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anões e etc., cuja história é contada (quase) exclusivamente através das imagens, Tobias e o leão e Tobias às fatias, um livro de atividades, de índole mais didática,

A 7 de setembro de 1989 viria a conquistar, pelos originais desta obra, a “Maçã de Ouro” da Bienal Internacional de Bratislava, com a qual granjeara um prestígio

7 anões e etc., cuja história é contada (quase) exclusivamente através das imagens, Tobias e o leão e Tobias às fatias, um livro de atividades, de índole mais didática,

construído a partir de páginas recortadas/“fatiadas”.

1990 evidencia-se também como um ano de reconhecimento da ilustradora, que

recebe o Prémio Gulbenkian de Ilustração pela sua produção artística em Silka (1989), de Ilse Losa.

Também neste começo de década, além da criação de um conjunto de imagens em outras obras relevantes do universo da literatura para a infância e a juventude, como se destacam, ainda, a título de exemplo, Fita, pente e espelho, de Alice Vieira, e A nau

mentireta, de Luísa Ducla Soares, datadas de 1991, a criadora completa a coleção

protagonizada pelo pequeno Tobias, com uma “minissérie” enformada pelos títulos

Tobias encontra Leonardo e Tobias e as máquinas de Leonardo, dois álbuns,

construídos com base no diálogo intertextual com a obra de Leonardo da Vinci, vindos a lume em 1991, e, finalmente, os volumes Tobias do lado de lá do arco-íris eTobias «O que eu passei para chegar aqui!», editados no ano seguinte – em 1992.

Já em 1994, é responsável pelas componentes visuais, entre outras, de O veado

florido, de António Torrado, Fala bicho, de Violeta Figueiredo (selecionado para

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Compreendem-se, neste conjunto de publicações, três volumes didáticos (i.e., Tobias às

fatias, Tobias «O que eu passei para chegar aqui!» e Bublina e as cores) que, embora não inscritos na

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integrar a lista White Ravens de 1994), As fadas verdes, uma coletânea poética de Matilde Rosa Araújo, e Os ovos misteriosos, de Luísa Ducla Soares. Pelas imagens desta última obra, situada na tipologia do álbum, onde o texto surge, não raras vezes, colocado num plano inferior ao discurso visual, próximo do desenho de caricatura e de

cartoon (Gomes, Ramos & Silva, 2006), é ainda selecionada para o catálogo White Ravens (1995) da International Youth Library, de Munique.

Além disso, embora escolha, neste caso, manter o anonimato, MB assina, igualmente, em 1994, a componente pictórica de O tesouro, um conto breve escrito por Manuel António Pina e editado pela APRIL, no âmbito das comemorações do 20.º aniversário do 25 de Abril.

Neste mesmo ano – 1994 –, é nomeada candidata ao Prémio Hans Christian Andersen, conhecido como o Prémio Nobel da LIJ, atribuído bienalmente pelo IBBY (International Board on Books for Young People) a dois autores, que, pelo conjunto da obra, se tenham destacado, respetivamente, no domínio da literatura para crianças e da ilustração.

Do reconhecido escritor Manuel António Pina, distinguido, em 2011, com o maior galardão literário de língua portuguesa – o Prémio Camões, MB ilustra também, em 1995, O meu rio é de ouro = Mi río es de oro, uma edição bilingue com tradução de Marta Saracho.

Posteriormente, na senda do trabalho desenvolvido em Silka, a artista plástica sugere às edições Afrontamento – após ter-lhes recusado uma primeira proposta de tradução –, uma versão visualmente renovada do conto mais vezes editado e ilustrado mundialmente de Hans Christian Andersen: A sereiazinha. Distinguindo-se, consideravelmente, das suas edições precedentes, este conjunto de pinturas a óleo confere-lhe, no ano seguinte (1996), o Prémio Nacional de Ilustração, atribuído conjuntamente pelo Ministério da Cultura e a APPLIJ – Secção Portuguesa do IBBY, bem como a seleção pela Biblioteca Internacional de Munique para a exposição White

Ravens.

Ainda no ano de 1996, a autora de “Tobias” experimenta lançar a sua segunda coleção de livros para pré-leitores, desta vez protagonizada por uma pequena bruxa, chamada “Bublina”. Lamentavelmente e apesar da qualidade da proposta criativa, em resultado da falta de interesse e de uma má distribuição por parte da casa editorial responsável (Desabrochar), a série, iniciada com o álbum Era uma vez a Bublina e o

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livro de atividades Bublina e as cores, não logra continuidade.

