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Grupos escolares e escolas isoladas em expansão

Diferenças e similitudes na organização da escola primária

3.1 Escolas primárias paulistas

3.2.3 Grupos escolares e escolas isoladas em expansão

Ante a urgência de criar escolas apropriadas, era imprescindível organizar um sistema público de educação, de uma escola mais condizente com os propósitos

505 PARANÁ, 1927, p. 204–5. 506 PARANÁ, 1927, p. 205. 507 PARANÁ, 1927, p. 206. 508 PARANÁ, 1927, p. 204–7.

declarados de progresso e modernização republicana. Daí a adoção dos grupos escolares como ruptura do modelo “antigo” para o “novo”, do “arcaico” para o “moderno”, “dos pardieiros para os palácios”.509 A criação dos grupos escolares constituiria renovação pedagógica. Como símbolo e expoente republicano, o grupo escolar é edificado no Paraná pelo decreto 263, de 1903.510 No RN, os primeiros se constituíram em 1908. Segundo Araujo, “Quando a escolarização primária veio se efetivando em diferentes compassos nos diferentes países, bem como no contexto brasileiro, no que tange a este a primeira metade do século XIX brasileiro se ocupou da unidade nacional do ponto de vista político”.511

O grupo escolar surgiu em São Paulo, em 1893, no bojo do projeto de modernização do país e de civilização das camadas sociais como modelo educacional que, aos poucos, difundiu-se país afora — no dizer de Rosa de F. Souza, foi “[...] o modelo preponderante de escola primária no Brasil”.512 Esse fato foi confirmado em mensagem de Francisco Xavier da Silva, onde se lê que os grupos projetados para áreas urbanas e centrais de todo o país se faziam presente no solo paranaense para crianças em idade escolar.

Ao mesmo tempo, ancorada na reforma dos edifícios, dos materiais e dos professores, a escola graduada conviveu com a isolada nos três estados em estudo como espaço necessário de ensino primário. No PR, nos primeiros anos do século XX, a experiência de implantação dos grupos escolares como instrumento de renovação pedagógica não havia sido levada a cabo, logo a escola isolada e as casas escolares simples significavam mais que uma opção de atendimento a uma parte da população do interior: eram a forma predominante de atendimento escolar. Gisele de Souza endossa essa ideia ao dizer que “Constatou-se, na experiência paranaense no decorrer das duas primeiras décadas do século passado, o funcionamento dos grupos escolares paralelamente às escolas isoladas, às escolas ambulantes, aos jardins-de-infância”.513 Apenas em certos momentos predominou um tipo. Esse quadro se mostra nos dados das tabelas a seguir.

Em mensagem de 1902 referente a 1901, o presidente Francisco Xavier da Silva514 diz que os grupos escolares estavam provando suas vantagens sobre as escolas isoladas. Como estas são intuitivas, aqueles se sobressaem pela facilidade de fiscalização — constante e diária; daí serem vistos como instituição proveitosa. Os da capital tiveram acrescida sua capacidade com a criação de classes, instaladas após algumas obras de adaptação arquitetônica. O número total de

509 FARI A FI LHO, 2000, p. 21.

510 PARANÁ. Decreto 263, de 22 de outubro de 1903. Regimento interno das escolas públicas. In: ______.

Leis e decretos do estado. Curitiba: Typ. d’A República, 19 03, p. 92–102.

