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2 OS SISTEMAS JURÍDICOS DA COMMON LAW E CIVIL LAW

2.3 O contrato no sistema jurídico norte-americano

Na América do Norte, a formação contratual baseia-se em três instâncias básicas: 1) oferta; 2) aceitação da oferta e 3) ponderação. Porém, os mesmos contratos podem tomar formas variadas, podendo configurar-se como unilaterais ou bilaterais, com termos e condições diferentes do padrão, ou, ainda, dependendo das partes presentes no contrato, podem diferenciar-se completamente dos objetivos que geram obrigações mútuas entre as partes (VOOK, 2011, p. 21).

A oferta nada mais é do que a manifestação da vontade de alguém em contratar. Esta oferta pode ser direta, aquela feita a determinada pessoa ou entidade, por exemplo, quando se envia uma carta comercial cujo teor seja a oferta de um produto ou um serviço, lançando, de antemão, alguma proposta negocial. A proposta negocial presente na carta comercial pode ser dirigida a tantos quantos estiverem dentro das condições vinculadas na correspondência. Neste caso está se falando em oferta indireta. A aceitação surge no momento da manifestação do destinatário da carta comercial. Este poderá aceitar prontamente a proposta, rejeitá-la ou fazer uma contraproposta. Vale salientar que o silêncio do destinatário não significa “aceitação da proposta” Vook (2011, p. 21). Geralmente, este tipo de correspondência possui peculiaridades tais como: prazo de aceitação da proposta, necessidade

29 de resposta por escrito, obedecendo-se a alguns preceitos legais. Quanto à ponderação, tem-se por óbvio que os contratos existem por algum propósito ou com algum interesse que beneficie as partes envolvidas. Mesmos nos contratos unilaterais, em que uma das partes só tem direitos e a outra, só deveres, há interesses que os vinculam, posto que o seu descumprimento possa gerar implicações de ordem financeira.

Para Feinman (2006), um contrato é uma troca de promessas. Todo contrato implica uma promessa com a qual as partes, cada uma a seu turno, se comprometem a praticar um determinado ato. Segundo o mesmo autor, os contratos podem ser escritos ou verbais. Suas cláusulas, quando não cumpridas por uma das partes, enseja litígio. As cortes e os tribunais garantirão à parte que tenha sofrido danos morais e/ou econômicos o fiel cumprimento deste.

Para fazer parte de um contrato, necessário se faz ter capacidade jurídica – entendida na terminologia especializada como aquele indivíduo que possui idade mínima, geralmente ser alguém maior dezoito anos de idade e que não seja deficiente mental (FEINMAN, 2006).

2.3.1 Estrutura do contrato no sistema jurídico norte-americano

A redação de contratos no Common Law, em geral, obedece a uma estruturação formal e cronológica, cujas principais cláusulas serão expostas e descritas a seguir, as quais foram traduzidas por nós, fazendo uso da experiência profissional no campo da Tradução Jurídica.

a) Preamble (Preâmbulo)

Nesta cláusula encontra-se o nome, ou o tipo do contrato (Contrato de Representação; Contrato de Compra e Venda; Contrato de Financiamento; Contrato Social, etc.); a data de sua elaboração e a identificação das partes.

b) Recitals (Considerações preliminares)

Esta cláusula, que se encontra no início de muitos contratos, tem o condão de observar algumas premissas contratuais para o melhor entendimento do que se está contratando, bem como fornece um excelente subsídio para a interpretação dos mesmos,

30 principalmente quando se tem instalado um litígio; ou seja, quando este contrato é levado aos tribunais com o fito de serem suas questões dirimidas por juízes ou cortes superiores. Interessante observar-se que tais considerações iniciam com a conjunção “WHEREAS” (CONSIDERANDO QUE).

c) Definitions (Definições)

Esta cláusula cuida da definição precisa acercas dos termos contratuais. Em linhas gerais, podemos dizer ser esta cláusula a responsável pela Terminologia Jurídica aplicada ao caso concreto, sugerindo a definição correta dos termos e seus significados.

d) Representations or warranties (Representações ou garantias)

Nesta cláusula, a parte compromissada assegura à outra parte que certos fatos e/ou, circunstâncias descritas na avença são verdadeiros; quando tais fatos/circunstâncias necessitam do concurso do tempo para se realizarem, então estamos diante da Garantia. Nesse sentido podemos afirmar que a Cláusula de Garantias obriga a parte garantidora à satisfação de certas condições no futuro - após a assinatura do contrato -, porém, antes do seu término. e) General provisions (Disposições gerais)

As Disposições Gerais são um conjunto de cláusulas que preveem várias situações comuns em quase todos os contratos. Por esse motivo, considerarmos que esta seção contratual, a qual é muito reclamada em questões de litígio, merece por parte do tradutor uma atenção redobrada, no sentido de buscar a melhor terminologia jurídica dentro do sistema jurídico brasileiro, deste modo, evitam-se ambiguidade, dúvida ou má interpretação. É neste conjunto de disposições que se enquadram as situações contratuais como:

1. A escolha da legislação aplicável ao contrato;

2. O foro competente onde o contrato será judicialmente interpretado e julgado; 3. O endereço onde as partes serão oficialmente comunicadas sobre qualquer situação do contrato;

4. As limitações de responsabilidade das partes; 5. A disposição sobre os deveres de confidencialidade;

6. As situações, as formas e a extensão das indenizações por descumprimento contratual;

31 7. A cláusula de arbitragem, pela qual as partes elegem um árbitro para tentar dirimir o conflito advindo da relação contratual, evitando-se recorrer à justiça e sofrer os danos da morosidade;

8. A cláusula de “separabilidade” (do inglês, “severability”), pela qual, dentro do Princípio da Segurança Jurídica dos Contratos, se alguma cláusula ou termo, no decorrer da relação contratual, se tornar inexequível, tal imprestabilidade não afetará as demais cláusulas ou termos contratuais vigentes.

Há, ainda, dentro das Disposições Gerais, uma cláusula sempre presente quando o contrato é feito entre partes de diferentes países. É a cláusula da prevalência do texto original. Neste caso, em situações onde o contrato seja traduzido para outro idioma por força de lei para que tenha valia no território estrangeiro, quando surgir dúvidas quanto ao real significado dentro da terminologia empregada, sempre prevalecerá o sentido ou terminologia do idioma de origem do contrato.