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2.2 SISTEMAS DE AVALIAÇÃO INTERNACIONAIS

2.2.3 Haute Qualité Environnementale HQE

No LEED, tal como no BREEAM, o desempenho energético é associado a melhorias das normas energéticas, que são específicas dos Estados Unidos da América e do Reino Unido, sendo importante o seu ajustamento e adaptação à realidade nacional. Idêntica situação se coloca no que se refere à necessidade de ajustamento à realidade nacional em relação ao conforto térmico. Em síntese, as aplicações nacionais do LEED efetuadas ao nível de teste, revelaram que para haver aplicabilidade à realidade nacional deveriam ser equacionadas alterações pontuais, quer nos critérios, quer nas ponderações das categorias, devendo estas ser sujeitas a ajustamentos, nomeadamente dando uma maior importância às questões da água e diminuindo ligeiramente a ponderação existente no que se refere à qualidade do ar interior (Pinheiro, et al., 2002).

2.2.3 Haute Qualité Environnementale - HQE

O Estado Francês, através do Plano de Construção e Arquitetura (PCA – Plan, Construction et

Architecture), investiu no desenvolvimento de uma abordagem de reflexão e ajuda experimentais

tendo em vista criar edifícios que respeitem o ambiente. Em 1993 foi criado um novo polo de investigação e desenvolvimento, através do programa de "Ecologia e Habitat". Conjuntamente, a Agência de Ambiente e Energia (ADEME), lançou uma consulta sobre "produtos, técnicas e métodos para edifícios mais favoráveis ao ambiente" (Olive, 1998).

Foram criadas um conjunto de atividades de avaliação e demonstração experimentais (REX- Réalisations Expérimentales) bem como uma direção de avaliação da qualidade ambiental dos edifícios (ATEQUE-Atelier d’évaluation de la qualité environnementale des bâtiments). A reflexão deste último organismo contribui para a tomada de consciência da complexidade dos trabalhos a desenvolver: estabelecer um equilíbrio entre as características dos edifícios e a satisfação das exigências ambientais.

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Originalmente destinado a desenvolver uma definição simples e descritiva dos critérios de qualidade ambiental, o seu papel foi-se orientando para ajudar a avaliar e programar as decisões principais no alojamento social. Esta direção geral levou à criação, em 1997, da associação HQE (Haute Qualité Environnementale), destinada ao desenvolvimento da gestão da qualidade ambiental nos edifícios (Pinheiro, 2006).

A definição formal de qualidade ambiental, segundo a associação HQE, é "qualidade ambiental do

edifício e dos seus equipamentos (em produtos e serviços) e os restantes conjuntos de operação, de construção ou adaptação, que lhe conferem aptidão para satisfazer as necessidades de dar resposta aos impactes ambientais sobre o ambiente exterior e a criação de ambientes interiores confortáveis e sãos" (Pinheiro, 2006). Os princípios consistem em:

a) Reduzir os impactes dos edifícios sobre o ambiente exterior, ao nível global, regional e local;

b) Criar um ambiente interior confortável e saudável para os utilizadores.

Em 1998 a associação HQE, apontou para a importância ambiental dos edifícios, numa perspetiva de abordagem voluntária, especificando a qualidade ambiental num conjunto de 14 áreas de intervenção, (denominadas cibles) organizadas em dois domínios contendo da um duas famílias, isto é, eco construção e eco gestão, conforto e saúde (Olive, 1998) (ver tabela2.4).

Tabela 2.4

Área de avaliação do sistema HQE (Zambrano, 2004) Famílias Objetivos específicos

Eco construção  Relação harmoniosa do edifício com o local de implantação

 Eleição integrada dos processos e produtos construtivos

 Baixo impacte da obra no local Eco gestão  Gestão energética

 Gestão da água

 Gestão dos resíduos gerados pelo uso

 Manutenção e conservação Conforto  Conforto higrotérmico

 Conforto acústico

 Conforto visual

 Conforto olfativo Saúde  Condições sanitárias

 Qualidade do ar

 Qualidade da água

A grande diferenciação do HQE em relação aos outros métodos de avaliação ambiental em edificações é o fato que ele não prevê uma lista de verificação pré-existente. O empreendimento para obter a certificação deve atender sempre às questões normalizadas ou legais para obter a pontuação mínima. São os empreendedores que apontam quais são os objetivos que serão definidos a partir das características do projeto (Fossati, 2008). Uma certificação HQE demonstra conformidade com uma norma de certificação e da criação de um Sistema de Gestão Ambiental

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(SGA). Neste sentido, a entidade adjudicante define níveis de desempenho e está empenhada em capacitar os autores do projeto para alcançá-los.

