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Organização escolar e expansão educacional: escolas reunidas e grupos escolares As mudanças prescritas pela lei 1.750 (reforma Sampaio Dória) afetaram as escolas

Diferenças e similitudes na organização da escola primária

3.1 Escolas primárias paulistas

3.1.1 Organização escolar e expansão educacional: escolas reunidas e grupos escolares As mudanças prescritas pela lei 1.750 (reforma Sampaio Dória) afetaram as escolas

reunidas e os grupos escolares. A lei restringiu o ensino primário a dois anos uniformemente e ampliou a idade escolar obrigatória da faixa etária 7–12 anos para 9–10 anos. Essas modificações pretendiam manter o mesmo número de professores e a mesma despesa, além de expandir a oferta de vagas. Como diz Costa, “Ao diminuir a quantidade de educação ofertada e postergar a idade de ingresso ao primário, pretendia-se intensificar o fluxo de alfabetização — a mesma escola teria capacidade para receber aumentados contingentes de analfabetos”.405 Contudo, a prescrição legal não se efetivou, porque a lei reformista foi revogada pelo decreto 3.858, de 11 de junho de 1925.406 Pelas leis 1.999, de 19 de dezembro de 1924, e 2.028, de 30 de dezembro de 1924, que o art. 18 do decreto 3.858 reitera, o ensino primário seria obrigatório e gratuito para crianças de ambos os sexos na faixa etária de “[...] 7 a 12 anos de idade”. A lei 2.095, de 24 de dezembro de 1925, aprovou o decreto 3.858, expedido pelo Poder Executivo e que reformou a instrução pública.

404 SOUZA, 2012, p. 56.

405 COST A, 1983, p. 121.

406 SÃO P AULO. Decreto 3. 858, de 11 de junho de 1925. Disponível em:

<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1925%20n.3.858.%2011.06.1925.htm>. Acesso em: 27 mar. 2012.

A criação dos grupos escolares incorporou o pressuposto da reunião das escolas, “[...] constituindo-se em um novo tipo de estabelecimento de ensino primário, cuja instalação e funcionamento dependiam de vários critérios como o número de alunos no raio da obrigatoriedade escolar”.407 O decreto 3.858 prescreveu em seu art. 25 que “Serão instalados grupos escolares onde houver, no mínimo, 300 crianças matriculáveis, dentro do raio de dois quilômetros”.

Esses estabelecimentos apresentavam características diferentes em sua organização: edifícios divididos em várias salas de aulas, um professor — habilitado — para cada sala, porteiro e espaço para acomodar, ao menos, quatro classes, que correspondiam a cada ano do curso elementar. Tudo sob a supervisão do diretor. Em mensagem, o presidente Carlos de Campos diz que

As escolas reunidas são estabelecimentos que no geral precedem à organização dos grupos. Três ou mais escolas instaladas em um raio de dois kilometros passam a funcionar em um mesmo edifício, sob a direção de um dos professores para esse fim designado. O ensino é, por esse modo, distribuído com maiores probabilidades de êxito, aproximando-se da uniformidade desejada que é somente conseguida nos grupos.408

Quando começaram a ser construídas, as escolas reunidas não formavam um tipo escolar próprio, diferentemente das isoladas e dos grupos escolares; tampouco se diferenciavam, num primeiro momento, das escolas isoladas. O que as distinguia eram o agrupamento das escolas reunidas num mesmo local e a desobrigação de os mestres pagarem aluguel. Embora ocupassem o mesmo espaço físico, eram independentes, a ponto de sua organização ter preceitos pedagógicos distintos; também a direção era independente e procurava, cada uma a seu modo, ministrar os conhecimentos aos alunos e orientação aos professores. Mas aos poucos se impuseram no cenário paulista; sua estrutura se equiparou à dos grupos escolares. Para Antunha, “A rigor, a gênese de certos grupos escolares deu-se assim: as escolas isoladas de certo local agrupavam-se em um único prédio, juntando-se eventualmente a elas novas escolas especialmente criadas, formando-se uma Escola Reunida”.409 Não demorou até que constituíssem legalmente a estrutura de um grupo escolar de porte menor. A Tabela 13 apresenta o movimento das reunidas.

