• Nenhum resultado encontrado

Seja Σ uma superf´ıcie Riemanniana, n˜ao necessariamente compacta, com caracter´ıstica de Euler negativa, e seja ρ : π1(Σ) → PU(n, 1) uma representa¸c˜ao do seu grupo fundamental em PU(n, 1). Seja D o plano

hiperb´olico, recobrimento universal de Σ, e seja ω a forma de K¨ahler de Hn

C. A representa¸c˜ao ρ, pela a¸c˜ao

de π1(Σ) no fibrado trivial D× HnC→ D, induz um fibrado plano

Xρ=

D× HnC

π1(Σ) −→ Σ

sobre Σ com fibra Hn

Ce holonomia ρ. O espa¸co total Xρ deste fibrado ´e o espa¸co quociente da a¸c˜ao de

π1(Σ) em D× HnC definida por

γ : (x, z) 7−→ (γx, ρ(γ)z) , para x∈ D, z ∈ Hn

C e γ∈ π1(Σ).

Como a fibra Hn

C de Xρ ´e contr´atil, vemos que este fibrado sempre admite uma se¸c˜ao s : Σ → Xρ.

Sobre estas se¸c˜oes, podemos enunciar a seguinte afirma¸c˜ao.

Afirma¸c˜ao: O conjunto das se¸c˜oes s : Σ→ Xρ, do fibrado Xρ, est´a em correspondˆencia biun´ıvoca com o

conjunto dos gr´aficos das fun¸c˜oes ρ-equivariantes f : D→ Hn

C. Aqui, uma fun¸c˜ao f : D→ HnC´e chamada

de ρ-equivariante se f (γx) = ρ(γ) f (x), para todo x∈ D e γ ∈ π1(Σ).

Dem.: De fato, o gr´afico de toda fun¸c˜ao ρ-equivariante f : D→ Hn

C´e uma se¸c˜ao

s : D −→ D × HnC x 7−→ (x, f(x)) do fibrado trivial D× Hn

C→ D que, por sua vez, induz uma se¸c˜ao s : Σ → Xρ do fibrado Xρ.

Reciprocamente, seja dada uma se¸c˜ao s : Σ → Xρ, do fibrado Xρ. Levantando s ao recobrimento

universal, obtemos uma se¸c˜ao ˜s : D→ D × Hn

Cdo fibrado trivial. Mas esta se¸c˜ao deve ser o gr´afico de uma

fun¸c˜ao f : D→ Hn

C, ou seja, ˜s(x) = (x, f (x)). Vamos mostrar que f ´e ρ-equivariante. De fato, como ˜s ´e o

levantamento de s, para todo γ ∈ π1(Σ), os pontos ˜s(x) = (x, f (x)) e ˜s(γx) = (γx, f (γx)) devem definir

o mesmo ponto no espa¸co quociente Xρ =

D× Hn C

π1(Σ)

. Isto ´e, deve existir g∈ π1(Σ) tal que g(x) = γ(x) e

Seja agora s : Σ→ Xρ qualquer se¸c˜ao de Xρ, e seja f : D→ HnCqualquer fun¸c˜ao ρ-equivariante que

define s. Se ∆ ´e um dom´ınio fundamental para π1(Σ) em D, o invariante de Toledo da representa¸c˜ao

ρ, veja [60], ´e definido por

τ (ρ, f ) = 1 2π

Z

f∗ω. Passando ao quociente, como a forma f∗ω ´e invariante pela a¸c˜ao de π

1(Σ) em D, ela origina uma forma

em Σ, que ainda ser´a denotada por f∗ω. Assim, tamb´em temos que

τ (ρ, f ) = 1 2π

Z

Σ

f∗ω. De uma maneira diferente, a forma de K¨ahler ω em Hn

C define uma 2-forma fechada ωρ em Xρ que

satisfaz a seguinte propriedade: se πHn

C : D× H

n

C → HnC e πρ : D× HnC→ Xρ s˜ao as proje¸c˜oes naturais,

ent˜ao  πHn C ∗ ω =  πρ ∗ ωρ.

Deste modo tamb´em temos que

τ (ρ, f ) = 1 2π

Z

Σ

s∗ωρ.

Como o fibrado Xρ tem fibra contr´atil, quaisquer duas se¸c˜oes s1 e s2 deste fibrado s˜ao homot´opicas.

