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Guia de Livros Didáticos: PNLD 2015: biologia: ensino médio

2 O LIVRO DIDÁTICO COMO POLÍTICA PÚBLICA E INSTRUMENTO DE DIFUSÃO

2.2 Sobre o PNLD 2015

2.2.2 Guia de Livros Didáticos: PNLD 2015: biologia: ensino médio

O Guia de Livros Didáticos: PNLD 2015: biologia: ensino médio foi lançado em 2014 e apresentava as nove coleções10: AMABIS; MARTHO, 2013; BIZZO, 2013; BRÖKELMAN, 2013; FAVARETTO, 2013; LINHARES e GEWANDSZNAJDER, 2013;

culturais e sociais da vida humana, principalmente os relativos a problemáticas das juventudes contemporâneas no Brasil.

Portanto, no ensino médio, a Biologia deve ser orientada para a compreensão da vida, como manifestação de sistemas organizados e integrados, em constante interação com o ambiente físico- químico. O estudo dessas interações envolve a compreensão da complexidade de condições ambientais, da organização interna e do modo de vida próprios das diferentes espécies e dos sistemas biológicos, bem como dos mecanismos que os perpetuam e modificam ao longo do tempo evolutivo. Neste contexto de valorização da compreensão da vida, a especificidade das relações estabelecidas pelos seres humanos com a natureza deve ser desenvolvida e valorizada. (BRASIL, 2015a, p. 52-53). O PNLD 2018 não é objeto de estudo desta tese.

10O edital do PNLD 2015 definiu dois tipos de obras didáticas: “Tipo 1: Obra Multimídia composta de

livros digitais e livros impressos” e “Tipo 2: Obra Impressa composta de livros impressos e PDF” (BRASIL, 2013a, p.1). Todas as coleções do PNLD 2015 de biologia são do tipo 1.

LOPES e ROSSO, 2013; MENDONÇA, 2013; SILVA JUNIOR, SASSON e CALDINI JÚNIOR, 2013; OSORIO, 2013. Como na edição anterior, o edital de convocação para o PNLD 2015 serviu de referência para algumas orientações e explicações oferecidas aos professores pelo Guia de Livros Didáticos: PNLD 2015: biologia: ensino médio (BRASIL, 2014a). Ali também foram apresentados os critérios de avaliação das obras didáticas, destacando-se para os temas tratados nesta tese dois pontos: se o LD de Biologia “auxilia a construção do conceito de biodiversidade para o entendimento e defesa da vida e a qualidade de vida humana” (BRASIL, 2014a, p.11), e se “propicia a relação dos conceitos de biologia com os de outras ciências para entender processos como a origem da vida e do universo, fluxo de energia, sustentabilidade dos ambientes naturais etc.” (BRASIL, 2014a, p.11).

Já em Conteúdos da Ficha de Avaliação Pedagógica havia um grau de detalhamento maior, passando de cinco para onze blocos de análise, em relação ao Guia anterior: A. Descrição da Coleção/Obra Impressa; B. Descrição da Coleção/Obra Digital; C. Respeito à Legislação, às Diretrizes e às Normas Oficiais Relativas ao Ensino Médio; D. Coerência e Adequação Metodológica; E. Correção dos Conceitos, Informações e Procedimentos; F. Construção da Cidadania e Convívio Social Republicano; G. Manual do Professor; H. Atividades, I. Imagens e Ilustrações; J. Projeto Gráfico-Editorial; e, K. Objetos Educacionais Digitais – OEDs (BRASIL, 2014a, p. 13 a 20). O incremento no detalhamento dos itens da Ficha de Avaliação pode ser visto também no conteúdo de cada um, como discutiremos a seguir.

