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Geografia Política: território e soberania na análise da ordem ambiental

2. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

2.2 REGIME E ORDEM INTERNACIONAL

2.2.1 Geografia Política: território e soberania na análise da ordem ambiental

O conceito de território mostra-se absolutamente pertinente ao entendimento do processo negociador que caracteriza a ordem ambiental internacional sobre mudanças climáticas, por diferentes razões. Primeiramente, porque as “responsabilidades” dos países em relação às emissões que intensificam o efeito estufa diferem consideravelmente (não de forma determinista) em função de fatores territoriais, como o tipo de recursos energéticos disponíveis, a existência de domínios florestados sujeitos ao desmatamento, bem como às atividades econômicas desenvolvidas de acordo com características territoriais, que geram ou podem absorver carbono.

Em segundo, porque se verifica que o território influi sobremaneira na configuração das assimetrias de poder entre os Estados que conformam tal ordem. Por exemplo, ainda que todos os países tenham o mesmo direito à palavra nas negociações sobre o tema, é fato que pequenos Estados insulares, por exemplo, não tem o mesmo poder e influência que países de grande dimensão territorial e disponibilidade de recursos, como Estados Unidos, China e Brasil.

Em terceiro, porque os interesses que conformam o posicionamento de cada país refletem problemáticas domésticas que se relacionam intimamente com o território. Como apresentado ao longo dos capítulos seguintes, as expectativas brasileiras se assemelham e diferem às de outros países em função de diferentes fatores territoriais. Por exemplo, o Brasil busca promover projetos de mitigação de emissões de gases de efeito estufa que envolvam o setor florestal, dado que boa parte de suas emissões provém do desmatamento da floresta amazônica. Já países-ilha visam o desenvolvimento de medidas radicais para reduzir as emissões de GEEs já que, em virtude de suas baixas altitudes, qualquer elevação do nível do mar pode comprometer suas próprias existências. A maior parte dos países árabes, por sua vez, não deseja o estabelecimento de um ano-pico de emissões de GEEs em curto prazo, já que suas economias ainda são altamente dependentes da exportação de combustíveis fósseis. Tais exemplos são poucos diante da grande diversidade de Estados e de suas especificidades.

Autores de diversos campos do conhecimento, desde há muito tempo, ressaltam a importância do conceito de território. Neste sentido, é fundamental destacar, no âmbito da Geografia Política, a obra de Friedrich Ratzel. Em seu célebre artigo “O Solo, a Sociedade e o Estado” ([1898-1899], 1983) o autor aponta as relações estreitas entre a dimensão natural e político-econômica do território, entendido como fonte de recursos. Segundo Ratzel, é no solo

que o egoísmo político se faz e constitui o objetivo primário da vida pública, de forma que um povo somente pode progredir ao ampliar seu território, e regride ao perdê-lo em parte ou totalmente. Sem dúvida, Ratzel realizou uma geografia de Estado.

Em concordância com Moraes (1990), destacam-se dois conceitos fundamentais da obra de Ratzel: o de território e o de espaço vital. O autor alemão define território como uma porção da superfície terrestre apropriada por um grupo humano. Já o conceito de espaço vital refere-se à necessidade territorial de uma sociedade, de forma a considerar seu nível tecnológico, sua demografia e os recursos naturais disponíveis. Constitui uma relação de equilíbrio, ou seja, refere-se à porção necessária do planeta para reprodução de uma comunidade. Segundo Ratzel ([1898-1899], 1983, p.99):

A organização de uma sociedade depende estreitamente da natureza de seu solo, de sua situação; o conhecimento da natureza física do território (pays), de suas vantagens e de seus inconvenientes, resulta então na história política. A história nos mostra, de uma maneira muito mais penetrante que o historiador, a que ponto o solo é a base real da política. Uma política verdadeiramente prática tem sempre um ponto de partida na geografia. Em política como em história, a teoria que faz abstração do solo toma os sintomas por causa. Como compreender tudo aquilo que há de estéril numa luta em que o poder político é o único objetivo e onde a vitória, de qualquer lado a que se volte, deixaria, entretanto as coisas quase no mesmo estado em que se encontravam antes? Tratados que não têm por efeito repartir esse poder em conformidade com a situação respectiva dos Estados, não são nunca senão expedientes diplomáticos sem duração.

