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6 HIATO DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO SNUC: À GUISA DE CONCLUSÃO

11 Não vamos analisar aqui outro mecanismo da Lei do SNUC: a compensação ambiental. De uma perspectiva econômica, uma análise rigorosa desse mecanismo controverso, para usarmos um adjetivo suave, exige um artigo exclusivo e longo.

73 A Lei do SNUC foi criada para preservar e restaurar processos ecológicos essenciais e o manejo dos ecossistemas, preservar a diversidade e integridade do patrimônio genético do país, definir espaços territoriais e vedar a utilização de recursos que comprometa a integridade dos ecossistemas, e proteger a fauna e a flora, proibindo práticas que coloquem em risco sua função ecológica e/ou provoquem a extinção de espécies. Tudo isso deveria ser alcançado com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a fim de estabelecer um sistema integrado de gestão das áreas protegidas. Percebe-se que são muitos objetivos que deveriam ser alcançados. É usual afirmar-se que para uma política pública ser eficaz, ela deve ter um objetivo claro para que um instrumento, ou uma associação de instrumentos, possa solucionar o problema proposto em forma de objetivo.

Na Lei do SNUC são 13 objetivos, que misturam finalidades ecológicas, sociais e econômicas. Por mais que os pilares da política do SNUC se fundamentam nos pressupostos de desenvolvimento sustentável, misturar objetivos diferentes com instrumentos diferentes, em uma mesma política, sem um destinatário correto para qual o instrumento se direciona, é apostar em uma efetividade e eficácia baixa, e muita confusão na aplicabilidade desses instrumentos. Isso é particularmente verdadeiro para um dos instrumentos básicos do SNUC: o orçamento público.

O Hiato de Sustentabilidade Ambiental foi identificado por nós ao longo do capítulo. Apesar de certa estabilidade do OE no período 2008 a 2019, que evidencia que o "gasto efetivo" não apresentou "picos" ou "vales" significativos por mais de uma década, o patamar em que o OE foi praticado ficou aquém do OD, que seria o mínimo desejável para eliminar esse Hiato. Fomos além, mostrando evidências de que o OEM - valor econômico máximo - é ainda maior do que o OD. O OEM nos indica o benefício econômico que a sociedade brasileira obtém da existência do SNUC.

Esses resultados são preocupantes para qualquer pessoa interessada na conservação e na preservação da diversidade biológica in situ no Brasil. Não se consegue no país chegar a um gasto efetivo com o SNUC que seja próximo ao gasto mínimo necessário para a manutenção anual do Sistema, mesmo quando o benefício a ser obtido desse Sistema é significativamente maior. Isso sugere que a sociedade brasileira não percebe e não captura esses benefícios. Por isso, não exerce sua

74 capacidade de pressão política para um mais adequado tratamento ao SNUC no orçamento público federal brasileiro. Para a sociedade brasileira UC é algo do governo e não algo que pertence à ela, sociedade.

A estratégia de conservação in situ adotada pelo Brasil, por meio da criação, consolidação e manutenção de Unidades de Conservação, necessita ser aprimorada.

Do contrário, a história nos relembra que políticas ineficazes e não eficientes ao longo do tempo tendem a ser substituídas por políticas desenvolvimentistas que nem sempre possuem o objetivo da sustentabilidade. No entanto, são preferíveis por demonstrarem que são economicamente mais viáveis ao país. Se não houver explicitação da equivalência entre custos e benefícios das estratégias de conservar as UCs serão as próximas a serem afetadas.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Lei 4.320 de 17 de março de 1964. Normas Gerais de Direito Financeiro para Elaboração e Controle dos Orçamentos e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível no htpp://www. planalto.gov.br GELUDA, Leonardo GELUDA, Leonardo, QUEIROZ, Julia, MELO, Andréia, SERRÃO, Manoel, GOMES, Anna, NEVIANI, Flávia, POLVERARI, Erika, MONTEIRO, Camila, PETRONI, Laura, TEIXEIRA, Mary e CAMPOS, Marina.

Desvendando a Compensação Ambiental: aspectos jurídicos, operacionais e financeiros. Funbio, Rio de Janeiro, 2015. 270p.