A certificação contempla dois referenciais: o do sistema de gestão do empreendimento (SMO -

Système de Management d'Opération) e o da qualidade ambiental do edifício (QEB – Qualité Environnementale du Bâtiment). Estes referenciais interrelacionam-se, fazendo referências

respetivamente um ao outro. O primeiro pode ser considerado como sendo universal, válido, portanto, para outros países praticamente tal como publicado, enquanto o segundo é adaptado às construções francesas e à legislação local. O SMO apoia o empreendedor na gestão do desenvolvimento do empreendimento, assegurando que a qualidade ambiental, definida pela referência de QEB, seja alcançada (Pinheiro, 2006).

A certificação não se baseia num sistema de pontuação, com notação por níveis (estrelas, por exemplo), sendo conferida quando, em cada fase do empreendimento, se respeita um perfil ambiental previamente definido pelo empreendedor. A definição do perfil é feita levando-se em conta as características, e as vantagens e desvantagens relativamente ao ambiente do local onde o empreendimento será realizado, as exigências legais e regulamentares pertinentes, as necessidades e expectativas das partes interessadas e os objetivos ambientais do empreendedor (Pinheiro, 2006).

Esse perfil determina as categorias de preocupações ambientais, sanitárias e de conforto, que serão privilegiadas, entre as 14 definidas. As categorias privilegiadas deverão ter um desempenho igual ou superior ao constatado em empreendimentos realizados em França, considerados como exemplos de excelência ambiental ou, pelo menos, superior ao das práticas usuais; as categorias não prioritárias terão um desempenho pelo menos igual ao normalizado ou regulamentado, ou equivalente às práticas usuais. Um aspeto importante é o entendimento adotado para o conceito de "qualidade ambiental", que representa a "qualidade ambiental, sanitária e de conforto". A primeira forma de qualidade relaciona-se com o "edifício" (incluindo a construção e o seu uso e operação) e as duas últimas com os seus utilizadores.

A equipa de auditoria não avalia a qualidade ambiental do empreendimento, tarefa sob a responsabilidade do empreendedor. Ela apenas verifica os elementos por este fornecido, assegurando-se de que os objetivos da QEB estabelecidos são coerentes e pertinentes ao contexto do empreendimento, que os mesmos são atingidos aquando da entrega da obra, e que todos os agentes envolvidos no empreendimento se encontram organizados para atendê-los e são capazes de demonstrar os resultados obtidos. A equipa intervirá ao longo do empreendimento, mais especificamente no final das fases referentes ao Programa, projeto e à execução. O certificado será atribuído à fase correspondente e estará subordinado à obtenção de um desempenho mínimo nas 14 categorias de preocupações ambientais, sanitárias e de conforto de QEB, definidas pela Associação HQE e adotadas pela certificação.

Para cada uma das categorias é perseguido um dos três níveis possíveis de desempenho: Base,

Performant e Très Performant, podendo ser entendidos respetivamente como o nível de base,

desempenho bom e desempenho elevado. Para obter a certificação, o empreendedor deverá escolher, entre as 14 categorias de preocupações, pelo menos 7 que responderão pelo menos às exigências do nível Performant, entre as quais pelo menos 3 respondendo aquelas do nível Très

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Performant. As categorias remanescentes – no máximo 7 – deverão atender às exigências do nível Base.

A QEB visada estrutura-se, assim, num perfil ambiental que dá prioridades de importância às 14 categorias de preocupações ambientais. Para definir as "limiares" entre níveis, o CSTB entendeu como correspondendo à Base (indicado "B") os desempenhos normalizados ou regulamentares ou correspondentes às práticas usuais; como sendo Performant ou Além da Base (indicado "P") os desempenhos superiores às práticas usuais; como Três Performant ou Superior (indicado "TP") a partir dos desempenhos máximos recentemente constatados em empreendimentos já realizados em França, considerados pelos agentes do sector como exemplos de boas práticas de qualidade ambiental, e que sejam reprodutíveis noutros empreendimentos.

O sistema HQE, não possui qualquer tipo de processo de ponderações no que diz respeito às áreas de avaliação. Hierarquiza essas áreas apenas de acordo com o seu grau de importância, de modo a identificar as prioridades, traçando o perfil ambiental desejado.

Os testes efetuados ao HQE em edifícios nacionais, quer de habitação, quer de escritórios, revelam que este sistema é, de facto, interessante, embora se verifique a necessidade de serem efetuados ajustamentos significativos à realidade nacional. Estes ajustamentos podem revelar alguma dimensão dada a multiplicidade de critérios envolvidos (definidos como preocupações ambientais), a necessidade de proceder ao seu aprofundamento e a objetivação dos mesmos, a que se associa, por sua vez, a definição de três níveis específicos para cada um (Pinheiro, 2006). Um maior interesse, comparativamente com os sistemas LEED e BREEAM, reside, porventura, na perspetiva dos múltiplos referenciais, divididos entre o referencial de qualidade ambiental e o de gestão ambiental, abrindo a porta para uma interligação entre o referencial e o sistema de gestão ambiental, permitindo assim contribuir para um maior apoio ao desenvolvimento do empreendimento e para a adoção das medidas ambientais (Pinheiro, 2006).