Mas, fun¸c˜oes homot´opicas definem a mesma integral e, portanto, obtemos que o invariante de Toledo τ (ρ, f1) = τ (ρ, f2) independe da se¸c˜ao s ou da fun¸c˜ao ρ-equivariante f utilizada para a sua constru¸c˜ao.

Assim podemos denotar o invariante de Toledo simplesmente por τ (ρ) ao inv´es de τ (ρ, f ).

Na defini¸c˜ao do invariante de Toledo ´e necess´ario o c´alculo de uma certa integral. Na maioria dos casos, este c´alculo pode ser muito dif´ıcil de ser executado. Mas, Toledo demonstrou em [60] que, no caso de uma superf´ıcie compacta Σ, este c´alculo pode ser feito atrav´es de uma integral no espa¸co hiperb´olico complexo. Veremos esta passagem nas pr´oximas se¸c˜oes quando introduzirmos o conceito de cohomologia limitada de Gromov.

Para enunciar as principais propridades do invariante de Toledo, precisamos considerar os casos em que Σ ´e compacta ou n˜ao compacta. Pois para uma superf´ıcie compacta Σ ´e claro que o invariante de Toledo de qualquer representa¸c˜ao ρ ´e finito. J´a para superf´ıcies n˜ao compactas, nem sempre isto ´e verdade.

Suponhamos agora que Σ seja uma superf´ıcie de Riemann compacta, de gˆenero g e caracter´ıstica de Euler χ(Σ) = 2− 2g negativa, e suponhamos que seja dada uma representa¸c˜ao ρ : π1(Σ) → PU(n, 1). As

principais propriedades do invariante de Toledo desta representa¸c˜ao s˜ao: ([26], [9], [60]) 1.

τ (ρ) 2 n + 1Z. 2. −2g + 2 ≤ τ(ρ) ≤ 2g − 2.

3. Se ρ(π1(Σ)) deixa invariante um R2-plano em HnC, ent˜ao τ (ρ) = 0.

4. conjuga¸c˜oes holomorfas n˜ao alteram o invariante de Toledo, e conjuga¸c˜oes anti-holomorfas trocam o sinal do invariante de Toledo.

Teorema 5.2.1 (Teorema de Rigidez de Toledo) Seja Σ seja uma superf´ıcie de Riemann compacta

de gˆenero g≥ 2. Uma representa¸c˜ao ρ : π1(Σ) → PU(n, 1) deixa invariante uma linha complexa em HnC

se, e somente se, |τ(ρ)| = 2g − 2.

Este teorema implica que as representa¸c˜oes C-Fuchsianas, do grupo fundamental de uma superf´ıcie compacta em PU(n, 1), s˜ao r´ıgidas no sentido que qualquer perturba¸c˜ao pequena de uma tal representa¸c˜ao tamb´em ´e C-Fuchsiana.

Vamos definir agora os seguintes conjuntos:

Rep = Hom(π1(Σ), PU(n, 1)) PU(n, 1) Teich = Hom

1(Σ), PU(n, 1))

PU(n, 1) .

Rep ´e o conjunto, a menos de conjuga¸c˜oes, de todas as representa¸c˜oes ρ de π1(Σ) em PU(n, 1), e Teich

´e o conjunto, a menos de conjuga¸c˜oes, de todas as representa¸c˜oes discretas e exatas.

Vamos nos concentrar agora no caso em que n = 2, isto ´e, vamos considerar somente representa¸c˜oes em PU(2, 1), o grupo de isometrias holomorfas do espa¸co hiperb´olico complexo de dimens˜ao 2. Neste caso, como conjuga¸c˜oes homomorfas n˜ao alteram o invariante de Toledo, vemos que este invariante τ pode ser definido como a seguinte fun¸c˜ao cont´ınua

τ :Hom(π1(Σ), PU(2, 1))

PU(2, 1) −→

2 3Z

Sendo τ cont´ınua, ela assume os mesmos valores em cada componente conexa do espa¸co de representa¸c˜oes Rep. No artigo [63], foi demonstrado que a rec´ıproca desta afirma¸c˜ao tamb´em ´e verdadeira. Isto ´e, o invariante de Toledo distingue as componentes conexas do espa¸co Rep. Mais ainda, o espa¸co de todas as representa¸c˜oes Rep = Hom(π1(Σ), PU(2, 1))

PU(2, 1) possui 6g− 5 componentes conexas distintas. Neste caso, de superf´ıcies compactas, ainda est´a em aberto a quest˜ao sobre as componentes conexas do espa¸co de Teichm¨uller Teich.

