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Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi: reconhecimento e aceitação da cor que lhe foi negada

4. DIFERENÇA, DESIGUALDADE, ESTEREÓTIPO: A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES NA

4.2 Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi: reconhecimento e aceitação da cor que lhe foi negada

O Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi de Ijuí é formado por integrantes de diferentes etnias, o que faz possível entender que a cor não é o que predomina para dele ser integrante. Aqui, se torna visível que o Grupo aceita o fato de que não há como homogeneizar as culturas devido à miscigenação, afinal, o Brasil se caracteriza por essa diversidade étnica, o que não poderia ser diferente nesta cidade. É importante expor o que o presidente da casa afro pensa sobre essa diversidade cultural no Grupo Herdeiros de Zumbi:

Eu defendo que a cor da pele não é considerada como principal requisito para que alguém possa fazer parte do Grupo Herdeiros de Zumbi. Acredito que tem que ter ginga, e que tem que haver o desejo em fazer parte do Grupo tem que buscar entender e gostar da cultura afro. Um dia não vai mais haver diferenças, todos seremos tratados como iguais, pois ainda hoje é lançado um olhar pejorativo para aqueles julgados diferentes. São negros e mestiços que precisam mostrar que são importantes. Precisam buscar o seu lugar enquanto sujeitos ativos nessa cidade. E é por isso que o Grupo afro é tão importante, pois através dele é possível deixar viva a cultura africana, e fomentar nos integrantes o orgulho em ser afrodescendente. (Entrevista com Wilmar Costa da Rosa)

A partir do depoimento do presidente do Grupo é preciso ressaltar a idéia de que as tentativas do branqueamento criticadas por Munanga (2010) acabaram por impor um lugar de invisibilidade também ao mestiço, que hoje não é considerado negro, nem branco, mas que também sofre preconceitos, porque se distancia de um estereótipo que enobrece a cor da pele branca como já foi mencionado.

Num desafio a história, contradizendo as imposições, o negro, o mestiço, o afro- brasileiro componente do Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi agora recusa o lugar de invisibilidade e busca no regresso à cultura de seus ancestrais a cor que lhe foi negada. Segundo o relato de uma das participantes assíduas do Grupo:

Quando alguém pergunta se eu sou morena eu digo que não sou morena, eu sou negra. Às vezes perguntam para uma negra e ela diz que é morena, eu acho errado, tem que dizer que é negra, tem que ter orgulho do que ela é, do lugar que ela veio. E do que os nossos antepassados passaram pra que pudéssemos estar aqui hoje felizes e livres, livres. (Entrevista com T.C.S) O depoimento da integrante do Grupo Cultural vem ao encontro do que Munanga (2010) postula, este por sua vez enfatiza que a identidade dos excluídos está perdendo espaço para o resgate da cultura negra que foi subjugada, que foi negada e falsificada por um passado

histórico e que agora é instigada a ter consciência de que ajudou positivamente na construção do Brasil, o que para o autor significa recuperar a negritude. Isso implica em entender que o mestiço sai da condição de ninguém para assumir a sua identidade que está longe de ser uma identidade mestiça, uma vez que é reconhecida a pluralidade da sociedade brasileira.

A sociedade plural é reconhecida a partir de suas particularidades e isso se fundamenta quando há teóricos que chamam a atenção ao fato de que não há uma identidade mestiça. Vale retomar a problematização que Hall (1999) faz a respeito de inexistência de uma identidade unificada e completa, porque acredita que elas são culturais, sociais, relacionais, pois há conflitos, confrontos com a multiplicidade de identidades, com as quais as pessoas podem se identificar ou não. Logo, vale salientar que cada um tem a sua identidade, e que esta vai sendo construída e reconstruída segundo diversos fatores que estão relacionados com as mudanças no âmbito cultural e social, e são, portanto, negociadas em meio a relações de poder.

É justamente a partir do diálogo que Munanga (2010) faz com as teorias de Darçy Ribeiro que se chega ao ponto de trazer que há ambiguidade entre cor e classe social, que de fato é característica do racismo brasileiro. No Brasil, os estudiosos da área das humanidades retomam que a discriminação mais importante do país é social e mesmo que as pessoas tentem se libertar do mito da democracia racial, este está presente devido à ambiguidade entre cor/classe.

