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Homens e mulheres amam por igual

No documento O AMOR QUE NOS FAZ BEM (páginas 48-51)

São muitas as mulheres que se queixam de não ser suficientemente compreendidas por seus companheiros, e proclamam isso de uma forma sonora e propagandística, como se este lhes fosse um direito natural. Ao mesmo tempo, centenas de homens se retraem calados porque consideram que suas companheiras menosprezam alguns dos seus interesses, desejos, costumes e gostos, e no fundo pensam que alguma coisa não funciona, que a mulher não se dá ao trabalho de compreender que o homem é como é. Em resumo, existe muita incompreensão e frustração para todos.

O que parece claro é que, apesar das diferenças, homens e mulheres amam por igual, são adultos por igual, expõem seu coração por igual, desejam o bem-estar, a compreensão e a confiança por igual. Embora sejam diferentes, desejam a mesma coisa. Sim, mas de maneira diferente. As

mulheres costumam ser mais dotadas de recursos emocionais e afetivos; os homens, de recursos racionais e de ação. Os braços do amor e da entrega são múltiplos e variados, e seu conjunto cria uma totalidade necessária e faz com que cada um contribua com sua especialidade.

Seria muito atrevimento dizer que os homens amam mais que as mulheres, mas que fazem menos alarde. E certamente não seria de todo certo dizê -lo, pois ambos, homens e mulheres, amam com a mesma profundidade, embora o manifestem de forma diferente. Mas eu gostaria de pelo menos registrar um ponto a favor do profundo amor e vínculo que muitos homens também sentem... do seu próprio jeito como homens.

O que ajuda é que os homens compreendam o compreensível das mulheres e que as mulheres compreendam o compreensível dos homens. E, em outro nível, o que também ajuda é que parem de tentar, e, em vez de compreender, ambos se rendam perante o mistério. E, aqui, render-se significa basicamente respeitar o incompreensível do outro e amá-lo tal como é, sem compreendê-lo, simplesmente porque sim. Isto é um presente e uma bênção.

Além do mais, os que reclamam e exigem compreensão não costumam dar exatamente o que pedem nem se esforçam para tanto. São os paradoxos das relações humanas. Quem dera aquele que pede compreensão a pudesse dar sem paliativos...

Ademais, qualquer relação entre homem e mulher está cheia de história. No encontro do amor “ascende uma seiva imemorial”, como disse Rilke: no encontro do casal vão muitos outros junto. E, como eu dizia no capítulo anterior, em cada homem de hoje vivem centenas de homens anteriores, pais, avós, bisavôs e tantos outros. E, em cada mulher, mães, avós, bisavós e tantas outras. Acontece que algumas mães e avós sofreram o jugo explorador, desrespeitoso e machista de seus maridos e não puderam exercer a liberdade de viver sua raiva e se reorientar ou se separar. Acontece que alguns homens anteriores dominaram e exploraram suas mulheres. São ecos do passado que ainda nos impregnam. E acontece que, hoje em dia, algumas mulheres estão com raiva em nome das q ue vieram antes, e alguns homens se sentem culpados e assustados em nome dos

anteriores. Algumas mulheres vingam suas avós irritando -se com seus parceiros atuais, e alguns homens expiam as culpas de outros anteriores debilitando-se e diminuindo-se, escondendo sua hombridade ou até se afeminando, até explodir com suas parceiras atuais. E a guerra dos sexos e suas lutas de poder se perpetuam, com o resultado de violência, fatalidade e infelicidade que todos conhecemos, infelizmente.

Em certa ocasião, trabalhei em um workshop com uma mulher de trinta e quatro anos que tinha dificuldades para manter um relacionamento estável. Fazia mais de oito anos que não tinha ninguém, e nesse tempo havia engravidado quatro vezes de homens diferentes, abortando em todas as ocasiões. Mas o assunto relevante, ao trabalhar em sua Constelação, manifestou-se quando veio à luz o caso de sua avó, que teve de aguentar que o marido tivesse outra mulher e outra família, e não pôde viver sua raiva, sua liberdade e seu anseio de se separar. Ela foi obrigada a se sujeitar por motivos financeiros. A raiva que a avó não havia podido viver parecia ter ido parar na neta, ou havia sido tomada integralmente por ela. E esta, ainda que desejando o amor e a estabilidade no relacionamento, desprezava os homens e se vingava deles de muitas maneiras, entre outras, abortando sem que eles soubessem. A mensagem que essa mulher recebeu de sua avó quando era menina foi: “O melhor homem foi enforcado”. Para ela, a solução para esse conflito consistiu em gerar respeito pelo destino de sua avó, mas também de seu avô, e pelo que coube viver a ambos, sem se intrometer nem se sacrificar, nem se vingar dos homens em nome de sua antepassada. Embora pareça estranho, nos sistemas familiares alguns sentimentos continuam pairando na atmosfera porque não puderam ser direcionados e resolvidos na hora certa pelas pessoas a que diziam respeito, e continuam operando como assuntos pendentes. Às vezes, alguns descendentes adotam e ativam sentimentos de pessoas ascendentes, sem consciência clara disso e de uma forma cega e imperativa, como se fossem possuídas por esses sentimentos, que são inconscientes, intensos e não costumam se adequar a nenhuma realidade atual que os justifique e, com isso, as pessoas sofrem e precisam libertá-los.

O que ajuda, portanto, é que o passado fique no passado, dignificado com nosso bom olhar e com nosso pleno respeito por aquilo que foi vivido e

pelos que o viveram. E olhar o presente com alegria e gratidão. Nada há mais irresistível para um homem que o verdadeiro respeito e o sincero sorriso de uma mulher, e nada mais irresistível para uma mulher que ser respeitada como mulher e amada tal como ela é, incluindo seu mistério. De fato, o presente mais belo que alguém pode nos dar consiste em nos amar como somos, e o melhor presente que podemos dar a alguém consiste em amá-lo como é. Se formos capazes disso, estaremos mais perto de ter um pouco mais de felicidade.

No documento O AMOR QUE NOS FAZ BEM (páginas 48-51)