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Currículo e ensino da escrita

4. Multiprofessor, gestor e pesquisador

Retomando o PPC da Pedagogia, destaco o seguinte trecho:

O Curso de Pedagogia da FE/UFRJ parte da concepção de que o pe- dagogo da atualidade deve ser um profissional preparado para inter- vir nas diferentes situações apresentadas pela realidade educacional brasileira. Para isso, necessita de sólida formação teórica e preparo específico para a intervenção prática, tendo por pressuposto que a condição de professor constitui sua identidade básica, à qual se agrega a de profissional preparado para atuar na política e na administra- ção educacionais, conforme propõe a LDB 9.394/1996, artigo 64 (FE/ UFRJ, 2015, p.10).

Ainda de acordo com o documento (p.11),

A concepção aqui proposta é, portanto, de um curso que não disso- cia teoria e prática e que, ao contrário, compreende que o “alto nível” em educação se alcança pela articulação entre essas dimensões. A presença de disciplinas que preparam os alunos para experiências investigativas relaciona-se com a intenção de formar um profissional autônomo e crítico, capaz de analisar a realidade e buscar as solu- ções em seu campo de trabalho, enfrentando os grandes desafios da educação brasileira.

Finalmente, o perfil que se almeja para os egressos está assim definido no PPC (p.16)

O egresso do Curso de Pedagogia da FE/UFRJ deverá estar apto a exercer a docência na Educação Infantil, compreendendo creche e pré-escola; nos anos iniciais do Ensino Fundamental; nas discipli- nas pedagógicas do Curso Normal (modalidade do Ensino Médio) e na Educação de Jovens e Adultos. Atuará como Gestor de Processos Educativos em Instituições Escolares e Não Escolares.

Para dar conta de preencher tal perfil, os licenciados em Pedagogia deverão (p.16-17)

Compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual e social;

Favorecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensi- no Fundamental assim como daqueles que não tiveram oportunidade de escolarização na idade própria;

Trabalhar em espaços escolares e não escolares na promoção da apren- dizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano em diversos níveis e modalidades do processo educativo;

Aplicar modos de ensinar diferentes linguagens, incluindo a língua portuguesa e as linguagens matemática, científica, artística e corpo- ral, de forma interdisciplinar e adequadas às diferentes fases do de- senvolvimento humano, particularmente de crianças;

Relacionar as linguagens dos meios de comunicação aplicadas à edu- cação nos processos didáticos pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação adequadas ao desenvol- vimento de aprendizagens significativas;

Promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educa- tiva, a família e a comunidade;

Identificar problemas socioculturais e educacionais com postura edu- cativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas com vista a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras;

Participar das gestões das instituições em que atuem enquanto estu- dantes e profissionais contribuindo para a elaboração, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico; Participar da gestão das instituições em que atuem, planejando, exe- cutando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacio- nais em ambientes escolares e não escolares;

Realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos entre outros: sobre seus alunos e alunas e a realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas experiências não escolares; sobre processos de en- sinar e de aprender em diferentes meios ambiental/ecológicos; sobre propostas curriculares; e sobre a organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas;

Utilizar com propriedade instrumentos próprios para a construção de conhecimentos pedagógicos e científicos;

minações legais que lhe caiba implantar, executar e avaliar e encami- nhar o resultado de sua avaliação às instâncias competentes.

São doze competências, ações, habilidades. Não importa que nome tenham, constituem uma quantidade significativa de atribuições complexas, que envolvem conhecimento, preparo e disposição. O licen- ciado em Pedagogia deve atuar como professor de quatro segmentos dife- rentes, com disciplinas de todas as áreas do conhecimento, além de ter de atuar também como gestor. Isso tudo depois de ter cursado nove ou dez períodos de graduação:

Nunca é demais lembrar que cursos como os de Medicina, Direito, Ciências Contábeis, Psicologia duram dez ou mais períodos só para conceder aos formandos o diploma de bacharel. Não há nenhuma expec- tativa, por exemplo, de que um bacharel em Ciências Jurídicas atue com eficiência em quatro áreas do Direito, nem de que um bacharel em Ciências Médicas assuma quatro especialidades da Medicina.

Não bastasse a evidente insuficiência do currículo para a formação para a docência, existe ainda a questão do preparo para a pesquisa, que aparece em uma das doze competências esperadas do egresso, mas que vai ser mais detidamente explicitado no PPC no trecho que trata da mono- grafia de conclusão de curso (p.39):

A iniciação à pesquisa (articulada à docência, à extensão e à gestão) atra- vessa a formação oferecida pelo curso, seja através de disciplinas com esse fim, seja através da relação entre a Graduação e a Pós-Graduação. A FE/UFRJ propicia aos seus alunos uma ambiência de pesquisa através dos vários Laboratórios, Núcleos e Grupos de Pesquisa que reúne. Essa ambiência se manifesta através das Bolsas de Iniciação Científica, das Jornadas de Iniciação Científica realizadas pela instituição, assim como através do Seminário Anísio Teixeira, um espaço semanal de socialização de pesquisas, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação. De fato, há muitos grupos de pesquisa na FE e todos acolhem estu- dantes. Não há, todavia, muitas bolsas, o que torna a participação em ativi- dades desses grupos menos atraente para os que não são contemplados. Tampouco existe, até o momento da elaboração da monografia – previsto para ocorrer nos dois últimos períodos – qualquer exigência de que o estu- dante realize pesquisa.

Concluída a disciplina de Monografia, com 60 horas, o estudante deverá ter um projeto de pesquisa que será orientado por um docente e desenvolvido no período seguinte. Ao final do processo, o licenciando defende publicamente o seu trabalho perante uma banca composta pelo seu orientador e mais dois professores. Com esse percurso, pretende-se que o estudante comprove a realização de:

a) investigações sobre processos educativos e gestoriais, em diferen- tes situações institucionais: escolares, comunitárias, assistenciais, empresariais e outras;

b) avaliação, criação e uso de textos, materiais didáticos, procedimen- tos e processos de aprendizagem que contemplem a diversidade social e cultural da sociedade brasileira;

c) estudo, análise e avaliação de teorias da educação, a fim de elaborar propostas educacionais.

Fica evidente que o currículo da licenciatura em Pedagogia, por mais extenso e complexo que venha a ser, dificilmente conseguirá ser suficiente para proporcionar, em um curso de graduação, um percurso de formação que pretende que cada egresso seja, simultaneamente, um multiprofessor, que ensina conteúdos de todas as áreas para estudantes de diversos segmentos e faixas etárias; um gestor e um pesquisador. Diante desse desafio, também fica bastante claro que a introdução de disciplina(s) obrigatória(s) para dar conta de ensinar o licenciando a escrever também terá efeito limitado, além de inchar ainda mais a grade, que já tem 39 disci- plinas obrigatórias.

5. Aspectos centrais das discussões acerca da escrita