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A Higiene Industrial define-se como a disciplina que antecipa, reconhece, avalia e controla os riscos para a saúde no ambiente de trabalho com o objetivo de proteger a saúde e bem-estar dos trabalhadores e salvaguardar a sociedade no geral17. É importante conhecermos qual a composição do ar que respiramos, nomeadamente quando nos encontramos em ambiente ocupacional, expostos durante várias horas por dia. Diz-se que o ar está poluído ou contaminado quando contém substâncias estranhas à sua composição normal, ou mesmo quando se apresenta normal no aspeto qualitativo, mas possui alterações quantitativas, pela presença de uma ou mais substâncias componentes em concentrações superiores às normais.

2.2.1 Tipos e Classes de Contaminantes

Os agentes químicos podem existir em suspensão na atmosfera, nos estados sólido (poeiras, fibras e fumos), líquido (aerossóis e neblinas) e gasoso (gases e vapores). Segundo o tipo de lesão que originam, podemos distinguir: partículas inertes (não produzem alterações fisiológicas significativas, embora possam ficar retidas nos pulmões, mas só apresentam problemas em concentrações muito elevadas), partículas fibrogénicas ou pneumoconióticas (partículas suscetíveis de provocar reações químicas ao nível dos alvéolos pulmonares, dando origem a doenças graves), partículas sensibilizantes (podem atuar sobre a pele ou sobre o aparelho respiratório), partículas tóxicas ou sistémicas (podem causar lesões em um ou mais órgãos viscerais, de uma forma rápida e em concentrações elevadas ou lentamente em concentrações

16 http://www.inr.pt/bibliopac/diplomas/dl_352_2007.htm (consultado a 31/05/2018)

17 https://ioha.net/faq/ (consultado a 12/01/2018)

baixas). Quando aos gases e vapores, estes são subdivididos em: irritantes (têm uma ação química ou corrosiva, produzindo inflamação dos tecidos com os quais entram em contacto), asfixiantes simples (são os que, sem interferir nas funções do organismo, podem provocar asfixia, por reduzirem a concentração de oxigénio no ar), asfixiantes químicos (interferem no processo de absorção de oxigénio no sangue ou nos tecidos), narcóticos ou neurotóxicos (apresentam uma ação depressiva sobre o sistema nervoso central, produzindo efeito anestésico, após terem sido absorvidos pelo sangue) ou tóxicos/sistémicos (os vapores orgânicos são produtos tóxicos sistémicos e podem causar lesões em vários órgãos).

Dependendo do tamanho das partículas, o seu alcance nas vias respiratórias pode variar, podendo apresentar diversos efeitos. Estas podem ser: partículas inaláveis (agentes que são potencialmente perigosos quando se depositam em qualquer região do trato respiratório), partículas torácicas (agente que são potencialmente perigosos quando se depositam na região dos canais pulmonares e na zona de trocas gasosas) e partículas respiráveis (agentes potencialmente perigosos quando se depositam na região das trocas gasosas). Apresentam ainda classes de perigosidade diferentes, sendo classificados como: explosivos (reagem exotermicamente e com rápida libertação de gases), inflamáveis (incendeiam-se na presença de uma fonte de ignição), comburentes (reagem exotermicamente em contacto com substâncias inflamáveis), tóxicos (potenciam, mesmo em pequena quantidade, afeções agudas ou crónicas), nocivos (potenciam afeções agudas ou crónicas), corrosivos (exercem, através do contacto, ações destrutivas sobre os tecidos biológicos), irritantes (provocam reações inflamatórias em contacto com a pele ou mucosas), sensibilizantes (potenciam reações de hipersensibilização), cancerígenos (provocam, ou aumentam, a incidência de cancro), mutagénicos (produzem, ou aumentam, defeitos genéticos hereditários), tóxicos para a reprodução (provocam ou aumentam a frequência de efeitos prejudiciais não hereditários na progenitura e atentam contra as capacidades reprodutoras), teratogénicos (provocam defeitos no embrião humano (1º trimestre de desenvolvimento) e perigosos para o ambiente (produzem dano imediato ou diferido, no meio ambiente).

