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E – Grupo Experimental Quadro 47 Domínio Linguístico: Morfossintaxe C – Grupo de Controlo

PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

ANÁLISE DAS MODIFICAÇÕES OPERADAS

G. E – Grupo Experimental Quadro 47 Domínio Linguístico: Morfossintaxe C – Grupo de Controlo

No grupo experimental, ao nível da morfossintaxe, não existiu nenhum comentário sobre a correcta/incorrecta utilização dos tempos verbais no pré-teste, tendo já sido feito referência ao seu uso no pós-teste. Houve um maior número de comentários negativos em relação aos positivos, como temos vindo a verificar nos domínios analisados anteriormente.

No grupo de controlo, não é efectuado nenhum tipo de comentário sobre este domínio, tanto no pré como no pós-teste.

Conclusão

Quanto à análise feita aos comentários dos alunos dos dois grupos testados, concluímos que o grupo experimental efectuou um maior número de comentários nos domínios do nível linguístico-textual, comparativamente com o grupo de controlo.

CONCLUSÃO

A escrita é um poderoso meio de comunicação e de aprendizagem. Tal como a leitura, não se trata de uma competência cuja aquisição seja espontânea e natural, mas, sim, de um processo complexo, que exige um ensino explícito e sistemático. Requer, também, exercícios constantes e supervisionados, estratégias precisas e diversificadas, nas quais o aluno faça uso da língua em diversas situações, produzindo diferentes tipos de texto e (co)relacionando, assim, as estruturas textuais, vocabulário e destinatários.

Neste trabalho, foram abordados alguns temas, dada a sua relevância para a compreensão do processo de escrita por parte dos alunos, que nos serviram de suporte e de orientação para a parte prática, constituindo o nosso enquadramento teórico – escrita, revisão, correcção, reescrita e avaliação.

Através do estudo empírico, pretendemos verificar se os alunos que foram submetidos a um plano de intervenção (grupo experimental) no plano da escrita, foram capazes de efectuar correcções mais profundas nos seus escritos e nos escritos dos colegas e se adquiriram uma maior consciência textual, em relação aos alunos que não foram sujeitos a tal plano interventivo (grupo de controlo).

Procurou-se que, ao longo das sete sessões que constituíram o plano de intervenção, os alunos do grupo experimental desenvolvessem e adquirissem competências e conhecimentos de língua escrita que lhes permitissem:

- apropriar-se dos critérios de avaliação dos relatos a produzir; - efectuar auto e hetero-correcções de acordo com esses critérios; - rever os textos com a ajuda de fichas de revisão;

-fazer a reescrita de cada texto produzido tendo em conta as indicações/sugestões da professora.

A progressão dos dois grupos que participaram neste estudo (grupo experimental e grupo de controlo) foi analisada através da implementação de um pré e de um

pós-teste, a fim de verificar se o grupo sujeito ao plano de intervenção descrito evoluiu no sentido de comprovar as nossas hipóteses de partida:

-Existem diferenças significativas em termos das correcções textuais efectuadas – entre o pré-teste e o pós-teste - por parte dos alunos que foram submetidos ao programa de intervenção;

-Existem diferenças significativas, entre os alunos do grupo experimental e os alunos do grupo de controlo, quanto à quantidade e ao tipo de modificações operadas nos textos e quanto à aquisição de uma consciência textual.

Os resultados a que chegámos - e que descrevemos com maior detalhe no capítulo anterior - parecem demonstrar alguma eficácia no âmbito da metodologia aplicada ao longo do plano de intervenção. Neste sentido, verificou-se, no grupo experimental, do pré para o pós-teste:

• um aumento do número de modificações de profundidade operadas nos textos, comparativamente com o grupo de controlo. Modificações estas que tiveram maior expressão na tarefa de hetero-correcção do que na de auto- correcção;

• um aumento do número de comentários efectuados nos domínios ao nível linguístico-textual (léxico, semântica, morfossintaxe), em comparação com o grupo de controlo. Por sua vez, estes comentários tiveram uma representação maior na tarefa de auto-correcção.

No que diz respeito mais propriamente às modificações operadas nos textos, apresentamos, de seguida, algumas das conclusões que pudemos elaborar, em relação às categorias de análise escolhidas para o efeito, no sentido de demonstrar a evolução referida no parágrafo anterior.