Em 1997, além de outros trabalhos ilustrativos de relevo, MB propõe à editora portuense Campo das Letras um conjunto admirável de imagens para uma edição de

Três contos de Perrault, preservados na sua versão original e traduzidos por Luiza Neto

Jorge e Manuel João Gomes. De profundo conteúdo simbólico, porventura visando mais o adulto-leitor do que a criança, a artista plástica valoriza, desta vez, os tons terra e vermelho-sangue.

Pintora, ilustradora e autora de livros para crianças, a atividade artística de MB reparte-se, como se referiu já, por esses mesmos anos, pelo cinema de animação, tendo sido o seu trabalho, por diversas vezes, reconhecido nacional e internacionalmente. Em colaboração com o Filmógrafo – Estúdio de Cinema e Animação do Porto, é selecionada, em 1997, para o Cinanima, com o filme A Lenda das Amendoeiras; no ano seguinte (1998), para o Festival de Anneci, com os filmes O Macaco e a Tartaruga e A

Lebre e o Elefante; e, em 1999, para o Krok Festival de Kiev, na Ucrânia, novamente

com o filme A Lebre e o Elefante.

Até à viragem do século, realiza outro volume de ilustrações, como serve de exemplo A borboleta Leta (1998), de Maria de Lourdes Soares, vencedora, no ano de

2000, do Prémio António Botto de Literatura Infantil, e, embora a sua preocupação

artística estivesse muito além da pedagógica, integra, igualmente, equipas de autores de projetos e manuais escolares.

Por esses anos também, porventura mercê do apreço que a ilustração fora gradualmente conquistando no universo literário para a infância – e no álbum em particular –, a obra de MB goza de uma atenção relativamente acrescida por parte da crítica e da investigação.

Em 1998, na sua leitura diacrónica, intitulada Para uma História da Literatura

Portuguesa para a Infância e a Juventude, desenvolvida na esteira das abordagens de

Esther de Lemos (1972), Maria Laura Bettencourt Pires (1983) e Natércia Rocha (1984), mas com visíveis inovações tanto ao nível da sistematização e de uma mais aprofundada reflexão em termos periodológicos e críticos/analítico-descritivos, como pela atenção concedida a escritores e ilustradores contemporâneos, José António Gomes volta a convocar a produção artística de MB. Referindo-se ao aparecimento dos livros ilustrados para os leitores mais pequenos, lembra, desde logo:

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Na senda dos trabalhos de Leonor Praça, Maria Isabel César Anjo / Maria Keil (O Inverno É o

Tempo já Velho; A Primavera É o Tempo a Crescer, 1971, etc.), ou da dupla Luísa Dacosta / Armando

Alves em O Elefante Cor de Rosa (1974), a ilustradora Manuela Bacelar tem sido uma das principais impulsionadoras deste tipo de projectos (Gomes, 1998: 58-59).

Dedicando-lhe um breve e merecido espaço de reflexão, onde sublinha, entre outros aspetos, o seu gesto original e antecipado no tratamento de topoi arredados da produção literária para a infância que antecedeu o 25 de Abril, José António Gomes conclui que, «num louvável esforço de renovação do panorama editorial português dos livros ilustrados com pouco texto» (idem, ibidem: 47), a autora d’O dinossauro oferece aos seus mais novos leitores um conjunto de obras «de assinalável qualidade estética e pedagógica», nas quais «revela o seu estilo inconfundível, mas também uma conseguida pluralidade de registos gráficos e expressivos» (idem, ibidem: 59).

Dois anos depois – 2000 −, num dos seus estudos pioneiros sobre os desenvolvimentos da ilustração em Portugal, e aliás, por nós, já anteriormente mencionado, Manuela Bronze também destaca, ao lado de Maria Keil e Júlio Resende, em jeito de «balance crítico, por la globalidad de su obra, su valía y su persistencia», o trabalho da ilustradora em estudo, comentando:

Manuela Bacelar se transfigura en cada proyecto. De una manera general, trabaja la materia por acumulación o substracción para los fondos sobre el soporte que escoge. Las técnicas que utiliza son rudimentarias extrayendo de ellas vibraciones y sutilezas fantásticas.

Es cierto que la ilustración para niños se caracteriza casi siempre por la figuración; en los trabajos de Manuela Bacelar está inequívocamente presente y por eso sus ilustraciones son siempre pintura.

Encontrar a ‘Tobias’ y hacerlo nacer es descubrir con humor la simplicidad en la saturación de lo cotidiano.

