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3. UMA EXPERIÊNCIA AUDIOVISUAL COM A CIA PÃ DE TEATRO

3.2 HISTÓRICO DA CIA PÃ DE TEATRO

A Companhia Pã de Teatro Pesquisa Produção Artística e Cultural, foi fundada em 15 de Abril de 1996 pelo Diretor e Dramaturgo Karlo Kardozo, com o objetivo de desenvolver técnicas de pesquisa e produção cênica de contação de história, visando o desenvolvimento de uma poética pluricultural, centrada na performance do ator.

È composta pelos seguintes membros: Amalia Moraes, Barbara Luma, Cícero Teixeira Lopes, Edneia Tutti, Eugênia Siebra, Felipe Camilo, Karlo Kardozo, Luiza Torres, Maria Rosa Meneses, Mário Filho, Suzy Élida. Os membros transitam entre a pesquisa, a contação de histórias e atuação/perfomática. No momento a Cia Pã tem sua sede no Bairro do Benfica, um bairro universitário da cidade de Fortaleza e que se transformou em um dos “palcos principais” para desenvolvimento de suas “estratégias cênicas”.

No ano 1997, a Companhia se integra à Associação de Teatro Radicais Livres, fusão de três grupos: a Companhia Pã, o Grupo de Pesquisa de Ricardo Guilherme e a Companhia Pessoa de Teatro de Ghil Brandão. Da junção dessas companhias surge o espaço: Teatro Radical ( seu funcionamento vai de 1997 a 2000). Foram produzidos

141 O material recolhido para construção desse histórico encontra-se no site da revista eletrônica Pã,foi

nesse espaço durante essa temporada: espetáculos teatrais, palestras, oficinas, seminários, shows musicais e exposições de artes plásticas e fotografia. Mesmo tendo o espaço fechado, a Associação de Teatro Radicais continuou produzindo artisticamente até 2005.

A Partir de 2007 a Companhia Pã inicia sua fase atual de pesquisas e produção. As pesquisas em artes cênicas (teatro, dança, palhaçaria, contação) são ampliadas. Sua atuação passa acontecer de forma hibridizada a partir da integração com outras linguagens e meios. São criadas conexões com as artes visuais, a música, o audiovisual e as novas tecnologias. Essas interfaces dialogam entre si e complementam de certa forma, o modo de intervenção/perfomática do grupo no espaço urbano, representado pela cidade de Fortaleza e sua memória. Abaixo alguns desses projetos.

Projetos desenvolvidos pela Companhia:

• Cidade Noiada (2009) – Compreendendo a cidade em sua estrutura de asfalto e cimento como um ambiente hipertextual, desenvolver ,em incursões investigativas pelo campo da antropologia, da filosofia e da política, uma poética transdisciplinar conectada com termos e códigos propostos pela contemporaneidade,.

• Janelas na Cidade (2010-2011) (um desdobramento da pesquisa de Cidade Noiada premiado com o VI Edital de Incentivo às Arte da Secult-CE);

• Pã Revista de Arte e Cultura (2010) - revista eletrônica com transmissão de programas e ações ao vivo e on-line;

• Farol da Memória (2010-2011) – Projeto de artes integradas desenvolvido no Bairro Serviluz (Fortaleza CE)

• Travessias (2010) – Pesquisa em dança sobre corpo e cidade.

O projeto “Cidade Noiada: Dialogicidade” é o pioneiro, teve início em 2009. Suas intervenções performáticas são registradas por “olhos mecânicos” (webcams, câmeras de vídeo e câmeras fotográficas) e lançados no espaço virtual142, tendo como “palco”

142 As imagens das intervenções são editadas e depois colocadas no site. Não se trata de uma

intervenção performática em telepresença que se dá em tempo real e pela internet. Conceito que não trabalho nessa pesquisa.

qualquer ponto da cidade. O objetivo é de encontrar na rede, na internet, uma possível cumplicidade com espectadores, por meio de “tele/presença”. No entanto, a câmera é utilizada para um registro documental das imagens de suas intervenções pela cidade. Essas imagens são editadas posteriormente e postadas no site do grupo.143 Constato no papel da câmera (como instrumento de registro e difusão) e na postura dos atores com a mesma que existe um espaço, uma “brecha” para problematizar as definições de presença – objeto dessa pesquisa. Encontro nas definições do grupo sobre o projeto “Cidade Noiada”, ainda que de forma diluída pela fricção entre as várias linguagens, uma “timida” preocupação com a presença cênica e a sua veiculação em telas, o projeto citado é conceituado pela Cia Pã da seguinte forma:

