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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

1. ÂMBITO DO ESTUDO

2.2. Tipo de investigação

Se procurarmos uma definição do estudo que realizámos de acordo com os princípios que caracterizam a investigação em educação, poder-se-á considerar que ele encerra duas vertentes de análise: uma investigação de tipo quase experimental, visto que no domínio da educação não é possível um estudo absolutamente experimental, e uma investigação descritiva.

A primeira, de natureza quantitativa, compreendeu dois grupos: o grupo experimental e o grupo de controlo. Ao grupo experimental foi administrado um plano de intervenção durante um certo período de tempo e cujos efeitos foram objecto de medição. O grupo de controlo, apesar de não ter sido submetido a nenhum tipo de tratamento sistemático e específico como o grupo experimental, continuou com o exercício da expressão escrita no âmbito da área curricular de Língua Portuguesa, dando cumprimento ao programa determinado no Currículo Nacional do Ensino Básico para o 3.º ano de escolaridade.

De acordo com o tipo de estudo que se pretende levar a efeito, no qual se procura avaliar os efeitos da aplicação de um plano de intervenção no domínio da escrita, o desenho investigativo escolhido pode ser designado, segundo Schumacher e

McMillan (1993), como Pré-teste/ Pós-teste com Grupo de Controlo (Não Equivalente). Neste tipo de desenho são seleccionados dois grupos diferentes: um que irá ser submetido a um tratamento (grupo experimental) e outro que não será sujeito a nenhum plano de intervenção (grupo de controlo). Foram realizados dois testes aos grupos acima mencionados: o primeiro, antes da aplicação do plano de intervenção e o segundo, após o referido plano, a fim de se proceder a uma avaliação dos seus possíveis efeitos no grupo experimental por comparação com o grupo de controlo.

Segundo os mesmos autores, Schumacker e McMillan (1993: 317), este desenho poderá ser esquematizado da seguinte forma:

Figura 5 - Pré-teste/Pós-teste com grupo de Controlo (Não Equivalente)

O estudo em questão foi, assim, organizado em três fases distintas: pré-teste (aplicado aos dois grupos), plano de intervenção (aplicado no grupo experimental durante algumas sessões) e pós-teste (aplicado novamente aos dois grupos).

Como se trata de um estudo quase experimental, e não de um estudo experimental puro, não houve uma selecção aleatória da amostra, visto tratar-se de uma amostra já disponível. Foram, assim, seleccionados dois grupos-turma já constituídos, do 3.º ano de escolaridade, de uma escola do 1.º ciclo do ensino básico. Tais limitações por parte da amostra impedem a generalização dos resultados deste estudo.

Grupo Pré-teste Tratamento Pós-teste A ---Æ O ---Æ X ---Æ O B ---Æ O ---ÆO

---Æ (Tempo)

Para além da vertente relativa à comparação entre o grupo experimental e o grupo de controlo, procurámos ainda, numa segunda vertente, de carácter descritivo, compreender a apropriação dos critérios de avaliação por parte dos aprendentes e a aquisição de competências ao nível da metatextualidade, através dos comentários feitos por estes acerca das suas próprias produções e das produções dos seus colegas.

Trata-se de uma investigação cuja fonte directa de dados é o ambiente natural e, neste caso particular, um ambiente escolar, pois as acções podem ser mais facilmente compreendidas se forem observadas no espaço físico da sua ocorrência. Segundo Bogdam e Biklen (1994) “o comportamento humano é significativamente influenciado pelo contexto em que ocorre" (48), devendo o investigador estar presente, sempre que possível, no local da concretização do estudo, pois os actos, as palavras e os gestos só poderão ser compreendidos dentro do seu contexto habitual.

A perspectiva teórica que subjaz à investigação qualitativa é a de que os aprendentes podem ser activos na construção do seu saber e promover modificações, afectando o seu comportamento. Todas as pessoas são detentoras de potencial para se modificarem e se transformarem em agentes de mudança.

A utilização deste tipo de abordagem também permite uma melhoria na eficácia do ensino. São múltiplos os benefícios para os professores que a colocam em prática, pois, ao agirem como investigadores, não só desempenham os seus deveres habituais, como também se observam a si próprios, enquanto agentes educativos e objectos de estudo, sendo capazes de obter uma visão mais ampla, distanciada e reflexiva do que se está a passar. Procuram compreender as perspectivas de todos os alunos e não apenas de alguns, estudando os sujeitos, tentando conhecê-los como pessoas e abandonando as suas próprias convicções.

A investigação qualitativa é descritiva: esta descrição deverá resultar dos dados recolhidos directamente e ser absolutamente rigorosa; e indutiva: os investigadores desenvolvem conceitos e chegam à compreensão dos fenómenos a partir de padrões provenientes da recolha de dados.

Segundo Bogdam e Biklen (1994), em investigação qualitativa "a preocupação central não é a de saber se os resultados são susceptíveis de generalização, mas sim a de que outros contextos e sujeitos a eles possam ser generalizados". Assume, desta forma, uma realidade dinâmica e subjectiva.

Numa perspectiva didáctica, é importante que o professor seja investigador para perceber as dinâmicas inerentes ao processo de ensino-aprendizagem e assim modificar as suas práticas. O facto deste estudo ter surgido de uma inquietação por parte da professora-investigadora no sentido de alterar e melhorar as suas práticas pedagógicas ao nível do aperfeiçoamento de textos, poderá aproximá-lo, também, no domínio da investigação-acção. Pretende-se que o professor seja actor e autor das suas próprias práticas, colocando a tónica no acto de investigar através de acções como agir, participar e projectar, beneficiando de todo este processo para a melhoria do ensino-aprendizagem. É precisamente esse o objectivo desta investigação: partir da necessidade de mudar as práticas lectivas ao nível da expressão escrita para que os alunos adquiram melhores competências/performances neste domínio.

O professor-investigador assume um papel activo como agente de mudança, empenhado em agir sobre a sua área de investigação de forma a alterar as práticas existentes. Procura também compreender os factos que investiga, conhecer os sujeitos de investigação, aumentar a consciência dos problemas, mas também o seu empenho na resolução dos mesmos, sugerindo recomendações que promovam mudanças significativas.