Ese es el árduo camino que Manuela Bacelar nos muestra en cada obra, la originalidad consistente en ser honesto con los pinceles, las ideas, las palabras, los colores y los dibujos (Bronze, 2000: 38).

Mais tarde, o portal de literatura infantojuvenil Ricochet (Portail Européen sur

la Littérature Jeunesse) disponibiliza uma caracterização sucinta da criação plástica de

MB, assinada, em 2001, por Fanny Lacour, com base nos volumes traduzidos em França (O dinossauro e O Meu Avô, em 1992, nas edições Limaille), e na qual se balizam os dois estilos ou níveis pictóricos mais destacados do universo estético da autora apreciada:

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Manuela Bacelar semble explorer deux univers picturaux extrêmement différents selon qu’elle s’adresse aux tout-petits ou aux plus grands. […]

Elle réserve aux premiers un dessin très stylisé, proche du dessin enfantin (en particulier pour tous les éléments du décor comme les fleurs, arbres, maisons ou vagues...); les personnages sont aussi traités de cette manière: les mains et traits du visage sont simplifiés, les pieds tournés vers l’extérieur... Ils évoluent dans un espace où les décors sont réduits au minimum et sont souvent même représentés sur un fond blanc. En outre, les couleurs légèrement délavées de ses feutres et aquarelles ne coïncident pas toujours avec le trait de pastel noir dessinant ses figures, et le coup de crayon se fait parfois apparent en particulier pour les ombrages.

Aux plus grands elle offre un univers plus mouvementé et chaotique, travaillant en pleines pages qu’elle remplit de textures à l’aspect rugueux et flou en mélangeant pastel et acrylique. Les personnages qu’elle introduit sont presque vaporeux, leurs traits étant à peine suggérés. Toute allusion au dessin enfantin est alors abandonnée, les illustrations baignant parfois même dans une atmosphère proche du fantastique. […]

Manuela Bacelar truffe parfois ses illustrations des références les plus diverses: dans La Petite

Sirène, on retrouvera par exemple des cieux mouvementés rappelant ceux de Turner côtoyant un intérieur

sombre illuminé d’une tache de lumière inspiré des atmosphères propres à l’Ecole hollandaise. […] (Lacour, 2001: s.p.).

O gesto artístico de MB ganha, pois, uma manifesta visibilidade, não só em Portugal, como no estrangeiro, e apesar de sentir algumas dificuldades em resultado da sua projeção, sobre as quais expressa, aliás, desapontada: «Não passei a ter mais trabalho por isso… bem ao contrário: passei a ter menos encomendas. Passei a ter fama de artista cara e inacessível, e, durante um ano ou mais, fui muitas vezes entrevistada, e sempre com as mesmíssimas perguntas.» (Bacelar, s.d.), a autora leva a cabo, na primeira década do século XXI, outro número considerável de trabalhos, a começar pelas ilustrações de obras como O rapaz que vivia na televisão e outras histórias (2002), de Luísa Ducla Soares, A dança dos anjos para todas as idades (2003), de Maria de Lourdes Soares, Uma prenda muito especial (2004), de Margarida Fonseca Santos, e uma reedição de História com grilo dentro (2004), de António Torrado.

Também no âmbito do picturebook, a autora d’ O meu avô retoma a sua atividade silenciada durante perto de dez anos com o título Sebastião, vindo a público em 2004. E se era já escassa a edição de obras onde as linguagens verbal e icónica se relacionassem intersemioticamente, menos comum ainda era a edição de obras unicamente compostas por imagens ou até mesmo com duplo sentido de leitura, como se configura, visual e graficamente, o álbum citado. Projeto original e inovador no

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quadro da literatura portuguesa para a infância, também ele objeto de algumas análises críticas115, Sebastião veio comprovar «o inegável pioneirismo que distingue a produção artística da premiada ilustradora Manuela Bacelar» (Silva, 2010: 69).

2004 é outro ano relativamente profícuo do ponto de vista da investigação e da crítica em torno da obra de MB. Além do seu destaque na 6.º edição dos Encontros sobre Literatura para Crianças e Jovens, “No Branco do Sul as Cores dos Livros” (Beja), cujas atas (2006) incluem um estudo sobre “As cores de Manuela Bacelar e as cores dos livros”, da autoria de Danuta Wojciechowska, assim como um testemunho da própria artista plástica acerca do seu percurso artístico, intitulado “O meu caminho pela ilustração”, o nome da autora em epígrafe serve, igualmente, de mote ao 6.º número do “Solta Palavra” – boletim do CRILIJ (Centro de Recursos e Investigação sobre Literatura para a Infância e a Juventude). Neste último, reúnem-se outros ensaios significativos para a compreensão da obra da criadora, nomeadamente os assinados por Gil Maia, Eduarda Coquet e José António Gomes, respetivamente “Manuela Bacelar: um sol para as histórias escritas”, “Eu gosto desta porque tem uma menina com neve na cabeça” e “Manuela Bacelar: da ilustração ao álbum”116

