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CAPÍTULO 3 O SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL E O

3.2 ALICERCES DA UAB

3.2.1 Regime de Colaboração

O funcionamento do Sistema UAB fundamentou-se em uma estrutura de colaboração entre os entes federados; União, estados e municípios. A oferta dos cursos ocorreu unicamente por meio de Instituições Públicas de Educação Superior (IPES), que deviam estar credenciadas junto ao MEC para este fim, condição exigida pelo Art. 80º da Lei nº 9.394/1996 (BRASIL. LEI..., 1996a) e reafirmada com o PDE (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. O PLANO..., 2007):

No caso da UAB, estados e municípios, de um lado, e universidades públicas, de outro, estabelecem acordos de cooperação. Por meio deles, os entes federados mantêm pólos de apoio presencial para acolher professores sem curso superior ou garantir formação continuada aos já graduados. As universidades públicas, da sua parte, oferecem cursos de licenciatura e especialização, especialmente onde não exista oferta de cursos presenciais. Quando instalados os pólos previstos, todos os professores poderão se associar a um centro de formação nas proximidades do trabalho. A UAB dialoga, assim, com objetivos do PNE: “Ampliar, a partir da colaboração da

União, dos estados e dos municípios, os programas de formação em serviço que assegurem a todos os professores a possibilidade de adquirir a qualificação mínima exigida pela LDB, observando as diretrizes e os parâmetros curriculares” e “Desenvolver programas de educação a distância que possam ser utilizados também em cursos semipresenciais modulares, de forma a tornar possível o cumprimento da meta anterior” (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. O PLANO... 2007, p. 16).

Além das atribuições dos Municípios e dos Estados, o Ministério da Educação/CAPES, como órgão Federal assume a função de coordenar, supervisionar e avaliar os cursos implementados no âmbito do Sistema UAB, definindo inclusive a questão orçamentária para a sua execução.

Em um exemplo fictício, no “polo 1” eram ofertados cursos das três Instituições de Ensino, enquanto que no “polo 2” são ofertados cursos das Instituições 1 e 2 e, no “polo 3” é ofertado curso da Instituição 2. Esse exemplo mostrou a abrangência que as IES podiam alcançar ao ministrarem cursos a distância em polos implantados em cidades localizadas nas mais diversas regiões do país.

Conforme pôde ser observado na figura a seguir:

Figura 2 - Funcionamento do Sistema UAB

Fonte: Portal UAB/CAPES 2012

Os polos eram entendidos como uma “extensão da Instituição de Ensino Superior”, o local onde ocorriam os momentos presenciais, necessários para o

acompanhamento e a orientação para os estudos, as práticas laboratoriais e as avaliações presenciais, sendo mantidos pelo Municípios. A Resolução referente ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) nº. 26/2009 (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. FUNDO... 2009) determinou no seu Artigo 5º, inciso IV e Artigo 6º que os Municípios ou Estados proponentes de polo sejam responsáveis por:

Art. 5º São competências e responsabilidades dos agentes integrantes do Sistema UAB:

IV - Dos Estados e Municípios proponentes de pólos de educação a distância:

a) indicar, para a função de coordenador de polo, professores da rede pública de ensino que atendam aos requisitos da Lei nº. 11.273/2006 e às normas desta Resolução.

Art. 6º A seleção dos beneficiários das bolsas prevista nas letras “a” dos incisos III e IV do Art. 5º da presente Resolução será precedida de ampla divulgação, tornando públicos os critérios de seleção dos interessados, que devem necessariamente atender aos seguintes requisitos:

I - Estar disponível para cumprir as atividades, de acordo com as diretrizes do Sistema; e

II - Cumprir com os requisitos exigidos para o exercício das diferentes funções (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. FUNDO..., 2009, p. 6)

Dessa forma, o município interessado na oferta de vagas de cursos superiores pelo Sistema UAB para sua comunidade ou microrregião precisaria credenciar uma de suas escolas públicas ou um espaço público municipal, como polo de apoio presencial junto a CAPES, cedendo os ambientes didáticos, laboratórios de informática com acesso à internet e demais itens de infraestrutura necessários à oferta do curso. Os “municípios deveriam se colocar como proponentes de polos de apoio presencial, comprometendo-se com a organização e sustentabilidade da estrutura necessária para a oferta de cursos superiores a distância” (COSTA, 2012, p. 287).