Os dois primeiros blocos, A. Descrição da Coleção/Obra Impressa e B. Descrição da Coleção/Obra Digital tratam da apresentação das coleções nas duas formas possíveis, impressa e digital, ou seja, da estrutura física das coleções (BRASIL, 2014a, p. 13). Já o bloco C, Respeito à Legislação, às Diretrizes e às Normas Oficiais Relativas ao Ensino Médio, apresenta um rol de oito documentos legais que devem ser respeitados pelas obras. São eles (BRASIL, 2014a, p. 13-14):

C.01. Constituição da República Federativa do Brasil;

C.02. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), com as respectivas alterações introduzidas;

C.03. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);

C.04. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) (Res. 02/2012);

C.05. Parecer Conselho Nacional de Educação CEB nº 15, de 04/07/2000 sobre uso de imagens comerciais nos Livros Didáticos;

C.06. Parecer Conselho Nacional de Educação CNE/CP nº 03, de 10/03/2004 sobre as relações étnico-raciais e o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana;

C.07. Resolução Conselho Nacional de Educação CNE/CP nº 01 de 17/06/2004 sobre as relações étnico-raciais e o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana;

C.08. Parecer CNE/CP Nº 14 de 06 /06/2012- Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCNEA). (BRASIL, 2014a, p. 13-14).

Houve aqui um maior detalhamento do referencial jurídico, que já estava disponível na edição do PNLD 2012, e que no documento anterior se restringia a LDB, ECA e DCNEM, com a inclusão de “resoluções e pareceres do CNE”. Por outro lado, merece atenção o fato de que em Legislação e Cidadania no guia do PNLD 2012 os preceitos constitucionais de respeito ao “caráter laico e autônomo do ensino público” e a “diversidade de credo, de regionalidade, local de moradia, gênero, sexo etnia e classe social” são explicitados, enquanto no PNLD 2015 trata do respeito à Constituição Federal11 de maneira mais geral (BRASIL, 1998; BRASIL, 2013a, p. 40; BRASIL, 2014a, p. 13-14):

O bloco D, Coerência e Adequação Metodológica, inicia questionando se “há coerência entre a fundamentação teórico-metodológica proposta e o conjunto de textos, atividades, exercícios etc. que configuram o livro do aluno” (D.01), segue discutindo a coerência entre metodologia e objetivos educacionais propostos, para mais à frente tratar da contribuição da obra “para a compreensão das relações que se estabelecem entre os objetos de ensino-aprendizagem propostos e suas funções socioculturais” (D.07), a partir de onde reserva dois itens para tratar especificamente do ensino de biologia (BRASIL, 2014a, p. 14). Também na forma de pergunta, como os demais itens do bloco, o item seguinte reforça a ideia de funções socioculturais do LD tratando da relação entre a biologia e as outras áreas de Ciências da Natureza, e vai além: “Permite explorar a articulação dos conteúdos de Biologia com a área das Ciências da Natureza, com as demais áreas do conhecimento e com a realidade? (D.08) (BRASIL, 2014a, p. 15)”. Fechando o bloco, o nono item pergunta:

11 A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 8 de outubro de 1988, serviu de

referência para esta tese em todas as suas etapas, e foi consultada em diferentes versões impressas e eletrônicas ao longo desses anos. Optei por referir-me a ela como Brasil, 1988 e incluir nas

Referências a indicação da versão eletrônica mais recente utilizada, atualizada com a Emenda

D.09. Auxilia na construção de uma visão de que o conhecimento biológico e as teorias em Biologia se constituem em modelos explicativos, elaborados em determinados contextos sociais e culturais, superando a visão a-histórica de que a vida se estabelece como uma articulação mecânica de partes? (BRASIL, 2014a, p. 15). Esses três últimos itens do guia PNLD 2015 foram abordados de maneira já bastante clara pelo PNLD 2012, mas é possível perceber uma preocupação em separar a discussão das funções socioculturais do LD de biologia, da sua integração dentro da área de conhecimento e da articulação do conhecimento biológico com contextos sociais e culturais, reforçando o sentido histórico da construção do conhecimento sobre a vida. (BRASIL, 2014a, p. 14).