Costa (2008a) verifica que o Estado, para Ratzel, constitui um organismo espiritual e moral, devido ao seu papel político. A ligação de um povo com seu solo, região ou país gera um “sentimento territorial”, solo que é elemento de permanência face à transitoriedade do Estado. Por sua vez, Souza (2009) afirma que a teoria ratzeliana não contém uma autêntica emancipação conceitual do conceito de território, que teria procedido a uma “coisificação” (forte naturalização) do território, o que, para ele, pode ser visto por sua preferência pelo termo “solo”. Contudo, Haesbaert (2004) pontua que o entendimento de Ratzel acerca do território não pode ser entendido do ponto de vista puramente materialista, haja vista que ele coloca uma dimensão espiritual e subjetiva em sua obra.

Já Gottman (1975) define território como a conexão ideal entre espaço e política: uma porção do espaço geográfico que coincide com a extensão espacial da jurisdição de um governo, a arena espacial do sistema político desenvolvido em um Estado nacional ou uma parte deste que é dotada de certa autonomia. Segundo o autor, o conceito também serve para descrever as posições no espaço das várias unidades participantes de qualquer sistema de relações internacionais.

Santos e Silveira (2001) destacaram as ambiguidades que envolvem este conceito, muitas vezes confundido com o de espaço, já que para alguns pesquisadores o território vem antes do espaço e, para outros, o contrário é verdadeiro. Tais autores afirmam que, em geral, o território é entendido como uma extensão apropriada e usada, mas já que a palavra “territorialidade” transcende a raça humana e prescinde da existência de Estado, preferem a discussão do território usado. Tal conceito é entendido como sinônimo de espaço geográfico, caracterizado pela interação entre sistemas de objetos e sistemas de ações por parte de diferentes agentes sociais:

O território usado, visto como uma totalidade é um campo privilegiado para a análise, na medida em que, de um lado, nos revela a estrutura global da sociedade e, de outro lado, a própria complexidade do seu uso. Para os atores hegemônicos o território usado é um recurso, garantia da realização de seus interesses particulares. Desse modo, o rebatimento de suas ações conduz a uma constante adaptação de seu uso, com adição de uma materialidade funcional ao exercício das atividades exógenas ao lugar, aprofundando a divisão social e territorial do trabalho, mediante a seletividade dos investimentos econômicos que gera um uso corporativo do território. Por outro lado, as situações resultantes nos possibilitam, a cada momento, entender que se faz mister considerar o comportamento de todos os homens, instituições, capitais e firmas. Os distintos atores não possuem o mesmo poder de comando levando a uma multiplicidade de ações, fruto do convívio dos atores hegemônicos com os hegemonizados. Dessa combinação temos o arranjo singular dos lugares. Os atores hegemonizados têm o território como um abrigo, buscando constantemente se adaptar ao meio geográfico local, ao mesmo tempo em que recriam estratégias que garantam sua sobrevivência nos lugares. É neste jogo dialético que podemos recuperar a totalidade (SANTOS, 2000, p.108).

Moraes (2013), ao se propor a analisar o uso do conceito de território na obra de Milton Santos, verifica que este foi adquirindo maior complexidade para o autor, desde uma associação simples à unidade político-administrativa até uma aproximação do conceito de espaço geográfico, como apontado acima, e de uma concepção de transnacionalização do território.