O povo brasileiro surgiu do cruzamento de uns poucos brancos com multidões de mulheres índias e negras. Daí a tolerância no Brasil das uniões inter-raciais nunca tidas, segundo Darcy, como crime ou pecado. Embora rejeite o pensamento de Gilberto Freyre e, ver na tolerância deste intercurso sexual entre branco e negra a configuração de uma democracia racial, porque a própria expectativa de que o negro desapareceria pela mestiçagem é um racismo, Darcy pondera: “ mas o certo é que contrasta muito, e contrasta para melhor, com as formas de preconceito racial que conduzem ao

apartheid”. (MUNANGA, 1995, p.448)

É preciso argumentar que a frase “contrasta para melhor” traz à tona o contexto de insanidades e de exclusão a que os negros foram submetidos devido à escravidão, parece haver semelhança entre este termo com aqueles usados para provar a inferioridade do negro no século XVI, quando estes eram trazidos ao Brasil para o trabalho escravo nos engenhos de cana de açúcar. Nesse sentido acreditar que o negro desapareceria devido a mestiçagem parece significar o reconhecimento de inferioridade. Logo, em acordo com Munanga (1995) o termo contrasta para melhor, parece mais um pretexto para justificar tal inferioridade, o que está diretamente ligado ao preconceito racial que segundo o autor instiga ao apartheid.

Examinando bem essa frase, argumenta Munanga (2010) Darcy parece-me um dos pensadores que acreditavam, comparativamente ao apartheid e ao sistema Jim Crow, que o racismo brasileiro é o melhor por não ter criado uma linha de cor e por permitir o passing, ou seja a drenagem dos mestiços mais claros na categoria de brancos.

No que discerne o autor é difícil aceitar a expressão “contrasta para melhor” que ao ser pensada poderia nos levar a ideia de que o racismo brasileiro é o melhor, ao ser comparado com os sistemas praticados na África do Sul e nos Estados Unidos. Munanga (2010) discorda da ideia de Darcy Ribeiro, que reconhece haver tolerância no regime

apartheid, e acrescenta que do ponto de vista brasileiro não há como admitir um regime que

durante meio século manteve separados brancos e negros. No que argumenta:

Para nós, a chamada tolerância das diferenças raciais e culturais na África do Sul durante o apartheid foi apenas uma estratégia ou um pretexto para legitimar a segregação racial, e consequentemente, a exclusão da população negra de seus direitos cívicos e políticos. Quem aparta e segrega não mostra nenhuma tolerância para conviver com as diferenças. (MUNANGA, 2010, p.450)

De fato, se entende que tolerar diferenças assim como já supôs Munanga (2010) não implica na postura de aceitar o outro, o então diferente como igual. E foi a separação imposta pelo regime denominado apartheid, que teve como princípio ainda que subentendido a intenção de tornar legítima tal segregação.Nesse pressuposto é possível entender que saber que existem diferenças não significa aceitar as diferenças, isso já foi discutido ao tratar sobre a possibilidade de um pensamento intercultural.

De certa forma esse contexto gerado pelo apartheid, parece ainda ser lembrado, quando se trata da identificação da cultura negra. Segundo o que vem sendo discutido vale trazer a fala do presidente do Grupo Herdeiros de Zumbi:

Eu não era a favor das etnias, porque eu acreditava que isso iria gerar ainda mais divisão, pra mim isso significava separação. Mas com tempo fui entendendo que poderia ter seu lado bom, porque através da formação de etnias seria possível mostrar a importância da cultura afro-brasileira. Fui presidente da UETI, (União das Etnias de Ijuí) e trabalhava em prol de todas as outras etnias, porque não sou de todo a favor da separação das etnias, porque isso parece distanciá-las ainda mais. (Entrevista com Wilmar Costa da Rosa)

Nas palavras do presidente do Grupo percebe-se estar incutida a questão de uma suposta divisão. Tal divisão poderia ser entendida a partir do preconceito racial que separa que exclui e ignora as diferenças, uma vez que reconhece a cor da pele branca como sendo

superior. Em contrapartida mostra que o negro, que o afro-brasileiro componente do Grupo Cultural é incentivado a buscar seu espaço através da identificação da cultura afro.