O quinto bloco, Correção dos Conceitos, Informações e Procedimentos, também é todo apresentado na forma de perguntas, como o anterior, e apresenta treze itens. O item E.04 questiona se do ponto de vista da abordagem teórico- metodológica dos LD de biologia possibilita, “como homens e mulheres”, reconhecer “formas pelas quais a Biologia está engendrada nas sociedades fazendo parte de suas culturas, seja influenciando a visão de mundo, seja participando da constituição de modos de existência humanas” e o item E.09 “auxilia a construção e o reconhecimento do conceito de biodiversidade como fundamental para o entendimento e defesa do fenômeno da vida?”, o que indica claramente que esse deve ser um dos temas estruturadores da discussão do conhecimento biológico (BRASIL, 2014a, p. 15). Estes itens já apontam para aquilo que será explicitado mais à frente sobre os desafios do ensino de biologia, a biodiversidade e as questões de gênero, entre outros.

É no sexto bloco, Construção da Cidadania e Convívio Social Republicano, que o balizamento temático das grandes questões sociais e políticas a serem observadas pelas obras:

F.01 Está isenta de estereótipos e preconceitos relativos à origem, condição socioeconômica, regional, étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, de idade ou de linguagem, assim como qualquer outra forma de discriminação ou de violação de direitos? (BRASIL, 2014a, p. 16).

Em seguida, “F. 02 Está isenta de doutrinação religiosa, política e/ou ideológica, que desrespeite o caráter laico e autônomo do ensino público?” (BRASIL, 2014a, p. 16). A afirmação do caráter laico e autônomo do ensino público que no PNLD 2012 era tratada no bloco Legislação e Cidadania é feita aqui, aparentemente, para sinalizar

que esses princípios estão mais conectados aos processos de formação da cidadania do que propriamente ao cumprimento da legislação.

O sétimo bloco trata do manual do professor que reafirma grande parte dos elementos já tratados nos itens anteriores, e é o maior deles com dezesseis itens, todos na forma de perguntas. O papel mediador do professor volta a ser abordado, mas a redação da edição anterior parece ser mais clara do que a do PNLD 2015. Compare-se:

5.9 Considera o papel mediador do(a) professor(a) como auxiliar na condução das atividades didáticas, numa perspectiva de rompimento com uma visão finalista e antropocêntrica do fenômeno biológico e que não apresente uma visão de ciência meramente empirista e indutivista. (BRASIL, 2011b, p.14).

Com:

G.11 O manual considera o papel mediador do(a) professor(a) como auxiliar na condução das atividades didáticas, numa perspectiva de rompimento com uma visão finalista e antropocêntrica do fenômeno biológico e uma visão empirista e indutivista? (BRASIL, 2014a, p. 18). As questões étnico-raciais e de gênero voltam a ser tratadas com destaque:

G. 14 O Manual fornece possibilidades teórico-metodológicas ao(a) professor(a) de Biologia a fim de que esse(a) tenha sustentação para lidar com o conhecimento biológico que favoreça, no processo de ensino-aprendizagem, o reconhecimento de formas de discriminação racial, social, de gênero, de sexualidade, e outros, bem como argumentos para a compreensão e discussão dessas temáticas fundamentais na vida contemporânea? (BRASIL, 2014a, p. 18). Após tratar das questões teórico-metodológicas de maneira geral, o Guia vai tratar de procedimentos mais específicos nos dois últimos itens, primeiro questionando se “o Manual oferece sugestões de atividades pedagógicas complementares e interdisciplinares”, para em seguida voltar sua atenção para a bibliografia, especificamente:

G. 16 Oferece bibliografia que possibilite ao(a) professor(a) de Biologia uma leitura crítica do conhecimento biológico e reconhecimento dos modos como esse conhecimento, em alguns momentos da história da humanidade, favoreceu processos de exclusão e discriminação racial, de gênero, de sexualidade e outros, e de como favorecer processos

educativos emancipatórios (não excludentes)? (BRASIL, 2014a, p. 18).

O bloco seguinte é o de Atividades e a seguir Imagens e Ilustrações no qual o item que trata de diversidade étnica será motivo de atenção em nossa análise do LD de biologia:

I.04 Retratam a diversidade étnica da população brasileira, a pluralidade social e cultural do país, não expressando, induzindo ou reforçando preconceitos e estereótipos? (BRASIL, 2014a, p. 19). Os dois últimos blocos tratam do projeto gráfico-editorial e dos objetos educacionais digitais, nesta ordem, que são elementos formais e estruturais do LD.