Cidade Noiada é antes de tudo um ato político. O teatro posto como interface para dialogar com a cidade. DialogiCidade. O teatro como código, inserindo-se na sintaxe do cotidiano. Interferindo no fluxo da polis. Cidade Noiada está nas ruas, nas vias, nas infovias, construindo conexões, reflexões, crítica. Ação

presencial (grifo meu)e viral, no asfalto e no silício, imbricando-se na tessitura

das relações urbanas concretas e virtuais.144

Na continuidade farei um relato sobre a minha segunda visita a Cia Pã em junho/julho de 2010 para criação e realização de um experimento audiovisual a partir do texto “Vadia” escrito por Karlo Kardozo, que também é diretor do grupo.

3.3 “VADIA” EM FRAMES

Na segunda visita fiquei 27 dias (09/06/2010 a 05/07/2010). O objetivo dessa segunda visita foi à realização de uma experiência audiovisual, que começou criar a forma no primeiro encontro. Uma das observações que fiz na minha primeira visita estava diretamente ligada à relação do grupo com a “contação”145 de histórias. No histórico do grupo e em algumas conversas informais, pude constatar que essa

143 Ainda que tenha no nome o termo Companhia a estrutura legal é de um grupo de teatro sem fins

lucrativos. Os membros do grupo ganham cachês, entendem o teatro de forma profissional, mas exercem profissões paralelas.

144 Disponível em sitio da Cia Pã. http://parevista.org/revista/index.php/companhia/o-coletivo.htm) visitado

em 15 março de 2011.

influência estética acontecia por opção146 e porque uma parte do grupo trabalhava formalmente como contadores de história147. Outra observação importante - que se tornou fundamental para a criação e problematização de meus objetivos audiovisuais - era a existência de algumas criações performáticas em fase de construção ou em forma de apresentação com textos de membros do grupo. Percebi que os atores se sentiam mais a vontade com textos poéticos, baseados em sua realidade regional, e que talvez isso fosse um bom “gancho” para realizarmos uma experiência, além disso, tínhamos pouco tempo.

È importante ressaltar, ainda, que se tratando da região nordeste, onde a tradição oral é muito forte, esse foi um fator que procurei valorizar neste experimento audiovisual. Tais observações davam ao desafio de experimentar uma linguagem audiovisual com os atores da Cia Pã, uma complexidade que ia além de técnicas de enquadramento de seus corpos ao “olho mecânico”. Enfim, teríamos, menos de um mês, para fazer as devidas adaptações em um desses textos, e consequentemente, transformá-los em um roteiro audiovisual.

A dificuldade de adaptação de uma linguagem para outra é um fator de alto risco que resolvi correr, desde que essa troca sobre o entendimento de presença, fosse uma abertura para reflexões dentro do próprio grupo acerca da presença da câmera como um elemento a mais de linguagem.

Pois bem, depois de apresentar minhas propostas e ouvir as sugestões do grupo, tracei as metas para atingir meus objetivos e realizar essa experiência:

1) Reuniões periódicas para discutir sobre o entendimento das diferenças entre o estado de presença no teatro e no audiovisual.

2) Escolha de um possível texto para criação do roteiro 3) Gravação do experimento148

4) Considerações sobre as minhas visitas e reflexões com o grupo149

146 Acredito que a tradição da poesia de cordel nordestina possa ter ajudado nessa opção.

147 Três membros do grupo (Luisa,Cícero e Chicão) trabalham na biblioteca do bairro do Benfica como

contadores de história

148 Devido ao meu tempo de permanência em Fortaleza decidimos que este material seria editado pelo

diretor, e só depois poderíamos mostrar publicamente.

