• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 O SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL E O

3.2 ALICERCES DA UAB

3.2.4. Gestão e Avaliação do Sistema

No que se refere aos alicerces do Sistema UAB, a gestão e a avaliação são ações imprescindíveis tendo em vista toda estrutura organizacional e financeira conferida ao Sistema UAB.

A alta gestão do Sistema UAB foi atribuída a CAPES, mais especificamente à DED, contudo fez-se necessário considerar a articulação integrada entre os agentes da gestão intermediária: a) coordenadores institucionais da UAB nas IPES; e, b) coordenadores de polo vinculados às Secretarias Municipais de Educação (SILVA et al., 2018).

Dessa forma, a DED/CAPES em parceria com as IPES e os municípios atuaram nas ações de cadastramento, acompanhamento e avaliação do Sistema UAB. Como o Sistema UAB era complexo e envolvia múltiplos agentes em diferentes esferas governamentais, a preocupação com a qualidade tornou-se uma constante, tanto no que se refere à qualidade da formação proporcionada pelos cursos, à qualificação dos docentes que atuavam no sistema, quanto à qualidade da infraestrutura dos polos de apoio presencial.

Cumprindo ao disposto no Artigo 7º do Decreto nº 5.800/2006 (BRASIL. DECRETO..., 2006) que estabelecia a competência do MEC em coordenar a implantação, o acompanhamento, a supervisão e a avaliação dos cursos do Sistema UAB (BRASIL. DECRETO..., 2006), em 2007 foi lançado pelo MEC/SEED os Referenciais de Qualidade para Cursos de Educação a Distância (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. REFERENCIAIS..., 2007).

O documento foi construído por um grupo de profissionais com experiência em EAD, tendo por objetivos: a) subsidiar a legislação, no que se refere aos processos específicos de regulação, supervisão e avaliação dos cursos ofertados pelo Sistema UAB, bem como do próprio Sistema; b) induzir concepções teórico-metodológicas e da organização de sistemas de EAD.

Segundo os Referenciais (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. REFERENCIAIS..., 2007), devido a complexidade e a necessidade de uma abordagem sistêmica, o projeto político pedagógico de um curso na modalidade a distância devia compreender categorias que envolvessem os aspectos pedagógicos, os recursos humanos e a infraestrutura.

Por isso o Referencial estava organizado em dimensões norteadoras para a avaliação da qualidade da modalidade de ensino a distância. As dimensões elencadas relacionam-se entre si e são elas:

I- Concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem;

II- Sistemas de Comunicação; III- Material didático;

IV- Avaliação;

V- Equipe multidisciplinar; VI- Infraestrutura de apoio;

VII- Gestão Acadêmico Administrativa;

VIII- Sustentabilidade financeira (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. REFERENCIAIS..., 2007).

Verificou-se pelas dimensões elencadas que as mesmas não diferem das destinadas a avaliação do ensino presencial, exceto no que concerne à especificidade da EaD como: infraestrutura tecnológica, gestão descentralizada, exigência de parcerias, equipe multidisciplinar e o trabalho em rede. A intenção da avaliação a partir dessas dimensões é a obtenção de informações sobre a qualidade dos seus diversos componentes e do que possibilitará a melhoria do curso desejado bem como de novas iniciativas.

O sistema de acompanhamento e avaliação era realizado anualmente, in loco nos polos e Cursos, com avaliação das dimensões constantes no Referencial de qualidade e ainda online, por meio do Sistema de Gestão da UAB19 (SISUAB), do Sistema de Gestão de Bolsas20 (SGB) e do Ambiente Virtual de Trabalho21 (ATUAB), nos dados do Censo da Educação Superior coordenado pelo INEP, pelo Sistema de

19 O SisUAB é uma plataforma de suporte, acompanhamento e gestão de processos da UAB. Nela, os coordenadores UAB, o titular e o adjunto da IES, são autorizadas a editar as informações referentes à IES e aos seus cursos. Os coordenadores de curso podem somente visualizar as informações gerais e editar as específicas do curso sob sua responsabilidade e outros colaboradores do sistema só têm permissão para editar seus cadastros pessoais. (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO... GUIA..., 2013).

20 O Sistema de Gestão de Bolsas - SGB é utilizado para gerir bolsas-auxílio fornecidas pelos programas que participam da política de incentivo à educação do governo federal. O gerenciamento das Bolsas UAB foi realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) até julho de 2011. A partir de então, essa responsabilidade passou a ser da CAPES, que utiliza sistema semelhante ao do FNDE. (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO... GUIA..., 2013).

21 O ATUAB é o Ambiente Virtual de Trabalho da Universidade Aberta do Brasil restrito aos seus colaboradores. Configura-se numa personalização do ambiente virtual aprendizagem (AVA) Moodle para o compartilhamento de informação e comunicação da CAPES com as IES e os polos. Nesse ambiente, há espaço para a interação dos coordenadores UAB e dos coordenadores de polo e de curso, para tratar da gestão eda discussão de temas de interesse para o desenvolvimento do Sistema. (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO... GUIA..., 2013).

