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Papel do contacto com experiências estrangeiras e com organizações internacionais.

DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA METODOLÓGICA.

2.3. O modelo explicativo das dinâmicas de mudança.

2.3.5. Papel do contacto com experiências estrangeiras e com organizações internacionais.

A Administração Pública portuguesa esteve em ligação com o Instituto Internacional de Ciências Administrativas quase desde a criação deste (Moschopoulos, 2005), sendo que alguns dos momentos de reflexão interna dos seus serviços visaram preparar contributos a apresentar nos Congressos Internacionais de Ciências Administrativas pela secção portuguesa, como foi o caso do debate sobre empresas do Estado realizado pela Direcção – Geral da Contabilidade Pública em 1953. Admitimos que a criação em 1951 da Comissão Central de Inquérito e Estudo da Eficiência dos Serviços Públicos, tenha tido alguma inspiração na criação em 1949 nos EUA da primeira Comissão Hoover. Quanto à OECE / OCDE, segundo José de Sousa Mendes, terá prestado alguns apoios nos anos de 1960 aos

104 estudos sobre reforma administrativa (Mendes, 1999). Com a constituição em 1967 do Secretariado da Reforma Administrativa estes apoios foram valorizados. Refere Júlio Dá Mesquita Gonçalves

Nos anos 60, não dispondo de trabalhos nacionais extra-jurídicos que os inspirassem, os técnicos do Secretariado da Reforma Administrativa lançaram-se ao estudo da informação teórica externa, abordaram as ricas experiências da Itália, de Espanha, da Bélgica, da Suécia, do Reino Unido, da Venezuela, do Brasil (aqui com particular devoção pelas figuras de Getúlio Vargas e Hélio Beltrão) e sonharam para Portugal com uma Administração Pública verdadeiramente nova e descomprometida com o passado (Gonçalves, 1999: 33).

O próprio Instituto Português de Ciências Administrativas não só participou nos Congressos Internacionais de Modernização Administrativa e nas mesas redondas entre Congressos, como esteve presente em encontros internacionais, e convidou personalidades estrangeiras a proferir conferências em Portuga, todas relatadas no seu Boletim Ciências Administrativas.

No pós-25 de Abril a primeira grande iniciativa polarizadora de contactos com experiências de outros países e economistas estrangeiros terá sido a Primeira Conferência Internacional sobre Economia Portuguesa realizada em Outubro de 1976 numa organização da Fundação Calouste Gulbenkian com o apoio do German Marshall Fund of the United States, iniciativa reeditada em 1979 e orientada para a discussão da adesão à CEE, com apoios do Banco Mundial e da OCDE. A própria preparação da adesão e os pedidos de apoio ao FMI foram ocasião de outros contactos internacionais.

O contacto com experiências estrangeiras de privatização e de reformas da Administração Pública inspiradas no New Public Management decorreu sem grandes desfasamentos. Em matéria de privatização foram perfilhados no conjunto dos processos todos os objectivos e adoptados todos os modelos presentes nas experiências do Reino Unido e de França, estudadas em Portugal, e mesmo evitado o erro apontado ao processo britânico de privatizar sem garantir primeiro a regulação do mercado (Santos, 2000).

Quanto às reformas da Administração Publica o papel atribuído à qualidade e à difusão da filosofia do Total Quality Management (TQM) são relacionáveis com a experiência britânica contemporânea, embora o movimento pela qualidade seja muito mais antigo, mesmo em Portugal, onde o Sistema Nacional de Gestão da Qualidade de 1983, aplicável essencialmente às empresas, é uma iniciativa do Estado, através do Ministério da Indústria, Energia e Exportação do terceiro Governo da Aliança Democrática, segundo Governo Balsemão. A Direcção – Geral da Qualidade havia sido criada em 1977. Entre os protagonistas nacionais da introdução da problemática da qualidade na Administração Pública considera-se que o movimento em Portugal foi paralelo ao de outros países mas não influenciado por eles.

105 A Comissão para a Qualidade e Racionalização na Administração Pública reuniu, a propósito das experiências que ocorriam em vários países, com um responsável da OCDE (F. Lacaze), que embora encorajando a introdução de mecanismos de mercado, salientou não existirem análises custo-benefício sobre as experiências existentes e, a propósito da experiência dos E.U.A, com o Professor Denhardt que viria a ser um dos expoentes do New Public Service (Comissão para Qualidade e Racionalização na Administração Pública, 1994). Esta prudência pode explicar em parte por que razão os trabalhos da Comissão não foram seguidos de um programa de medidas inspiradas no NPM. A experiência neo- zelandesa do fim dos anos de 1980 não passou desapercebida, aliás numa conferência do CEGE – Centro de Estudos de Gestão, em 1992, sem qualquer ligação com o Secretariado para a Modernização Administrativa, o único convidado estrangeiro foi o neozelandês David Rushforth (Rushforth, 1992). A Secretária de Estado Isabel Corte-Real esteve presente em algumas realizações internacionais (Corte-Real, 1995 a, 1995 b) e membros da equipa do Secretariado colaboraram em eventos do Instituto Internacional de Ciências Administrativas.

Com a ampliação do estudo destas experiências, passaram a ser convidadas outras personalidades estrangeiras, como Christopher Pollitt, Colin Talbot, Yehezekel Dror e Walter Kickert, para conferências em instituições do ensino superior e, a partir de 2000, para os Congressos Nacionais da Administração Pública organizados pelo INA.

A partir do momento em que, com o Tratado da União Europeia, se aprofunda a coordenação das políticas económicas, as questões relativas a Administração Pública começam a ser discutidas tanto no plano horizontal, como no plano sectorial, sendo a troca de experiências feita tanto no quadro da União Europeia como no quadro da OCDE, e por vezes conjuntamente. No plano das políticas de administração pública de carácter horizontal é de referir, que em Portugal se presta atenção aos modelos EQFM e CAF para efeitos de avaliação de desempenho de serviços públicos (Carapeto e Fonseca, 2005: 37-76; Rocha, 2006 a: 80-93; Silvestre, 2010: 226-230) bem como a estudos comparados sobre vínculos (Bossaert et al, 2001) ou sobre avaliação de desempenho de funcionários (Fernandes, 2006). O Colóquio Internacional sobre Função Pública realizado em Lisboa em 2006, numa altura em que se lança uma nova reforma de vínculos, carreiras e remunerações, foi uma iniciativa articulada com o Instituto Europeu da Administração Pública e a OCDE.

Na Saúde, onde o papel do Sistema das Nações Unidas, através da Organização Mundial de Saúde, é de referir também o processo de acreditação das unidades hospitalares, segundo prática iniciada nos Estados Unidos e que a partir de 1999 contou em Portugal com a colaboração do King’s Fund Health Quality Service (Rocha, 2006a: 115-136) participando alguns hospitais no International Quality Indicator Project do Maryland, EUA

106 (Matos e Ramos, 2009: 60-61). De notar que o Observatório Português dos Sistemas de Saúde se relaciona com o Observatório Europeu dos Sistemas de Saúde.

Em relação à Educação Superior e não Superior os governos socorrem-se sobretudo da OCDE embora os encontros europeus do Processo de Bolonha tenham acabado por criar uma dinâmica própria.