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A IMPORTÂNCIA DO PSA PARA UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS AMBIENTAIS

Mariana Amorim Murta 1 Victor Monteiro de Castro Campos Jardim 2

2 A IMPORTÂNCIA DO PSA PARA UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS AMBIENTAIS

Antes de definir o que é Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), é preciso clarear o entendimento sobre o que são e como são realizados estes tipos de serviços.

“A definição de serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos é simples: trata-se dos benefícios que as pessoas obtêm da natureza direta ou indiretamente, através dos ecossistemas, a fim de sustentar a vida no planeta” (OECO, 2014). Ou seja, é por meio destes serviços que o homem retira subsídios naturais para o seu consumo, como, por exemplo, a extração de madeira, de sementes, de fibra, de animais, de minerais e de substâncias com propriedades medicinais para produção de remédios. Para tanto, os

108 ecossistemas são fundamentais, não só para os animais inseridos naquele meio, como também para o ser humano e as comunidades que ali se encontram.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2019), o desenvolvimento e o bem-estar do ser humano estão diretamente condicionados aos ecossistemas em função da necessidade de acesso à água doce, utilização de solos para plantio, lazer, dentre outras importantes funcionalidades para garantia da saúde humana e do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Apesar do posicionamento aparentemente controverso por parte do atual governo e da presente situação de ataque ao meio ambiente em diversas unidades de conservação ambiental no país, o Brasil se sustenta em diversos acordos internacionais para promover um uso sustentável dos recursos naturais (MMA, 2019). Portanto, a fim de salvaguardar o equilíbrio ambiental e, consequentemente, a saúde de todos os seres inseridos nesse meio natural, é importante que toda atividade que cause algum dano ao meio ambiente, como é o caso de grande parte dos serviços ambientais, seja gerenciada com estratégias específicas que facilitem e fortaleçam o uso sustentável destes recursos.

Nesse sentido, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), também conhecido como Pagamentos por Serviços Ecossistêmicos (PSE), é excelente estratégia para o gerenciamento de serviços ambientais potencialmente causadores de lesões ao meio ambiente natural. Percebe-se que o atual modelo socioeconômico vigente no Brasil é predominantemente nocivo ao meio ambiente. A este respeito, ações como os desmatamentos para conversão do solo para agricultura, a extração insustentável de madeira, a caça e a pesca ilegais, a poluição do ar e da água e outros usos indevidos dos recursos naturais estão entre os fatores que contribuem para essa degradação ambiental, o que, por consequência, enfraquece o potencial da natureza em oferecer esses serviços (GELUDA; YOUNG, 2014). Infelizmente, a utilização sustentável dos recursos naturais pode não parecer economicamente atrativa à primeira vista, uma vez que, em curto prazo, outras atividades têm maior potencial lucrativo.

Em razão do aparente lucro proveniente da extração insustentável de recursos naturais para o desenvolvimento econômico, a postura ambientalista acaba por ser afastada para dar espaço ao lucro imediato, como é o caso do desmatamento de

109 grandes áreas de vegetação para a criação de gados e produção de grãos, por exemplo.

Entretanto, quando os custos posteriores à devastação da mata são levados em consideração, como os gastos para despoluir um rio ou recuperar uma área desmatada, é concluído que vale mais a pena investir na manutenção dos recursos que o meio ambiente já fornece (IPAM, 2015). Nessa linha, pensando em longo prazo na preservação ambiental e na manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações futuras, é possível inferir que o jogo sem restrições do mercado é incompatível com a ideia de desenvolvimento sustentável.

Nessa perspectiva, Ignacy Sachs (2002) aponta para a necessidade de diálogo entre os setores governamentais, industriais e sociais em busca do desenvolvimento econômico associado à preservação ambiental. Desta forma, o desenvolvimento sustentável acaba por promover o equilíbrio na valoração das dimensões econômica, social e ambiental. Assim, visando a manutenção da integridade ecológica do sistema, o desenvolvimento sustentável exige a minimização dos impactos sobre a qualidade dos elementos naturais (BRUNDTLAND, 1991). Atualmente, um dos maiores desafios dos ambientalistas é encontrar uma forma de continuar usufruindo desses recursos para o desenvolvimento humano sem destruir o ecossistema local.

Em face aos desafios encontrados para que se promova o desenvolvimento econômico sustentável, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (2015) aponta o surgimento do conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) a partir do aprofundamento das discussões em virtude desses desafios. Assim, o PSA é uma ferramenta de valoração ambiental (OECO, 2014) utilizada para impulsionar o desenvolvimento sustentável. O Ministério do Meio Ambiente (2008) apresenta exemplos de PSA, como: (1) Retenção ou captação de carbono; (2) Conservação da biodiversidade; (3) Conservação de serviços hídricos; e (4) Conservação de beleza cênica. Por este ângulo, o conceito de PSA é “definido como uma transação voluntária, na qual um serviço ambiental bem definido ou um uso da terra que possa assegurar este serviço é adquirido por um comprador de um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço” (OECO, 2014).