Avaliação Nacional de Cursos (SINAES) e ainda em avaliações institucionais com os envolvidos.

No entanto, em junho de 2017, a CAPES encaminhou às instituições de ensino uma relação de medidas para a aplicação de indicadores e aferição de resultados referentes à eficiência, os quais buscam auxiliar as instituições, tanto ofertantes quanto fomentadora, no processo de gerenciamento dos cursos ofertados na modalidade a distância, pelo sistema UAB.

Essa ação estava em consonância com as alterações nos marcos regulatórios da EaD estabelecidos por meio do Decreto nº 9.057/201722, seguido da Portaria Normativa MEC nº 11/2017 (BRASIL. DECRETO..., 2017), que modificavam as regras para o credenciamento de instituições e a oferta de cursos de educação superior à distância (EAD) no país, considerando a real demanda pela modalidade, o crescimento desproporcional da oferta EaD entre a rede pública e privada, a inserção de novas IPES na modalidade e ainda as dificuldades enfrentadas para ampliação desta modalidade na rede pública (ALBUQUERQUE; SALES, 2018).

Um dos aspectos significativos da alteração dizia respeito a presencialidade física e determinados recursos materiais para o desenvolvimento dos cursos EaD. Na legislação anterior, concebia-se que a exigência da presença relacionavam-se às regras do ensino presencial e atribuía-se a presencialidade à qualidade dos cursos. No Decreto nº 9.057/2017 (BRASIL. DECRETO..., 2017) a noção de presença modificava-se, conforme também defendiam Albuquerque e Sales (2018, p. 6):

[...] a presencialidade física é uma perspectiva restrita à medida que concebemos a interação humana a partir do potencial de mediação telemática, reconhecendo que o sujeito está presente a cada momento em que age/interage/constrói/destrói através da sua participação nos processos desenvolvidos nos espaços em que o virtual, potencial e atual se alternam continuamente.

Albuquerque e Sales (2018, p. 2) comparando o Decreto revogado e o instituído em 2017 indicaram que a presencialidade como centro, impunha-se à necessidade da viabilização de fluxos materiais e informacionais entre instituição sede e polo de apoio presencial, tornando a gestão do Sistema mais onerosa, por isso ao alterar esse

22 Revoga o Decreto n.º 2494/98, que previa em sua composição com dois entes estruturantes: a instituição sede que oferta os cursos e o polo de apoio presencial, compreendido como espaço físico, em diferentes localidades, responsável por disponibilizar aos discentes recursos didáticos, administrativos e materiais necessários ao desenvolvimento dos cursos.

aspecto, o novo Decreto impacta diretamente na estrutura física e existência dos polos.

Neste sentido, ao analisar o Artigo nº 11 da Portaria MEC nº. 11/2017 (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. PORTARIA... 2017) que aludia aos recursos e infraestrutura esperados nos polos, três itens listados (III - laboratórios específicos presenciais ou virtuais; VI - acervo físico ou digital de bibliografias básica e complementar; VIII - organização dos conteúdos digitais) ampliam as possibilidades de articulação dos cursos e minimizam a infraestrutura dos polos, modificando a condução dos cursos.

Em consonância com o novo modelo de articulação de cursos, vagas e polos do Sistema UAB, a DED/CAPES redirecionou o gerenciamento dos processos sob sua responsabilidade com o objetivo de:

• Reduzir a evasão nos cursos do Sistema UAB; • Melhorar a eficiência (performance) do programa; • Monitorar a qualidade dos cursos UAB;

• Garantir a articulação da oferta/demanda com a participação de todos os atores do processo;

• Promover a institucionalização do Sistema UAB;

• Favorecer a mobilidade estudantil na própria Instituição e entre as IPES partícipes da UAB;

• Propiciar a portabilidade de cursos;

• Promover a disseminação tecnológica e de serviços entre as IPES partícipes do Sistema UAB, dentre outros (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO..., 2018, p.38).

Dessa forma o órgão passou a monitorar os polos tanto em visita in loco e/ou por outros procedimentos. No monitoramento eram coletadas e registradas informações que definiam se o polo dispunha das condições exigidas para o apoio pedagógico, tecnológico, documental e administrativo necessários a execução das atividades de ensino-aprendizagem dos cursos e programas ofertados na modalidade EaD pelas IPES integrantes do Sistema UAB.

Segundo o Relatório de Gestão CAPES - 2017 (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO.... RELATÓRIO..., 2018, p.39) as informações coletadas durante as visitas de monitoramento aos polos eram registradas em instrumento próprio, em que eram descritas as eventuais adequações a serem realizadas nos polos. A visita de monitoramento classificará o polo, quanto à sua situação da seguinte forma:

• Apto (AA) - Representa a adequação da infraestrutura física, tecnológica e de recursos humanos do Polo, bem como a existência de toda a documentação necessária.