511 ARAUJO, 2006, p.235–6. 512 SOUZA, 1998, p. 17. 513 SOUZA, 2004, p. 117.

514 PARANÁ. Conselho Legislativo. Mensagem do presidente Francisco Xavier da Silva 1º de fevereiro de

salas novas chegou a 26, aptas a comportar 1.170 crianças. (Só o Grupo Escolar Xavier da Silva, em um único período, podia comportar mais de 675 alunos.)515

TABELA 18

Número de grupos escolares e matrículas no Paraná— 1919–29516

A N O GR U P O S E S C O LA R E S M A TR ÍC U LA S E M GR U P O S E S C O LA R E S M A TR ÍC U LA S E M E S C O LA S P R IM ÁR IA S C R E S C IM E N TO D AS M A TR ÍC U L A S 1919517 23 25.433 1921 27 — 40.469 37,15%518 1922 27 8.594 44.842519 9,75% 1924 35 12.322 50.751 11,64% 1925 36 11.377 53.547 5,22% 1926 — 12.085 59.307 9,71% 1927520 50 14.238521 66.472 10,77% 1928522 16.769 71.544 7,08% 1929523 17.004 81.036 11,71% TABELA 19

Número de escolas isoladas no Paraná (1921–29)524

A N O E S C O LA S IS O L A D A S M A TR ÍC U LA S C R E S C IM E N TO M A TR ÍC U L A 1921 459 22.975525 1922 507 21.803 –5,37% 1924 529 26.743 18,47% 1925 679 29.231 8,51% 1926 704 32.631 10,41% 1927526 915 37.791 13,65% 1928527 37.174 –1,65% 1929528 1.297 45.255 17,85%

515 PARANÁ. Conselho Legislativo. Mensagem do presidente Caetano Munhoz da Rocha de 1º de fevereiro de

1 9 2 1. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 94.

516 Fonte: dados extraídos de mensagens de presidentes do Paraná (1890–1930) disponíveis em:

<http://www.crl.edu.brazil.br>.

517 A mensagem de 1920, que faz referência a 1919, apresenta o número de 573 escolas — dentre isoladas e

reunidas — e 23 grupos escolares. PARANÁ. Conselho Legislativo. Mensagem do presidente Affonso Alves de

Camargo de 1º de fevereiro de 1 9 2 0. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010,

p. 32. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010.

518 Total de alunos de 1919 e 1921 (25.433 - 40.469= 15 .036 x 100) dividido por 40.469 = 37,15%. 519 PARANÁ. Conselho Legislativo. Mensagem do presidente Caetano Munhoz da Rocha de 1º de fevereiro de

1 9 2 3. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 125.

520 PARANÁ, 1928, p. 259. 521 PARANÁ, 1928, p. 304. 522 PARANÁ, 1929, p. 156. 523 PARANÁ, 1930, p. 50.

524 Fonte: dados oriundos de mensagens dos presidentes do Paraná (1890–1930). Disponíveis em:

<http://www.crl.edu.bazil.br>.

525 Total do número de matrículas de 1921 e 1922 (22.975 – 21.803 x 100 = 117.200) dividido por 21.803 = 5,37%. 526 PARANÁ, 1928, p. 304.

527 PARANÁ, 1930, p. 37. 528 PARANÁ, 1930, p. 32–7.

Em 1921, funcionavam 27 grupos, que reuniam a matrícula geral das escolas públicas — 30.805 —, mais as crianças matriculadas nas particulares — 9.664; noutros termos, reuniam ao todo 40.469 matrículas. Mensagem de Caetano Munhoz diz que “[...] os grupos da Capital, em número de 11 acusaram a matrícula de 3.556 alunos, cabendo aos do interior, em número de 16, a matrícula de 4.282, o que perfaz o total de 8.838”.529 Como se pode depreender, o número real seria 7.838 matriculados, e não 8.838.