Devo dizer, que após vários encontros, onde pude debater150 com os atores da Pã as diferenças entre a atuação no teatro e no audiovisual e a possível consciência do potencial de presença nas duas linguagens decidimos por adaptar um fragmento do texto151 “A vadia” escrito pelo de diretor Karlo Kardozo. O texto vinha sendo apresentado como uma intervenção nos bares do bairro do Benfica. “Vadia” é um solo feito pela atriz Luiza Torres que de forma poética, quase cordelista, trata da história de uma prostituta, as preocupações estéticas do grupo com as intervenções nas ruas do bairro do Benfica e hibridização em suas linguagens – características que aparecem no texto de Kardozo. A meu ver, torna-se quase um manifesto para o projeto “Cidade Noiada”.

Foram escolhidos alguns fragmentos que entre cortes e recortes feitos por mim e Karlo, chegando assim em uma ideia de roteiro152. A escolha para atuação foi, de certa

forma, influenciada pelo excesso de compromissos profissionais dos outros membros do grupo, pois os impedia de participarem dos ensaios. A pessoa que tinha maior disponibilidade de tempo era a atriz Luiza Torres. No entanto durante todo processo os membros estiveram presentes. Formamos uma equipe “quase profissional” com direito a contrarregras, maquiadora, figurantes, fotógrafos, iluminadores etc. A direção e manipulação da câmera ficou a cargo de Karlo Kardozo e fiquei responsável direção de ator/atriz, embora tivesse total liberdade para discutir o posicionamento da Câmera153.

As gravações aconteceram na casa-sede154 do grupo e na frente da mesma, ali estruturamos o set de filmagem. Utilizamos um dos quartos da casa para as gravações internas. Na rua em frente à casa gravamos as cenas externas. As gravações foram feitas em três dias durante dois períodos. A tarde fizemos as cenas internas e durante a noite (madrugada) as cenas externas.

publicou na revista eletrônica Pã. Esse artigo será colocado aqui na íntegra.

150 O grupo em parceria com o curso de artes cênicas promoveu a palestra: ”o trabalho do ator com a

câmera” que ministrei no Teatro do curso de Artes Cênicas da UFC (Universidade Federal do Ceará) e foi

aberta para toda comunidade.

151 O texto foi colocado em sua integra no anexo dessa dissertação. 152 Colocado em sua integra no anexo dessa dissertação.

153 Utilizamos uma Câmera Digital :JVC HD Everio GZ-HD6.

154 Nesta época a sede funcionava na casa do próprio diretor, local que fiquei alojado nas duas vezes que

estive ali vez. Hoje a Cia Pã de Teatro tem uma sua sede em uma casa alugada pelo grupo, no bairro do Benfica.

Todo grupo participou discutindo as decisões durante as gravações. O experimento funcionou como uma aula - prática para os debates que provoquei no início do processo.

O material produzido foi visto155 em “copião”156 pelos membros do grupo, minha

intenção foi de fazer uma reflexão critica do entendimento de presença e tele/presença. Entretanto, tal análise comparativa só poderá ser feita depois das imagens editadas pelo diretor Karlo Kardozo. As imagens desta experiência ficaram com o grupo por uma decisão que tivemos no início do processo.

Para complementar essa pesquisa e ilustrar meu relato sobre essa experiência fiz um making off157 das gravações que foi editado com outras experiências

comentadas durante esse estudo. Sendo assim, abaixo são colocadas algumas imagens (still) que complementaram essa ilustração, além de um texto poético do diretor Karlo Kardozo que define minha presença na cena cotidiana da Cia Pã de Teatro nestes dois (re) encontros.

155 No ultimo dia de minha estadia . 156 Material bruto sem edição.

157 Gravação dos bastidores dessa experiência audiovisual, foi editada junto com outras experiências

citadas no decorrer da pesquisa e acompanhará esta pesquisa no formato DVD. A intenção é demonstrar a minha relação com a equipe, o desenrolar do processo de direção com a atriz, as dificuldades do trabalho com um texto adaptado e com características regionais.

O PALCO, A RUA E O OLHO DA CÂMERA158

Caminhava pelos inícios dos noventa quando encontrei numa esquina do Theatro o velho cigano Lau. Trazia no bisaco algumas máscaras, uma lona de circo, três ou quatro pantomimas e um punhado de idéias malucas. E eu, que procurava rumo e não prumo, me ajuntei na munganga e saímos por aí em estripulias.

