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Terminar bem os relacionamentos

No documento O AMOR QUE NOS FAZ BEM (páginas 103-106)

Como eu dizia, o principal indicador de que uma relação anterior está bem terminada é que somos capazes de estar felizes em uma relação posterior. E, em sentido contrário, o principal sintoma de que uma relação não está bem terminada é que ainda não conseguimos encontrar outra direção nem nos envolvermos em outra história com força e com sentido, ou seja, boa parte da energia ainda está em assuntos do passado.

É óbvio que o processo de se separar e se recompor exige tempo, mas não um tempo eterno. Em um workshop no México, uma mulher afirmou que ela amava mais a seu ex-marido que ele a ela, visto que depois de quinze anos de separação ela ainda não havia tido outra relação, porém, ele h avia

iniciado outro relacionamento depois de dois anos. Pareceu -me que não se tratava tanto de amor quanto de propaganda, e que na verdade havia mais vingança que outra coisa, como se intimamente ela dissesse a seu ex algo como: “Por sua culpa eu ainda não reconstruí minha vida”, ou “Eu me mantenho amarrada a você, esperando-o”, ou “Ficando sozinha não o solto, não o deixo livre”. Quando conseguimos nos abrir para outra relação, também fazemos com que o outro sinta com mais força sua própria liberdade.

Muitas vezes, quando trabalho com casais, manifestam-se as amarras em relações anteriores e a atração por aquilo que ficou incompleto ou que não deu certo; surge, então, a necessidade de descobrir como, por que e para que parte da energia de uma pessoa se volta para relacionamentos anteriores, e como resolver isso. O vínculo com as pessoas anteriores necessita de despedida, ser deixado para trás, para que outra pessoa ou um caminho próprio possam se materializar com força renovada. Como se termina bem o passado? Primeiro, como eu já disse, entregando-nos à dor, abrindo-nos para a dor da ferida, da decepção e da frustração. E, durante um tempo, vivendo a turbulência emocional correspondente, a culpa, ou a tristeza, ou a raiva, ou a sensação de fracasso ou desespe ro ou medo. Muitos sentimentos nos visitarão e, como hóspedes, permanecerão um tempo conosco e depois irão embora, e depois voltarão com menos força e irão embora de novo, cada vez mais diluídos. E, quando se forem quase por completo, notaremos que se abre de novo um espaço para o amor em nosso peito.

Por outro lado, terminar bem significa fechar com amor, com amor pelo que vivemos e com amor pela pessoa, mas em outra posição. Porque sobre o amor do que vivemos antes podemos construir um edifício forte. Cer tas pessoas pretendem fechar o passado com muito ressentimento, com muita amargura, com muito azedume. E então tentam construir um edifício sobre cinzas e ruínas, e ele sempre será fraco.

Uma segunda (ou terceira ou quarta) relação deve ser construída sobr e o amor da anterior, sobre o que houve de bom da anterior, deve -se dignificá- la, por assim dizer. Certas pessoas buscam uma segunda relação e dizem:

“A anterior foi um desastre, esta será a boa”, ou desqualificam a pessoa anterior e pensam que a seguinte será melhor, com o príncipe ou a princesa encantada esperada. E então algo não funciona, ou funciona forçadamente apenas por um tempo, visto que a oposição a algo no início nos dá uma força especial, mas depois enfraquece o relacionamento e é muito prováve l que também não prospere. Sobre a rejeição não se constrói bem, porque o que rejeitamos está sempre atrás de nós perseguindo-nos, tomando nossa energia. Edificamos melhor quando temos bons alicerces e quando podemos reconhecer o amor que houve no anterior, e seus limites, e quando nos rendemos a esses limites.

É importante dar um bom lugar aos relacionamentos anteriores, integrar e fechar o passado aceitando-o com amor, com o que foi possível e com o que não foi possível. É muito perigoso utilizar nossas feridas para justificar que não mais caminhamos para a vida e para o bom. Muitos homens e mulheres se apoiam nas feridas que relacionamentos anteriores lhes causaram para dizer não a um novo amor. Mas a cada manhã podemos nos levantar e dizer: “Sim, eu caminho para a vida, caminho para minha felicidade”, ou “Ponho bálsamo em minhas feridas em vez lhes conceder o lugar do tirano”, ou também: “Como já fui ferido antes e consegui superar isso, não preciso de novas armaduras, posso abrir mais facilmente meu coração”. Só devemos nos recusar a tirar partido de nosso próprio sofrimento. Caminhar para a vida é uma decisão que requer força para deixar a dor para trás; requer renunciar aos benefícios que obtemos com nossas feridas.

O relacionamento ganha força quando os anteriores, e nossa história amorosa em seu conjunto, podem ser integrados; quando o que criamos juntos tem mais peso e mais força que nossos relacionamentos passados e nossas famílias de origem; quando agradecemos a nossos companheiros anteriores e a nossas famílias por terem possibilitado nossa realização amorosa. O protagonista de uma história de Jorge Bucay explica: “Fui comprar um final feliz, procurei, procurei, mas não pude encontrá -lo. E, vendo que não podia encontrá-lo, preferi investir em um novo começo”. É que, quando um amor vai embora, deixa espaço para um novo, e muitas pessoas que se sentiram feridas e vulneráveis renovam sua esperança em

um caminho de amor e investem em um novo começo. Embora não se consiga um final anterior feliz (um final costuma ser mais traumático, doloroso e frustrante), é possível edificar algo sobre o respeito e a gratidão ao anterior, a integração das feridas, os limites necessários para canalizar os desacordos, especialmente quando há filhos, e a despedida na dor e no amor. O novo se constrói sobre o velho quando o velho não são ruínas e cadáveres, e sim bons alicerces de amor, respeito e gratidão. Portanto, uma relação termina de forma saudável quando, com o tempo necessário, dentro de nós torna a fluir o amor e do lado de fora ficam claros os nossos limites.

No documento O AMOR QUE NOS FAZ BEM (páginas 103-106)