. Genericamente, estes estudos analisam, de forma mais ou menos aprofundada, a produção artística de MB, sintetizando aquelas que serão, com efeito, algumas das «zonas marcantes» (Maia, 2004: 5) da sua obra de ilustração, e apontando, simultaneamente, alguns dos seus textos icónicos – ou verbo-icónicos – de potencial receção infantojuvenil.

Neste mesmo ano – 2005 –, MB prossegue com a ilustração de livros para crianças e jovens, tais como O castelo verde, de Maria Isabel Mendonça Soares, O gato

Karl, de Francisco Duarte Mangas e O pastor de nuvens, de Inácio Nuno Pignatelli, mas

este é também o ano da edição do álbum Bernardino. Construído sob o signo da diferença e da individualidade humana – eixo ideotemático privilegiado pela autora em estudo –, este título tem merecido a sua referência em leituras pontuais e de caráter mais sucinto117, tendo sido publicado, mais recentemente, por Ana Margarida Ramos, José António Gomes e Sara Reis da Silva, o comentário “Bernardino, de Manuela Bacelar:

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Leia-se, desde logo, uma interessante recensão crítica da obra assinada por Sara Reis da Silva (2010).

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Não reiteraremos, aqui, a referência ao texto anteriormente mencionado da autora em estudo, republicado neste mesmo boletim.

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unidade, equilíbrio e inovação na construção verbo-icónica”118, com o propósito notório de analisar a componente plástica e a inter-relação entre os discursos verbal e pictórico.

Também em 2006, a intersemiose imagem-texto no álbum O meu avô é analisada na dissertação de Mestrado de Manuel Jorge Carvalho, apresentada à Universidade do Minho e intitulada A interacção semiótica texto-imagem nas obras

impressas e ilustradas de literatura infantil: ler, ver, desconfiar..., e na qual o autor

indaga o modo como o álbum,

[…] evidenciando uma inquiridora solidariedade entre os códigos verbal e icónico, parece concretizar, quer do ponto de vista expressivo, quer narrativo, um papel relevante da ilustração e do design gráfico na estrutura do livro, pressupondo a sua leitura como um todo (Carvalho, 2006: 3).

Até ao final da década, embora em mais parco número, serão dadas à estampa outras edições infantojuvenis ilustradas pela artista plástica, abrangendo técnicas visuais distintas.

Exemplo disso é a componente ilustrativa que realiza, em 2006, para Poema

Pial, originalmente incluído em Canções para acordar crianças (poemas para Lili), de

Fernando Pessoa. Numa sugestão plástica original, suportada por uma expressiva paleta cromática, MB opta, desta vez, por aliar à pintura o recorte e a colagem de um conjunto de fotografias e desenhos conhecidos, alguns, até, alusivos ao próprio poeta, explorando formas geométricas numa arte próxima do cubismo.

Nesse mesmo ano (2006), deixa-se, ainda, guiar pelo sabor da língua checa nas ilustrações de Todos p’ra mesa, do artista praguense Jorge Listopad.

Já em 2008, comprovando «maturidade e inovação» (Gomes, 2009: 53), MB apresenta ao público o livro certamente menos esperado no domínio da literatura dirigida à infância – O Livro do Pedro (Maria dos 7 aos 8) –, também ele objeto de várias reflexões em torno da temática nele retratada119, pela novidade e originalidade de que se reveste. Numa atitude singular e ousada, a autora recria, pois, por entre palavras

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In Roig Rechou, Soto López & Neira Rodríguez (2011). 119

Vide Gomes (2009), Ramos (2009b) e Rodrigues (2009; 2010). Atente-se, também, no número de recensões e blogues dedicados à obra, designadamente, e entre outros, em http://olivrodopedro.blogspot.com/, http://alcameh.blogspot.com/2008/02/sobre-o-novo-livro-de- manuela-bacelar.html, http://cadeiraovoltaire.wordpress.com/2008/03/24/bloco-de-notas-ii/, ou, ainda, http://lerbd.blogspot.com/2008/05/trs-livros-infantis-nada-infantis.html.

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e imagens, um tópico incomum nos livros de destinatário explícito infantil120: a homoparentalidade.

