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3.4 Grupos c´ıclicos

3.4.2 Grupos c´ıclicos parab´olicos

Todo elemento parab´olico g em PU(2, 1) ´e conjugado, em PU(2, 1), a uma rota¸c˜ao de Heisenberg ao redor da cadeia vertical V seguida por uma transla¸c˜ao de Heisenberg. Estes elementos podem ser classi- ficados como unipotentes ou el´ıptico-parab´olicos, e os elementos unipotentes podem ainda ser principais ou n˜ao principais (veja [48, p´agina 223]). Vamos detalhar estas defini¸c˜oes para um elemento parab´olico g∈ PU(2, 1).

• g ´e unipotente se, e somente se, g pode ser representado por uma matriz em U(2, 1) possuindo somente o autovalor 1. Isto ´e, se e somente se, g ´e conjugado a uma transla¸c˜ao de Heisenberg (a componente de rota¸c˜ao ´e trivial). Os elementos unipotentes se dividem em duas sub-classes:

– g ´e parab´olico n˜ao principal se for conjugado `a uma transla¸c˜ao de Heisenberg vertical. Neste caso, g possui uma infinidade de cadeias invariantes.

– g ´e parab´olico principal se for conjugado `a uma transla¸c˜ao de Heisenberg n˜ao vertical. Neste caso, g n˜ao possui nenhuma cadeia invariante.

• g ´e el´ıptico-parab´olico se for parab´olico, mas n˜ao unipotente. Neste caso, g ´e conjugado `a uma transla¸c˜ao de Heisenberg vertical seguida por uma rota¸c˜ao ao redor da cadeia vertical V. Assim, g possui autovalores 1 e eiθ, onde θ ´a o ˆangulo de rota¸c˜ao ao redor da cadeia vertical V. Isto ´e,

g possui uma ´unica linha complexa invariante Σ, na qual g age como um elemento parab´olico, e g age como um automorfismo unit´ario n˜ao trivial no fribrado normal `a Σ. Esta linha complexa Σ ´e chamada de eixo de g.

Vejamos agora algumas proposi¸c˜oes a respeito de um elemento parab´olico de PU(2, 1). A primeira proposi¸c˜ao segue imediatamente da defini¸c˜ao de um elemento parab´olico unipotente.

Proposi¸c˜ao 3.4.1 Seja g ∈ PU(2, 1) parab´olico com ponto fixo P no grupo de Heisenberg H = C × R.

Ent˜ao, g ´e parab´olico unipotente se, e somente se, a derivada dg|EP : EP → EP de g restrita ao plano de

contato EP, definido por P , ´e a aplica¸c˜ao identidade.

Proposi¸c˜ao 3.4.2 Sejam R e L dois R-c´ırculos distintos em ∂H2

C que se interceptam somente no ponto

P ∈ H. Ent˜ao, R e L s˜ao tangentes em P se, e somente se, as restri¸c˜oes das invers˜oes nestes R-c´ırculos iR|EP e iL|EP, ao plano de contato EP, s˜ao iguais.

Dem.: Pelo lema [20, 5.2.9, p´agina 167], os R-c´ırculos R e L s˜ao tangentes em P se e somente se, existe um elemento parab´olico unipotente g∈ PU(2, 1), com ponto fixo P , tal que g(R) = L. Ent˜ao, iL = giRg−1.

Como a restri¸c˜ao dg|EP ´e a identidade, obtemos que

diL|EP = d(giRg−1)|EP = dg|EPdiR|EPdg−1|EP = diR|EP.

Como um corol´ario destas duas ´ultimas proposi¸c˜oes podemos enunciar: Corol´ario 3.4.1 Sejam R e L dois R-c´ırculos distintos na ∂H2

C que se interceptam somente no ponto

P ∈ H. Ent˜ao, a composi¸c˜ao g = iR◦ iL, das invers˜oes nestes R-c´ırculo, ´e parab´olico unipotente se, e

somente se, R e L s˜ao tangentes em P .

Lema 3.4.1 Seja L um R-c´ırculo infinito em ∂H2

C, e seja π um plano Euclidiano, no grupo de Heisenberg

H = C × R, contendo L. A invers˜ao iL, em L, deixa o plano π invariante e permuta os semi-espa¸cos

limitados por π em H.