Lembramos que, no caso de superf´ıcies compactas, o invariante de Toledo τ satisfaz as condi¸c˜oes: τ 2

3Z e 2− 2g ≤ τ(ρ) ≤ 2g − 2. (5.1)

A respeito destas propriedades, no artigo [26], foram demonstrados os seguintes teoremas.

Teorema 5.2.2 Seja Σ uma superf´ıcie hiperb´olica compacta de gˆenero g, e seja τ um n´umero satisfazendo as duas condi¸c˜oes (5.1). Ent˜ao, existe uma representa¸c˜ao ρ : π1(Σ)→ PU(2, 1) em que este n´umero τ ´e

o seu invariante de Toledo.

Teorema 5.2.3 Nas hip´oteses do teorema acima, para todo inteiro par τ , existe uma representa¸c˜ao discreta e exata com este invariante de Toledo.

Para superf´ıcies compactas, ainda n˜ao foram respondidas as seguintes perguntas:

Pergunta 1: Se ρ : π1(Σ) → PU(2, 1) ´e uma representa¸c˜ao discreta e exata, ent˜ao τ(ρ) ´e um n´umero

Pergunta 2: Dadas duas representa¸c˜oes ρ1, ρ2 : π1(Σ) → PU(2, 1), com τ(ρ1) = τ (ρ2), ent˜ao estas

representa¸c˜oes s˜ao conjugadas em PU(2, 1)?

Nas pr´oximas se¸c˜oes, vamos demonstrar que, para superf´ıces de Riemann n˜ao compactas, mas de ´area finita, o espa¸co de Teichm¨uller n˜ao ´e conexo e que o invariante de Toledo n˜ao distingue as componentes conexas deste espa¸co.

Vamos considerar agora o caso em que Σ seja uma superf´ıcie Riemanniana n˜ao compacta de gˆenero g, com p > 0 pontos retirados e caracter´ıstica de Euler χ(Σ) = 2− 2g − p negativa. Para uma representa¸c˜ao qualquer ρ : π1(Σ) → PU(n, 1), nem sempre a integral

τ (ρ) = 1 2π

Z

Σ

f∗ω ´e finita. Vejamos um tal exemplo.

Exemplo: Seja G um grupo Fuchsiano, agindo no plano hiperb´olico D, que representa um toro Σ com um ponto retirado. Ent˜ao, G ´e um grupo livre gerado por dois elementos hiperb´olicos, digamos γ1 e γ2 e G

´e isomorfo ao grupo fundamental de Σ. Na linha complexa H1

C⊂ H2C, considere quatro linhas geod´esicas

completas, duas a duas disjuntas. ´E claro que existem elementos loxodrˆomicos h1 e h2 de PU(2, 1) de

modo que estes elementos identificam pares destas linhas geod´esicas. Deste modo, podemos definir uma representa¸c˜ao

ρ : G≃ π1(Σ) → PU(2, 1)

simplesmente definindo ρ(γ1) = h1 e ρ(γ2) = h2(veja a figura 5.1). Neste exemplo, para qualquer fun¸c˜ao

ρ-equivariante f : D→ H2 C, a integral τ (ρ, f ) = 1 2π Z Σ f∗ω ´e infinita. D ρ H1 C⊂ H2C γ1 γ2 h1 h2

Figura 5.1: Uma representa¸c˜ao com invariante de Toledo infinito

Deste exemplo, conclu´ımos ent˜ao que, para superf´ıcies n˜ao compactas Σ, alguma restri¸c˜ao sobre a representa¸c˜ao ρ deve ser adicionada, para se garantir a convergˆencia da integral que define o invariante de Toledo. A hip´otese natural a ser inclu´ıda ´e a de que esta representa¸c˜ao preserve o tipo de elemento.

Defini¸c˜ao 5.2.1 Seja G um grupo Fuchsiano, agindo no plano hiperb´olico D, de modo que o quociente

Σ = D

G seja uma superf´ıcie Riemanniana n˜ao compacta mas de ´area finita. Uma representa¸c˜ao ρ : G≃ π1(Σ) → PU(2, 1)

preserva o tipo de elemento quando γ ∈ G ´e parab´olico se, e somente se, ρ(γ) ´e parab´olico

Observe que uma tal representa¸c˜ao n˜ao possui n´ucleo muito grande, pois pelo menos os elementos parab´olicos n˜ao est˜ao no n´ucleo de ρ.