• Apto com Pendências (AP) - Indica a necessidade de adequações na infraestrutura física, tecnológica e de recursos humanos do Polo, bem como em sua documentação

• Não apto (NA) - Indica a presença de graves restrições na infraestrutura física, tecnológica e de recursos humanos do Polo.

Destacou-se que a partir de 2017 esse ciclo de monitoramento sofreu alterações em virtude da nova regulamentação, apenas candidatos a polos novos recebem a visita in loco, por no máximo, duas vezes. Polos que mudaram de endereço ou sofreram alguma denúncia eram visitados independentemente da periodicidade. E para os demais polos o processo de monitoramento era diversificado e dividido em etapas:

O primeiro critério a ser analisado será o índice de eficiência e evasão de cada curso por polo. Posteriormente serão efetuadas análises por meio de questionários online disponibilizados para alunos e coordenadores de Polos UAB, visando saber opiniões quanto a: cursos, IES, material didático, tutoria e polo. Quando o índice de evasão e de eficiência, juntamente com o resultado da pesquisa com alunos e colaboradores for considerado negativo, será realizada a visita in loco. No caso de apenas um dos critérios ser considerado negativo será realizado monitoramento via webconferência. Se todos os índices forem positivos haverá dispensa de monitoramento. (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO.... RELATÓRIO..., 2018, p.41).

Observou-se nas ações da gestão do Sistema UAB, a flexibilização e economicidade quanto às formas de monitoramento dos polos, acompanhando as determinações legais. Ainda em relação aos polos de apoio presencial Leite et al. (2018, p.11) alertaram que o Decreto 9.057/2017 (BRASIL. DECRETO..., 2017) estabelecia que as IES ao definirem os projetos dos cursos estabeleciam a necessidade da existência do polo, tendo em vista que a partir deste Decreto as IES eram responsáveis pelos recursos/ambientes para o desenvolvimento do curso, como por exemplo, os laboratórios que não eram mais responsabilidade do polo.

Outros aspectos significativos apresentados no Decreto nº 9.057/2017 (BRASIL. DECRETO..., 2017) que impactam na gestão do Sistema UAB eram elencados por Leite et al. (2018) como: a) o foco na utilização de meios e tecnologias como processo de mediação tendo em vista a readequação da presencialidade; b) maior abertura para a oferta da EaD inclusive a Educação Básica, com exceção do Ensino Fundamental que só poderá ser ofertado em situações emergências23; c) as

23 Segundo Leite et al. (2018, p. 9) os casos nos quais a Educação a Distância poderá ser utilizada no Ensino Fundamental, são os seguintes: motivos de saúde; casos em que os alunos encontrem-se no exterior ou vivam em localidades onde não haja oferta de uma rede regular; situações em que os alunos

atividades presenciais ficarão a cargo das IPES visto que as mesmas deverão estar previstas, além dos projetos de cursos e nos Planos de Desenvolvimento Institucional (PDI) em consonância com as DCNs de cada curso; d) abertura para a oferta de cursos na modalidade a distância pelas IES privadas sem ter a oferta do mesmo curso na modalidade presencial. Apenas, para a oferta lato sensu faz-se indispensável a oferta de cursos de graduação e f) possibilidade de credenciamento da EaD para empresas/instituições que não possuem cursos correlatos na modalidade presencial.

Os autores avaliaram que o Decreto trazia questões importantes que mereciam ser discutidas e aprofundadas, principalmente no que tange à:

implementação e acompanhamento de cursos nesta modalidade, a situação dos polos e, também, os momentos presenciais, os quais se não estiverem dispostos os Planos de Desenvolvimento Institucional das Instituições de Ensino Superior (IES) e/ou nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos, isto pode ficar a desejar em termos de qualidade dos mesmos (LEITE et al., 2018, p.13).

Verificou-se pelo exposto que o Sistema UAB faz parte de uma política em movimento, os seus alicerces sofriam os reflexos dos condicionantes nacionais. O Sistema UAB não é mais o mesmo que se desenhou há pouco mais de uma década, muitas alterações, ajustes e regulamentações foram sendo desenvolvidas em virtude das exigências econômicas e políticas que se apresentavam.

Ressaltou-se que apesar de as mudanças efetivadas no Sistema UAB, as quais podiam representar um enfraquecimento da política EaD, ele ainda assegurava uma política pública de EaD para a formação docente, atendendo um público carente por formação em nível superior.

Foi com esse intuito de prover uma formação com qualidade que a Universidade Estadual de Ponta Grossa iniciou os seus trabalhos na modalidade EaD nos anos 2000 e aderiu ao Sistema UAB quando da implantação do mesmo, a qual será apresentado no próximo tópico.