Por outro lado, as Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES) assumiriam a responsabilidade pela oferta de cursos, podendo oferecer o mesmo curso em diversos polos, sendo que um polo podia receber cursos de diversas instituições, reforçando a ideia de um sistema em rede. As IPES eram responsáveis também pelo desenvolvimento pedagógico dos cursos oferecidos, assim como o fornecimento dos materiais de consumo a serem utilizados, para os quais ocorreu o repasse de recursos financeiros pela CAPES (COSTA, 2010).

Segundo a Resolução FNDE nº. 26/2009 (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. FUNDO..., 2009, p. 6), Artigo 5º inciso III, as IPES vinculadas ao Sistema UAB eram responsáveis por:

a) selecionar os tutores, professores, pesquisadores, coordenadores do Sistema UAB, coordenadores de curso, coordenadores de tutoria e coordenadores de polo que receberão bolsas de estudo e pesquisa com base nas Leis nº. 11.273/2006 e nº 11.502/2007 e nas normas desta Resolução; b) cadastrar e manter atualizados os dados pessoais e acadêmicos dos cursistas aprovados em processo seletivo;

c) indicar os tutores, professores, pesquisadores, coordenadores da UAB, coordenadores de curso e coordenadores de tutoria que serão beneficiários de bolsas do Sistema UAB;

d) cadastrar e manter atualizados os dados pessoais e acadêmicos dos professores, pesquisadores, coordenadores e tutores;

e) encaminhar à Comissão de Acompanhamento e Avaliação do Sistema UAB, 30 (trinta) dias antes do início do semestre letivo, a relação dos professores, pesquisadores coordenadores e tutores que participarão dos estudos e pesquisas no âmbito do Sistema UAB;

f) encaminhar à Coordenação Geral de Supervisão e Fomento da Direção de Educação a Distância da CAPES/MEC (CGSF/DED/CAPES/MEC), até o primeiro dia útil do mês seguinte, Relatório de Ocorrências que indique a permanência, interrupção ou cancelamento do pagamento das bolsas; g) enviar à CGSF/DED/CAPES/MEC, por meio do SGB, as solicitações mensais de pagamento de bolsas para os professores, pesquisadores e tutores, bem como para os coordenadores que tiveram suas atividades confirmadas;

h) manter os registros das informações necessárias ao adequado controle do curso, bem como o Termo de Compromisso e a frequência dos professores pesquisadores e tutores das IPES, para verificação periódica do Ministério da Educação;

i) indicar professor responsável pelo curso para atestar as informações prestadas;

j) realizar o processo de supervisão e monitoramento das atividades dos bolsistas descritas no Manual de Atividades dos Bolsistas, utilizando-o como referência para a realização da autorização e/ou suspensão do pagamento de bolsas por meio do SGB; e

k) encaminhar as Fichas de Cadastro de Bolsista, mediante ofício do dirigente da instituição à CGSF/DED/CAPES/MEC.

Quanto às instalações físicas e a organização institucional nas IPES constavam nos Referenciais de Qualidade para o Ensino Superior a Distância (BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. REFERÊNCIAIS..., 2007) a seguinte indicação:

Estes espaços nas instituições podem se configurar em estruturas mais gerais como centros ou secretarias de educação a distância ou em estruturas mais localizadas, especialmente salas de coordenação acadêmica e de tutoria dos cursos e salas de coordenação operacional. Estas unidades de suporte ao planejamento, produção e gestão dos cursos a distância, em vista de garantir o padrão de qualidade, necessitam de infraestrutura básica composta minimamente por secretaria acadêmica, salas de coordenação do curso, salas para tutoria a distância, biblioteca, sala de professores, sala de videoconferência (opcional).