Em 1922, 34.274 alunos matriculados nas escolas primárias representavam o potencial educacional da educação pública. A capital respondia por 8.189; o interior, por 26.085. Esses números, mais o total de matrículas de escolas particulares, somavam 44.842 alunos no geral. Funcionavam no estado 459 escolas isoladas — 118 subvencionadas pela União; assim como 27 grupos escolares — os da capital matricularam 4.312, enquanto nos do interior a matrícula foi de 4.282. Acrescente-se a esse quadro a instalação do grupo de S. Matheus, que ampliou o total de classes em 19.530 A média geral da matrícula foi de 43 alunos. Segundo mensagem de Caetano Munhoz, as estatísticas sobre o funcionamento e a criação dos grupos escolares e de matrículas de 1923 demonstravam que as escolas estaduais matricularam 36.893 alunos — aumento de 2.619 ante o total de 1922: 34.274; que funcionaram 605 escolas isoladas e 27 grupos escolares, com 198 classes; e que o total de unidades escolares foi 803 — cabendo a cada uma a média de 45 alunos, superior à média de 1922 em dois alunos por unidade.531 Acrescentando-se a esse total os alunos matriculados nas escolas particulares — 11.569 —, obtêm-se 48.462. Para Gisele de Souza, “[...] a porcentagem de unidades escolares que funcionaram como escolas isoladas era de 75% do total, um valor expressivo”.532

A organização de grupos escolares não supunha, necessariamente, construir prédios, mas sim reorganizar edifícios para funcionar como tal e, em outras condições, instalar novos estabelecimentos. Ainda assim, em 1924, obtiveram matrícula de 5.984 alunos na capital; no interior, foram 6.338. Funcionavam 529 escolas isoladas no estado — 71 regidas por professores normalistas, 138 por professores efetivos, 52 por provisórios, 133 por subvencionados federais, 135 por subvencionados do estado. Dessas escolas, segundo

529 PARANÁ. Conselho Legislativo. Mensagem do presidente Caetano Munhoz da Rocha de 1º de fevereiro de

1 9 2 2. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 87.

530 PARANÁ. Conselho Legislativo. Mensagem do presidente Caetano Munhoz da Rocha de 1º de fevereiro de

1 9 2 3. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 129.

531 PARANÁ. Conselho Legislativo. Mensagem do presidente Caetano Munhoz da Rocha de 1º de fevereiro de

1 9 2 4. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 89–90. Disponível em:

<http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010.

mensagem de presidente, 61 deixaram de funcionar até o fim de 1924, restando 468 onde ministraram aulas até a conclusão dos trabalhos.533

As escolas isoladas se constituíam em números superiores ao dos grupos escolares. Em 1922, havia 27 destes — que matricularam 8.594 alunos — e 507 daquelas — que matricularam 21.803. Em 1924, o número de grupos somava 35, com matrícula de 12.322 alunos; o de as escolas isoladas, 529 — com matrícula de 26.743 alunos (diferença de 14.421). Em 1925, eram 679 escolas isoladas ante 36 grupos escolares, enquanto o número de matrícula era de 11.377 nestes e de 29.231 naquelas — diferença de 17.854. Esse movimento foi crescente para as escolas isoladas em todos os anos, a ponto de chegar, em 1929, a 1.297 unidades e 45.255 matrículas — quase o triplo do que os grupos escolares haviam matriculado: 17.004 alunos.

Dito isso, os dados relativos ao PR mostram que de 1920 a 1924 aumentou o número de grupos escolares (de 27 em 1921 para 35 em 1924). A matrícula de 8.594 alunos em 1922 chegou a 12.322 em 1924 — aumento de 30,25%. (No período 1922–9, o acréscimo foi de 49,45%.) Embora tenha havido, nos grupos e nas escolas isoladas, um aumento no número de matriculados e escolas em todos os anos, o maior número de alunos estava nas isoladas; mas houve movimentação em todos os níveis primários. E é provável que em dado período tenha predominado determinado tipo de escola; mas a predominância das isoladas se impôs, sobretudo em número de matriculados e unidades.

Em SP, a circulação discente entre escolas reunidas, isoladas e grupos escolares se mostrou maior pelo número de alunos destes, embora as isoladas prevalecessem em número de unidades. Talvez porque o esforço de expansão do ensino elementar estivesse centrado na quantidade para ampliar o número de matrículas, que — é provável — também orientaram as políticas educacionais nos três estados em estudo. É claro: nem sempre o número de matrículas equivale integralmente ao número de frequentes, tampouco serve para afirmar aumento no número de crianças alfabetizadas.