• Nenhum resultado encontrado

A Formação Universitária dos Docentes do Curso de Pedagogia

2. Corpo docente da Faculdade de Educação da UFRJ

2.1 Histórico da formação (1969-2015)

Criada em 1968, como um desdobramento da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), a Faculdade de Educação da UFRJ tem hoje sob sua responsabilidade institucional o curso de Pedagogia, parte da carga de todas as licenciaturas oferecidas na Universidade, um programa de pós- graduação com mestrado e doutorado, bem como inúmeras outras ações de ensino, extensão e pesquisa.

Para tanto, inicialmente organizou-se com sete departamentos, sucedâ- neos das cátedras, extintas com a promulgação da Lei 5540/68, que dispõe sobre a Reforma Universitária: Departamento de Fundamentos Biológicos da Educação; Departamento de Psicologia da Educação; Departamento de Fundamentos Sociológicos da Educação; Departamento de História e Filosofia da Educação; Departamento de Metodologia da Pesquisa em Educação; Departamento de Administração Escolar; Departamento de Didática (UFRJ/FE, Regimento de 1969, apud RODRIGUES, 2013, p.105).

A divisão original se manteve, com leves alterações nos nomes, até a primeira metade dos anos 1990, quando uma redepartamentali- zação determinou a manutenção dos departamentos de Administração Educacional e de Didática e a fusão dos outros cinco em um só, deno- minado Departamento de Fundamentos da Educação, configuração que perdura até hoje.

A Reforma Universitária promovida no final dos anos 1960 pela ditadura que governava o Brasil - por não resultar de debates ou

acúmulos dos segmentos sociais nem, muito menos, do meio acadê- mico – impôs um modelo de formação indesejado e inexequível, como o tempo logo demonstraria, e conseguiu estabelecer uma lógica fundante negativa para as unidades de educação que até hoje se tenta transformar.

As reformas ocorridas desde então, tanto no curso de Pedagogia quanto nas licenciaturas, levaram a que hoje se estabeleça que o primeiro destina-se basicamente a formar professores – e não apenas para o magis- tério de Ensino Médio, mas principalmente para a Educação Infantil, o primeiro ciclo do Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos – ao passo que as licenciaturas ganharam novos desenhos curriculares, com acréscimo de horas práticas e antecipação na grade da presença dos saberes teóricos da área de educação, com o objetivo explícito de que tais cursos passassem a ter uma identidade própria, deixando de ser apêndices dos cursos de bacharelado.

Embora seja inegável que tais mudanças representam avanços no que se refere tanto à opção pela docência como centro da formação nos cursos de Pedagogia quanto à busca de uma simetria maior entre os saberes presentes nos cursos de licenciatura, os efeitos residuais dos modelos ante- riores ainda se fazem flagrantes nas organizações curriculares dos cursos que formam professores de escrita para a Educação Básica.

Muitos contrastes evidenciam que, a despeito das reformas ocorridas, prevalece uma clara oposição entre os referidos cursos no que se refere à densidade com que os diversos saberes contribuem para a formação dos respectivos professores. E esta divisão tem forte impacto na composição dos corpos docentes das unidades. Enquanto na Faculdade de Letras os profissionais precisam e podem ter sua formação e suas atividades de pesquisa e extensão na área de Letras; na Faculdade de Educação, o corpo docente se estrutura com uma expressiva diversidade de formações e de áreas de atuação.

A origem mais recente de tal composição remete de novo ao contexto da Reforma do final dos anos 1960 e, mais particularmente, à década de 1970. Desmembrada a FNFi, coube à Faculdade de Educação, como já se viu aqui, dar conta de um curso de Pedagogia desenhado sob a égide do tecnicismo vigente, para formar especialistas e professores de curso Normal, bem como completar, com fundamentos da educação e práticas de ensino supervisionadas, a formação dos demais licenciandos, estes oriundos de bacharelados de cunho conteudista.

Segundo Rodrigues (2013), a unidade, no que se refere ao seu corpo docente, não estava preparada para levar a cabo nenhuma das duas atribuições:

A leitura das atas permitiu a constatação de que a falta de professo- res foi uma constante nos anos inicias da Faculdade de Educação, não só pelos motivos acima expostos, como também em conse- quência da proibição de concursos para o magistério nos primeiros anos posteriores à Reforma Universitária, já que a legislação em vigor modificava a carreira do professor das universidades fede- rais. A forma encontrada para solucionar tal problema foi a contra- tação de professores auxiliares, normalmente eram antigos alunos que haviam se destacado nos estudos da graduação, para minis- trarem aulas nas disciplinas que tivessem ausência de professores (RODRIGUES, 2013, p.104).

Parte significativa dos professores recrutados sem concurso atuava nas práticas de ensino, sob duas formas de contratação precária2: a de Auxiliar de Ensino e a de Professor Colaborador, este com regime muito semelhante ao do atual Professor Substituto.

Ao final de uma longa e histórica greve ocorrida em 1980, o Presi- dente João Figueiredo e seu Ministro da Educação, General Rubem Ludwig, sancionaram o Decreto no 85.487, que dispunha sobre a carreira do magistério superior nas instituições federais autárquicas, prevendo uma estrutura com quatro classes de Professor - Auxiliar, Assistente, Adjunto e Titular -, cada uma com quatro níveis. A ascensão entre os níveis ocorreria automaticamente a cada interstício de dois anos, sendo previsto enqua- dramento direto na classe de Assistente, quando da obtenção do título de Mestre, e na de Adjunto, com o de Doutor.