MEDEIROS, Rodrigo e YOUNG, Carlos Eduardo Frickmann. 2011. Contribuição das unidades de conservação brasileiras para a economia nacional. Relatório final.

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MEFFE, G. K.; CARROL, C. R. Principles of Conservation Biology. Sinauer, Sundaerland. 1997, p. 729.

MERCADANTE, M. Avanços na Implementação do SNUC e desafios para o futuro. Ministério do Meio Ambiente. In:

www.mma.gov.br

.

75 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, MMA. Convenção sobre a Diversidade Biológica, CDB, Brasília, DF, 2000. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_dpg/_arquivos/cdbport.pdf>.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, MMA. Quarto Relatório Nacional para a Convenção Sobre a Diversidade Biológica. Brasil. Biodiversidade 38. Brasília, DF.

2011. 248p. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf2008_dcbio/_arquivos/quarto_relatorio_147.

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MORSELLO, C. Áreas Protegidas Públicas e Privadas: Seleção e Manejo. S]ao Paulo. Annablume; FAPESP, 2001.

NOVAES, W. Japão discutirá rumos do mundo. Jornal O Estado de São Paulo.

Publicado em: 24/09/2010.

PICOLI, Rosângela Laura. Sistema Nacional de Unidades de Conservação: gastos efetivos e gastos necessários para garantir a conservação dos benefícios sociais da biodiversidade brasileira. Universidade de Brasília (UnB): Dissertação de Mestrado em Economia - Gestão Econômica do Meio Ambiente -, 2011, 134p.

PRIMACK, Richard e RODRIGUES, Efraim. Biologia da Conservação. Londrina:

2001, 329p.

SEDJO, R. Forests and Biodiversity in Latin America: San Jose Solution Paper.

Resources for the Future. 2007.

SIOP. Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo Federal.

Ministério da Economia. Disponível em http://www.siop.planejamento.gov.br.

WWF. Unidades de Conservação: conservando a vida, os bens e os serviços ambientais. São Paulo, 2008.

ANEXO 1

Relação dos programas e ações por UO no MMA, 2008-2020:

Ano Unidade

2976 - Conservação e Uso Sustentável de Espécies da Flora; 8909 - Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade no Arboreto do

76 e dos Recursos

Genéticos Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Ambiental em Áreas Protegidas; 101V - Implantação de Corredores Ecológicos; 8492 - Apoio à Criação e Gestão de Áreas Protegidas

2008 IBAMA 0506 8294 - Estruturação dos Órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente para a Gestão Florestal Compartilhada

2008 JBRJ 0508

2973 - Pesquisa em Diversidade Vegetal do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro;

8909 - Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade no Arboreto do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

2008 ICMBio 1332

2C88 - Gestão de Áreas Protegidas nos Ecossistemas Mata Atlântica e Pampas; 2C89 - Gestão de Áreas Protegidas nos Ecossistemas Cerrado e Pantanal; 2C91 - Gestão de Áreas Protegidas no Ecossistema Caatinga;

2C92 - Gestão de Áreas Protegidas nos Ecossistemas Costeiro e Marinho;

2C93 - Gestão de Áreas Protegidas no Ecossistema Amazônico; 6381 - Regularização Fundiária das Unidades de Conservação Federais; 8492 - Apoio à Criação e Gestão de Áreas Protegidas; 8298 - Apoio a Projetos de Desenvolvimento Florestal Sustentável;

2008 SFB 0506

2D12 - Planejamento e Gestão das Concessões Florestais; 2D13 - Criação e Implementação de Distritos Florestais Sustentáveis; 10TC - Elaboração do Inventário Florestal Nacional; 10TD - Implantação do Sistema; Nacional de Informações Florestais; 6035 - Pesquisa e Desenvolvimento Florestal; 8298 - Apoio a Projetos de Desenvolvimento Florestal Sustentável; 8304 - Cadastramento de Florestas Públicas Nacionais

2009 MMA 1332 101V; 8492

77

2009 SFB 0506 2D12; 2D13; 10TC; 10TD; 6035;

8298; 8304

2009 IBAMA 0506 8294; 8296 - Licenciamento e Controle das Atividades Florestais

2009 JBRJ 0508

7N56 - Modernização da Infra-estrutura e das Edificações do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro; 2973; 8909

