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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Um breve histórico sobre o surgimento dos Estudos da Tradução

3.1.1 O mapa de Holmes / Toury

Uma das maiores contribuições de Holmes para o desenvolvimento dos ET enquanto disciplina autônoma foi ter escrito seu artigo The name and the nature of translation studies [O nome e a natureza dos estudos de tradução] (HOLMES, 1972), uma verdadeira declaração de fundação para o campo de Estudos da Tradução. Trata-se de uma versão publicada de um documento que Holmes originalmente redigiu em 1970, na seção de tradução do Terceiro Congresso Internacional de Linguística Aplicada em Copenhague.

A seguir, analisaremos a figura abaixo, o plano geral descritivo apresentado por Holmes (HOLMES, 1970), sobre a abrangência dos ET, o qual foi posteriormente apresentado por Toury (1995, p. 10):

41 Figura 3 – Mapa de Holmes / Toury

Fonte: Toury (1995, p. 10)

Nas explicações de Holmes (MUNDAY, 2008 p. 10-12), os objetivos das áreas de pesquisa pura são: (1) a descrição dos fenômenos da tradução (teoria da tradução descritiva); (2) o estabelecimento de princípios gerais para explicar e prever tais fenômenos. No primeiro objetivo, procura-se analisar o processo tradutório, ou seja, a forma como os tradutores vertem para o vernáculo ou transportam para a língua de chegada o material sob seus cuidados. Por exemplo, que estratégias de tradução foram utilizadas; com que grau de acuidade a tradução foi realizada; se houve aproximação ou distanciamento do texto de partida. O objetivo, como se deixa claro, não visa a oferecer fórmulas prescritas de como traduzir, e sim analisar o material traduzido. É o que procuraremos fazer em nosso trabalho, quando estivermos fazendo a análise das escolhas tradutórias à luz da teoria funcionalista.

Quanto ao segundo objetivo da pesquisa pura, esse se solidifica no decorrer do tempo, e conforme as análises se apresentam, gerando um repertório de fenômenos tradutórios. Esse repertório, a seu turno, formará os princípios gerais que serão capazes de prever e até explicar o porquê de certas escolhas e estratégias tradutórias serem recorrentes ou escassas. Por exemplo, no caso de tradução de documentos legais, como é o caso do corpus de nossa pesquisa, um repertório de princípios gerais será bastante útil para que se possa padronizar as traduções, evitando-se o desconforto de obtermos traduções divergentes entre o texto e partida e o texto de chegada, tanto em relação à sua função como a seus efeitos (NORD, 2012b).

42 Como se depreende do mapa, a disciplina (ET) está divida em duas grandes ramificações: um ramo da pesquisa pura e outro da pesquisa aplicada. Do ramo da pesquisa pura, depreendem-se os estudos teóricos e descritivos. O ramo teórico é dividido em teorias gerais e parciais. Por teoria geral, Holmes entende significar os trabalhos que descrevem cada tipo de tradução e produzem generalizações acerca da tradução. Já os estudos teóricos parciais ficam restritos aos parâmetros discutidos a seguir.

a) Teoria restrita ao meio - refere-se ao meio utilizado para se obter a tradução. Se a tradução foi feita por um ser humano, ou por este, com a ajuda de uma máquina; por uma máquina somente; se a tradução foi por meio escrito ou verbalizado; se foi simultânea ou consecutiva.

b) Teoria restrita à área - é aquela restrita aos idiomas ou às culturas especificados. Holmes explica que tal teoria está estreitamente relacionada ao trabalho dentro da linguística comparada e /ou da estilística.

c) Teoria restrita ao grau - é a teoria linguística restrita a uma palavra ou a uma frase. Uma tendência de aplicação na linguística de texto, isto é, na análise do discurso.

d) Teoria restrita ao tipo de texto - examina os tipos ou gêneros de discurso específicos: tradução técnica, literária, jurídica e/ou comercial.

e) Teoria restrita ao prazo/tempo - refere-se a traduções limitadas a prazos específicos. Nesse sub-ramo entram os estudos sobre a história da tradução.

f) Teoria restrita a problemas - relaciona-se a problemas específicos, como equivalência, uma das questões-chave de nossa pesquisa.

O outro ramo da pesquisa pura no mapa de Holmes é o descritivo. Os Estudos de Tradução Descritiva (ETD) visam três sub-ramos: o produto, o processo e a função.

a) Os ETD orientados ao produto examina as traduções existentes, descrevendo ou analisando um único par de línguas TF (texto-fonte) - TT (texto-texto), ou uma análise comparativa de vários TT do mesmo TF em uma ou mais traduções.

b) Os ETD orientados à função significa a descrição da função tradutória no contexto sociocultural do receptor.

43 c) Os ETD orientados ao processo está relacionado ao aspecto psicológico do processo tradutório. É um estudo que tenta investigar o que se passa na mente de um tradutor quando este está produzindo o seu trabalho.

O ramo da pesquisa aplicada do quadro de Holmes está divido em três sub- ramos:

a) Formação de tradutores: refere-se basicamente a métodos de ensino, técnicas de teste e concepção curricular;

b) Auxiliares de tradução: refere-se a todo tipo de material que possa ajudar o tradutor durante o processo tradutório, tais como dicionários, gramáticas e tecnologia da informação;

c) Crítica de tradução: está relacionada à avaliação de traduções, incluindo a marcação de traduções e revisões de traduções publicadas.

Não há dúvidas de que o trabalho de Holmes contribuiu sobremaneira para que tenhamos hoje uma disciplina de ET com todo um arcabouço teórico e prático bem delineado. Dessa maneira, foi possível visualizar, de forma mais clara e bem dividida, a atuação de várias áreas dos Estudos da Tradução, porquanto que, no passado, antes dessa contribuição, tais áreas eram vistas de forma confusa e imprecisa, já que se tratavam de esparsas teorizações sem uma aparente conexão entre as mesmas. (TOURY, 1995).

Na sequência, apresentaremos a abordagem funcionalista da tradução, que se apresenta dentro do ramo da teoria pura no mapa de Holmes, onde os ET se encontram mais precisamente com a tradução descritiva do produto, do processo e da função. Ou seja, a tradução orientada ao processo e ao produto, com a função tradutória dentro do contexto sociocultural do receptor. Mas também possui um viés da teria aplicada, já que, no trabalho de Nord (2016) esta deixa bem claro, em sua introdução, que seu modelo de análise crítica pode ser aplicado na formação de tradutores (NORD, 2016 p. 5).