2.2.2 Substâncias Cancerígenas

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC) foi criada em 20 de maio de 1965, em Lyon, França. A IARC é a agência especializada em cancro da Organização Mundial de Saúde e tem como objetivo promover a colaboração internacional na pesquisa do cancro. Esta agência é interdisciplinar, reunindo habilidades em epidemiologia, ciências laborais e bioestatística para identificar as causas do cancro, de forma a que possam ser adotadas medidas preventivas e que a carga de doenças e sofrimento associado seja reduzida. A Agência tem um interesse particular em realizar pesquisas em países de baixo e médio rendimento, por meio de parcerias e colaborações com cientistas nessas regiões18. Segundo a IARC, baseada em evidências científicas para a carcinogenicidade, as substâncias cancerígenas podem ser classificadas em:

18 https://www.iarc.fr/en/about/iarc-history.php (consultado a 1/05/2018)

Grupo 1 – “Carcinogénico para humanos”: Há evidências suficientes para concluir que pode causar cancro em humanos. Esta categoria é usada quando há evidências suficientes de carcinogenicidade em humanos;

Grupo 2A – “Provavelmente carcinogénico para humanos”: Há fortes evidências de que pode causar cancro em humanos, mas no momento não é conclusivo. A circunstância de exposição implica exposições que são provavelmente carcinogénicas para os seres humanos. Esta categoria é usada quando há evidência limitada de carcinogenicidade em humanos e evidência suficiente de carcinogenicidade em animais experimentais;

Grupo 2B – “Possivelmente carcinogénico para humanos”: Há algumas evidências de que pode causar cancro em humanos, mas no momento está longe de ser conclusivo. Esta categoria é utilizada para agentes, misturas e circunstâncias de exposição para as quais existem evidências limitadas de carcinogenicidade em seres humanos e evidências menos do que suficientes de carcinogenicidade em animais experimentais. Também pode ser usada quando há evidência inadequada de carcinogenicidade em humanos, mas há evidência suficiente de carcinogenicidade em animais experimentais;

Grupo 3 – “Não inclassificável em termos de carcinogenicidade em humanos”:

Não há evidências no momento de que cause cancro em humanos. Esta categoria é usada comumente em agentes, misturas e circunstâncias de exposição para as quais a evidência de carcinogenicidade é inadequada em humanos e inadequada ou limitada em animais experimentais. Agentes, misturas e circunstâncias de exposição que não se enquadram em nenhum outro grupo também são colocados nesta categoria;

Grupo 4 – “Provavelmente não é carcinogénico para humanos”: Há fortes evidências de que não causa cancro em humanos. Esta categoria é usada para agentes ou misturas para os quais existem evidências que sugerem falta de carcinogenicidade em humanos e em animais experimentais19.

2.2.3 Vias de Contaminação e Consequências para a Saúde

Os riscos que, normalmente, se encontram associados a agentes químicos são o risco de explosão e de incêndio, de reação química perigosa e descontrolada, de derrame e de inalação, ingestão e absorção cutânea e ocular. As principais vias de entrada dos agentes químicos no organismo são: o aparelho respiratório (através da inalação, que é a via mais comum de contaminação, em contexto ocupacional), o aparelho digestivo (através da ingestão) e a via cutânea (por contacto com a pele). Como consequências à exposição a agentes químicos, podem surgir:

cefaleias, náuseas, tonturas, perdas de consciência, irritação e corrosão de tecidos (ocular,

19 http://ec.europa.eu/health/scientific_committees/opinions_layman/en/electromagnetic-fields/glossary/ghi/iarc-classification.htm (consultado a 1/05/2018)

cutânea), cancro, sensibilização cardíaca, asfixia, fibrose e edema pulmonar, reações alérgicas, lesões no sistema reprodutor, lesões hematológicas, lesões do embrião/feto, afeções do sistema nervoso central, afeções do sistema imunitário, afeções do sistema endócrino, lesões/irritação do sistema respiratório superior e inferior, intoxicações agudas ou crónicas20.

Considera-se interessante rever alguns conceitos que atualmente servem para a classificação de substâncias e preparações de acordo com seus possíveis efeitos sobre a saúde. Em geral, podemos distinguir: efeitos agudos (ocorrem após um tempo de exposição muito curto, por exemplo, algumas horas, de forma clara e facilmente reconhecível: asfixia, vómitos e perda de visão), efeitos crónicos (ocorrem após um longo período de tempo, meses e até muitos anos, que pode ser repetido por um certo tempo, sendo difícil de reconhecer e relacionar-se com a situação que os causou). Os efeitos também podem ser classificados como reversíveis e irreversíveis. Se, após certo tempo, na ausência de exposição, o corpo recupera completamente e atinge o seu estado normal, os efeitos serão reversíveis. Se, por outro lado, existirem sequelas e não é possível retornar ao estado normal, serão classificados como irreversíveis.