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3.2 Elementos indicativos da modernização no oeste catarinense

3.2.4 Juventude rural e a ação dos Clubes 4-S

Entre as alterações ocorridas no meio rural que impulsionaram o processo de modernização agrícola está a difusão dos Clubes 4-S, que foram estabelecidos em todo o Estado de Santa Catarina, a partir da ação da Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina (ACARESC), criada nos anos 50 (PAULILO, 1987, p. 58). Digna de interesse dos Clubes 4-S é a implementação de um programa educativo específico para a juventude do meio rural, nele o Estado de Santa Catarina aderiu de maneira bastante incisiva. Sobre a criação da ACARESC e a difusão dos Clubes 4-S, Paulilo observa:

Essa associação, a partir de 1964, começa a colocar em prática um programa de educação do jovem rural, calcado num modelo norte- americano de ação, através dos Clubes 4-S (4-H nos Estados Unidos). O “S” significa: Saber (Head), Sentir (Heart), Servir (Hand) e Saúde (Health). Filhos de agricultores de 14 a 24 anos, através desses clubes, que lhes proporcionam um lugar para se reunir e se divertir, recebem toda uma educação “modernizante” e tem acesso a pequenos créditos, a juros baixos, através do Banco de Santa Catarina (BESC) para fazerem, com a ajuda dos técnicos, experiências nas propriedades dos pais. Outra contribuição importante da ACARESC foi, além do estímulo, a assessoria, junto aos produtores, na elaboração dos projetos de financiamento (PAULILO, 1987, p. 58).

Esse programa atingiu a geração precedente à geração dos nossos informantes, o que indica que o processo modernizador já havia sido iniciado anteriormente. Segundo Sirlei de Fátima Souza (2004), os grupos dos Clubes 4-S eram constituídos por jovens de 10 a 21 anos do meio rural, cuja ação educativa era orientada por líderes voluntários e desenvolvida através de trabalhos individuais e coletivos de caráter econômico e social, contemplando aspectos comunitários e atividades sócio-recreativas. As agências extensionistas elaboravam o papel do jovem a partir da idéia de “deveres”, que seriam inculcados a partir das orientações que receberiam nos clubes para em seguida “difundi-las para o bem de sua família e comunidade”. Para isso, as instituições promotoras dessa organização elaboraram algumas diretrizes que regulamentavam

como deveria ser o trabalho com a juventude rural. Da análise dessas diretrizes, Souza (2004) levanta algumas constatações curiosas a respeito do olhar das instituições promotoras desses clubes para a juventude rural. a) Os jovens eram vistos como difusores das inovações por possuírem força numérica, facilidade em aceitar novas idéias e de transmiti-las aos agricultores que, adotando-as, poderiam mudar a maneira tradicional de viver, produzir e conseqüentemente se enquadrar nas propostas de modernização agrícola; b) estava implícita no trabalho com a juventude a idéia de desenvolvimento para aumento da produção através das novas tecnologias, que exigiam uma mudança de mentalidade dos agricultores. Por serem mais receptivos às mudanças, os jovens seriam indutores ou difusores de inovações no meio rural; c) era preciso dar oportunidade para que o jovem se descobrisse como “ser progressista”. Dessa forma se justificava o estímulo e a assistência ao movimento de organização 4-S da juventude rural. Conforme conclui Souza:

Os jovens, portanto, tornaram-se intermediários nesse processo de modernização agrícola no meio rural, adotando as novas técnicas e difundindo-as, embasados na idéia de que o desenvolvimento econômico-social da família e da comunidade só seria possível com a mudança dos métodos tradicionais para os modernos. Nessa tarefa, o papel da atividade extensionista era mostrar o caminho e os meios para alcançar esses objetivos (SOUZA, 2004, p. 109).

Da ação dos Clubes 4-S e da relação Juventude/Modernização podemos levantar algumas constatações: que o projeto modernizante para o meio rural chegou até os jovens via Clubes 4-S e demais instituições e concebia esses jovens como tábula rasa, passível de ser modelado e adaptado segundo valores impostos, oriundos de um projeto modernizador que se apresentava como “oportunidade de melhoria das condições de vida”. A juventude, “uma força importante e potencialmente explosiva”, precisava ser preparada para atuar no exercício de sua cidadania, sendo orientada com conhecimento de seus deveres, buscando a integração nas diferentes instituições da comunidade como família, escola, igreja, trabalho e que, “se deixada à deriva, converter-se-ia em fonte de conduta anti-social” (ABCAR, apud SOUZA, 2004, p. 105). Por isso a ênfase em projetos ou programas de ação juvenil pautados numa visão positiva de integração social da juventude rural. Esses programas, portanto, conseguiram compreender que a categoria social denominada juventude vive uma situação vulnerável no campo, daí todo o seu esforço para usá-la como canalizadora de recursos que apontavam para uma mudança social profunda na consolidação de um ethos moderno, tomando-a sempre como um bloco homogêneo. Também concebem a juventude como um segmento social

A Teologia da Libertação e a formação político-cristã de uma geração de jovens rurais militantes...

sem visibilidade própria, identificado sempre por uma possível “fragilidade” e, portanto, por um potencial de manipulação. “A juventude rural tornava-se, portanto, o elo de ligação da extensão rural para que chegassem aos agricultores os conhecimentos desenvolvidos nos campos experimentais e para a aquisição dos produtos oferecidos pela indústria” (SOUZA, 2004, p. 113).

Nesse sentido é que se percebe a inviabilidade e indisponibilidade de escolhas próprias aos jovens rurais, visto que pelo marco das relações rurais tradicionais os processos que se impõem na estrutura da sua vida são fortemente marcados pela família e pelo trabalho e, por outro lado, com o advento dos fenômenos modernizadores, esses jovens ficam ainda mais expostos a pautas estabelecidas por uma expectativa geral de mudanças, estabelecidas externamente, de forma contingente.

Para Tedesco, os projetos desses clubes foram eficientes para alterar os processos produtivos no campo, mas também “seletivizaram e excluíram unidades produtivas e familiares, fortaleceram a dependência e a ação externa em termos de uma lógica técnico-química e econômica aplicada à agricultura” (TEDESCO, apud SOUZA, 2004, p. 07).