Já Castro (2005) define o território como materialidade e arena de interesses e das disputas dos atores sociais. Para a autora, constitui dimensão necessária aos problemas considerados pertinentes à análise da Geografia Política, bem como o pressuposto da política e do poder enquanto exercício resultante de relações dissimétricas que se organizam no interespaço do mundo social. Por sua vez, para Saquet (2009) território significa:

[...] articulações sociais, conflitos, cooperações, concorrências e coesões; é produto de tramas que envolvem as construções (formas espaciais), as instituições, as redes multiescalares, as relações sociais e a natureza exterior ao homem; é o objetivo- material e subjetivo-imaterial ao mesmo tempo (SAQUET, 2009, p.88).

Segundo Souza (2009), o elemento definidor do território é, em primeiro lugar, o poder. Desta forma, a dimensão política, antes de qualquer outra, lhe define o perfil, o que não

significa que, para ele, dimensões como a cultura (simbolismo, teias de significados, identidades) e mesmo a economia (trabalho, processos produtivos, circulação de bens) não sejam relevantes ou não estejam contempladas no conceito. Essencialmente, coloca que territórios são relações sociais projetadas no espaço, mais que espaços concretos:

O território (...) é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir

de relações de poder. A questão primordial, aqui, não é, na realidade, quais são as características geoecológicas e os recursos naturais de uma certa área, o que se produz ou quem produz em um dado espaço, ou ainda quais as ligações afetivas e de identidade entre um grupo social e seu espaço. Esses aspectos podem ser de

crucial importância para a compreensão da gênese de um território ou do interesse por tomá-lo ou mantê-lo (...), mas o verdadeiro Leimotiv é o seguinte: quem domina

ou influencia e como domina ou influencia esse espaço? Este Leimotiv traz

embutida, ao menos de um ponto de vista não interessado em escamotear conflitos e contradições sociais, a seguinte questão inseparável, uma vez que o território é essencialmente um instrumento de exercício de poder: quem domina ou influencia

quem nesse espaço, e como? (SOUZA, 2009, p.59-60, grifo do autor).

Para Haesbaert (2004), mesmo ao considerar apenas a ciência geográfica, a polissemia em relação ao conceito de território ainda existe. O autor agrupa as várias definições em quatro vertentes básicas: 1) política (relações espaço-poder em geral) ou jurídico-política (relações espaço-poder institucionalizadas), que entende o território como espaço delimitado e controlado onde se exerce um poder (não necessariamente o de Estado); 2) cultural ou simbólico-cultural, por meio da qual o território é visto como produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido; 3) econômica, que prioriza a dimensão espacial das relações econômicas e coloca o território como fonte de recursos e no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho; e 4) naturalista, uma visão mais antiga que entende o território nas relações entre sociedade- natureza, sobretudo no tocante ao comportamento natural humano em relação ao ambiente físico. Para o autor, o enfoque materialista/naturalista de território, em geral, o reduz ao caráter biológico, como base material das relações de produção, ou fonte de recursos.

Para a compreensão dos debates sobre o conceito de território, faz-se necessária a distinção entre seu caráter absoluto ou relacional, conforme analisado por Haesbaert (2004). Em seu sentido absoluto, o território é entendido tanto como um a priori, como também sob o prisma materialista mecanicista de evidência empírica ou coisa, sem associação à dinâmica temporal. Já sob o olhar relacional, o território é visto dentro das relações social-históricas e para alguns autores, estritamente, inserido nas relações de poder.

Na perspectiva relacional, destaca-se a obra de Raffestin (1993). Para ele, o entendimento do território somente é possível a partir das relações de poder, que visam “... o

controle e a dominação sobre os homens e as coisas” (RAFFESTIN, 1993, p.58). O autor destaca a importância da tríade população–território–recursos:

[...] colocamos a população em primeiro lugar: simplesmente porque ela está na origem de todo o poder. Nela residem as capacidades virtuais de transformação; ela constitui o elemento dinâmico de onde procede a ação. O território é a cena do poder e o lugar de todas as relações, mas sem a população, ele se resume a apenas uma potencialidade, um dado estático a organizar e a integrar numa estratégia. Os recursos, enfim, determinam os horizontes possíveis da ação. Os recursos condicionam o alcance da ação (RAFFESTIN, 1993, p.58).