407 SOUZA, 2012, p. 57.

408 SÃO P AULO.Congresso Legislativo. Mensagem do presidente Carlos de Campos de 14 de julho de 1926.

Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 40.

TABELA 13

Escolas reunidas de São Paulo (1914–30)410

M AT RÍ CULAS ANO QUANT IDADE

Feminino Masculino Total AUM ENT OM AT RÍ CULAS DE 1914 11 — — 2.329 — 1916 12 1.189 1.172 2.361 1,35% 1918 31 2.801411 2.637 5.439 56,59 1919 39 — — 7.443 26,92% 1920 52 5.311 4.745 10.056 25,98% 1922 261 — — 53.178 81,08% 1924 370 — — 77.153 31,07% 1925 236 32.488 15.736 48.224 –59,98% 1927 217 23.084 17.237 40.321 –19,60% 1928 214 23.769 17.989 41.758 3,44% 1929 213 25.934 20.247 46.181 9,57% 1930 205 — — 37.868 –21,95%

No dizer de Rosa de F. Souza, nos anos 20 “[...] cresceu o número das escolas reunidas instaladas nos pequenos núcleos urbanos e, principalmente, nos distritos de paz”.412 Em mensagem, o presidente Altino Arantes413 afirmou que esse número passou de 15 em 1917 a 31 em 1918 — mais que o dobro — e que 149 tiveram classes. As matrículas em 1917 somaram 3.068; em 1919, o número de escolas reunidas chegou a 39, com 245 classes e 7.443 alunos matriculados.414

Durante 1919, funcionaram em vários municípios 423 escolas custeadas pelas respectivas câmaras municipais, com 15.246 alunos matriculados. As municipalidades gastaram 1.091:311$800 com tais escolas. Na capital havia, em 1919, 461 particulares; no interior, 864, as quais somavam 1.325. Algumas devem ter fechado, pois o governo disse que em 1920 funcionavam 421 na capital e 753 no interior — isto é, 1.174. Em relação a 1918,415 houve acréscimo de 236 dessas escolas e de 7.949 alunos.

À época da lei 1.750 (reforma Sampaio Dória), as escolas reunidas cresceram. Em 31 de dezembro de 1921, segundo mensagem do presidente Washington Luis Pereira de Sousa,416 havia 148 funcionando, com 667 classes; em 1922, funcionavam 261, com 1.195 classes e dois cursos, incluindo as noturnas: 21, com 88 classes. O número de matrículas em 1920 somava 10.056; em 1922, 53.178 — 81,08% a mais. Em 1924, atingiu 77.153, isto é,

410 Fonte: dados de mensagens dos presidentes de São Paulo — 1890–1930. Disponível em:

http://www.crl.edu/brazil. estatística escolar 1930>.

411 Sobre o número de alunos e alunas matriculados, ver: SOUZA, 2012, p. 58. 412 SOUZA, 2012, p. 57.

413 SÃO P AULO,1919, p. 9. 414 SÃO P AULO, 1920, p. 54. 415 SÃO P AULO, 1920, p. 55. 416 SÃOPAULO.Congresso Legislativo.

Mensagem do presidente de São Paulo Washington Luis Pereira de Sousa de 14 de julho de 1923. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 172.

cresceu 31,07% ante 1922 — o que equivale a sete vezes mais. Talvez por isso Rosa de F. Souza diga que “[...] a Reforma Sampaio Dória (1920–1924) priorizou as escolas reunidas”.417 Afinal, o número delas aumentou: de 52 em 1920 para 370 em 1924; assim como o número de matriculados. Daí se poder inferir que permaneceu estacionado o número de grupos escolares e escolas isoladas no estado; além disso, as matrículas chegaram a 1924 com indicativos próximos daqueles de escolas isoladas no mesmo ano: 79.254.

Em 1925, porém, houve redução matricular ante 1924: de 77.153 para 48.224. Com efeito, a partir de 1925 decresceu o número de escolas reunidas e matrícula: em 1924 havia 370 — com 77.153 matriculados; em 1925, 236 (diferença de 134), enquanto no número de matrículas a diferença foi de 2.101 a menos. A diminuição nessa quantidade continuou: em 1927, havia 217 escolas — 19 a menos que em 1925. O total de matrículas de 48.224 em 1925 caiu para 40.321 — 7.903 a menos. Em 1928, o total aumentou ante 1927, porém menos do que em 1929, quando chegou a 46.181 alunos.

