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Governos de António Guterres Estado Regulador.

DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA METODOLÓGICA.

3.3. Progresso da orientação para o mercado.

3.3.4. Governos de António Guterres Estado Regulador.

A acção dos Governos de António Guterres traduz-se, no que ao sector público empresarial diz respeito, numa continuidade em relação ao ciclo anterior, continuando a política de privatizações e a constituição de órgãos reguladores. Já no que diz respeito à Administração Pública, se o primeiro destes Governos retoma o tema da simplificação e desburocratização, com recurso a novas tecnologias e a um esboço de funcionamento em rede, criando as

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DL 154/85, de 9-5, DL 352/89, de 13-10 e DL 254/92, de 20-11.

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134 primeiras Lojas do Cidadão e o Centro de Formalidades Empresariais, a perspectiva desinterventora parece momentâneamente abandonada, tendo-se registado mesmo a integração no Estado de serviços de entidades privadas na área da saúde ou da cultura e recreio, em dificuldades económicas.42.

Em sentido contrário o desenvolvimento da educação pré-escolar faz-se com recurso à contratualização, sobretudo com autarquias e instituições particulares de solidariedade social. No domínio dos transportes e comunicações alguns organismos são transformados em sociedades anónimas (JAE Construção e Portos) e generaliza-se a criação de parcerias público-privadas com o lançamento das auto-estradas sem custos para o utilizador (SCUT).

No segundo Governo Guterres (XIV Governo Constitucional) que se propõe como objectivo a Reforma do Estado e da Administração Pública, o programa do Governo aponta para um Estado Regulador onde a prestação de serviços esteja separada do financiamento e da regulação. Do ponto “Um novo contrato entre o Estado e o Mercado” deste Programa de Governo, destacamos:

Assiste-se, hoje em dia, a dois fenómenos contraditórios: por um lado, a um aumento crescente das necessidades colectivas, isto é, que não podem ou não é eficiente economicamente satisfazer individualmente; por outro, à retirada gradual do Estado da economia, em alguns casos libertando domínios onde até aí muitas vezes tinha sido o único actor. Esta retirada acontece não por uma alienação de responsabilidades por parte do Estado, mas porque se reconhece haver vantagens em termos de eficácia e eficiência económicas na oferta destes bens ou serviços ser assegurada por organizações privadas, com o Estado a estabelecer normas que regulam o comportamento de empresas ou outros agentes produtores. Há, pois, que consolidar um saber regulador que possa fazer inflectir os benefícios do funcionamento do mercado para o domínio da produção e distribuição de bens públicos ou fornecidos em serviço público (Programa do XIV Governo Constitucional).

Perto do final deste ciclo, interrompido aliás abruptamente por força do pedido de demissão do primeiro-ministro e da realização de eleições antecipadas, é constituída em 2000 pelo Ministério das Finanças o ECORDEP – Estrutura de Coordenação para a Reforma da Despesa Pública, que apresentou um Relatório que passou para a opinião pública sob a forma de “as 50 medidas”. O relatório preocupou-se com a evolução macro das finanças públicas, com a necessidade de um enquadramento plurianual e com as causas de crescimento da despesa pública tendo alertado para que a revisão das funções do Estado não seria suficiente: “Mesmo uma eventual retracção do Estado para o núcleo duro das suas funções de garantia de segurança e de regulação do funcionamento de uma

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135 ‘sociedade civil’ estaria longe de garantir uma redução da despesa pública. A complexidade das sociedades actuais tornou aquelas funções muito mais onerosas.” (Ecordep, 2001).

Se no sector público empresarial se aponta para a privatização de empresas (e de participações em empresas) ou sua extinção, privatização ou encerramento de partes de empresa, em relação à Administração Pública recomenda-se a reorganização, fusão, com outros serviços ou encerramento, quando os serviços funcionem “em condições abaixo dos padrões mínimos exigidos pelas sociedades actuais” ou “com um nível de cobertura abaixo de determinado valor – quando têm receitas próprias- ou custos unitários de produção acima de determinado valor”, a concretizar após auditorias de gestão cujos relatórios deveriam ser públicos. Perfilha-se claramente a instituição de mecanismos de quase mercado: para as produtoras de bens ou serviços para consumo individual, “onde ressaltam os Serviços de Saúde e de Educação”, fixar objectivos de produção e pagá-la a custos de referência (fixando um subsídio, a eliminar num período de cinco anos, nos casos em que os valores de produção não cubram os encargos), fomentar “a concorrência entre instituições públicas, eliminando sempre que possível as actuais restrições que cativam a procura, designadamente por motivos de residência”, revisão geral dos preços e tarifas estabelecidos para a utilização e fruição de bens e serviços públicos, de modo a cobrirem tendencialmente os custos de produção (salvo obrigação constitucional ou exigências sociais).

De igual modo se defendem mecanismos que remetem para as parcerias público- privadas e para o contracting-out: recurso a técnicas de project finance para exploração de infraestruturas ou serviços existentes, e “concepção, financiamento, realização e exploração de infraestruturas de transportes e comunicações, hospitais, prisões, instalações militares, etc.”, tendo em atenção contudo que não devem representar para o Orçamento do Estado superior aos inerentes aos mecanismos de financiamento tradicional e o impacto dos encargos em anos futuros, distinguindo o pagamento dos serviços prestados e o inerente à concretização de riscos que, nos termos contratuais, sejam de conta do Estado, contratação externa de tarefas auxiliares ou serviços especializados, previsão, em relação aos serviços públicos, dos que deverão ser transferidos para o sector privado ou objecto de outsourcing ou contracting-out, ou de concessão ou delegação de gestão.

Estas medidas, propostas nas Recomendações nº 11 a nº 15 (Ecordep, 2001) parecem, sem que tal tenha ficado expresso, e sendo aliás escassa a referência a experiências estrangeiras, filiar-se no New Public Management. A saída de Pina Moura do Governo em Julho de 2001 terá levado a que o Relatório fosse pouco divulgado e aparentemente ignorado. Não terá contudo deixado de chegar a parte das elites, tendo-lhe o Presidente da República Jorge Sampaio feito referência expressa nos Seminários da

136 Presidência por esta organizados em 2003 e 2004 (Presidência da República, 2005: 328- 331).