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CONSTRUINDO TRÂNSITOS EM TRÂNSITOS TEÓRICOS

AS PRÓPRIAS TERRITORIALIDADES

3.2. G ERAÇÃO DE REGISTROS

Como já explicitado, este trabalho, seguindo os preceitos da LA Indisciplinar e Transgressiva, além de reconhecer o objetivo de “criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem um papel central” (MOITA LOPES, 2006, p. 14), procura, também, assumir o compromisso ético e político de abrir espaço para a voz daqueles que, muitas vezes, são silenciados (CAVALCANTI, 2006). Por isso, afiliando-se a uma visão socioconstrucionista e performativa da linguagem, da identidade, da narrativa e da

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territorialidade (DELEUZE & GUATTARI, 2007/1980; BUTLER; 2010/1990; PENNYCOOK, 2001, 2004, 2006, 2007, 2010; MOITA LOPES, 2003; HAESBAERT, 2004; THREADGOLD, 2005; MOITA LOPES & FABRÍCIO, 2007; BORBA, 2011, entre outros) e comprometendo-se com a necessidade de entender os fatos sociais a partir da análise dos discursos que os constroem ou das interpretações das pessoas que vivem as práticas discursivas em foco (MOITA LOPES, 2003), este trabalho interpretativista e de cunho etnográfico (ERICKSON, 1984; 1989) buscou a geração de registros e um desenho de pesquisa que, justamente, possibilitassem ouvir o outro e, dessa forma, se afastassem da pressuposição positivista de uma única realidade social calcada em significados imanentes e totalizantes (MOITA LOPES, 1994; CAVALCANTI, 2006).

Sendo assim, na perspectiva aqui assumida, não se pretende apresentar a realidade de maneira unívoca e por meio de generalizações a partir de um quadro materializado em números. Ao contrário, no mundo contemporâneo que se descortina, pulsam os significados cambiantes, provisórios e, portanto, contingenciais, só fazendo sentido pensar em interpretações contextualizadas e implicadas com as localidades de seus envolvidos. Segundo esclarecem Moita Lopes & Fabrício (2004/2002, p. 13), nesses tempos de modernidade tardia (GIDDENS, 1991),

a ciência da significância estatística dá lugar à “ciência da insignificância”: o singular e as pequenas histórias passam a ser revestidos de importância. Como comenta Bauman (1992, p. 192), na contemporaneidade, “significância e números estão separados. Fenômenos estatisticamente insignificantes podem mostrar ser decisivos”. Sabendo que as histórias que nos propomos contar não são dadas a priori, mas sócio-historicamente (re)construídas no aqui e agora de nossas práticas discursivas, é primordial considerar o quanto o pesquisador está implicado no conhecimento que produz (MOITA LOPES, 1994; MOERMAN, 1998; MAHER, 2010a; CAVALCANTI, 1990, entre outros) e o quanto as articulações tecidas a respeito da realidade analisada fazem parte de uma “política de textualidade em que se assume que o texto final é uma versão, uma interpretação possível das interações vivenciadas e observadas no campo e não um reflexo direto da realidade” (FAVORITO, 2006, p. 132).

Por isso, a importância de se falar em geração de registros (ERICKSON, 1989; MASON, 1997) e não em coleta de dados. Conforme elucida Maher (2010a, p. 39),

o pesquisador não registra, simplesmente, o que as pessoas dizem. Nós somos agentes cruciais na micropolítica de elicitação de dados porque nossa própria presença determina, mesmo que em parte, o que os sujeitos pesquisados nos dizem. Além disto, nossa seleção do que é relevante para análise, assim como essa em si, estão contaminadas pela nossa história pessoal, por nosso posicionamento ideológico.

Nenhuma escolha feita pelo pesquisador é neutra e, ao revelar sua maneira particular de recortar o mundo, revela também seus posicionamentos teórico- epistemológicos e políticos. Nas palavras de Denzin e Lincoln (1998, p. 24), “qualquer olhar é sempre filtrado pelas lentes da linguagem, gênero, classe social, raça e etnia, [não havendo] nenhuma observação objetiva, apenas observações socialmente situadas nos mundos do observador e do observado”.

No entanto, reconhecer ser impossível uma objetividade absoluta não significa afirmar que a subjetividade reja os procedimentos analítico-metodológicos de uma investigação. De acordo com a argumentação de Maher (2010a, p. 39), como não há conhecimento produzido fora de um contexto sociocultural e político específico, “a dicotomia objetividade/subjetividade não se sustenta, pois o sentido não está nem no objeto, nem na interpretação subjetiva, mas num mundo composto pela aparente interação e interpenetração dos dois (MOERMAN, 1998, p. xiii)”.

Os registros foram gerados em duas fases:

(1) fase 1: período de preparação para o exame Celpe-Bras, entre maio e novembro de 2008.

(2) fase 2: período que compreende quatro anos do curso de graduação, entre 2009 e 2012.

Considero como registros primários tanto as interações de aulas ministradas e gravadas em áudio em 2008, no período de preparação para o Celpe-Bras, quanto as conversas informais realizadas com os estudantes logo após o exame, ainda em 2008, e

entre 2010 e 2012, segundo, terceiro e quarto anos de graduação. É preciso esclarecer que as conversas informais não tiveram roteiro previamente elaborado. Apenas solicitei que os alunos me encontrassem para falarmos sobre o andamento de suas vidas por meio do convênio.

Além disso, também foi importante a geração de outros registros, tanto em áudio quanto por meio de recursos diversos, que trouxeram as vozes de outros envolvidos e se constituem em registros secundários:

(i) conversa gravada em áudio com um dos responsáveis pelo convênio na universidade;

(ii) conversa via telefone e troca de e-mails com funcionário do Ministério das Relações Exteriores responsável pelo PEC-G, entre setembro e outubro de 2011;

(iii) produção de diário retrospectivo; (iv) textos produzidos pelos estudantes;

(v) troca de e-mails com os estudantes entre 2009 e 2013116.

Vale esclarecer ainda que imagens presentes em documentos impressos e reportagens veiculadas por mídia impressa e eletrônica também compuseram o corpus de registros secundários desta pesquisa.

Na primeira fase, grande parte dos registros foi gerada no centro de ensino de línguas da universidade. Ao longo de quatro meses, de maio a novembro de 2008, gravei em áudio cerca de 36 horas/aula. Logo após terem prestado o exame Celpe-Bras, uma conversa informal feita com os estudantes também foi registrada em áudio.

A tabela a seguir discrimina os instrumentos utilizados na primeira fase para a geração dos registros em áudio, bem como as datas desses eventos e a quantidade de horas acumulada.

116 A troca de e-mails com os estudantes se prolongou até o fechamento deste trabalho, por isso inclui o início