provocou a experiência, se foram percebidas mudanças; se a experiência foi avaliada e se a escola recebeu alguma formação para a realização da experiência.

Dentre esses 193 questionários, os respondentes, todos de escola pública, eram diretores (38%), coordenadores pedagógicos (33%), professores (22%) e outros (equipe pedagógica, orientador educacional – 7%). Eles atuam em escolas que atendem alunos do Ensino Fundamental e Médio (41%), somente Ensino Fundamental (41%) ou somente Ensino Médio (18%).

A representação das escolas por estado foi muito desigual. Dentre as 193 respostas, obtivemos 10% da região Norte (estados do Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins); 15% do Nordeste (estados do Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí); 4% do Centro-oeste (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul); 12% do Sul (Paraná, Rio

Grande do Sul e Santa Catarina) e 59% do Sudeste (Espírito Santo; Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo).

Como resultados mais gerais dos projetos de enfrentamento da violência e da indisciplina, destacamos que a grande maioria dos respondentes (97%) foi a favor de que a escola desse Educação em Valores aos seus alunos. Entre os projetos relacionados ao tema da violência e da indisciplina relatados, foram apontadas as alternativas que indicavam experiências de “Cidadania na escola” (78%), “Educação em valores” (68%), “Ética na escola” (66%), “Direitos humanos” (56%), e “Educação moral” (32%). Cabe destacar que, geralmente, os respondentes classificaram a experiência em mais de uma temática.

Dentre os respondentes, 98% afirmaram que os projetos realizados poderiam ser considerados como bem sucedidos e 96% apontaram mudanças no ambiente escolar com sua realização.

Os projetos descritos tiveram duração de: 1 semana a 1 mês (16%), 1 mês a 3 meses (12%), 3 meses a 6 meses (12%), 6 meses a 12 meses (20%), mais de 12 meses (40%). Os participantes envolvidos nos projetos foram alunos e professores, sendo mais de 100 alunos em 66% dos projetos e até 30 professores em 51%. A maioria das experiências incluiu também a equipe gestora (89%) e os funcionários da escola (76%). Algumas envolveram as famílias (69%) e entidades externas à escola (47%). Os respondentes apontaram, em 64% dos relatos que, de alguma forma, a experiência foi provocada pela comunidade.

Um total de 79% dos respondentes apontou que as experiências foram avaliadas, destacando formas diversas de avaliação. Finalmente, apenas 32% das escolas com experiências relatadas apontaram ter recebido alguma formação para atuar nesse tema.

Esses dados quantitativos dos projetos relacionados aos temas da violência e da indisciplina são semelhantes aos dados gerais da pesquisa “Projetos bem sucedidos de educação moral: em busca de experiências brasileiras” (MENIN; BATAGLIA; ZECHI, 2013). Uma diferença a destacar é quanto ao tempo de duração: no banco geral dos dados, somente 26% dos projetos descritos tiveram duração de mais de 12 meses, nos projetos de enfrentamento da violência e da indisciplina aqui analisados tivemos um total de 40% das experiências com duração de mais de doze meses.

Efetivada essa análise mais quantitativa dos projetos de enfrentamento da violência e da indisciplina, procedemos a uma análise de conteúdo (BARDIN, 1977) das questões descritivas do questionário. Ela tem a intenção de responder a alguns questionamentos de nossa pesquisa, tais como: quais são as relações estabelecidas pelos agentes escolares entre educação em valores morais, violência e indisciplina escolar; quais são os valores abordados

nesses projetos; como a experiência relatada busca contribuir para uma melhora nas relações escolares (relação entre alunos e destes com professores e demais agentes escolares); se a experiência pode ser caracterizada como uma prática positiva no enfrentamento da violência e da indisciplina escolar; qual é a formação recebida pelos docentes para abordarem os projetos.