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5 DELINEAMENTO METODOLÓGICO

5.5 Sobre a análise de texto:

As coleções de livros didáticos de biologia do PNLD 2015, cada uma formada por três volumes, foram examinadas integralmente para o estudo de imagem e parcialmente para texto. Os exercícios propostos não foram incluídos na análise, já que estes são, muitas vezes, compilações de questões utilizadas em exames de seleção. Procurei determinar, em um primeiro momento, as convergências e divergências na escolha dos temas tratados pelos autores em relação ao edital do PNLD 2015 (BRASIL, 2013a), para só depois passar a considerações sobre o conteúdo.

Cada coleção brasileira foi examinada integralmente para os conceitos avaliados na ordem da numeração. Já os três conceitos foram tratados simultaneamente, permitindo reconhecer as linhas de encadeamento de pensamento de cada autor. Uma planilha foi organizada para cada coleção com uma coluna para cada volume, onde os tópicos que se relacionavam aos conceitos estudados foram dispostos na ordem sequencial em que aparecem nos textos, com as respectivas páginas identificadas. Isso permitiu reconhecer as convergências na escolha de temas por diferentes autores para em seguida compararmos a abordagem dada por cada um, e, da mesma forma, os temas restritos a uma só obra. Esta forma de organização de informações já havia sido utilizada nos trabalhos-piloto e mostrou-se adequada (Quadro 6).

Quadro 6: Exemplo de planilha para sistematização de tema tratado em texto.

Amabis & Martho – Biologia em Contexto

Volume 1 Volume 2 Volume 3

1. Você sabe definir vida? p. 46 2. Conceito de produtividade. p. 68 3. Água: um recurso cada vez mais

precioso. p. 76-77. 4. Demais temas... 5.

Às fichas de sistematização de texto foram acrescidas as de análise de imagem, como descrito em item correspondente a seguir.

Também os textos dos livros no que tange aos três temas analisados foi motivo de um projeto piloto (LOUZADA-SILVA; CARNEIRO, 2013a). Como resultado metodológico, definiu-se pela delimitação do aporte conceitual de Fleck para a circulação de ideias. Assim sendo, essa nova organização metodológica não aparece nos artigos que foram publicados, mas decorre das dificuldades encontradas na elaboração dos mesmos.

Os conceitos de referência deste trabalho são biodiversidade, conservação e sustentabilidade, entendendo conservação como o conjunto de atividades humanas voltadas para interromper e reverter a perda da biodiversidade, e sustentabilidade como um estado de equilíbrio entre as atividades humanas e a manutenção da biodiversidade. Procurei, assim, determinar como esses conceitos são tratados pelas coleções e comparar, quando possível, a forma como isso foi feito.

Para a análise do uso dos conceitos biodiversidade, conservação e sustentabilidade, e suas variáveis, utilizei duas fontes para cada, uma de viés político, a outra de cunho acadêmico. Usei como referência jurídica para a definição dos termos estudos nesta tese as definições constantes na Convenção sobre Diversidade Biológica, promulgada em 05 de junho de 1992 e aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 02, de 03 de fevereiro de 1994 (BRASIL, 2000c).

As definições de viés político são as da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) de 1992 (BRASIL. 2000c), que reúne 196 países52 e pode ser

52 A Convenção foi criada no Rio de Janeiro em 1992 e novas adesões tem ocorrido desde então. A

maioria dos 196 países que fazem parte da Convenção já a ratificaram, mas outros níveis de comprometimento entre eles (https://www.cbd.int/information/parties.shtml).

considerada uma referência mundial para a definição desses conceitos. Nela, as definições não estão na forma direta com que proponho a análise, mas são suficientemente claras para servir como o referencial desejado. Ali, biodiversidade aparece como diversidade biológica, conservação se desdobra em duas vertentes sem que haja uma definição do termo central, e sustentabilidade é tratada com utilização sustentável:

Conservação ex situ significa a conservação de componentes da

diversidade biológica fora de seus hábitats naturais. (BRASIL, 2000c, p.9).

Conservação in situ significa a conservação de ecossistemas e

hábitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características. (BRASIL, 2000c, p.9).

Diversidade biológica significa a variabilidade de organismos vivos

de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. (BRASIL, 2000c, p.9).

Utilização sustentável significa a utilização de componentes da

diversidade biológica de modo e em ritmo tais que não levem, no longo prazo, à diminuição da diversidade biológica, mantendo assim seu potencial para atender as necessidades e aspirações das gerações presentes e futuras. (BRASIL, 2000c, p.10).

Não encontrei em uma única fonte acadêmica definições satisfatórias para os três conceitos que atendessem os objetivos desta tese, o que me levou a trabalhar com três autores diferentes, um para cada conceito. Para biodiversidade, optei por aquela apresentada por Ricklefs (2010, p. 523) em seu glossário: “Variação entre organismos e sistemas ecológicos em todos os níveis, incluindo a variação genética, morfológica e funcional, a unicidade taxonômica e o endemismo, assim como também a variação na estrutura e função do ecossistema. ”

Para conservação, utilizei o conceito de Soulé (1985), fundador da biologia da conservação:

Conservação biológica é um novo estágio na aplicação da ciência para a solução de problemas de conservação, voltado para a biologia das espécies, comunidades e ecossistemas perturbados, tanto direta como indiretamente por atividades humanas ou outros agentes. Sua

meta é prover princípios e ferramentas para preservar a diversidade biológica. (SOULÉ, 1985).

Sempre que foi possível distinguir entre conservação biológica e conservação de recursos naturais, os temas foram tratados separadamente. Extinção de espécies, destruição e fragmentação de hábitat, endemismo, doenças, introdução de novas espécies, super-exploração de espécies pelos humanos, perda de variabilidade genética, unidades de conservação e status de espécies e populações foram incluídos em conservação biológica. Poluição, resíduos sólidos e líquidos, recursos hídricos, proteção do solo, controle climático e desertificação foram considerados em conservação de recursos naturais.

Para sustentabilidade utilizei a definição de Odum e Barrett (2007):

Capacidade de suprir as necessidades da atual geração sem comprometer a capacidade de suprir as necessidades das gerações futuras; manutenção do capital e dos recursos naturais para suprir as necessidades ou alimentação, a fim de evitar a queda abaixo de um dado limite de saúde e vitalidade.

As definições da CDB e dos autores escolhidos guardam muitas convergências entre elas, e é possível que uma dada definição encontrada no LD não possa ser atribuída a uma ou outra fonte. Isso não restringe a possibilidade de análise, mas, ao contrário, a amplia, uma vez que um autor que ofereça um definição compatível com os dois campos de atuação, político e acadêmico, estaria mais próximo de uma síntese. Dito de outro modo, a convergência entre os estilos de pensamento político e acadêmico no LD, antes de ser um problema, é fato a ser comemorado. Outro aspecto relevante é que a definição utilizada pelo LD, se apresentada de maneira formal, pode ser de autoria do autor da obra, mas pode também ser a citação de um outro autor, e isso só fica claro com a análise das obras.