Dessa forma, as propostas de parcerias deveriam ser encaminhadas, inicialmente, pela IES ao Fórum das Estaduais que após aprovação, encaminha a documentação à CAPES, que procederia à avaliação in loco do polo de apoio presencial, analisando principalmente a) carência de oferta de Ensino Superior na região de abrangência do polo; b) a demanda local ou regional por Ensino Superior público, conforme o quantitativo de concluintes e egressos do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos; e c) pertinência dos cursos demandados em capacidade de oferta por instituições de Ensino Superior. Após aprovação pela CAPES, os termos de cooperação eram assinados e a parceria foi estabelecida. A organização institucional para a EaD no Sistema UAB pôde ser sintetizado conforme ilustração a seguir:

Figura 3 - Funcionamento do Sistema UAB

Fonte: Elaborado por Franco 2016 - https://slideplayer.com.br/slide/6578908/

Apesar da lógica empregada tanto do ponto de vista legal como do operacional no que tange ao regime de colaboração que sustenta o Sistema UAB, Arruda (2017) argumentou que o modelo adotado pelo Sistema UAB já se encontrava em esgotamento em decorrência das atuais ações governamentais, no que se referia especificamente a articulação entre os entes federados, o autor comentou que:

A conjugação de esforços entre os Entes Federados, por um lado, se limitou quando confrontado a questões relativas à obrigação constitucional de cada qual para com os níveis de educação (notadamente, a desobrigação dos Estados e dos Municípios com a organização da educação superior, que compete à União) e com a indisponibilidade corrente e segura de recursos para investimentos e custeio; e, por outro, se enfraqueceu com políticas de avaliação de polos de apoio presencial, em grande medida, e menos pelos critérios do que pela forma, autoritárias e desconectadas com a realidade socioeconômica do Brasil, bem como os ideias democráticos de educação

para todos e, quando não, para os que dela mais imediatamente carecerem (ARRUDA, 2017).

Ao analisar o regimento de colaboração, um dos alicerces do Sistema UAB, o autor pontuou três aspectos que demonstraram o enfraquecimento do modelo adotado, sendo: a) a delegação ampliada da incumbência dos entes federados, no caso atribuição aos Municípios e Estado à responsabilização pela Educação Superior, b) dependência financeira do FNDE para a oferta e desenvolvimento da Educação Superior e da modalidade EaD e, por fim, o descredenciamento de polos em virtude do processo de avaliação realizado penalizando Municípios carentes do interior (ARRUDA, 2017).

Além desses aspectos, Hernandes (2017, p 9) apontou ainda: a) a falta de orçamento para a contratação de professores e demais servidores para trabalhar nos cursos a distância, dificultando a institucionalização da EaD nas IPES, bem como o reconhecimento da modalidade nas instituições e b) a dificuldade das IPES em ofertar cursos na modalidade EaD que não estão contemplados no Sistema UAB ou ainda de manter a regularidade de oferta dos cursos mantidos pelo Sistema UAB, tendo em vista a lógica de oferta por meio de editais relegando a EaD a atividade secundária nas IPES.

Ao apontar essas dificuldades do alicerce tripartite, Arruda (2017) e Hernandes (2017) alertaram para a futura descontinuidade do Sistema UAB e consequentemente a própria modalidade EaD ofertada no âmbito público, neste sentido faz-se necessário que haja ajustes e construção de um regime colaborativo de fato, que seja capaz de articular os entes federativos sem sobreposições e sem distorções de compromissos e responsabilidades, a fim de não relegar novamente o direito a Educação e formação Superior à uma parcela da população que almeja pela educação uma “mobilidade ascendente no campo social” (BOURDIEU, 2015).