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Até 1975, a Diocese de Chapecó investiu de maneira significativa na criação de vários cursos de formação para Agentes de Pastoral, principalmente padres e religiosos. A introdução da eucaristia nas comunidades, com a preparação dos ministros da eucaristia e das equipes de liturgia foi a grande novidade desse período. A partir de 1975, a grande renovação da Diocese foi a nova metodologia dos grupos de reflexão, que consistiam em reuniões pautadas em debates elaborados com material didático próprio da Igreja Católica. O objetivo da igreja era a sua popularização. As reuniões eram realizadas em pequenos grupos nos quais se debatiam os problemas políticos e sociais das comunidades rurais e urbanas, buscando possíveis soluções para as questões locais, atuando reflexivamente. A metodologia da “criatividade comunitária” previa que nos encontros e reuniões de discussão houvesse distribuição equilibrada das tarefas de modo a viabilizar a participação de todos, formando lideranças.

Foi nessa época que a Diocese deixou claro sua escolha doutrinária pela Teologia da Libertação, com o foco de atuação voltado para “os pobres e oprimidos”, criando as pastorais sociais, com destaque para a Pastoral da Terra e a Pastoral Indigenista e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). A igreja investiu na formação e preparação de pessoas (“os leigos”) para atuar na estrutura interna da igreja e também na formação de lideranças para atuar nos movimentos sociais que começavam a ganhar corpo. Os laços entre a igreja progressista e os movimentos sociais que então surgiam se estreitaram rapidamente, através da disponibilidade e do apoio aos movimentos populares, à criação dos sindicatos e à participação em partidos populares. No início da década de 1980, várias organizações sociais populares surgiram em correlação com a popularização da Teologia da Libertação no oeste catarinense. Foi criada a CRAB –

A Teologia da Libertação e a formação político-cristã de uma geração de jovens rurais militantes...

Confederação Regional dos Atingidos por Barragens – que mais tarde, em 1998, transformou-se em MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), em 1º de maio de 1983 nasceu o Movimento das Mulheres Agricultoras, hoje, Movimento de Mulheres Camponesas (MMC); e em 1984, em Cascavel, no Paraná, o Movimento dos Sem Terra (MST). No horizonte da doutrina católica progressista estava “a união entre fé/vida nas organizações do povo” (LEÃO DE AQUINO et. al, 1993, p. 19).

Ao longo de toda a década de 1980, grande parte das paróquias que constituem a grande Diocese de Chapecó contava com a Pastoral da Juventude atuando em seus municípios, e em cada comunidade rural era bastante comum a presença de “grupos de jovens” organizados em torno da Igreja Católica. Aliás, durante muito tempo os “grupos de jovens” das comunidades constituíram o único espaço especificamente organizado e definido por eles, onde “podiam” se encontrar, falar de seus problemas, namorar e discutir a comunidade, em encontros que aconteciam no período noturno em dias de semana, o que não era comum acontecer. As gerações adultas assim os “deixavam”, por acreditar que nos encontros a juventude estava se organizando pela igreja e pela comunidade, quando os jovens muitas vezes aproveitavam para discutir as suas próprias condições. Essa década foi muito expressiva em relação à atuação da Pastoral da Juventude nos diversos setores da sociedade.

Como um terceiro período, apontamos aquele que abrange o ano de 1985 até o ano de 2000. “É o tempo da ‘abertura política, do fim das ditaduras militares e do avanço da ditadura econômica do neoliberalismo. A ‘redemocratização’ faz deslanchar a autonomia dos movimentos sociais e organizações populares (...) (Plano Diocesano de Pastoral – Diocese de Chapecó - 2002-2005, p.07). A organização dos pequenos agricultores se fortalece e se inicia o tempo das grandes ocupações de terra no oeste. Diante desse quadro, a Diocese repensa sua organização interna e reorganiza o “Secretariado Diocesano Pastoral” - SDP13. Cria o “Conselho Diocesano de Pastoral” 14

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“(...) é composto por agentes liberados pelas pastorais; o Coordenador Diocesano de Pastoral; o Bispo Diocesano e funcionários internos. Tem como função viabilizar as decisões tomadas em relação à pastoral nos projetos específicos; acompanhar e assessorar o trabalho pastoral; elaborar subsídios pedagógicos; articular, animar e prestar assessoria às paróquias e agentes; articular a Pastoral Diocesana; acompanhar as regiões Pastorais e propor e encaminhar projetos para a ação pastoral” (Plano Diocesano de Pastoral – Diocese de Chapecó - 2002-2005, p. 30).

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“É um espaço representativo, deliberativo e articulador de toda a pastoral. Composto por um representante de cada paróquia, das pastorais e de outros organismos; a equipe do SDP; o Bispo Diocesano; o Vigário Diocesano. Função: Animar, refletir, organizar, avaliar e planejar a vida e a ação da

com o objetivo de deliberar junto com o secretariado sobre os rumos da Diocese e funda seu próprio Instituto de Teologia, o Centro de Estudos de Teologia e Pastoral (CETEP). Período em que também foi criado o Curso de Teologia e Pastoral de Leigos – CTPL, com o qual a igreja fomentou a formação de lideranças comunitárias em sua diocese, que teriam no horizonte de sua atuação político-religiosa a realização do “projeto de Deus”.