É válido trazer aqui que são inúmeras as barreiras históricas pelas quais o negro, o mestiço tem que passar para se reconhecer pertencente a uma identidade negra, considerando todos os agravantes pejorativos lançados devido a cor da sua pele. No que acrescenta Munanga (2010) a expectativa da miscigenação brasileira também se baseia na discriminação porque não aceitam os negros como estes são, mas sim esperam que clareiem para que então seja possível aceitá-los. Em contrapartida, menciona que tal miscigenação também pode ser um fator capaz de integrar, vista como um mecanismo de miscigenação. Porém, na visão do autor:

Como acreditar numa suposta harmonização quando o biológico e o social não se conjugam? No Brasil, apesar do conteúdo integrador e assimilacionista defendido por Darcy, os mestiços constituem, pela sua importância numérica, a categoria social mais excluída e mais discriminada. Basta olhar a cor das vítimas do Carandiru, de Vigário Geral e da favela de Diadema para nos convencermos disso. (apud, MUNANGA, 2003, 2005- 2006)

A população que mais cresce é justamente a dos mestiços, e estes não são os filhos de senhores de engenho, que alguns estudos já mostraram terem sido beneficiados devido à proteção recebida pelos seus pais. Hoje, ocupam uma posição de subalternos, por causa da cor negra que vem aliado ao critério econômico. Munanga (2010) chama ao questionamento as palavras de Darcy Ribeiro, quando este expressa que o mameluco e o mulato não eram europeus, índios ou africanos, eram ninguém e tiveram que sair desta condição (ninguedade) para inventar uma identidade que viria a ser brasileira.

Estamos de acordo que o Brasil é uma nova civilização, feita das contribuições de negros, índios, europeus e asiáticos que aqui se encontraram. Apesar do fato colonial e da assimetria no relacionamento que dele resultou isso não impediu que se processasse uma transculturação entre os diversos segmentos culturais, como se pode constatar no cotidiano brasileiro. (MUNANGA, 2010, p.452)

No ponto de vista de Munanga (2010) esta nova cultura não chega a ser sincrética, pois acredita ser uma cultura de pluralidades, que é compartilhada por todos, pois é notável a participação do índio, negro, asiático e europeu de varias origens... Para retratar isso o autor nos conduz a pensar na música baiana, cantada em todo o Brasil, e nos descreve que além desta poder ser proveniente de cultura jamaicana, americana etc., o que daria a ela um conteúdo mais sincrético, ela também é vista em relação a identidade, como uma música

afro-baiana e perante o mundo é vista como uma música brasileira e, sendo assim, deve ser integrado numa cultura brasileira plural e não sincrética retoma o teórico.

“Essa integração das diversidades ou pluralidades é o que caracterizaria a meu ver o assimilacionismo brasileiro, e faz com que a chamada cultura nacional, feita de colchas de retalhos e não de síntese, não impeça a produção cultural das minorias étnicas” Munanga (2010, p.452). O autor argumenta que isso se dá além de toda a repressão que foi sofrida no passado.

Dessa forma, o teórico admite ser difícil que haja uma tomada de consciência de maneira grupal dos mamelucos, mulatos, ou seja, de todos os mestiços em prol de uma identidade própria, a identidade mestiça. Tal processo teria sido prejudicado pela ideologia e pelo ideal do branqueamento. Como é possível se pensar numa identidade mestiça quando a maioria dos mestiços buscam a brancura, para tentar escapar às barreiras que os deixam afastados da ascensão sócio econômica e política. Dessa forma:

A luta dos movimentos negros brasileiros contemporâneos, que enfatiza muito o resgate de sua identidade étnica e a construção de uma sociedade pluriracial e pluricultural na qual o mulato possa solidarizar-se com o negro, em vez de ver suas conquistas drenadas no grupo branco, desmente a ideia de uma identidade mestiça conscientemente consolidada. Sem dúvida o conceito de pureza racial, que biologicamente nunca existiu em nenhum país do mundo, se aplicaria muito menos ainda a um país tão mestiçado como o Brasil. (MUNANGA, 2010, p.453)

De acordo com o autor fazer confusão com o termo miscigenação, que é um fator biológico da mestiçagem brasileira, e a questão transcultural22 dos povos envolvidos nessa miscigenação com o processo de identificação e de identidade, que tem como origem o fator político-ideológico, seria cometer um erro epistemológico considerável. Para Munanga (2010, p.453) “Se, do ponto de vista biológico e sociológico a mestiçagem e a transculturação entre povos que aqui se encontraram é um fato consumado, a identidade é um processo sempre negociado, de acordo com os critérios ideológico-políticos e as relações de poder”.