Neo-bufões pós-tudo a entremear movimentos pela cidade. E dizíamos ir mais além. Um movimento para mudar as cores da bandeira, inverter hinos e quem sabe derrubar a coroa de reis e rainhas. Durou pouco, porém o arrufo. Alguns engradados de cerveja. E mais algumas, em festas inventadas ou invadidas apoteoticamente na madrugada. E já lá ele se foi, como se veio. Lau-Nau, ciganando de cidade em cidade, semeando e se irmanando com outras gentes e lugares.

Quase duas décadas se passaram. Marés e luas se alternaram lavando memórias e iluminando lembranças. As cidades estreitaram as calçadas e ampliaram as avenidas. Substituindo o paralelepípedo e o concreto pelo silício. As janelas se fechavam a cada nova tela que se abria e as cadeiras da calçada diante delas se postavam. Conectaram-se distâncias. E o tempo se acumulou sobrepondo-se em pilhas. Tempos de antanho sendo num mesmo tempo do pós-nós-todos, um espraiar amalgamado de todas as eras, sem que nada estivesse verdadeiramente no hoje. E eis que num é que de repente vejo pela minha tela-janela um aceno cigano do velho camarada Lau. Não tinha ouro no dente, mas platina na perna e os cabelos já

158 Texto tirado da revista eletrônica pã : http://parevista.org/revista/index.php/colunas/palavrando.html,

prateando. Dizia ter perdido as máscaras e a lona, mas guardava no bisaco ainda um punhado de idéias malucas. Acenei-lhe de volta lembrando-lhe as cervejas guardadas. Espólio de alguma festa saqueada e que foram esquecidas na geladeira. Dito a senha, rompeu-se a tela e o que era memória se fez presença.

Andava eu, por essa época, entretido com uma vadia. Intervinhamos nos fluxos urbanos, experimentando as tramas da rede, virando latas e copos. Planejávamos rever a vida, desencubar novas crias. Arregimentar noiados para nomadiar entre as tribos da cidade. Desvelávamos esquinas sombrias, casas abandonadas, e impúnhamos outros usos às calçadas estreitas das ruas. Junto aos Pãndegos que integravam nosso bando, desassossegávamos os tempos e os lugares e acumulávamos os despojos em territórios errantes, lugares de tempos breves que logo depois de sidos desaparecem reinventando-se em outras acontecências.

Pois foi em meio a esse desprumo que o pirata neocatalão com seu olho mecânico desembarcou novamente por essas paragens. Trouxe apenas meia lembrança daquele tempo para que pudesse redescobrir a outra metade em nossas intermináveis conversas. No outro espaço do seu HD repartido, comprimiam-se mil e uma noites de aventuras e experiências que ele dividia em generosas porções com o bando. Armada a tenda e conectada a rede começamos a tramar takes para a tela. Palco, rua, tela.

O corsário pós-dramático, sempre cheio de inquietudes, agora vivia glauberianamente com uma câmera na mão e o bisaco cheio de idéias. E eu como sempre, mais atrás de rumos do que de prumos. Voilá! Estava armado o Set.

Foram uns trinta dias divididos em duas tomadas. A primeira em novembro do ano passado. A segunda, rodamos agora. Não sem antes incendiarmos os bares dos arredores. Viramos noites. Atravessamos dias de sol, chuva e ressacas. Mas ao final, a vadia virou diva da tela e o entregador da lanchonete da vizinhança quer o seu autógrafo. No último dia de sua mais recente estada a pequena Redenção amanheceu com ares de Cinelândia. Palco, rua, tela. Cheio de links e saudades a Nave-Lau partiu do cais 85.

Mais um curta na passagem. Na esquina do Boteco da esquina o guardador de carros agita sua flanela como um lenço. Abro uma cerveja, acendo um cigarro e vou

rever as últimas tomadas dessa longa, que é nossa amizade gravada em alta definição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para um artista toda finalização é um início de outro processo. Uma obra nunca está acabada. Para um pesquisador é fundamental sistematizar o processo, tecer possíveis finalizações através de conexões que devem ser fundamentais. Para um artista- pesquisador, termo utilizado pela maioria dos artistas que frequentam o universo acadêmico, oscilar entre as demandas objetivas do pesquisador e deixar-se levar pelos delírios dionisíacos inerentes ao ato de criação torna-se uma tortura. Essa fricção entre subjetividade e objetividade muitas vezes transformou-se em curto circuito sináptico que queimou meus neurônios madrugada adentro.

