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Capítulo I: Delimitação do conceito de presunção

1. Conceito de presunção

1.5. Estrutura e função das presunções

1.5.2. Formulação lógica das presunções

A estrutura das presunções ficará, porventura, mais evidente se expressa atra-

vés de formulações lógicas115. A presunção perfila-se, então, como uma regra que

obriga o intérprete a reconhecer um facto-presumido (uma conclusão) perante a veri- ficação de determinadas condições (um facto-base ou indício) ligados por um nexo

lógico116. Em termos simples, WRÓBLEWSKI indica a seguinte formulação117, em que PP

significa “premissa de presunção”, R representa “regra” e CP “conclusão de presun- ção”:

Mas esta formulação não representa, adequadamente, o que é uma presunção. Esta formulação será válida apenas para as presunções iuris et de iure, na medida em que é peremptória. Ao não admitir prova em contrário (do facto-presumido), as pre- sunções iuris et de iure não prevêem uma mera verdade hipotética. Esta formulação

assume-se, pois, conclusiva. Há, efectivamente, alguns autores, como WRÓBLEWSKI, que

rejeitam as presunções iuris et de iure enquanto presunção em sentido estrito118. Esta

consideração parece-nos fazer todo sentido, mas acaba por descurar a possibilidade que existe, e é real também nas presunções iuris et de iure, de se atacar a verificação do facto-base da presunção e, consequentemente, a legitimidade do recurso à presun- ção. Esta ressalva, porém, não nega o mérito daquelas considerações, uma vez que incidem, precisamente, na questão central da não admissão da prova em contrário do

114

Cfr. Ibidem, p. 73.

115

Para uma referência os tipos de raciocínios que podem estar subjacentes à estrutura lógica das presunções, cfr. SOUSA,

LUÍS FILIPE PIRES DE, Prova por Presunção... pp. 51-54.

116

Cfr. RIBEIRO,JOÃO SÉRGIO, Tributação Presuntiva... p. 42: “A presunção é portanto constituída por uma afirmação base ou

indício, por uma afirmação resultado ou afirmação presumida e pelo nexo lógico que existe entre ambas”.

117 Cfr. W

RÓBLEWSKI,JERZY, Structure et Fonctions des Présomptions Juridiques, coord. ou Les Présomptions... p. 48.

118

Cfr. Ibidem, p. 49: “On doit alors exclure du domaine des présomption les paersumptiones iuris et de iure, car eles ne

prévoient pas la possibilite d’une preuve contraire: ce sont des normes, mais pas des normes de la présomption”. Continua, a

pp. 67-71: “du point de vue de la norme de présomption comme norme prévoyant la preuve contrarie, cette praesumptio iuris

et de iure n’est pas une présomption. La structure de cette praesumptio iuris et de iure n’est pas une présomption. La de cette praesumptio este simple – elle precise les conditions dans lesquelles on doit reconnaître certaines conséquences juridiques. Elle correspond à la forme élémentaire de la norme juridique”.

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facto-presumido. O que é característico da presunção é, pois, o raciocínio inferencial estabelecido entre um facto-base, tendo por base um nexo-lógico assente em máxi- mas de experiência, para alcançar, como conclusão, um facto-presumido.

Distintamente, defende WRÓBLEWSKI que uma norma de presunção é mais com-

plexa, pois a premissa da presunção (PP) contém a previsão de um estado de coisas, de

um facto-base e que há-de conter a admissão de prova em contrário119, em reconhe-

cimento da natureza de incerteza intrínseca à presunção. Neste sentido, aponta as

seguintes possibilidades de formulação120, significando E “estado de coisas”, . “união

ou conjunção” e ~ “negação” .

Conforme sublinha o autor, a primeira fórmula corresponde à fórmula “normal” da presunção: aliando-se a verificação dum estado de coisas à ausência de prova em contrário quanto ao facto-presumido, de acordo com uma regra, deve concluir-se cer- to facto-presumido. A segunda fórmula representa a hipótese inversa: aliando-se a verificação de um estado de coisas à prova do contrário do facto-presumido, chega-se à conclusão de afastamento do facto-presumido.

Esta formulação serve tanto para as presunções de facto, como para as presun-

ções de direito. O que as vai distinguir verdadeiramente121, segundo WRÓBLEWSKI, é a

forma através da qual se há-de admitir a prova em contrário.

Vejamos. Através de um conjunto de asserções (A), tomamos em consideração

regras empíricas (RE)122 para aferir a verificação de certo estado de coisas ou do facto-

base:

119 Cfr. Ibidem, pp. 62-66, para demais considerações sobre a prova em contrário. 120 Cfr. Ibidem, pp. 48-49 e 52-55.

121

Cfr. Ibidem, p. 55.

122 Cfr. Ibidem, p. 53, as regras empíricas são determinadas pelos “paradigmas da ciência e da experiência prática aceites

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Num segundo momento, através de um segundo conjunto de asserções, procu- ramos averiguar através de um conjunto de regras, que serão empíricas no caso das

presunções de facto e normativas no caso das presunções de direito123, se se logrou a

prova em contrário. Assim, a ausência ou insuficiência de asserções conduz ao insuces- so da prova em contrário, enquanto a sua suficiência conduz ao seu sucesso.

Recuperando o que se foi explanando e concluindo124, numa formulação com-

pleta teremos:

(

→ ) (

→ )→

(

→ ) (

→ )

*

Na sequência do que apontámos supra125, a respeito das presunções iuris tan-

tum materiais e formais, importa ainda fazer referência, seguindo WRÓBLEWSKI126, que

aquelas formulações dizem respeito, apenas, àquilo que se denomina como presunção material. Esta é uma norma jurídica que impõe uma determinada conclusão perante a verificação de um facto e a ausência de prova em contrário, como é disso exemplo a

123 Segundo S

OUSA,LUÍS FILIPE PIRES DE, Prova por Presunção... pp. 103-104, “a presunção de direito reporta-se às normas

que impõem ao tribunal que, com base na existência de um facto, conclua pela (in)existência de um direito ou relação jurídica. […] Neste tipo de presunção, não se presume que o direito foi adquirido de alguma forma específica mas apenas que o mesmo existe, prescindindo-se da enunciação de todos os factos dos quais poderia concluir-se pela existência actual do direito. Ou seja, não se investiga nem examina os pressupostos materiais de aquisição do direito actual”.

124 Para maiores desenvolvimentos, cfr. W

RÓBLEWSKI,JERZY, Structure et Fonctions des Présomptions Juridiques, coord. ou

Les Présomptions... pp. 47-55.

125

Cfr. Parte I, Capítulo I, 1.3.2.2.

126 Cfr. W

RÓBLEWSKI,JERZY, Structure et Fonctions des Présomptions Juridiques, coord. ou Les Présomptions... p. 55. No

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presunção de paternidade. Por seu turno, as presunções formais, às quais já fizemos alusão supra, caracterizam-se pela ausência da previsão de um estado de coisas. Ou seja, verifica-se apenas o elemento da ausência de prova, como é o caso da presunção de inocência. Pelo que as formulações serão fundamentalmente distintas:

Estes ensinamentos são relevantes ainda para a distinção entre presunções e

regras de distribuição do ónus de prova e verdades interinas, que abordaremos infra127.

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