Ao longo do seguinte biénio, MB também ganha atenção especial em três investigações de teor académico. A primeira, da autoria de Mariana Cortez, realizada no âmbito de um Doutoramento em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, apresentada, em 2008, à Universidade de São Paulo (Brasil), intitula-se Por

linhas e palavras: o projeto gráfico do livro infantil contemporâneo em Portugal e no Brasil. Já a segunda, correspondente à dissertação de Mestrado em Línguas, Literaturas

e Culturas de Maria Amélia Pinheiro, defendida, em 2010, na Universidade de Aveiro, tem por título A representação do silêncio em dois álbuns narrativos para a infância. O primeiro estudo teve por objetivo comparar as produções artísticas de um autor português – Manuela Bacelar – e um autor brasileiro – Roger Mello –, analisando a composição gráfica e a relação texto-imagem dos livros que ambos artistas plásticos escreveram e/ou ilustraram, nas duas últimas décadas do século XX e nos princípios do século XXI, tendo sido observados, da ilustradora em estudo, os textos e/ou as imagens d’O dinossauro, A sereiazinha e Sebastião.

Embora o contexto e a natureza destes dois estudos os distingam na sua substância e no tipo de contribuições requeridas, é, contrariamente ao expectável, o trabalho de Mestrado o que, a nosso ver, maior rigor científico patenteia. Com efeito, ainda que se centre em um só álbum de MB – Sebastião –, visando «demonstrar como, à margem da enunciação verbal (e, portanto, através do silenciamento da palavra), é possível produzir unidades narrativas de sentido essenciais à textualização de qualquer história» (Pinheiro, 2010: s.p.), a investigadora revela, desde logo, preocupação em contextualizar a obra da artista plástica em estudo, estabelecendo relações de interesse na análise posterior, como também demonstra, a este último nível, um cuidado superior na leitura e no aprofundamento de questões de ordem plástica/gráfica.

Finalmente, o terceiro estudo, publicado em 2010, nas atas do 8.º Encontro

Nacional (6.º Internacional) de Investigação em Leitura, Literatura Infantil e Ilustração

(Braga), resulta da comunicação proferida por Maria do Sameiro Pedro no referido

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Ainda que numa tipologia distinta, Miguel Vale de Almeida publicara, em 2005, o conto “A Escola do Arco-Íris”, editado pelos Médicos do Mundo na coletânea Quem Conta um Conto Ajuda um

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congresso. Sob o título «O Tobias de Manuela Bacelar», a investigadora do Instituto Politécnico de Beja propõe uma reflexão sobre os mecanismos metaficcionais/metacriativos que caracterizam a coleção homónima, bem como sobre «as suas potencialidades pedagógicas no processo de formação de leitores» (Pedro, 2010: 220).

Também no ano de 2010 MB realiza outros trabalhos plásticos. No domínio da edição juvenil, ilumina o texto de Mãe, Não Pises a Minha Sombra!, de Ana Esteves, vencedor do Prémio Literário Maria Rosa Colaço em 2009, na modalidade de Literatura para a Infância, sendo também, nesse ano, que a ilustradora alia à escrita de Carlos Tê um conjunto admirável de desenhos, realizados em tinta da china e aguarelas, no livro

Cimo de Vila; uma obra vocacionada para o público adulto, cujo fio unificador é a

cidade do Porto.

Para ultimar a nossa leitura diacrónica, mencione-se outra investigação académica realizada, em 2011, por Susana Maria Sousa Lopes Silva, e que teve por objeto de estudo a criação plástica da ilustradora em epígrafe. Inserida numa tese de Doutoramento em Estudos da Criança (na especialidade de Comunicação Visual e Expressão Plástica), da Universidade do Minho, o referido trabalho, subordinado ao tema A Ilustração Portuguesa para a Infância no Século XX e Movimentos Artísticos:

Influências Mútuas, Convergências Estéticas, visou conferir uma «imagem global da

ilustração das produções literárias para a infância realizadas em Portugal a partir de meados do século XX», a partir de uma leitura crítico-comparativa das obras de Maria Keil e Manuela Bacelar.

Em jeito de epílogo, recorde-se que a artista plástica, reconhecida nacional e internacionalmente, foi somando ainda, ao longo destes anos, inúmeras exposições individuais e coletivas, participando regularmente em Bienais de Ilustração – Barcelona, Bratislava e Belgrado –, assim como em Exposições Internacionais de Ilustração – Itália, França, Áustria, Espanha, Eslovénia, Japão ou Singapura –, tendo sido selecionada pela Diesertina Veriag para o livro Modernos Ilustradores Europeus.