Como se pode deduzir, de 1924 a 1930 o total de matrículas em escolas reunidas ficou 39.285 menor, talvez porque, no mesmo período, crescesse o número de grupos escolares e seus matriculados. Noutros termos, na hora de pôr os filhos para estudar, os pais passaram a preferir os grupos escolares, edificados como modelo exitoso de educação primária. Concebidos com uma organização que os distinguia das escolas reunidas e isoladas, podem ter suscitado mais credibilidade dos pais; sobretudo, daqueles que endossavam os “[...] opositores da reforma de 1920, [para os quais] a precariedade dessas escolas [as reunidas] não condizia com o desenvolvimento educacional do estado de São Paulo”.418

Se de início via-se a escola reunida como opção viável de escolarização pública — “[...] parecia, á primeira vista, que essa multiplicidade de escolas reunidas, com a organização aproximada da dos grupos [escolares], viria prestar relevantes serviços à disseminação e eficiência do ensino”; não demorou até que fossem vistas como “[...] inúteis, meras fontes de despesas [...]” — diria o presidente Carlos de Campos. Afora serem “Instaladas em prédios impróprios, com acomodações deficientes [...]”, distavam de pontos mais centrais, daí ser inacessíveis ao grosso da população escolar; isto é, à frequência discente regular. Como medida para “[...] pôr cobro a tal situação”, houve “[...] a dissolução de muitas [...], voltando

417 SOUZA, 2012, p. 52.

as respectivas unidades a funcionar isoladamente, em pontos onde melhor satisfizessem as necessidades do ensino”.419

Segundo mensagem do presidente Carlos de Campos, “As escolas reunidas, de 370 que eram, no começo do ano de 1924, [...] algumas das quais tem ainda que desaparecer, transformando- se em novos grupos escolares”.420 Com a anexação aos grupos escolares de escolas isoladas mais próximas destes e com matrícula reduzida, o número de matriculados nos grupos aumentou, como se vê na tabela a seguir. Enfim, cabe dizer que os grupos escolares eram mais apreciados como referência de educação primária, mesmo que, do ponto de vista da organização, as escolas reunidas se aproximassem deles (logo, poderiam ser relevante à população). Mas, a falta de recursos materiais, as instalações em locais inadequados e a inacessibilidade a uma parte expressiva da população sugerem que foram equívoco estimular a criação e o funcionamento das escolas reunidas.

TABELA 14

Grupos escolares e expansão de matrículas (1896–1929)421

A N O N. D E GR U P O S E S C O LA R E S N Ú M E R O D E M A TR IC U LA D O S A U M E N T O D A S M A TR ÍC U LA S 1896 29 — — 1898 — 9.474 — 1899 32 10.469422 9,50% 1900 45 15.280 31,48% 1904 62 20.689 26,14% 1906 72 24.536 15,67% 1907 76 25.498 3,77% 1908 81 28.172 9,49% 1909 96 35.765 21,23% 1910 103 54.804 34,74% 1912 115 71.642 23,50% 1913 129 76.221 6,00% 1914 147 88.199 13,58% 1916 161 94.852 7,01% 1917 170 99.057 4,24% 1918 176 101.129 2,04% 1919 187 111.135 9,00% 1920 195 120.527 7,79% 1921 197 115.614 –4,24% 1922 198 113.212 –2,12% 1923 199 93.716 –20,80% 1924 200 110.951 15,53% 1925 275 162.750 31,82% 1926 283 169.937 4,22% 1927 294 177.237 4,11% 1928 297 187.304 5,37% 1929 297 191.320 2,09%

419 SÃO P AULO. Congresso Legislativo. Mensagem do presidente de estado Carlos de Campos de 14 de

agosto de 1 9 2 5. Disponível em: <http://www.crl.edu.brazil.br>. Acesso em: 25 abr. 2010, p. 24–5.

420 SÃO P AULO, 1925, p. 26.

421 Fonte: dados provenientes de mensagens de presidentes de São Paulo no período 1890–1930 disponíveis

em: <http://www.crl.edu.brazil.br>.

422 Total de alunos matriculados em 1898 (9.474), menos em 1899 (10.469) = 995 x 100 dividido por 10.469