Dessa forma é que o autor resgata a questão de que os países que se construíram segundo o modelo Estado-nação perpetuando a imagem de que havia uma unidade cultural compatível com a unidade racial, é justamente onde ressurgem os conflitos étnicos e identitários. Tal conjuntura poderia esclarecer a ideia de que possa existir uma identidade

22

TRANSCULTURAL. Relativo às relações ou trocas entre culturas. Que se estabelece entre culturas diferentes. (Acessado em, 20 de jul de 2012. http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=intercultural)

mestiça. O teórico afirma que tal identidade seria resultado das categorias objetivas da racionalidade intelectual e da retórica política dos que não estão dispostos a enfrentar os reais problemas brasileiros. Vale ressaltar que o fato do Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi de Ijuí ser composto por pessoas negras, mulatas, morenas, ou seja, mestiças, vem ao encontro de que não há possibilidades de uma identidade unificada. Nas palavras de T.C.S:

O povo brasileiro é uma mistura, eu posso ser branca ou preta eu posso representar a cultura afro. Desde o tempo de Zumbi já havia a mistura, porque as mulheres brancas iam para os Palmares e ficavam com os negros, e também tinha os senhores dos engenhos que ficavam com mulheres negras. Nós não temos preconceito, a pessoa precisa querer estar no Grupo e sinta orgulho e goste da dança. A gente não precisa ficar se explicando porque essa mistura é a cultura brasileira. Eu vi muita coisa de preconceito contra o negro, agora mudou, porque a gente se impõe, a gente procura fazer o melhor, a gente conquistou o nosso lugar e isso ninguém nos tira, a gente vai batalhar e vai fazer sempre o nosso melhor. (Entrevista com T.C.S)

Em última análise, se reafirma que o Grupo Cultural Herdeiros de zumbi é capaz instigar nos seus participantes o reconhecimento da importância da sua cultura e com isso passa a auxiliar na construção das identidades. O afrodescendente se reconhece na sua cor no sentido de ser mais, o que para Freire (1974) significa se libertar de qualquer tipo de opressão. Se confirma a partir deste estudo o quão significativo é o pertencimento junto ao Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi, quando se entende que este não faz apenas uma amostra da cultura afro, mas também instiga os seus participantes a se reafirmar enquanto sujeitos (a) numa sociedade excludente, interferindo positivamente na construção ou na afirmação das identidades. Isso se consolida através do empenho que o Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi demonstra para fazer com que aqueles que dele são integrantes sintam orgulho em ser afrodescendente e desta forma se identifiquem na sua tradição, sejam negros, mulatos, morenos, enfim, mestiços.

Peço emprestada as palavras de Zilá Bernd (1988) para desejar àqueles que chegam ao término da leitura deste estudo, AXÉ, ou seja, força vital! Que para a cosmogonia nagô, significa que os seres não podem ter existência sem transformação. AXÉ!

Figura 9: Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi

Fonte: Cláudia G. F. da Silva Evento Expoijuí , 2012

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o início deste estudo tratei sobre uma inquietação. No decorrer da pesquisa algumas ânsias que em mim se afloravam foram se amenizando. Agora, no término da dissertação há um olhar mais encorajador, talvez não sobre reais mudanças no que diz respeito a tão sonhada igualdade racial. Mas, mudanças no que diz respeito a valorização do negro e da sua cultura por si próprio. Isso se evidenciou nesta pesquisa, penso que há consciência crítica do negro ou mestiço que se identificam na cultura afro-brasileira. Os componentes do Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi de Ijuí se mostraram encorajados e engajados a mostrar a história de seus ancestrais. Tal história está muito além do que se encontra escrita em livros didáticos.