Do período que encerra a década de 1980 e inicia os anos de 1990, a organização da juventude católica através da Pastoral da Juventude sofreu um significativo esvaziamento no campo da participação em proposições políticas e sociais no âmbito comunitário e regional. Acreditamos que isso se deva aos problemas de saúde que o bispo D. José Gomes começou a enfrentar, que refletirão em sua atuação e no direcionamento político da diocese. Também se deve ao fato de que a Teologia da Libertação, detentora do poder hegemônico na Igreja Católica da Diocese de Chapecó, começou a perder espaço nacionalmente para uma nova linha de atuação que se fortalecia no catolicismo: a Renovação Católica Carismática, que atua numa linha espiritual/individualista.

O quarto período da história da Diocese de Chapecó foi marcado pelo início das atividades de preparação para o “novo milênio”, pelo fim do período conduzido por D. José Gomes15 e pela nova gestão que teve à frente o novo bispo diocesano, D. Manuel João Francisco, enviado para Chapecó em 21 de fevereiro de 1999.

A organização juvenil da Igreja Católica (PJ) vive um momento de “crise interna” desenhada em termos nacionais desde o início da década de 1990 e que também se faz presente na PJ da Diocese de Chapecó. A Pastoral da Juventude dessa região passa desde então por um período de avaliação de sua trajetória, buscando definir os novos rumos para a retomada de seu projeto cristão.

Foi na gestão de D. José Gomes que a Diocese de Chapecó enveredou pelas diretrizes “renovadoras” do Concílio Vaticano II e da Conferência Latino-Americana de Medellín, assumindo e implementado o projeto da Teologia da Libertação. A história

Pastoral da Igreja Diocesana. Decidir e convocar a Assembléia Diocesana de pastoral e viabilizar as suas

decisões (...)” (Plano Diocesano de Pastoral – Diocese de Chapecó - 2002-2005, p. 30). 15

D. José Gomes trabalhou como bispo, da Diocese de Chapecó durante 30 anos e quatro meses, de 27 de outubro de 1968 a 21 de fevereiro de 1999. Faleceu em 19 de setembro de 2002 em decorrência de problemas de saúde advindos do Mal de Alzheimer (UCZAI, 2002).

A Teologia da Libertação e a formação político-cristã de uma geração de jovens rurais militantes...

dessa diocese se confunde com o bispado de José Gomes. O imaginário da população católica da região da Diocese de Chapecó está marcado por fatos que formam elementos de sentido na constituição da memória coletiva: O caso do Toldo Chimbangue, da Fazenda Burro Branco, da luta contra a construção de barragens e do combate ao discurso da Peste Suína Africana16, que para os agricultores e a Igreja Católica regional era uma invenção produzida pelo Estado e por setores da agroindústria para fazer valer seus interesses. O povo vê na figura do Bispo o principal articulador dessas lutas de resistência. A ausência de movimentos organizados no período anterior a José Gomes se deve à quase inexistência ou fraqueza das organizações populares e ao comprometimento da igreja institucional local e nacional com o regime militar, visto como salvador do povo do perigo comunista. Sobre o caráter conservador da Igreja Católica, Hames (2003) ressalta

Sua tendência é de ser conservadora e as novidades custam a serem incorporadas. Com um discurso fortemente democrático para fora, internamente ela está organizada para funcionar de forma autoritária, sendo que o uso de práticas democráticas em seu interior depende da boa vontade das lideranças hierárquicas. A repercussão disso se dá nas comunidades, uma vez que, em última instância, é o papa quem nomeia o Bispo para a Diocese e é o Bispo quem nomeia os padres para as paróquias e as funções diocesanas (HAMMES, 2003, p. 48).

Esse modo de atuação da Igreja Católica também refletiu no setor juvenil regional que constituiu e foi constituído pelos diferentes momentos vividos pela Diocese. Ora esteve bastante fortalecido, ora sofreu esvaziamento e depois iniciou um período de “crise interna” e avaliação/definição de novos rumos, o que significa dizer que a juventude católica pertencente à Diocese de Chapecó é um espelho onde se reflete a dinâmica de toda a Igreja Católica, seus setores “progressista”, “conservador”, “moderado” e suas disputas de poder.

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Esses fatos dizem respeito a conflitos envolvendo populações indígenas (Toldo Chimbangue), sem- terra (fazenda Burro Branco), populações de atingidos pela construção de barragens e pequenos agricultores (Peste Suína Africana). Em todos esses conflitos José Gomes se posicionou favorável a esses grupos, contra o Estado e empresários da região.

3 A modernização da “roça” e o impacto sobre uma

geração jovem