O nosso objetivo agora ´e demonstrar o seguinte teorema.

Teorema 5.2.4 Seja G um grupo Fuchsiano, agindo no plano hiperb´olico D, de modo que o quociente

Σ = D

G seja uma superf´ıcie Riemanniana de gˆenero g com p pontos retirados. Se ρ : G → PU(2, 1) ´e uma

representa¸c˜ao que preserva o tipo de elemento ent˜ao, a integral τ (ρ, f ) = 1

2π Z

Σ

f∗ω ´e limitada por

−2g + 2 − p ≤ τ(ρ, f) ≤ 2g − 2 + p

A demonstra¸c˜ao deste teorema utiliza a t´ecnica de cohomologia limitada de Gromov que ser´a apresen- tada nas pr´oximas se¸c˜oes.

5.3

Cohomologia limitada

Nesta se¸c˜ao, vamos relembrar as propriedades b´asicas da t´ecnica de Cohomologia limitada de Gromov. As referˆencias b´asicas deste assunto s˜ao [31], [9], [33] e [4].

5.3.1

Homologia

Sejam X um espa¸co topol´ogico e Hk(X, R) o k-´esimo grupo de homologia singular de X com coeficientes

reais. Tamb´em vamos denotar por C∗(X, R) o complexo de cadeias singulares, com coeficientes reais, de

X. Uma cadeia c ∈ C∗(X, R) ´e uma combina¸c˜ao linear finita Pi aiσi de simplexos singulares σi de X,

com coeficientes reais ai. A ℓ1-norma simplicial em C∗(X, R) ´e definida por

k c k = X

i

|ai|.

Se α∈ H(X, R) ´e um elemento do grupo de homologia de X, definimos a sua ℓ1-norma simplicial por

k α k = infc k c k ,

onde c percorre todos os ciclos de C(X, R) que representam α∈ H(X, R).

Para uma variedade topol´ogica fechada orient´avel V de dimens˜ao n, temos que Hn(V, Z) ≃ Z. A

classe fundamental de homologia para V ´e um gerador [V ]∈ Hn(V, Z) deste grupo c´ıclico. Neste caso,

o volume simplicial de V , k V k, ´e definido como a ℓ1-norma simplicial desta classe fundamental, isto

Para uma variedade n˜ao compacta, isto ´e, aberta, precisamos modificar um pouco o que foi feito acima a fim de definir o seu volume simplicial. Dizemos que um ciclo c =

X

i

aiσi ´e localmente finito se, para

qualquer compacto K ⊂ V , σi ∩ K 6= ∅ somente para uma quantidade finita de simplexos singulares

σi. A classe fundamental de V , denotada por [V ], ´e um tal ciclo localmente finito, e pode ent˜ao, ser

representado por c =

X

i

aiσi. ´E claro que a ℓ1-norma simplicial deste ciclo k c k= ∞

X

i

|ai| pode ser

infinita. O volume simplicial de V ´e definido como a ℓ1-norma simplicial desta classe fundamental, que

tamb´em pode ser infinito.

Os seguintes exemplos e teoremas s˜ao importantes nesta teoria.

Exemplo 1: [31, p´agina 9] Seja Σ uma superf´ıcie de Riemann compacta de gˆenero g > 1, caracter´ıstica de Euler χ(Σ) = 2− 2g < 0 e curvatura constante -1. Ent˜ao, o volume simplicial de Σ ´e

k Σ k = 2|χ(Σ)| = 4g − 4.

Teorema 5.3.1 [31, p´agina 11] Seja V uma variedade n-dimensional hiperb´olica completa de volume finito. Ent˜ao, o volume simplical de V ´e dado por

k V k = R1

nvolume(V ),

sendo que Rndenota o volume de um n-simplexo ideal no espa¸co hiperb´olico real HnR, com todos os v´ertices

no infinito.

Como um corol´ario deste teorema, podemos enunciar o seguinte resultado.

Corol´ario 5.3.1 Seja Σ uma superf´ıcie de Riemann completa de ´area finita e curvatura constante -1. Digamos que Σ tenha gˆenero g e p pontos retirados de modo que χ(Σ) = 2− 2g − p < 0. Ent˜ao, o volume

simplicial de Σ ´e

k Σ k = π1 ´area(Σ) = −2 χ(Σ) = −4 + 4g + 2p.