É importante ressaltar a influência de Michel Foucault na produção de Raffestin, sobretudo no que se refere às características do poder. Para Raffestin (1993), o poder: não se adquire e é exercido a partir de inumeráveis pontos; as relações de poder não são exteriores a outros tipos de relações; o poder vem de baixo, sem a oposição binária dominado-dominador, haja vista que o dominado legitima o poder do outro; as relações de poder são intencionais e não subjetivas; e onde há poder há resistência, de modo que esta nunca é exterior ao poder.

Segundo Raffestin (1980, 1993), existem dois tipos de códigos referentes ao território: códigos sintáticos e códigos semânticos. Os primeiros referem-se à morfologia geral do território (dimensão, forma, posição), de forma que as estratégias sempre são marcadas por um ou outro dos destes elementos; já os segundos envolvem os tipos de mensagens que estabelecem esquemas prontos, como, por exemplo, território grande, marítimo e fragmentado.

Em entrevista realizada a Marcos Aurélio Saquet (2008), Raffestin demonstrou preocupação com a definição conceitual na Geografia e a necessidade de distinção entre espaço e território, já que, para o autor, entre os dois conceitos existiam inúmeras etapas e processos decorrentes da intervenção humana. Ele definiu o espaço como o que já era dado e o território como o que era produzido a partir do espaço pela ação humana, “... o que restitui todo seu valor ao trabalho (energia informada) e à cultura como programa complexo próprio a cada sociedade” (SAQUET, 2008, p.3). Afirma que a Geografia se orienta, sempre mais, em direção ao ordenamento do território, à proteção do meio ambiente e à geografia dos riscos.

Becker (1988) corrobora com as ideias de Raffestin (1993) acerca da multidimensionalidade das relações de poder, de modo que privilegia a prática espacial e o território, não apenas do Estado-nação, mas também dos demais agentes sociais. Para ela, o território constitui o espaço da prática, inclui a apropriação de um espaço, a noção de limite e a intenção de poder sobre uma porção precisa de espaço. Também é um produto usado/vivido pelos atores, meio para sua prática. A malha territorial é entendida como manifestação das

relações de poder, da oposição local-universal, dos conflitos entre o concreto e o abstrato, concebida pelos atores hegemônicos.

Becker (2005) também destacou que se fortalecem diferentes tipos de pressão para influir na decisão dos Estados sobre o uso de seus territórios, que configuram um processo de mudança estreitamente ligado à revolução científico-tecnológica e possibilidades criadas de ampliação da comunicação e circulação no planeta através de fluxos e redes, de maneira a configurar espaços-tempos diferenciados.

Em trabalho posterior sobre o governo do território, Becker (2009) reafirma a relevância da “microfísica do poder”, ou seja, da existência de diversos poderes multidimensionais que, segundo ela, explodem em múltiplas territorialidades, de maneira a expressar uma nova estrutura das relações espaço-tempo, possibilitada pela conexão local- global. Também destaca novamente o conceito de redes na formação do território. Para a autora, se as redes – entendidas como um conjunto de ligações geográficas interconectadas por certo número de ligações – sempre existiram e no passado eram elementos constituintes do território, atualmente são elementos constituidores. Concorda-se com a autora ao afirmar que as redes têm um papel estratégico nas relações de poder, pela possibilidade de geração de ordem/desordem, conexão/exclusão, integração e partição e que as redes políticas. Como visto ao longo de todo este trabalho, emergem com maior nitidez nas esferas de poder estabelecidas pelas instituições estatais, de maneira a configurar “... redes políticas territorializadas que conectam, solidarizam poderes locais entre si, redesenhando contornos e forjando novas territorialidades” (BECKER, 2009, p.38).

Para Haesbaert (2004), o território também é relacional não apenas porque sempre é definido dentro de um conjunto de relações histórico-sociais, mas também por ser movimento, fluidez, interconexão e temporalidade/historicidade. Assim, seria preciso fugir de leituras simplistas que o veem apenas como enraizamento, estabilidade, delimitação e/ou fronteira.