Este trabalho traz estudos que comprovam que a sociedade Ijuiense se fundou segundo valores preconceituosos, e por isso excludente. De fato, a sociedade negra que aqui habita foi subjugada a um lugar de subalterna, reconhecida apenas como mão de obra. Porém, é preciso esclarecer que mesmo diante desse contexto, os negros (as) moradores de Ijuí em particular aqueles que são integrantes do Grupo Cultural, vêm pouco a pouco conquistando seu espaço.

Inquietação! É isso que parece mover também os componentes do Grupo afro de Ijuí, pois através do diálogo com alguns integrantes foi possível observar e entender que este Grupo tem a necessidade de mostrar a importância da cultura afro-brasileira para a sociedade desta cidade.

Este trabalho para mim foi revelador. Não me cabe aqui chamar as conversas de entrevistas, quando sinto que foi muito mais do que isso. Foram conversas, narrativas com sonhos. Encontrei nas falas o sonho e a certeza de que um dia haverá igualdade no que diz respeito à cidadania, à oportunidade, ao respeito entre as diferentes culturas. Desde então passei a questionar essa possibilidade. Sei que existem os movimentos que lutaram, lutam e continuarão lutando para que o sonho de igualdade racial se concretize. Isso se comprova através dos ganhos, que são efeitos destas lutas, como a discriminação racial reconhecida como prática de crime inafiançável e a obrigatoriedade do estudo da cultura afro nas escolas.

Em se tratando da Lei 10.639, é necessário levantar questionamentos sobre a concretização desta no âmbito escolar. Como já relatou Nilma Lino Gomes (2008), ainda há resistência por parte das secretarias municipais e estaduais, escolas, e também educadores, em relação a esta mudança que diz respeito trazer à tona uma cultura que até então foi negada ao

afrodescendente. Infelizmente essa resistência só comprova que ainda há muito a ser pleiteado para que a Lei seja cumprida de fato. Fica aqui a indagação, de que é preciso que este olhar à cultura negra que vai além do contexto da escravidão seja entendido pelos profissionais da educação que estão diretamente com os estudantes. Acredito que esta mudança tem que partir principalmente dos educadores.

Penso que todos os ganhos jurídicos significam um passo, porque me ficou claro que é preciso muito mais do que leis para que realmente a igualdade racial deixe de ser um mito. Questiono em como ser possível mudar sentimentos preconcebidos. Existem leis que amparam os negros, mas não existem fórmulas para acabar com o preconceito, com o racismo. Acredito que a mudança deveria começar em cada um, seria preciso rever conceitos, atitudes e princípios, para que talvez assim se torne possível que o afrodescendente conquiste a tão almejada liberdade. Liberdade à cidadania, à igualdade, à oportunidade e ao reconhecimento. Como enfatiza Nilma Lino Gomes (2008, p.82) “é no campo da liberdade que a questão racial deve ser pensada. Ser negro, reconhecer-se negro e ser reconhecido como tal, na perspectiva ética nunca deveria ser motivo de vergonha.”

Assim, é fácil entender a igualdade racial como um mito, pois há o reconhecimento das diferenças, mas infelizmente não há a aceitação de uma grande parte da população. Esta ainda se prende em valores que enobrecem e julgam segundo a cor da pele. Não é difícil fazer essa constatação, pois se fosse o contrário, a igualdade racial seria real, e os Movimentos Sociais, que dizem respeito a negritude não precisariam se empenhar tanto para mostrar que os negros fazem parte da sociedade.

A partir deste estudo, afirmo que esta é uma luta em andamento, e que muito depende dos Movimentos Sociais. Chamando atenção para o trabalho desenvolvido pelo Grupo afro Herdeiros de Zumbi de Ijuí uma vez que este traz à tona a necessidade de que o negro (a) se entenda e se reconheça na sua cor. Existe o princípio em valorizar, identificar a cultura afro, na busca de fortalecer os sujeitos que precisam conviver numa sociedade excludente. Não me refiro exclusivamente a Ijuí, pois esta exclusão vai muito além do local. É uma exclusão global que diz respeito também a questões de classe social.