Esta ´ultima igualdade segue do teorema de Gauss-Bonnet, uma vez que Σ possui curvatura constante -1.

5.3.2

Cohomologia

Sejam X um espa¸co topol´ogico e Hk(X, R) o k-´esimo grupo de cohomologia singular de X com coeficientes reais. Tamb´em vamos denotar por C∗(X, R) o complexo de cocadeias singulares, com coeficientes reais,

de X. Agora, dada uma cocadeia c∈ Ck(X, R), definimos a sua ℓ-norma simplicial por

k c k = sup{ |c(σ)| onde σ : ∆k→ X ´e um k − simplexo singular em X }

´

E claro que este n´umero pode ser infinito. Assim, c ´e chamada de limitada sek c k< ∞. Para uma classe de cohomologia β∈ Hk(X, R), definimos a sua ℓ-norma simplicial por

k β k = inf{ k c k onde c ∈ Ck(X, R) ´e uma cocadeia representando β} Esta classe de cohomologia ´e limitada sek β k< ∞.

5.3.3

Cocadeias geod´esicas

Seja G um grupo Fuchsiano agindo livremente no disco hiperb´olico D tal que Σ = D

G seja uma su- perf´ıcie de Riemann n˜ao necessariamente compacta, mas de ´area finita. Tamb´em, vamos denotar por πΣ : D → Σ a proje¸c˜ao canˆonica. Vamos definir os grupos de cohomologia de Σ de uma maneira

diferente. Para k = 0, 1, 2, G atua no produto D× . . . × D, de k + 1 c´opias de D, do seguinte modo γ(x0, . . . , xk) = (γx0, . . . , γxk). O quociente

Dk+1

G est´a em correspondˆencia biun´ıvoca com o conjunto de k-simplexos singulares geod´esicos em Σ. Isto ´e, cada ponto [x0, . . . , xk]∈

Dk+1

G define k + 1 pontos em Σ,Σ(x0), . . . , πΣ(xk)}, que por sua vez, definem um k-simplexo singular geod´esico ligando estes pontos

por geod´esicas em Σ. Definimos ent˜ao, o conjunto de k-cocadeias geod´esicas de Σ por Cgeok (Σ, R) = { c : Dk+1→ R tal que c(x0, . . . , xk) = c(γx0, . . . , γxk), ∀ γ ∈ G }.

Este ´e, precisamente, o conjunto das fun¸c˜oes reais definidas em Dk+1invariantes pela a¸c˜ao de G.

Naturalmente, toda k-cocadeia geod´esica c : Dk+1

→ R induz uma fun¸c˜ao c : D

k+1

G → R e, portanto, define uma fun¸c˜ao c : Σ× . . . × Σ → R, do produto de k + 1 c´opias de Σ em R. Neste sentido, uma k-cocadeia geod´esica em Σ nada mais ´e do que uma fun¸c˜ao c : Σ× . . . × Σ → R que associa a cada conjunto de k + 1 pontos de Σ um n´umero real.

O operador de cofronteira de Σ

δk: Cgeok (Σ, R) −→ Cgeok+1(Σ, R)

´e definido por: se c∈ Ck

geo(Σ, R) e (p0, . . . , pk, pk+1) s˜ao k + 2 pontos em Σ, ent˜ao

δkc(p0, . . . , pk, pk+1) = k+1

X

i=0

(−1)ic(p0, p1, . . . , bpi, . . . , pk, pk+1).

Como sempre, a composi¸c˜ao δk◦ δk−1 ´e o homomorfismo trivial. Assim podemos definir o grupo de

cohomologia geod´esico de Σ por Hgeok (Σ, R) =

Ker δk

Im δk−1 =

k− cociclos geod´esicos k− cobordos geod´esicos.

O pr´oximo teorema, que afirma que o grupo de cohomologia geod´esico computa a cohomologia singular da superf´ıcie Σ, ´e devido a Gromov. Uma demonstra¸c˜ao pode ser encontrada em [4, lema C.4.3, p´agina 106].

Teorema 5.3.2 Para todo k≥ 0, Hk

geo(Σ, R) ≃ Hk(Σ, R).

5.3.4

Cociclo de Toledo

Um dos mais importantes exemplos de cocadeias geod´esicas ´e o cociclo de Toledo, que ser´a definido nesta se¸c˜ao.