Assim, e quanto ao plano da correcção, constatou-se que, no grupo experimental, existiu uma diminuição do número de modificações consideradas de superfície e um aumento do número de modificações no nível linguístico-textual, tanto nas tarefas de auto como de hetero-correcção. Por seu turno, no grupo de controlo, o número de modificações de superfície diminuiu, assim como o número de

modificações no nível linguístico-textual, na tarefa de auto-correcção. No âmbito da hetero-correcção, também houve uma diminuição da quantidade de correcções de superfície, embora o número das modificações no nível linguístico-textual se tenha mantido equivalente.

Em relação ao domínio linguístico, no grupo experimental, verificou-se uma diminuição do número de correcções no âmbito da pontuação e da ortografia, assim como um aumento nos domínios formal, morfossintáctico, lexical e semântico, na tarefa de auto-correcção. Comparando esta última tarefa com a de hetero-correcção houve, somente, uma divergência no domínio semântico, em que se registou uma diminuição do número de correcções. Já no grupo de controlo, apenas se verificou um aumento do número de correcções no domínio formal e uma diminuição em todos os outros domínios considerados; de realçar que não existiu nenhuma ocorrência em termos do léxico e do grafismo, na tarefa de auto-correcção. As correcções que foram efectuadas nos textos dos colegas registaram diminuições nos domínios da pontuação, ortografia e léxico, e um aumento nos restantes.

Relativamente ao tipo de operações, registou-se, no grupo experimental e na tarefa de auto-correcção, um aumento do número de adições, de substituições e deslocações, assim como uma diminuição do número de supressões. No âmbito da hetero-correcção, os resultados foram quase opostos, pois houve uma diminuição da adição e da substituição, tal como um aumento da deslocação e da supressão. O grupo de controlo, nas tarefas de auto e hetero-correcção, efectuou um decréscimo no número de adições e um aumento de substituições. As deslocações diminuíram em termos da auto-correcção, não tendo havido nenhuma ocorrência na hetero-correcção. O número de supressões não sofreu alterações na auto-correcção, tendo em boa verdade sofrido um ligeiro aumento na hetero-correcção.

O sucesso das correcções efectuadas pelo grupo experimental, traduziu-se num aumento no âmbito da auto-correcção e da hetero-correcção, do pré para o pós-

teste. O insucesso teve uma diminuição substancial nos dois tipos de correcção efectuados. Situação oposta foi a que se verificou no grupo de controlo: tanto na auto como na hetero-correcção verificou-se uma diminuição das modificações com sucesso, assim como um acréscimo das modificações sem sucesso.

No que diz respeito aos comentários efectuados pelos dois grupos de trabalho em relação aos seus próprios textos (“auto-comentários”) e em relação aos textos dos colegas (“hetero-comentários”), podemos concluir que as referências à caligrafia, pontuação e ortografia foram, largamente, as mais utilizadas pelos dois grupos de trabalho, nos dois testes aplicados, em detrimento dos domínios semântico, lexical e morfossintáctico. Concluímos, também, que na generalidade, se registou, um predomínio de comentários negativos em relação aos positivos.

Nos parágrafos seguintes, passaremos à especificação das diferenças entre os dois grupos, do pré para o pós-teste, nos domínios considerados para análise. No domínio formal, houve, em ambos, um maior número de comentários negativos sobre a legibilidade e perfeição da “letra”, no âmbito da hetero-correcção, no pré- teste: número esse que diminuiu no pós-teste, tanto na auto como na hetero- correcção. Relativamente ao uso de parágrafos, apenas o grupo experimental, na tarefa de auto-correcção, fez referência à sua correcta organização por assuntos. Os comentários negativos prevaleceram, essencialmente, no grupo de controlo e no pré-teste, diminuindo no pós-teste.

No âmbito da pontuação, e no que diz respeito aos dois grupos de trabalho, aos dois testes aplicados e às tarefas de auto e de hetero-correcção, houve, apenas, um único comentário positivo. A “falta de sinais de pontuação” é enormemente assinalada pelos dois grupos na tarefa de hetero-correcção, no pré-teste, diminuindo, em ambos os grupos, no pós-teste.

Quanto ao número de comentários efectuados no domínio da ortografia, verificou- se, no grupo experimental, uma diminuição da sua ocorrência, do pré para o pós- teste. Houve, no plano da hetero-correcção, mais comentários negativos do que

positivos. Os primeiros diminuíram do pré para o pós-teste e os segundos tiveram um acréscimo. No grupo de controlo, observou-se uma diminuição do número de comentários, quer negativos quer positivos, da auto para a hetero-correcção, e do pré para o pós-teste.

No domínio da semântica, o grupo experimental efectua um número equivalente de comentários, do pré para o pós-teste, no que se refere “às ideias presentes nos relatos”.