Dem.: Vamos utilizar coordenadas horoesf´ercias (ζ, v) para o grupo de Heisenberg H = C × R, onde ζ = x + iy. Observe que, se π n˜ao ´e um plano paralelo `a cadeia vertical V, ent˜ao π ´e um plano de contato EP para algum ponto P ∈ π. Ent˜ao, π ´e uma esfera espinal em ∂H2C, e L ´e um meridiano de

π. Assim, este corol´ario segue do fato de que a invers˜ao no meridiano de um bissetor deixa este bissetor invariante. Suponhamos agora que o plano π seja paralelo `a cadeia vertical V. Neste caso, o resultado segue por absurdo. De fato, suponhamos que exista um ponto P ∈ π qual que iL(P )6∈ π. Ent˜ao, o plano

α, contendo a reta L e o ponto iL(P ) ´e uma esfera espinal e L ´e um meridiano de α. Ent˜ao, iL(α) = α e

iL(iL(P )) = P∈ α, que ´e um absurdo visto que α 6= π.

Vamos estudar agora o dom´ınio fundamental de Ford do grupo c´ıclico gerado por um elemento parab´olico em PU(2, 1). Para isto, seja g ∈ PU(2, 1) um elemento parab´olico com ponto fixo P ∈ H. Denote por I a esfera isom´etrica de Ford de g e denote por I′a esfera isom´etrica de Ford de g−1. Sabemos

que esta duas esferas de Heisenberg possuem o mesmo raio, e que elas est˜ao centradas, respectivamente, nos pontos α = g−1(q

∞) e α′ = g(q∞). Pelo teorema 3.2.1, temos que P ∈ ITI′. Tamb´em, pela

proposi¸c˜ao 1.5.10, podemos escrever g como g = iL◦ iR, sendo que iR ´e a invers˜ao em um meridiano R

de I e iL ´e a invers˜ao em um R-c´ırculo infinito tal que iL(I) = I′. Como g ´e parab´olico, pelo teorema

1.5.1, temos que estes dois R-c´ırculos R e L se interceptam somente em P . Para caracterizar o dom´ınio fundamental de Ford do grupo c´ıclico gerado por g, ´e importante analisarmos alguns casos particulares.

CASO 1: P ´e um v´ertice de I

Neste caso, o plano de contato EP, definido por P , e o plano tangente TPI `a esfera de Heisenberg I

em P s˜ao iguais. Tamb´em temos que a cadeia vertical atrav´es de P ´e invariante por g = iL◦ iR. Ent˜ao,

I′ = i

L(I) ´e uma esfera de Heisenberg, centrada em um ponto nesta cadeia vertical, com um v´ertice

em P e com plano tangente em P igual `a iL(EP) = EP. Ent˜ao, I e I′ = g(I) s˜ao esferas de Heisenberg

externamente tangentes em P . Pelo teorema 3.3.3, o dom´ınio fundamental de Ford do grupo c´ıclico gerado por g possui exatamente dois lados limitados por I e I′. (veja a figura 3.7)

Observe, pelo corol´ario 3.4.1, que g pode ser parab´olico unipotente n˜ao principal se L e R s˜ao tangentes em P , e que g pode ser el´ıptico-parab´olico se L e R n˜ao s˜ao tangentes em P . Neste caso, observe que o ponto ideal q∞ pertence ao eixo deste elemento el´ıptico-parab´olico.

L

I′

I R

Figura 3.7: O dom´ınio fundamental de Ford do grupo c´ıclico gerado por um elemento parab´olico unipotente n˜ao principal em PU(2, 1) ou de um elemento el´ıptico-parab´olico tal que o ponto ideal pertence ao seu eixo.

CASO 2: P n˜ao ´e um v´ertice de I

Neste caso, o plano de contato EP, definido por P , e o plano tangente TPI, a esfera de Heienberg I em

P , s˜ao distintos, e eles se interceptam segundo uma reta Euclidiana no grupo de Heisenberg. Observe que esta interse¸c˜ao ´e um R-c´ırculo infinito tangente `a R em P . Aqui, precisamos considerar mais dois casos.

CASO 2.a: P n˜ao ´e um v´ertice de I, e R e L s˜ao tangentes

Neste caso, o R-c´ırculo infinito L ´e igual `a interse¸c˜ao EP T TPI. Pelo lema 3.4.1, temos que iLdeixa o

plano tangente TPI invariante, e que iLpermuta os semi-espa¸cos limitados por TPI. Assim, as esferas de

Heisenberg I′= i

L(I) e I possuem o mesmo plano tangente em P , o que implica que elas s˜ao externamente

tangentes em P . Pelo teorema 3.3.3, o dom´ınio fundamental de Ford do grupo c´ıclico gerado por g possui exatamente dois lados limitados por I e I′. (veja a figura 3.8)

Observe, pelo corol´ario 3.4.1, que g ´e parab´olico unipotente principal.