Seja Σ uma superf´ıcie de Riemann n˜ao necessariamente compacta, D o recobrimento universal de Σ e G≃ π1(Σ) um grupo Fuchsiano agindo livremente em D tal que Σ =

D

G. Seja ρ : G≃ π1(Σ)→ PU(n, 1) uma representa¸c˜ao qualquer, e seja f : D→ Hn

C uma fun¸c˜ao ρ-equivariante qualquer que induz ρ, isto ´e,

O cociclo de Toledo c(ρ, f ) ∈ C2

geo(Σ, R) ´e a 2-cocadeia geod´esica de Σ definida pela f´ormula

c(ρ, f )(p0, p1, p2) =

Z

(f x0,f x1f x2)

ω. Nesta equa¸c˜ao, ω ´e a forma de K¨ahler de Hn

C, p0, p1 e p2 s˜ao trˆes pontos quaisquer em Σ, e x0, x1 e x2

s˜ao levantamentos destes pontos, em D× D × D, relativos `a composi¸c˜ao: D× D × D −→ D× D × D

G −→ Σ × Σ × Σ. A integral acima ´e calculada sobre qualquer 2-simplexo em Hn

Ccom v´ertices f x0, f x1e f x2e cuja fronteira

´e formada por geod´esicas conectando estes pontos. Como ω ´e uma forma exata, esta integral depende apenas da fronteira deste 2-simplexo: linhas geod´esicas conectando estes pontos. Mais ainda, sendo f ρ-equivariante, c(ρ, f ) n˜ao depende da escolha do levantamento (x0, x1, x2).

O pr´oximo teorema, veja [20, p´agina 218], apresenta uma rela¸c˜ao entre o cociclo de Toledo e o invariante angular de Cartan.

Teorema 5.3.3 Sejam p0, p1 e p2 trˆes pontos distintos em HnC∪ ∂H n

C. Ent˜ao,

Z

(p0,p1,p2)

ω = 2 A(p0, p1, p2) ,

onde a integral ´e calculada sobre qualquer 2-simplexo (p0, p1, p2) com v´ertices p0, p1 e p2 e com fronteira

formada por geod´esicas conectando estes pontos.

Como o invariante angular de Cartan ´e limitado por −π/2 ≤ A ≤ π/2, obtemos o seguinte corol´ario do teorema anterior.

Corol´ario 5.3.2 O cociclo de Toledo representa uma classe de cohomologia limitada de Σ e sua ℓ-norma

simplicial satisfaz a desigualdade

k c(ρ, f) k ≤ π.

O pr´oximo resultado ´e o teorema principal da t´ecnica de cohomologia limitada de Gromov [31]. Este teorema nos permite calcular o invariante de Toledo de uma representa¸c˜ao ρ : π1(Σ)→ PU(n, 1).

Teorema 5.3.4 Se [Σ] denota a classe fundamental de homologia de Σ, ent˜ao para qualquer representa¸c˜ao

ρ : π1(Σ)→ PU(n, 1) e qualquer fun¸c˜ao ρ-equivariante f : D → HnC, o invariante de Toledo de ρ pode ser

calculado como

τ (ρ) = 1

2πc(ρ, f ) [Σ].

Finalmente, para o caso de uma superf´ıcie de Riemann n˜ao compacta de ´area finita, atrav´es deste teorema, vamos poder exibir um limitante superior e um limitante inferior para o invariante de Toledo de uma representa¸c˜ao ρ : π1(Σ)→ PU(n, 1) que preserva o tipo de elemento. Mas, para isto, vamos precisar

Lema 5.3.1 Seja G um grupo Fuchsiano que uniformiza uma superf´ıcie Σ = D

G de gˆenero g, p > 0 pontos

retirados e caracteristica de Euler χ(Σ) = 2− 2g − p negativa. Ent˜ao, existe um dom´ınio fundamental

∆, para G, formado por uma uni˜ao de triˆangulos ideais em D. Mais precisamente, ∆ ´e limitado por um poligono geod´esico com ℓ = 4g + 2(p− 1) lados e com todos os v´ertices na fronteira do plano hiperb´olico D. Assim, ∆ ´e formado por

T = ℓ − 2 = 4g + 2p − 4 = 2|χ(Σ)|

triˆangulos geod´esicos ideais.