Entretanto, seja em que sentido for, uma leitura integrada do espaço social é hoje relativamente pouco comum, como se pode depreender das próprias abordagens “setoriais” até aqui comentadas. Fica evidente neste ponto a necessidade de uma visão de território a partir da concepção de espaço como um híbrido – híbrido entre sociedade e natureza, entre política, economia e cultura, e entre materialidade e “idealidade”, numa completa interação tempo-espaço, como nos induzem a pensar geógrafos como Jean Gottman e Milton Santos, na indissociação entre movimentos e (relativa) estabilidade - recebam estes os nomes de fixos e fluxos, circulação e “iconografias”, ou o que melhor nos aprouver. Tendo como pano de fundo esta noção “híbrida” (e, portanto) múltipla, nunca indiferenciada de espaço geográfico, o território pode ser concebido a partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais concreto das relações econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT, 2004, p.116, grifo do autor).

Fernandes (2009) destaca três tipos de território: o primeiro é o espaço de governança da nação, ponto de partida da existência das pessoas. Está organizado em diferentes escalas geográficas e níveis de governo e é configurado pelas relações praticadas pelas classes sociais. O segundo tipo se refere à propriedade como espaço da vida (particular ou comunitária). Por fim, o terceiro território é o espaço relacional considerado a partir de suas conflitualidades e reúne todos os tipos de territórios, e se relaciona às formas de uso do território. Para ele, o sentido da disputa está na essência do conceito de território, que contém como princípios: soberania, totalidade, multidimensionalidade, pluriescalaridade, intencionalidade e conflitualidade (FERNANDES, 2009). Este autor ressalta que o território, compreendido apenas como espaço de governança, pode ser usado como forma de ocultamento dos diversos territórios, bem como garantia da manutenção da subalternidade entre relações e territórios dominantes e dominados.

Verifica-se, desta forma, a grande multiplicidade de significados do conceito de território. Neste trabalho, concorda-se com Haesbaert (2004) ao compreender o território sob uma perspectiva integradora em relação seus componentes políticos, econômicos e culturais, bem como à sua materialidade/imaterialidade e dinamismo que evidencia as relações histórico-espaciais.

Também se entende que o território somente pode ser compreendido sob a perspectiva relacional, à luz das relações de poder que se projetam no espaço geográfico. Neste ponto, consente-se com as ideias de Raffestin (1993) sobre o conceito de território e a multiplicidade complexa de poderes, que estão em toda parte e são exercidos por diversos agentes sociais – em que pese o fato do Estado constituir agente fundamental, conforme se demonstra neste trabalho.

Como visto no capítulo anterior, os impactos ambientais previstos a partir dos cenários do IPCC apontam problemas que não se restringem ao território entendido enquanto zona fixa (delimitado por fronteiras), como o aumento no número de eventos extremos de precipitação e de calor, o aumento do nível médio do mar, aumento do número de doenças, redução nos reservatórios hídricos, etc. Tais situações podem repercutir nas diferentes sociedades (territorialidade, culturas) e, consequentemente, na economia. Esse contexto, por sua vez, exige a tomada de medidas de governança no tocante às ações dos diferentes agentes que configuram os territórios nacionais, encabeçadas pelos Estados nacionais, mas de maneira a envolver todos os demais.

A perspectiva relacional sobre o conceito de território adotada neste trabalho, ainda que valorize a abordagem política na análise das mudanças climáticas, busca englobar as demais perspectivas – cultural, econômica e naturalista, haja vista que se verifica que contribuem sobremaneira à configuração das relações de poder estabelecidas entre os agentes sociais, sem contudo desenvolver análises reducionistas ou deterministas sobre qualquer uma destas dimensões.

Outro conceito pertinente à análise da ordem ambiental internacional sobre mudanças climáticas é o de soberania, tradicionalmente associado ao um poder soberano dentro dos limites de um território, como definido por Jean Bodin (1530-1596) que, em sua obra “Os seis