I I′

L R

Figura 3.8: O dom´ınio fundamental de Ford para o grupo c´ıclico gerado por um elemento parab´olico unipotente principal em PU(2, 1).

CASO 2.b: P n˜ao ´e um v´ertice de I, e R e L n˜ao s˜ao tangentes

Neste caso, o R-c´ırculo infinito L intercepta a esfera de Heisenberg I em P e em um outro ponto. Ent˜ao, g = iL◦ iR´e el´ıptico-parab´olico, e I′= iL(I) intercepta I segundo uma curva fechada contendo P .

Portanto, I e I′ n˜ao s˜ao tangentes em P . Observe tamb´em que o ponto ideal q∞ n˜ao pertence ao eixo de

g. Nestas condi¸c˜oes, prova-se, veja a referˆencia [18], que o dom´ınio fundamental de Ford do grupo c´ıclico gerado por g possui uma quantidade infinita de lados. (veja a figura 3.9)

I I′

L R

Figura 3.9: Algumas faces para o dom´ınio fundamental de Ford para o grupo c´ıclico gerado por um elemento el´ıptico-parab´olico de PU(2, 1) tal que o ponto ideal n˜ao pertence ao seu ao seu eixo.

Para terminar esta se¸c˜ao, vamos resumir o que foi demonstrado acima nos seguintes teoremas.

Teorema 3.4.3 Suponhamos que g seja um elemento parab´olico unipotente em PU(2, 1) com ponto fixo

P 6= q. Denote por I e Ias esferas isom´etricas de Ford de g e g−1, respectivamente. Ent˜ao,

1. Se g ´e unipotente n˜ao principal, ent˜ao P ´e um v´ertice comum de I e I, e estas esferas s˜ao externa-

mente tangentes em P .

2. Se g ´e unipotente principal, ent˜ao P n˜ao ´e um v´ertice de I nem de I, e estas esferas s˜ao externamente

tangentes em P .

Teorema 3.4.4 O dom´ınio fudamental de Ford do grupo c´ıclico gerado por um elemento parab´olico unipo- tente g em PU(2, 1) ´e limitado por dois lados tangentes Ig e Ig−1.

Observe que este teorema ´e an´alogo ao teorema de Phillips [48] que afirma que o dom´ınio de Dirichlet para o grupo c´ıclico gerado por um elemento parab´olico unipotente em PU(2, 1) possui exatamente dois lados.

Teorema 3.4.5 Seja g∈ PU(2, 1) um elemento parab´olico tal que g(q)6= q. Se as esferas isom´etricas de Ford de g e g−1 ao s˜ao tangentes ent˜ao, g ´e el´ıptico-parab´olico.

Teorema 3.4.6 Seja g uma isometrica el´ıptica-parab´olica do espa¸co hiperb´olico complexo H2

C tal que

g(q∞)6= q∞. Denote por F (G) o dom´ınio fundamental de Ford do grupo c´ıclico G gerado por g.

1. Se o ponto ideal qpertence ao eixo de g, ent˜ao F (G) possui precisamente dois lados.

2. Se o ponto ideal q n˜ao pertence ao eixo de g, ent˜ao F (G) possui uma infinidade de lados.

Observe que este resultado ´e an´alogo ao teorema do Parker [45] que afirma que o dom´ınio fundamental de Dirichlet Dz0(G), com ponto base z0 ∈ H

2

C, para o grupo c´ıclico G gerado por um elemento el´ıptico-

parab´olico de PU(2, 1) possui dois lados se z0 pertence ao eixo de G e Dz0(G) possui uma infinidade de

lados que z0 n˜ao pertence ao eixo de g.

Dos teoremas enunciados acima, a ´unica afirma¸c˜ao que n˜ao est´a demonstrada nesta tese ´e a segunda afirma¸c˜ao do teorema 3.4.6. Na pr´oxima se¸c˜ao, vamos demonstrar esta afirma¸c˜ao para um exemplo espec´ıfico. A demonstra¸c˜ao geral pode ser encontrada em [18].