Portanto, os indivíduos que fazem o uso direto dos recursos naturais, como populações que vivem nas florestas (povos tradicionais, indígenas e pequenos

110 agricultores) e indústrias de agropecuária, precisam de conscientização sobre a importância do meio ambiente para seus próprios negócios e qualidade de vida (IPAM, 2015). Além disso, precisam também de compreensão sobre a relevância da manutenção do equilíbrio ambiental para o desenvolvimento da vida do ser humano na Terra. O desequilíbrio ecossistêmico pode acarretar em diversos problemas de produção e de saúde pública, como aumento de vetores de doenças, perda de produtividade agrícola, maior vulnerabilidade de desastres naturais, dentre outros (BPBES, 2019). Ao que parece, o avanço econômico e a crescente conquista de recursos naturais está alinhada com a catastrófica sequência de destruições e desastres (CARSON, 1969).

A fim de promover a sustentabilidade do meio ambiente e da saúde humana, é primordial a preservação da biodiversidade, dos ecossistemas, das vegetações e dos oceanos (LOVELOCK, 2010). O Planeta Terra em que o homem habita não é o único a sofrer os efeitos da constante exploração de recursos naturais, sendo a própria vida humana afetada pela prolongada exploração do meio ambiente, pois deste Planeta depende (CARSON, 1969). Nesse sentido, a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (2018) disponibilizou infográfico a respeito dos riscos e oportunidades atrelados à matéria, exemplificando as políticas de desenvolvimento necessárias para preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, conforme se observa na figura 1:

111 Figura 1 - Infográfico integrado no Sumário para Tomadores de Decisão (STD) do 1º Relatório sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos

Fonte: BPBES, Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos3.

A partir da figura, é possível constatar que, guardando relação com a biodiversidade e com os ecossistemas, as mudanças no uso do solo e as mudanças climáticas, bem como a crise econômica e a deficiência de atuação de instituições, são riscos para o Brasil, uma vez que geram consequências como a perda de produtividade agrícola, a disseminação de doenças e seus vetores, o aumento da vulnerabilidade a desastres naturais, a perda de cobertura da vegetação nativa e o aumento de invasões biológicas. Por outro lado, a segurança alimentar, climática, hídrica, energética e a saúde humana configuram novas oportunidades para o desenvolvimento social e econômico, para a redução de pobreza e desigualdade, para a geração de emprego e renda, para valorização dos produtos nacionais e para liderança ambiental global – tendo em vista que, em se tratando de interdependência ecológica e econômica, a cooperação internacional efetiva é necessária (BRUNDTLAND, 1991).

Deste modo, considerando a “exploração ruinosa dos recursos renováveis, afetando severamente as capacidades de regeneração e absorção desses recursos, com

3 BPBES, Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (Disponível em:

https://www.bpbes.net.br/wp-content/uploads/2018/11/Sum%C3%A1rio-para-Tomadores-de-Decis%C3%A3o-BPBES.pdf. Acesso em: 4 set. 2020).

112 ameaças reais em relação ao sistema de sustentação da vida” (MOURA, 2012, p. 31), é essencial que sejam promovidas políticas de desenvolvimento. Nessa linha, o infográfico acima colacionado expõe que, a partir dos riscos para o país, são indispensáveis essas políticas de desenvolvimento, a fim de que se abram portas para as novas oportunidades apontadas, sendo necessário: (1) Mitigação das mudanças climáticas; (2) Tecnologias; (3) Cumprimento de leis existentes; (4) Soluções descentralizadas; (5) Cumprimento dos compromissos globais de sustentabilidade assumidos pelo país; (6) Consumo consciente; (7) Expansão de áreas protegidas; e (8) Recuperação de terras abandonadas.

Dessa maneira, exposta a definição de Serviços Ambientais e de Pagamento por Serviços Ambientais ou Pagamento por Serviços Ecossistêmicos, bem como a importância desse instrumento para colaborar na utilização sustentável dos recursos naturais, este capítulo explora os desafios encontrados para promoção do desenvolvimento econômico sustentável. Assim sendo, a partir da necessidade de políticas de desenvolvimento para aproveitamento de novas oportunidades sustentáveis para o país, o próximo capítulo se dedica ao estudo da hipótese de PSA para as Unidades de Conservação, aprofundando este estudo nas previsões legais de PSA constantes na Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).

3. O PSA COMO INSTRUMENTO DE AUMENTO DE RECEITA