Quanto à presença/ausência de título, introdução e conclusão, não houve nenhum comentário no pré-teste, contrariamente ao número de comentários operados a este respeito no pós-teste. O grupo de controlo, no que diz respeito às “ideias expostas”, realiza, unicamente, comentários negativos, sendo estes efectuados, exclusivamente, na tarefa de hetero-correcção. Não houve nenhum comentário, nem no pré nem no pós-teste, relativamente “à ordem pela qual os acontecimentos ocorreram”, à presença e ausência de título, introdução e conclusão.

No léxico, o grupo experimental foi o único a fazer comentários positivos sobre “frases simples e com sentido”, na tarefa de auto-correcção, que tiveram um acréscimo ligeiro do pré para o pós-teste. A categoria “repetição de palavras” foi, nos dois grupos, o comentário mais utilizado. Neste domínio, o grupo experimental efectuou um maior número de comentários, nos dois tipos de correcções e nos dois testes aplicados.

No último domínio, o morfossintáctico, apenas o grupo experimental efectuou correcções, e apenas no pós-teste. Houve, também aqui, um número mais elevado de comentários negativos em relação aos positivos, sendo tal número mais acentuado na tarefa de auto-correcção.

Assim, o grupo que foi submetido a um plano de intervenção no plano da escrita, efectuou, do pré para o pós-teste, um maior número de correcções no nível

linguístico-textual e aumentou o sucesso dessas operações. Para além desta evolução, constatou-se ainda que o grupo experimental adquiriu uma maior consciência (meta)textual, visto ter existido um acréscimo de comentários nos domínios que exigem uma maior reflexão sobre a escrita, e que foram considerados no âmbito do nível linguístico-textual, como o léxico, a semântica e a morfossintaxe, tanto na auto como na hetero-correcção, comparativamente com o grupo que não foi sujeito a um plano de intervenção deste tipo (grupo de controlo).

Procurando, sinteticamente, resumir as nossas conclusões, ousamos considerar que o poderemos fazer da seguinte forma:

- no pré-teste, os alunos de ambos os grupos de trabalho, efectuaram um maior número de modificações de superfície, essencialmente no domínio da pontuação e da ortografia, tendo realizado mais correcções nos relatos dos outros escreventes (hetero-correcção) do que nos seus próprios relatos (auto-correcção). Tal facto tem vindo a ser demonstrado por diversos estudos, que concluem que os escritores inexperientes “fazem revisões preferencialmente superficiais (ortografia e pontuação)” (Aleixo: 2005, 91). O mesmo é válido para os comentários efectuados: houve, em boa verdade, um maior número de comentários nos domínios considerados de superfície, especialmente em relação aos textos dos colegas.

- no pós-teste, o grupo experimental destaca-se, pois incrementou consideravelmente, o número de modificações no nível linguístico-textual, assim como nos domínios do léxico, da semântica e da morfossintaxe, embora continue a efectuar mais modificações nos textos dos outros escreventes relativamente aos seus (especialmente em termos das modificações no nível linguístico-textual). Quanto aos comentários efectuados, verificou-se, ainda, um aumento dos comentários nos domínios considerados no nível linguístico-textual. Por sua vez, o grupo de controlo diminuiu as modificações no nível linguístico-textual e de

superfície e tendo realizado essencialmente comentários no âmbito dos domínios de superfície.

Ainda que sem querer, de facto, generalizar os resultados, afigura-se-nos legítimo concluir que os valores resultantes das análises dos testes efectuados ao grupo experimental e ao grupo de controlo parecem confirmar as nossas hipóteses de partida: como já referimos, o grupo submetido ao plano de intervenção realizou um maior número de correcções no nível linguístico-textual, tendo registado igualmente, um número mais elevado de comentários nos domínios lexical, semântico e morfossintáctico.

E acresce que a verdade é que, por pequenas que sejam as evoluções efectuadas pelo grupo experimental no plano da escrita, há que as valorizar, tendo em conta, por um lado, que estamos perante crianças muito pequenas e, por outro, que os processos de revisão, de correcção e de avaliação dos escritos se revestem de uma grande complexidade.

Assim sendo, e tendo em conta tudo o anteriormente enunciado, parece ainda mais indiscutível conceber a escrita como um processo de extrema complexidade, cujo sucesso depende de um conjunto de regulações linguísticas, textuais, discursivas e pragmáticas, envolvendo, em simultâneo, saberes de domínios experienciais, operatórios e conceptuais. Depende ainda, da capacidade que cada aluno tem de aplicar tais saberes e da forma como o professor o auxilia durante todo o seu processo de produção textual.