Dem.: Considere um poligono geod´esico ideal ∆∗ em D com ℓ = 4g + 2(p− 1) lados e com todos os

v´ertices na fronteira de D. Vamos descrever uma identifica¸c˜ao de lados de ∆∗ de modo que: o grupo

G∗ gerado por estes identificadores de lados seja discreto, ∆seja um dom´ınio fundamental para G, e

Σ∗= D

G∗ seja uma superf´ıcie Riemanniana de gˆenero g e com p pontos retirados.

Para isto, seguindo um sentido de percurso na fronteira do plano hiperb´olico D, nomeie os lados consecutivos de ∆∗ da seguinte maneira:

• l1, k1, l′1, k1′, . . . , ln, kn, l′n, kn′, para n = 1, 2, . . . , g. Observe que estes lados somente devem ser

considerados se g > 0.

• h1, h′1, . . . , hn, h′n, para n = 1, 2, . . . , (p−1). Estes lados somente devem ser considerados se p ≥ 2.

Observe que, na descri¸c˜ao acima, est˜ao sendo nomeados todos os ℓ = 4g + 2(p− 1) lados de ∆∗.

ln kn l′ n k′ n hn h′n

Figura 5.2: Esquema de identifica¸c˜ao de lados do poligono ideal ∆∗.

Agora vamos descrever uma identifica¸c˜ao para os lados de ∆∗. Isto deve ser feito da seguinte maneira:

(veja a figura 5.2)

• para n = 1, 2, . . . , g o lado ln´e identificado com o lado l′n por um elemento hiperb´olico, e o lado kn

´e identificado com o lado k′

n tamb´em por um elemento hiperb´olico. Observe que estas identifica¸c˜oes

somente devem ser consideradas se g > 0.

• para n = 1, 2, . . . , (p − 1) o lado hn ´e identificado com h′n por um elemento parab´olico que fixa o

v´ertice comum, na fronteira de D, a estes dois lados. Esta identifica¸c˜ao somente deve ser considerada se p≥ 2.

Vamos denotar por G∗ o grupo gerado por estes identificadores de lados. Pelo teorema de Poincar´e

[41, se¸c˜ao IV.H], vemos que G∗´e discreto, e que ∆limita um poligono fundamental para Gem D. Mais

ainda, os v´ertices de ∆∗ ao pontos fixos de elementos parab´olicos de G. Desta constru¸c˜ao tamb´em ´e

claro que ∆∗ uniformiza uma superf´ıcie Riemanniana Σ= D

G∗ de gˆenero g e com p pontos retirados.

´

E claro que G∗ ≃ π1) e G ≃ π1(Σ).

A figura 5.3 representa este dom´ınio fundamental para o caso g = 2 e p = 3. J´a a figura 5.4 representa este dom´ınio para o caso g = 1 e p = 1 e para o caso g = 0 e p = 5. Por outro lado, tamb´em na figura 5.3, vemos uma indica¸c˜ao de uma triˆangula¸c˜ao de um poligono geod´esico ideal de ℓ lados por T = ℓ− 2 triˆangulos geod´esicos ideais.

Como as superf´ıcies de Riemann Σ e Σ∗possuem a mesma assinatura (g, p), existe um homeomorfismo

quase conforme h : Σ∗→ Σ, entre estas superf´ıcies, que induz um isomorfismo ϕ : G→ G que preserva o

tipo de elementos (veja, por exemplo, [38]). Sendo o homeomorfismo h quase conforme, um levantamento eh : D → D, de h ao recobrimento universal, ´e ϕ-equivariante e pode ser estendido, a um homeomorfismo, at´e a fronteira de D. Assim, fica claro que eh(∆∗) ´e um dom´ınio fundamental para G limitado por 4g + 2(p−1)

curvas tangentes em ∂D. Agora, mantendo os pontos finais destas curvas, trocamos cada uma destas curvas por geod´esicas completas e consideramos o poligono ideal ∆, limitado por estas geod´esicas, e com todos os v´ertices na fronteira do plano hiperb´olico. Deste modo, ∆ tamb´em possui ℓ = 4g + 2(p− 1) lados. Aplicando o Teorema de Poincar´e [41], vemos que este poligono ∆ ´e um dom´ınio fundamental para o grupo Fuchsiano G, limitado por 4g + 2(p− 1) geod´esicas tangentes na ∂D. Como ilustrado na figura 5.3, este poligono ∆ ´e formado por T = ℓ− 2 = 4g + 2p − 4 = 2|χ(Σ)| triˆangulos ideais no plano hiperb´olico. Mais ainda, os v´ertices de ∆ s˜ao pontos fixos de elementos parab´olicos de G.