2009 ICMBio 0508

6007 - Monitoramento e Controle de Espécies Invasoras; 8408 - Implementação e Fortalecimento da Política Nacional da Biodiversidade

1332 2C88; 2C89; 2C91; 2C92; 2C93;

20BA; 2096; 6381; 8278; 8492 2010 MMA 0508 2E27 - Apoio a Ações de Preservação

Ambientais e Visitação em Áreas Protegidas; 101V; 8492 Programa; 2934 - Conservação das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção e Migratórias; 2975 - Licenciamento para Manejo de Espécies da Fauna com Potencial de Uso; 2976 - Conservação e Uso Sustentável de Espécies da Flora; 4969 - Controle, Monitoramento, Triagem, Recuperação e Destinação de Animais Silvestres; 6309 - Fiscalização de Fauna Silvestre; 8908 - Autorização para Manejo de Fauna em Vida Livre

78

2011 JBRJ 0508

7R06 - Melhoria da Infraestrutura de Atendimento ao Visitante do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro; 7R08 - Fortalecimento Institucional do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro;

2973; 8909

2011 ICMBio 1332 13MY - Estruturação de Serviços Ambientais e Visitação em Áreas Protegidas; 6381; 8492

2012 MMA 2018 -

Biodiversidade

2B61 - Identificação e Pesquisa de Espécies da Fauna e Flora de Importância Econômica; 2E49 - Apoio à Criação e Gestão de Áreas Protegidas; 13MY; 20GF- Pagamento a Famílias em Situação de Extrema Pobreza pela Prestação de Serviços de Conservação de Recursos Naturais no Meio Rural - Plano Brasil sem Miséria (Medida Provisória nº 535, de 2 de junho de 2011); 20LT - Identificação de Áreas Críticas e Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade Aquática; 20LU - Elaboração e Implementação de Planos de Recuperação para Espécies Aquáticas Ameaçadas e Vulneráveis; 20LV - Caracterização Nutricional das Plantas Alimentícias e Inclusão dessas Espécies em Programas Institucionais do Governo Federal Voltados à Segurança Alimentar e Nutricional;

20LW - Identificação, Caracterização e Avaliação de Populações de Variedades Crioulas e de Parentes Silvestres das Principais Espécies de Plantas Domesticadas de Reconhecido Valor para a Sociedade; 20LX - Ampliação e Consolidação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza; 20TK - Cadastramento, Operacionalização e Monitoramento da Transferência de Renda no âmbito do Programa de Apoio à Conservação Ambiental - Plano Brasil sem Miséria;

20TS - Conservação, Uso, Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira; 20VP -

79 Apoio à conservação Ambiental e à Erradicação da Extrema Pobreza - BOLSA VERDE; 101V; 200I - Promoção da Conservação e Uso da Agrobiodiversidade e das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade;

2566 - Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Terras Indígenas e Outras Áreas Protegidas; 6040 - Promoção do Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais; 6061 - Fomento a Projetos Demonstrativos na Amazônia REVIMAR; 20MJ - Fiscalização do Acesso ao Patrimônio Genético, ao Conhecimento Tradicional Associado e Combate à Biopirataria; 2933 - Avaliação dos Estoques Pesqueiros;

2946 - Fiscalização Ambiental das Atividades do Setor Pesqueiro; 2975 - Licenciamento para Manejo de Espécies da Fauna com Potencial de Uso

2012 JBRJ 2018

20MP - Avaliação e Monitoramento da Flora Brasileira, com Ênfase nas Espécies Ameaçadas de Extinção;

20MQ - Manutenção, Ampliação e Proteção das Coleções de Referência do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro; 20MR - Divulgação de Informação Qualificada sobre a Biodiversidade Vegetal; 20MS - Atendimento ao Visitante do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro; 20MT - Apoio à Estruturação e Desenvolvimento de Jardins Botânicos, nos Âmbitos Federal, Estadual e Municipal; 20WK

- Pesquisa, Avaliação e

Monitoramento da Flora Brasileira;

20WL - Proteção e Ampliação de

80 Coleções Vivas em Jardins Botânicos;

2973; 8492; 8909

2012 ICMBio 2018

13MY; 20MU - Fiscalização Ambiental em Unidades de Conservação Federais; 20MV - Identificação de Famílias em Unidades de Conservação Federais e Promoção do Direito de Uso das Comunidades Tradicionais Beneficiárias a seus Territórios; 20MW - Fomento e Execução de Pesquisa Direcionada à Conservação da Biodiversidade e à Gestão de Unidades de Conservação;

