• Nenhum resultado encontrado

2. Revisão/Reescrita de Textos

2.5. Situar o termo reescrita

É importante situar a definição de reescrita relativamente à noção de correcção, assim como distingui-la da revisão e da reformulação. A correcção é vista, como já referimos, como o confrontar da produção escrita a uma norma estabelecida e neste sentido, a criança tem uma tendência natural em confundir o acto de reescrita com o da correcção.

Segundo Bessonat (2000), o termo reescrita pode ter diversos sentidos, entre os quais o retomar uma actividade de escrita, o escrever uma segunda vez, o reproduzir algo escrito primeiramente por alguém ou, simplesmente, o trabalhar um texto já escrito com o intuito de o melhorar. A reescrita de um determinado texto, leva-nos forçosamente a pensar em noções como a textualidade, a repetição e a retoma.

Sylvie Plane (1994) define a reescrita como " un phénomène directement observable qui consiste en la production d'une nouvelle version d'un texte ou de variantes, dont l'analyse relève de méthodes linguistiques". Reescrever surge, assim, como o melhoramento do texto escrito inicial.

A reescrita opera ao nível do texto e não apenas ao nível da frase. Ela aceita diversas soluções e pressupõe uma negociação entre o aluno e o professor. Para isto, o docente deverá explicitar e acordar com a criança os critérios, assim como especificar as instruções e atribuir finalidades à reescrita, indicando os caminhos a seguir.

De acordo com Pereira (2002), reescrever produz modificações nas representações dos alunos sobre o acto escritural, visto que, de acordo com várias investigações, os aprendentes que são submetidos a várias actividades de

reescrita, passam a representar o texto escrito como algo transformável e aprendem a distanciar-se do seu próprio texto e a ser capazes de o criticar. Assim, “a reescrita contribui, de diversas maneiras, para ajudar a escrita, favorecendo ao mesmo tempo a auto-avaliação dos alunos” (57).

2.5.1. O papel do professor perante a reescrita

Como vimos, a reescrita é uma das competências essenciais na aprendizagem da produção de textos. De facto, a capacidade de rever o texto e ser capaz de o reescrever, total ou parcialmente, a fim de assegurar uma melhoria ao nível da escrita, é o principal objectivo deste processo. Ao melhorar a sua produção escrita, o aprendente constrói novas competências textuais e evita, desta forma, uma centração excessiva no produto.

É importante que os professores de Língua Portuguesa comecem a utilizar actividades de reescrita como prática didáctica nas suas aulas e como objecto de reflexão crítica dos alunos sobre os seus próprios textos. O objectivo não é, de forma alguma, passar o ano a reescrever o mesmo texto, com o mesmo tipo de mudanças a nível textual, nem levar os alunos a um possível desencorajamento do acto de escrever, ao exigir-lhes textos perfeitos.

A maioria dos professores reconhece o interesse de uma ou mais reescritas na elaboração de um texto, mas refugia-se na falta de tempo para praticar estas actividades com os seus alunos. Colocar em prática actividades de reescrita corresponde a uma inovação nas suas práticas pedagógicas. As mudanças didácticas funcionam num cálculo permanente entre o custo e o ganho: praticar a reescrita de textos dispensa assim tanta perda de energia por parte do professor, não lhe deixando tempo para outras actividades?

Contudo, para muitos professores, a noção de revisão/reescrita está associada só “aos «trabalhos de limpeza» da versão última do texto e, nesta medida,

reencontra-se com muitas características da correcção tradicional”, tal como a definiu Cassany (1993).

A criação de espaços nas aulas de Língua Portuguesa dedicados à revisão e reescrita de diferentes tipos de textos reveste-se de extrema importância para a aquisição de competências de escrita por parte dos alunos. Este processo deverá ser realizado, inicialmente, através de diversas sessões orientadas pelo docente, utilizando os mais variados tipos de escritos, para que as crianças efectuem aprendizagens significativas. Ao fazer uso de uma leitura crítica dos textos em estudo, os alunos poderão, ou não, experimentar situações de reescrita nas suas múltiplas possibilidades e, desta forma, aperfeiçoar as suas produções escritas para que, gradualmente, se sintam mais autónomos, seguros e confiantes.

Para além da reformulação textual com vista ao aperfeiçoamento, existem outras possibilidades textuais, ligadas a diferentes estratégias ou requisitos, realizadas a partir dos textos produzidos pelo próprio escrevente ou a partir dos produtos de outros escreventes, que poderão conduzir a uma reescrita: a alteração do destinatário alvo, a modificação da perspectiva da enunciação por mudança do sujeito enunciador, a localização dos eventos no espaço ou no tempo e a mudança do próprio universo tomado como referência para o mundo representado, constituem modificações que implicam a reescrita do texto segundo novos moldes (Barbeiro, 2003).

2.5.2. A reescrita no 1.º ciclo

No primeiro ciclo não se trata de ensinar a rever/reescrever no sentido de fazer grandes alterações e melhorias de natureza profunda. Os melhoramentos também ao nível da superfície (a pontuação, ortografia, substituição de palavras ou frases) são passos importantes neste caminho tão complexo de aprendizagem da escrita. O imprescindível é que se ensinem os alunos a fazer uso de leituras críticas e que, a partir delas, eles possam experimentar situações de reescrita,

nas suas múltiplas possibilidades para que, dessa forma, possam crescer nas suas produções escritas.

Todos os momentos de produção escritural podem dar azo a situações de releitura e de reescrita, e o importante é que estas actividades de aperfeiçoamento de textos comecem, de facto, as ser práticas indissociáveis do processo de escrita. Mas que não se peça aos alunos que reescrevam, sem lhes terem sido ensinadas as técnicas a utilizar, sem uma atitude que passa por “incitações constantes, exercícios e sequências didácticas com fins precisos e uma grande vontade e capacidade de explicar as dificuldades e estratégias alternativas” (Pereira, 2000: 169).

Conclui-se que “...só um trabalho sistemático sobre a revisão/ reescrita pode ser transformador dos modos de pensamento e acção dos alunos” (Pereira, 2000:157) e lhes pode gerar um verdadeiro olhar crítico sobre os seus textos, conduzindo-os, desta forma, a práticas efectivas de melhoramento e aperfeiçoamento dos seus escritos.

Assim, é no espaço privilegiado de escrita, a aula de Língua Portuguesa, que se deve orientar os alunos em actividades que os envolvam activamente na construção de práticas que os ensinem a planificar, a escrever, a rever, a avaliar criticamente, a corrigir, a reformular, a reescrever e a fazer a construção da aprendizagem da sua escrita.