A aprovação do Plano, comemorada como uma vitória do movi- mento docente, conteve pelo menos uma medida bastante questionável no que se refere ao enquadramento dos docentes que atuavam nas IFES3. Isto porque, ao contrário do que seria razoável supor, o Ministro não só enquadrou sem concurso todos os auxiliares de ensino e profes- sores colaboradores, como o fez na classe de Professor Assistente I, o 2 Contratos com prazo limitado à duração do ano letivo (em geral de 10 meses), sem

direito a 13º salário nem férias.

que representou um salto de pelo menos oito anos no percurso previsto na recém-criada carreira.

No caso do corpo docente da FE/UFRJ, isso levou a uma equiparação na mesma classe de profissionais com tempos, trajetórias e experiências acumuladas muito distintos. Em compensação, também a partir dos anos 1970, os docentes mais antigos da unidade, oriundos da FNFi, em sua maioria, passaram a buscar qualificação em nível de pós-graduação, movi- mento seguido, nos anos 1980, pelos auxiliares de ensino e colaboradores recém-enquadrados como assistentes. Desta forma, ao final dos anos 1980, a maioria do corpo social da FE detinha o título de mestre.

Em 1987, por meio do Decreto 94.664, aprovou-se o Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos de que trata a Lei nº 7.596, de 10 de abril de 1987, em que foram mantidas as classes e referên- cias anteriormente previstas, e extinto, como forma de ingresso, o regime de 40 horas semanais sem dedicação exclusiva, no qual, todavia, poderiam permanecer os docentes que já pertenciam aos quadros das IFES na data da entrada em vigor do referido decreto4. Esta, aliás, foi a opção de significativo conjunto de professores da FE, em especial os de Didática Especial e Prática de Ensino, muitos dos quais consideravam importante atuar simultaneamente na educação superior e na básica, na qual a maioria ocupava cargo de professor das redes municipal e/ou estadual de educação.

Os anos 1990 e o início dos anos 2000, igualmente restritivos em termos de concursos, não proporcionaram um cenário favorável nem para o avanço significativo da qualificação do corpo existente nem para o ingresso necessário de novos professores, de tal forma que o quadro docente, que, em 1990, dispunha de 127 professores, contava com somente 55 no início do ano de 2004, quando o governo federal pôs em ação uma política que, nos dez anos seguintes, permitiu que a FE reali- zasse mais de 60 concursos, voltando, em 2014, ao patamar de 1990.

Ressalte-se que, embora os dados indiquem uma recomposição do valor nominal de docentes ao longo dos 25 anos considerados, três fatores devem ser associados à sua análise.

O primeiro consiste no fato de que a recomposição não se deu de forma regular nem planejada, principalmente durante os primeiros 15 anos do período, quando as perdas representaram quantitativos maiores do que os ingressos, o que afetou bastante projetos de qualificação docente e de 4 A partir desse decreto, a progressão entre níveis e classes da carreira passou a ocorrer

desenvolvimento de áreas de saber, reduzindo as oportunidades de afasta- mento de professores para estudo.

O segundo, decorrente do primeiro, configura-se em uma sobre- carga de atividades de ensino de graduação, resultante não só da escassez de professores, como do aumento crescente de estudantes de graduação promovido por seguidas ações de ampliação de vagas na Universidade, com destaque para a criação dos cursos noturnos de licenciatura e para as ações oriundas do REUNI5,as quais fizeram aumentar em mais de 60% o número de estudantes de graduação na UFRJ.

Por fim, como contrapartida de caráter positivo, o ingresso de novos docentes, ainda que insuficiente, deu-se exclusivamente por concurso ou por movimentação de concursados em outras IFES, consolidando uma nova lógica de constituição do corpo de professores na FE/UFRJ6

A Medida Provisória 295, de 29 de maio de 2006, dispôs sobre a criação da classe de Professor Associado, com quatro níveis acima da de Adjunto. Mais tarde reconvertida pela Lei 11.344, de 8 de setembro de 2006, a medida ampliou em mais 8 anos a carreira, uma vez que ficou vedado aos docentes, independentemente do tempo em que estivessem na referência IV de Adjunto, o alcance de múltiplas progressões para a nova classe.

Mais recentemente, as leis 12.772, de 28 de dezembro de 2012, e 12.863, de 24 de setembro de 2013, consumaram uma nova carreira para o magistério nas IFES, que promoveu mudanças importantes, com destaque para a criação de uma classe de Titular à qual se pode ascender pelo sistema de progressão que rege as demais referências, mas não alterou itens cruciais, como o ingresso por concurso público de provas e títulos, bem como os regimes de 20 horas e 40 horas com dedicação exclusiva.

Temos, portanto, 25 anos de reestruturações, sempre resultantes de negociações tensas entre o governo federal e o movimento docente, ao longo dos quais o perfil dos professores da FE vai sofrendo alterações. Para compreender a atual composição desse corpo docente, serão apresen- tados a seguir dados relativos à sua constituição, com destaque para a sua formação acadêmica.

5 O REUNI consiste no programa do governo federal de apoio a Planos de Reestruturação

e Expansão das Universidades Federais Brasileiras, regulamentado por meio do Decreto Presidencial 6.096, de 24 de abril de 2007.

6 Do quadro aqui considerado, apenas 4 professores, ingressantes nos anos 1970/80, não