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Quem são, com base em dados socioeconômico-culturais, os estudantes do curso de Pedagogia da UFRJ?

Perfil socioeconômico-cultural dos estudantes do Curso de Pedagogia

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3. Quem são, com base em dados socioeconômico-culturais, os estudantes do curso de Pedagogia da UFRJ?

Em uma síntese ainda mais enxuta, podemos delinear o perfil socioeco- nômico-cultural dos estudantes por meio de algumas informações:

4 Exame Nacional do Ensino Médio, promovido pelo governo e adotado como forma de

(a) sua trajetória escolar se deu predominantemente em escolas públicas regulares das redes municipais e estadual do Estado do Rio de Janeiro, com destaque para o fato de um terço exato deles ter cursado o Ensino Médio na modalidade Normal (formação para o magistério);

(b) mais da metade escolheu o curso por considerar que tem aptidão para a área;

(c) obtiveram médias entre as mais discretas nas provas do ENEM; (d) dispõem de renda familiar média na faixa de um a cinco salários mínimos;

(e) os pais têm predominantemente escolarização até o Ensino Médio concluído, com indicadores discretamente superiores para as mães em relação aos pais;

(f) não trabalham, mas pretendem trabalhar ao longo do curso; (g) são mulheres em sua grande maioria (92%) e

(h), no que se refere à etnia5, 42% se declaram brancos; 26,5%, pretos; 20,7%, pardos; 6,7%, amarelos; 2,7, indígenas; e 2% não responderam.

Em trabalho publicado em 2010, destaquei que o perfil, então estudado ainda de forma parcial, apontava “para a existência de um universo de estu- dantes que mais se afasta do que se aproxima do perfil com que historica- mente as universidades têm trabalhado. Isto vale tanto para suas condições de desenvolvimento e aprendizagem, quanto para seu domínio de conteúdos e práticas” (CASTRO, 2010, p. 8). Passados dez anos e terminada a análise dos dados, pouco mudou no sentido de uma reversão positiva dessa insu- ficiência. Pelo contrário, em 2011 a UFRJ decidiu aderir integralmente ao SISU, deixando, portanto, de realizar exame próprio de acesso à graduação, e “II - Destinar 30 % das vagas oferecidas em cada curso a candidatos que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas e que possuam renda familiar per capita de até um salário mínimo nacional vigente” (Resolução CONSUNI no 14/2011, de 30 de junho de 2011).

Posteriormente, em cumprimento da legislação federal relativa à adoção de cotas nas IFES (Lei 12.711/2012; Decreto 7824, de 11/10/12) e Portaria no 18 – MEC, de 10/11/2012), o Conselho Universitário, por meio das resoluções de números 8, 18 e 21 de 2012, acabou por adotar percen- tuais mais expressivos de vagas destinadas a cotas relacionadas à condição socioeconômica e à etnia.

5 Este fator tem especial relevância por causa da legislação brasileira que dispõe sobre

a política de cotas nos cursos superiores: Lei 12.711/2012; Decreto 7824, de 11/10/12 e Portaria no 18 – MEC, de 10/11/2012.

Pouco menos de uma década depois da implantação de tais decisões, ainda não há estudos conclusivos sobre o seu impacto nos cursos de graduação da UFRJ. Em apresentação feita aos dirigentes da universidade, ainda na primeira metade dos anos 2010, a Pró-Reitoria de Graduação sugeriu que, embora ainda fosse cedo para avaliar, havia mudanças no perfil dos ingressantes, por causa da adoção de cotas, que afeta dados de renda, e por conta da utilização do SISU6, que contri- buiu para aumentar a quantidade de regiões e municípios de origem representados no universo de ingressantes. Neste sentido, o efeito mais evidente se encontra no aumento da pressão dos estudantes por mais ações de assistência estudantil, principalmente no que se refere a moradia, alimentação e transporte.

Os dados da segunda metade da referida década confirmam as mudanças, mas ainda carecem de uma análise mais detalhada no que concerne ao seu impacto em cursos como o de Pedagogia, que, histo- ricamente, têm recebido estudantes de perfil socioeconômico-cultural próximo dos estratos mais pobres da população.

Seja como for, para as finalidades do estudo em questão, o perfil aqui encontrado aponta para estudantes que, em sua maioria, querem ser professores, mas que dispõem para tanto de condições pouco favoráveis, tanto do ponto de vista econômico, quanto no que tange à sua escolari- zação básica e ao seu capital cultural.

O resultado não chega a surpreender, uma vez que os últimos 50 anos no Brasil registram um percurso desastroso no que se refere à desqua- lificação do exercício do magistério, representada de forma exemplar na ausência de políticas contundentes de valorização dos profissionais de educação: salários baixos, planos de carreira frágeis ou inexistentes, cursos de formação inconsistentes. Não por acaso, portanto, a formação para a docência atrai cada vez menos os estudantes com o perfil dos cursos de alto prestígio social.

Diante deste paradoxo - os estudantes com mais problemas de escola- rização e com as condições socioeconômicas menos favoráveis preferem/ escolhem ser professores – defendo que precisamos agir com vigor, pois a reversão de tal quadro depende de muitas ações. A primeira delas consiste em conhecer melhor quem ainda quer ser professor no Brasil.

6 Sistema de Seleção Unificada, gerenciado pelo Ministério da Educação, por meio do

qual se tem acesso às vagas dos cursos de graduação das instituições federais de ensino superior.

Referências

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graduação da UFRJ. Disponível em < https://consuni.ufrj.br/images/Resolucoes/res14-11. pdf> Acesso em 29 de abril de 2020.

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UFRJ. Resolução CONSUNI no 21/2012, Altera a Resolução no 18/2102, em atendimento ao Decreto no 7824, de 11/10/12, e à Portaria Normativa no 18 – MEC, de 10/11/2012. Disponível em <http://www.consuni.ufrj.br> Acesso em 13 de maio de 2014.

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