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Homologação de acordos extrajudiciais de recuperação dos devedores

4. A REVITALIZAÇÃO DA EMPRESA E A RESPONSABILIDADE DOS

4.2. O dever de (re)negociação dos administradores na fase da revitalização

4.2.2. Homologação de acordos extrajudiciais de recuperação dos devedores

Outro instrumento disponibilizado pela Lei 16/2012, de 20 de abril, e que acentua o caráter privatístico de (re)negociações com vista à revitalização empresarial, é o da homologação de acordos extrajudiciais de recuperação dos devedores com base em negociação direta com os seus credores (art. 17.º -I).

A diferença básica entre o PER (arts. 17.º -A a -H) e a homologação de acordo extrajudicial de recuperação dos devedores (art. 17.º -I) pode ser sintetizada na própria nomenclatura: o primeiro é “processo” e o segundo “acordo”. Resultando no plano

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O texto do art. 17.º -D, n.º 11, do CIRE deve ser objeto de interpretação extensiva, para que se aplique à violação de todos os deveres acessórios de conduta contidos na relação jurídica de negociação ou de renegociação do conteúdo do contrato. Entre a violação de deveres de esclarecimento e de informação e a violação de deveres de cooperação ou de deveres de lealdade, não há nenhuma diferença fundamental, capaz de explicar e/ou de justificar que o devedor responda pela violação de deveres de esclarecimento ou de informação e não responda pela violação de deveres de cooperação ou de deveres de lealdade. Independentemente da interpretação extensiva do texto do art. 17.º -D, n.º 11, do CIRE, a responsabilidade civil do devedor resultaria sempre do art. 762.º, n.º 2, do Código Civil. Conforme explanação de OLIVEIRA, Nuno Manuel Pinto. “Entre código da insolvência e ‘princípios orientadores’...”, ob. cit., p. 687. É, portanto, em razão destes argumentos que o Autor encara a “situação económica difícil” e a “insolvência meramente iminente” quando violados os deveres de cooperação, deveres de esclarecimento ou de informação, ou dos deveres de lealdade consignados nos Princípios

orientadores da recuperação extrajudicial dos devedores, como de insolvência culposa. Portanto, de

responsabilidade civil.

218 No n.º 8, do art. 17.º -D, salienta-se o princípio da autonomia contratual, da liberdade de convenção

entre as partes negociantes: As negociações encetadas entre o devedor e os seus credores regem -se pelos

termos convencionados entre todos os intervenientes (...). Sublinhamos, porém, que a confiança nos

administradores (e na empresa) só será revalidada após a demonstração de atos que exteriorizem boas práticas de conduta, para além do convencionado pelas partes. O sentimento de desconfiança por parte dos credores é notório nesta fase de crise económico-financeira da empresa, por isso, qualquer desvio de conduta deve ser rigidamente reprimido. O legislador merece aplausos a este respeito.

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prático em algumas distinções. A começar pela intervenção judicial. Na homologação de acordo extrajudicial há maior liberdade contratual, logo que o “acordo extrajudicial” se dá inteiramente fora da órbita judicial. Já no PER, o acordo, embora sendo “privado” se encontra “judicializado”, pois a declaração de vontade das partes se concretiza após a comunicação do plano de recuperação dirigida ao tribunal, ou seja, somente depois de dizer ao juiz que se pretende iniciar negociações (art. 17.º -C, a)).

No que diz respeito às negociações, no PER estas são intermediadas ou fiscalizadas pelo tribunal, através do administrador judicial (art.17.º -D, n.º 6) – que terá a função de tornar o processo transparente e equitativo – sendo caracterizadas pelo restrito prazo das negociações (art. 17.º -D, n.º 5 – dois meses, prorrogável por mais um mês); enquanto que na homologação de acordo extrajudicial não há este prazo, visto que as partes podem iniciar as negociações discricionariamente, e a partir do consenso submeter o pedido à apreciação e eventual homologação judicial.

Assim como o PER, a homologação de acordo extrajudicial também teve a receção dos princípios orientadores do “Global statement of Principles for Multi- Creditor Workouts”, os denominados Insol Principles existentes há mais de uma década219. Por esses princípios, cumpre em primeiro grau o fator da (re)negociação entre as partes, objetivando o estrito cumprimento dos deveres de cooperação, dos deveres de esclarecimento e de informação e ainda dos deveres de lealdade 220.

4.3. Considerações finais

É perfeitamente possível perceber a influência do contexto político-económico nas questões jurídicas societárias. Depois, já num quadro legal, o Direito da Insolvência Português que vinha adotando o critério da primazia do interesse dos credores, mormente o da liquidação da massa insolvente, passa a reorientar-se por conceções que vigoravam antes do atual Código de insolvência, cujo primado da recuperação da empresa já foi tratado com mais sensibilidade. Com a assunção do Processo Especial de Revitalização, procedente da Lei 16/2012 de 20 de abril, que aditou os artigos 17.º -A a H, do CIRE, as empresas e seu representantes (administradores) são novamente tratados com novas possibilidades de recomeçarem os seus empreendimentos, a partir então da iniciativa privada de negociações. Agora, é salientado uma vez mais os deveres fundamentais dos administradores (gestão, lealdade, cooperação, informação, etc.) – princípios originários da boa fé – sobretudo numa linha relacionada à aposta dos credores na confiança da empresa em situação económica difícil. Contudo, a realidade da empresa exige um elevado padrão de conduta dos beneficiários desta “nova” oportunidade, e o respeito aos princípios fundamentais do standard do gestor criterioso e ordenado é causa suprema para a concretização negocial finalizada na revitalização da empresa. A inobservância dos fundamentos do processo de revitalização gera no

219 Cfr. S

ERRA, Catarina. O regime Português da Insolvência, ob. cit., p. 190; e em “Emendas à (lei da insolvência portuguesa – primeiras impressões”, ob. cit., p. 131 (nota 72).

220

Cfr. SERRA, Catarina. O regime... ob. cit., p. 190; Sobre os deveres de cooperação, deveres de esclarecimento e de informação e os deveres gerais de lealdade, vide OLIVEIRA, Nuno Manuel Pinto.

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mínimo duas consequências: a) a insolvência societária; b) o dever de indemnização. Reitera-se que confiança nestes agentes é reconsiderada, e o cuidado para o devido cumprimento realça os critérios de responsabilização.

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5. A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E A