20WM - Apoio à Criação, Gestão e Aquática; 20VO - Conservação, Promoção de Uso, Manejo e Biossegurança de espécies da Fauna e Flora; 20VP; 20VQ - Gestão Socioambiental em Territórios de Povos e Comunidades Tradicionais e Agricultores familiares; 101V; 2566

2013 ICMBio 2018

20WE - Fiscalização dos Recursos da Biodiversidade; 20WF - Avaliação dos Estoques e do Potencial Sustentável dos Recursos Pesqueiros; 20WG - Licenciamento para Manejo de Espécies da Fauna; 4969 - Controle,

Monitoramento, Triagem, Recuperação e Destinação de Animais

Silvestres; 20WK - Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Flora Brasileira; 20WL - Proteção e Ampliação de Coleções Vivas em Jardins Botânicos; 20WM - Apoio à Criação, Gestão e Implementação das Unidades de Conservação Federais;

20WN - Execução de Pesquisa e Conservação de Espécies e Patrimônio

81 Espeleológico; 20WO - Fiscalização Ambiental em Unidades de Conservação; 6381 - Consolidação Territorial das Unidades de Conservação Federais

2014 MMA 2018 -

Biodiversidade

20LU; 20LX; 20TS; 20VN; 20VO;

20VP; 20VQ; 20WG - Estruturação da Gestão Nacional dos Recursos Faunísticos; 101V

2014 IBAMA 2018

20WE; 20WF; 20WG; 212R - Avaliação das Medidas de Ordenamento do Uso de Recursos Pesqueiros

2014 JBRJ 2018 20WK; 20WL

2014 ICMBio 2018 20WM; 20WN; 20WO; 6381

2015 MMA 2018 -

Biodiversidade 20LU; 20LX; 20TS; 20VN; 20VO;

20VP; 20VQ; 101V

2015 IBAMA 2018 20WE; 20WF; 20WG; 212R

2015 JBRJ 2018 20WK; 20WL

2015 ICMBio 2018 20WM; 20WN; 20WO;6381

2016 JBRJ Ambiental e Prevenção e Combate a Incêndios Florestais

2017 MMA 2078 20LX

2017 SFB 2078

20WC - Planejamento, Gestão e Controle das Concessões Florestais;

20WD - Inventário Florestal Nacional;

8308 - Regularização Ambiental dos Imóveis Rurais nas Unidades da Federação

2017 IBAMA 2078

20WG - Estruturação da Gestão Nacional dos Recursos Faunísticos;

214O - Gestão do Uso Sustentável da Biodiversidade

2017 JBRJ 2078 20WK; 20WL

2017 ICMBio 2078 20WM; 20WN; 214P

82 2018 MMA

2078 -

Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade

20LU; 20LX; 20TS; 20VN; 20VQ;

20VY - Apoio à Implementação da Política Nacional de Educação Ambiental; 8499 - Apoio a Projetos de Gestão Integrada do Meio Ambiente (PNMA II)

2018 SFB 2078

15OO - XXV Congresso Mundial da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal; 20WC; 20WD;

8308

2018 IBAMA 2078 214O - Gestão do Uso Sustentável da Biodiversidade

2018 JBRJ 2078 20WK; 20WL

2018 ICMBio 2078 20WM; 20WN; 212H - Pesquisa e

Desenvolvimento nas Organizações Sociais; 214P

2019 MMA 2078

20LX; 219J - Apoio à Gestão da Conservação e do Uso Sustentável da Biodiversidade e do Patrimônio Genético

2019 IBAMA 2078 214O - Gestão do Uso Sustentável da Biodiversidade

2019 JBRJ 2078

20WK; 219K - Gestão das Coleções Vivas, do Patrimônio Histórico-Cultural e das Atividades de Disseminação do Conhecimento no Jardim Botânico do Rio de Janeiro

2019 ICMBio 2078 20WM; 20WN; 212H; 214P

Fonte: os autores com base no SIOP/SIAFI. Agosto de 2020.

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