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A iniciação à docência nos cursos de ensino superior nem sempre ocorre em nível de pós-graduação (DIAS, 2007). Programas como o de monitoria estimulam a docência no nível superior e são regulamentados e estimulados há muito tempo. Com efeito, a Lei nº 5.540, de 28.11.1968, já predizia em seu art. 41, que:

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Valorização das atividades de estágio supervisionado na formação docente em biologia

Josélia Domingos Pereira | Marlécio Maknamara

As universidades deverão criar funções de monitor para alunos do curso de graduação que se submeterem a provas específicas, nas quais demonstrem capacidade de desempenho em ativi- dades técnico-didáticas de determinada disciplina.

As práticas de monitoria foram inseridas e regulamentadas no âmbito federal através da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968 e reafirmadas pela Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Nessa última, é afirmado que “os discentes da educação superior poderão ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu rendimento e seu plano de estudos” (SANTOS et al., 2013, p. 7). Nesse sentido, a monitoria acadêmica constitui-se como atendimento privilegiado de necessidades de formação universitária, a partir do momento em que o graduando é envol- vido em atividades de organização, planejamento e execução do trabalho docente (GARCIA et al, 2013).

A partir dessa conjuntura, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e as demais universidades federais buscaram, a partir do ano 2000, uma nova dimensão para os seus projetos de monitoria, cuja ênfase principal passou a ser a quali- dade do ensino. A partir disso, o novo programa de monitoria da UFRN passou a valorizar as seguintes dimensões:

Estimular a formação do docente no nível superior; dar uma dimensão pedagógica de trabalho coletivo; respeitar a diversi- dade; incentivar o desenvolvimento de experiências inovadoras, com metodologias diferenciadas e abordagens críticas; favorecer a troca de experiências, saberes e competências na elaboração e execução do planejamento e na avaliação compartilhadas com professores orientadores.

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No sentido de materialização dos pressupostos supra- citados, propusemos um projeto de monitoria universitária inspirado em cotidianos escolares e fundamentado teórica e meto- dologicamente na ecosofia de Guattari (2005), para quem ensinar implicaria em promover práticas inovadoras e disseminar experi- ências alternativas. Sendo assim, o papel do docente na sociedade exige mais do que um embasamento teórico visto durante sua formação acadêmica. É necessário estabelecer relações com o que está na literatura e com os contextos de atuação profissional.

Para Amorim et al. (2012), ser docente, nos dias atuais, exige do profissional da educação atributos que vão além da teoria, demandando também uma visão mais especial para cada situação vivenciada, para, assim, saber como agir de forma sábia e ética na prática em salas de aula. Segundo Barros (2013, p. 84), “o bom educador é aquele que dá oportunidade ao aluno para criar, expor ideias; é aquele que garante ao educando o direto de poder construir conhecimentos a partir das suas experiências”.

A carreira da docência apresenta várias dificuldades e contra dições, pois desde um passado recente os professores têm sido mal compreendidos e mal olhados (ALARCÃO, 2001). Tal fator ratifica a importância da monitoria, para que os alunos da iniciação à docência se integrem nos caminhos da profissão durante a sua graduação. Como afirma Amorim et al. (2012, p. 45), “a experiência de estar do outro lado, ou seja, deixar de ser aluno e sentir na pele o ser professor ou profes- sora, é muito importante para a construção do conhecimento do profissional do magistério”.

A atividade da monitoria em Estágio Supervisionado de Formação de Professores I (Ciências Biológicas) foi desenvolvida com permanente orientação das monitoras para a troca e análise de informações sobre a realidade escolar, favorecendo a troca

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de experiência entre: docente-monitoria, monitoria-discentes, docente-discentes, valorizando o compromisso de todos com a formação docente. Tal troca de experiências nos remete a Freire (2011, p. 12), para quem a atividade educacional é, antes de tudo, uma relação entre sujeitos: “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

Metodologia

As atividades realizadas durante o período de monitoria incluíram encontros semanais para planejamento e avaliação das atividades do componente curricular; encontros de orientação teórica das monitoras, com discussão de textos e/ou realização de seminários; estímulo à formação de grupos de estudos com estagiários e organização de eventos ligados ao componente aten- didos pelo projeto; e utilização do SIGAA (sistema informatizado da UFRN) para acompanhamento e avaliação das atividades propostas pela monitoria.