Figura 5.3: A figura da esquerda ilustra o dom´ınio fundamental ∆∗para o grupo que uniformiza a superf´ıcie

de gˆenero g = 2 e p = 3 pontos retirados. A figura da direita ilustra como um poligono ideal geod´esico ∆∗com ℓ lados pode ser formado por T = ℓ− 2 triˆangulos geod´esicos ideais em D.

Agora vamos demonstrar que o invariante de Toledo, de qualquer representa¸c˜ao ρ : G→ PU(n, 1), que preserva o tipo de elemento, de um grupo Fuchsiano livre de tors˜ao e com elementos parab´olicos ´e limitado.

Figura 5.4: Dom´ınios fundamentais ∆∗ para os grupos que uniformizam a superf´ıcie de gˆenero g = 1 e

p = 1 ponto retirado e a superf´ıcie de gˆenero g = 0 e p = 5 pontos retirados.

Teorema 5.3.5 Seja G um grupo Fuchsiano que uniformiza uma superf´ıcie Σ = D

G de gˆenero g, p > 0

pontos retirados e caracter´ıstica de Euler χ(Σ) = 2− 2g − p negativa. Para qualquer representa¸c˜ao que preserva o tipo de elemento ρ : G→ PU(n, 1), tem-se que

|τ(ρ)| ≤ |χ(Σ)| = 2g − 2 + p.

Dem.: Pelo lema anterior, sabemos que G possui um dom´ınio fundamental ∆ limitado por um poligono ideal geod´esico com ℓ = 4g + 2(p− 1) lados e com todos os v´ertices na fronteira do plano hiperb´olico. Isto implica que ∆ ´e formado por T = 2|χ(Σ)| triˆangulos ideais, com todos os v´ertices na fronteira de D. Vamos denotar cada um destes triˆangulo ideais por ∆i, ou seja,

∆ =

T

[

i=1

∆i,

e vamos denotar por ai, bi e ci os v´ertices, na fronteira de D, de ∆i. Mais ainda, seguindo um sentido

de percurso na fronteira de D, vamos nomear os lados consecutivos de ∆ como l1, l2, . . . , lℓ. Do mesmo

modo, vamos chamar, consecutivamente, os v´ertices de ∆ como v1, v2, . . . , vℓ.

Vamos construir agora, explicitamente, um fun¸c˜ao ρ-equivariante f : D→ Hn

Cque ser´a utilizada para

estimar os limitantes do invariante de Toledo da representa¸c˜ao ρ : G→ PU(n, 1).

O dom´ınio fundamental ∆ para G possui identificadores de lados g1, g2, . . . , gkque geram G (k = ℓ/2).

Estes geradores dividem o conjunto de v´ertices de ∆ em classes de equivalˆencia de acordo com os iden- tificadores de lados g1, g2, . . . , gk. Pelo Teorema de Poincar´e, os elementos c´ıclicos correspondentes a

estas classes s˜ao parab´olicos. Sejam p1, p2, . . . , pℓ elementos parab´olicos de G tendo, respectivamente,

v1, v2, . . . , vℓ como pontos fixos.

Como a representa¸c˜ao ρ : G→ PU(n, 1) preserva o tipo de elemento, temos que as seguintes aplica¸c˜oes s˜ao elementos parab´olicos em PU(n, 1): p∗

1= ρ(p1), . . . , p∗ℓ = ρ(pℓ). Sejam v1∗, v2∗, . . . , v∗ℓ os respectivos

pontos fixos destas aplica¸c˜oes (todos eles pertencem `a fronteira do espa¸co hiperb´olico complexo). Observe tamb´em que o grupo G∗= ρ(G) ´e gerado por g

1= ρ(g1), . . . , gk∗= ρ(gk).

Apesar da fun¸c˜ao ρ-equivariante f : D→ Hn

C, a ser construida, n˜ao estar definida na fronteira do plano

´

E importante observar que, no conjunto de v´ertices de ∆, esta fun¸c˜ao f ´e ρ-equivariante. Isto significa que se vn ´e um v´ertice de ∆ e se g ∈ G, ent˜ao f(g(vn)) = ρ(g) f (vn), para n = 1, 2, . . . , ℓ. De fato,