No entanto, busquei neste estudo encontrar espaços, buracos, brechas em um objeto mitificado como irrevelável e misterioso - chamado presença. A relação entre presença e ausência foi uma constante durante a escritura dessa dissertação. O artista e o pesquisador estiveram variando a intensidade presencial e se atritando durante algumas reflexões mediadas pela fenomenologia apresentada por Martín Heidegger. Trazer para uma reflexão sobre presença cênica o conceito de Dasein foi um ato arriscado e muitas vezes desafiador, pois muitas pessoas desestimulavam minha iniciativa. Sou consciente de minhas limitações filosóficas, mas nem por isso deixei de “ousar” em minhas analogias tentando estabelecer diálogos, que para “muitos” eu não deveria nem ter começado. Não sei se o artista, nesse momento, gritou mais alto, o fato é que segui minhas intuições.

Pois bem, ao escolher como escopo dessa pesquisa a presença cênica e suas variantes mediadas por uma câmera “deslizei” entre duas linguagens que tratando-se deste tema e tendo o ator como protagonista, na maioria das vezes, são vistas de forma opostas. A antiga dicotomia que ‘ator de teatro é de teatro’ e ‘ator que trabalha com o audiovisual159 só serve para essa linguagem’ é, a meu ver, obsoleta para os tempos

atuais.

Como observei durante a realização desta pesquisa essas linguagens já não

159 Quero deixar claro que apesar de reconhecer tecnicamente as diferenças entre a linguagem televisiva

e a cinematográfica, insisto no fato que neste estudo torna-se importante a generalização dessas duas linguagens no termo audiovisual. Pois um dos meus objetivos como pesquisador é reconhecer o estado de tele/presença na relação do ator com a câmera indiferente de suas especificidades técnicas no ato de captura da imagem..

parecem tão distanciadas. Ocupam o mesmo “ palco” em uma espécie de metamorfose em algo que não se sabe ainda o que é. Um “algo” que conhece e parece respeitar a particularidade do fenômeno presencial nas duas linguagens. A magia do teatro se realiza através de sua efemeridade e do encontro direto com o espectador. Cabe ao ator “vivenciar” uma troca que entendo, como uma necessidade, quase que orgânica, no comportamento humano no ato desse fenômeno cênico.

Sendo assim, não acredito no desaparecimento dessa forma teatral, pois enquanto houver alguém para “se dar a ver” e alguém para “ver esse alguém” esse formato se manterá. Como mostram os velhos griots160 africanos esse tipo de encontro

não deverá desaparecer tão cedo. A linguagem audiovisual com seus atores (ciberatores), com seus “avatares”, reivindica um espaço no imaginário do tele/espectador cada vez maior. As máquinas de imagens se sofisticam e invadem nossas casas a cada segundo. Portanto, mantendo as diferenças estruturais e técnicas essas duas linguagens o teatro e o audiovisual seguem seus compromissos com o tempo, com sua contemporaneidade.

O tempo, foi ele que me levou a construir essa pesquisa. Ele esteve presente “todo tempo” marcando cada espaço entre as letras que escrevo. Fez com que o artista e pesquisador se encontrassem em momentos anacrônicos de uma história de vida marcada por elipses. O tempo registrou sua marca ao fazer com que o artista retornasse a Fortaleza como um pesquisador para (re) inventar “contações” de histórias com câmeras, e documentar estados de presença.

Enfim, é através do tempo que reconhecemos a presença e ausência, é nesse espaço intermediário que se apresentam as categorias de presença que procurei identificar neste estudo. As sistematizações de possíveis evidências presenciais aqui problematizadas servem, portanto, a meu ver, como um espaço de reflexão sobre o papel do ator na cena contemporânea e o seu transito na criação de outras presenças. Em anexo segue um DVD, editado com os trabalhos “experimentados” aqui. Esse DVD é memória, é registro do tempo, registro de um tempo que aconteceu neste estudo.

REFERÊNCIAS

AMIEL, Vicent. Présence et fragmentation chez Mankiewick. In: FARCY, Gérard-Denis;