A constante orientação das monitoras pelo coordenador do projeto foi fundamental para a viabilização de troca e análise de informações sobre a realidade escolar, objeto de estudo ao longo de todos os componentes curriculares atendidos pelo projeto de monitoria aqui em tela. Neste sentido, pôde-se construir ao longo da trajetória anual um aprimoramento no ensino e aprendizagem dos licenciandos e, por conseguinte, um aperfeiçoamento do componente curricular supracitado. Tal trabalho de orientação das monitoras e de sua aprendizagem da docência foi fundamentado na ecosofia de Guattari, para quem ensinar implicaria em promover práticas “centradas no respeito à singularidade e no trabalho perma- nente de produção de subjetividade” (GUATTARI, 2005, p. 44).

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O trabalho da monitoria compreendeu planejar, executar e avaliar atividades em duas dimensões temporais da oferta do componente curricular atendido pelo nosso projeto. Em uma primeira dimensão, o monitoramento de Estágio Supervisionado de Formação de Professores I (Ciências Biológicas) ocorreu em dois turnos distintos (diurno e noturno) tanto em 2013.1 quanto em 2013.2, conforme a oferta do componente PEC 0179. A moni- toria atuou presencialmente ao longo das aulas na UFRN e prestou assistência extraclasse permanente aos discentes estagiários. Em uma segunda dimensão temporal, o monitoramento consistiu em articular discentes egressos do componente PEC 0179 em 2012.2 e 2013.1 com discentes matriculados no semestre letivo de 2013.2, promovendo entre eles a valorização das atividades do componente curricular pela troca de experiências investigativas e de interação junto às escolas-campo de estágio.

A primeira dimensão temporal do componente curricular ocorreu por meio de sete semanas observacionais: (i) pesquisa no/ do/com os cotidianos escolares; (ii) apresentação dos resultados oriundos das pesquisas no/do/com os cotidianos escolares; (iii) modos de organização e de ação da direção e equipe técnica das escolas; (iv) modos de fazer e de usar o espaço escolar; (v) quem são os/as estudantes das escolas públicas?; (vi) quem são os/as estudantes das escolas públicas segundo seus docentes?; e (vii) organização curricular em Ciências e Biologia. Após as orienta- ções de cada semana, os estagiários eram convocados a visitarem as escolas-campo de estágio, para as devidas observações. E, já em sala de aula, os estagiários relatavam as suas experiências e aprendizagens em relação à semana observacional anterior.

Na segunda dimensão temporal, o componente curricular enfatizou a importância de articular atividades dos egressos dos semestres anteriores àquelas dos semestres em curso. Nesse

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sentido, assim como os licenciandos do semestre 2012.2 abor- daram a pesquisa Para que serve uma escola? e apresentaram os resultados nos semestres de 2013.1 e 2013.2, os licenciandos do semestre de 2013.1 apresentaram os dados da pesquisa O que

é uma escola de qualidade? no semestre posterior.

A importância dessa articulação na troca de experiên- cias com egressos e ingressantes, envolvendo pesquisa e ensino, proporciona uma aprendizagem qualitativamente superior na formação acadêmica. Segundo Dias (2009, p. 39),

A relação entre o ensino, a pesquisa e a extensão, quando bem articulados, conduz a mudanças significativas nos processos de ensino e de aprendizagem, fundamentando didática e pedago- gicamente a formação profissional, e estudantes e professores constituem-se efetivamente, em sujeitos do ato de aprender, de ensinar e de formar profissionais e cidadãos.